VITORIOSO SÓ QUEM NÃO DORMIU AO ASSISTIR O JOGO
Um zero a zero categórico pela 13ª rodada do Campeonato Italiano. Milan e Juventus não quiseram jogar futebol e não tiveram uma mísera chance clara de gol ao longo da partida. Não aconteceu absolutamente nada de relevante. Nada. Nem parecia um clássico entre gigantes ou um jogo importante para as pretensões de ambos no campeonato, mas sim um amistoso de pré-temporada com ritmo reduzido. Uma prevalência defensiva impressionante. Poderiam jogar mais cinco horas que não sairia gol. Pela situação na tabela, a igualdade é “menos ruim” para os bianconeros, que não colam na líder Inter, mas buscam um ponto fora de casa e não deixam um novo e possivelmente perigoso concorrente entrar na briga pelo título.
O começo de jogo já deu um claro indicativo do que viria pela frente. O Milan, que é quem necessitava mais urgentemente do resultado, tomou a iniciativa com a bola. Contudo, não impôs sequer um ritmo acelerado. Trocou passes de forma cadenciada, com pouca movimentação e riscos corridos. A Juve, em um 4–4–2 bem-organizado, neutralizou sem precisar pressionar e ainda foi tomando para si o controle aos poucos. Dois times que já na arrancada se anulavam sem grande esforço.
De cerca dos dez minutos aos trinta da etapa inicial, a Juventus dominou completamente a posse de bola. Ok, é uma das equipes que mais a tem no campeonato, mas o que surpreendeu foi a aceitação do Milan em relação a isso. Mesmo em casa, não esboçou pressionar a troca de passes bianconera. Apenas assistiu em seu 4–4–2 que virava 5–3–2 conforme os movimentos de Musah como ala. Só intervinha perto da própria área ou aproveitava erros de passe. Mas não era capaz de achar um contra-ataque em um cenário teoricamente favorável para isso, com o adiantamento rival. Não teve competência na origem das jogadas para lançar Leão e Theo em profundidade. E a Juve recompôs bem, de forma segura. Contudo, também faltou aos visitantes fluência com a bola. A circulação até era melhor que a do Milan, variando o lado das jogadas e tendo algumas chegadas próximas da meta adversária. Certas diagonais e cruzamentos foram promissores, mas não levaram a nada pela falta de uma referência por dentro e mesmo de espaços.
Dos trinta minutos ao fim do primeiro tempo, os rossoneros voltaram a ter mais a posse de bola. Mas apenas isto que mudou mesmo. O panorama basicamente voltou a ser o que era nos minutos iniciais. A Juve bem postada, segura, sem sair do lugar para pressionar, impedindo qualquer profundidade do Milan. E o time de Paulo Fonseca vagaroso, horizontal, sem arriscar, esperando um erro para aproveitar. Quando um time tinha a bola, cadenciava. Quando perdia, não pressionava, apenas voltava para marcar. E ninguém era capaz de criar uma situação de perigo. Uma falta de coragem impressionante de lado a lado. Não tinha como esta pelada não ir ao intervalo no 0 a 0.
Diante das variações de cenário e da falta de emoção do primeiro tempo, era uma incógnita como seria a partida na segunda etapa. Quem tomaria a iniciativa, quem arriscaria mais para vencer, quem mudaria primeiro. E para a surpresa de ninguém, não mudou absolutamente nada. Pareceu até mesmo uma cópia do tempo anterior. Primeiros minutos do Milan mais com a bola, depois cerca de vinte voltas do ponteiro com a Juve tendo a pelota e reta final com os donos da casa novamente mais com a posse. Os técnicos não fizeram nenhuma mudança tática. Os jogadores até esboçaram pressionar na marcação em pontos específicos do jogo, mas logo cessaram. E a partida continuou até o fim sem nenhuma chance de gol para os dois times. As defesas com encaixes precisos, seguros, sendo a única coisa a se elogiar da partida pela segurança, já que os goleiros nem trabalharam. Mas com a bola, times previsíveis, lentos, estáticos, focado apenas em não se exporem ao serem desarmados. Robótico. Desagradável. Antipático.
Cá entre nós, isto não foi exatamente uma partida de futebol, mas sim uma tortura. Quem assistiu teve a certeza de que seria zero a zero desde o início, sem ter a convicção abalada em momento algum do jogo. Um time anulou o outro sem precisar de grande intensidade, apenas de encaixes táticos bem-feitos. Ao longo de mais de 90 minutos, o Milan só finalizou seis vezes e a Juventus sete. Chances de perigo, nenhuma para ambos. Tudo bem, as defesas tiveram desempenho muito positivo, mas a falta de dinamismo dos ataques colaborou bastante. Não é que os marcadores precisaram de esforço descomunal para sustentar a ficha limpa. Apenas fizeram o simples com concentração. E o jogo não teve nenhuma fluência, nenhum risco tomado, nenhuma coragem. Certamente não é o tipo de futebol que a maioria do público e mesmo dos torcedores rossoneros e bianconeros gostariam de ver. Mas é o que foi. Pouco útil para ambos, mas certamente pior para o Milan. O time da casa segue em sétimo, seis pontos atrás do sexto e nove da líder e rival Inter. A Juve, ainda que não encoste no primeiro colocado, soma um ponto fora de casa com uma profusão de desfalques e segue a três pontos da liderança. Tem menos motivos a lamentar. Quem lamenta mesmo é quem assistiu este jogo do início ao fim. Mas estes estão de parabéns pela resiliência e coragem que faltou aos atletas em campo.
MILAN: É difícil de compreender a postura adotada pelo Milan em campo hoje. Para um time que precisava vencer para pensar em entrar na briga pelo título, jogar de forma tão apática não faz o menor sentido. Ok, teve uma atuação defensiva segura, bem encaixado e concentrado. Mas com a bola não produziu absolutamente nada. Mesmo com Rafa Leão em campo, não teve dinamismo para encaixar sequer um contra-ataque de velocidade. E quando tentava propor era extremamente lento e previsível, sempre dando um jeito de terminar as jogadas em cruzamentos de fácil anulação por parte do rival. Ao ver um desempenho como esse em um jogo importante, o público começa a acreditar nos boatos de que Paulo Fonseca não é benquisto por seus jogadores. Muito além do resultado, é uma atuação incrivelmente fraca e preguiçosa do Milan em um clássico contra a Juventus que poderia elevar o time a uma pontuação menos distante do grupo de líderes da Série A. Não passou nem perto de acontecer. E os rossoneros seguem em um inconveniente sétimo lugar, seis pontos atrás do primeiro time a ir para uma competição europeia. Desagradável.
JUVENTUS: A Juve não é menos responsável que o Milan pelo espetáculo deprimente que vimos. Teve uma atuação tão sonolenta quanto. E as consequências para o campeonato também não são tão irrelevantes, pois a líder Inter venceu na rodada e agora tem três pontos de vantagem. Contudo, você enxerga mais motivos para entender por que os bianconeros foram vagarosos com a bola e focaram na segurança defensiva. O time, que tem a melhor defesa da Série A, não contava hoje com Bremer, Cabal, Nico González, Douglas Luiz, Milik e Vlahović. Peças importantes para a engrenagem de Thiago Motta. Não esconde o rendimento xoxo, mas atenua relativamente. Se considerarmos que mesmo com todos estes problemas, a Juventus segue invicta no campeonato e ainda com potencial claro de brigar pelo título, certamente a dor do 0 a 0 é muito menor do que foi para o rival Milan. Delito culposo.
ARBITRAGEM: Se o jogo foi tão sonolento, certamente não seria trabalhoso para a arbitragem administrá-lo. A equipe comandada por Daniele Chiffi não teve um lance polêmico para analisar. Apenas fez o trivial e passou discreta. Simples.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ MILAN: Maignan; Emerson Royal (Calabria), Thiaw, Gabbia (Pavlović) e Theo Hernández; Fofana, Reijnders, Loftus-Cheek (Pulisic), Musah (Chukwueze) e Rafael Leão; Morata. Técnico: Paulo Fonseca.
🗒️ JUVENTUS: Di Gregorio; Savona (Danilo), Kalulu, Gatti e Cambiaso; Locatelli, Khéphren Thuram, McKennie (Fagioli), Francisco Conceição (Timothy Weah) e Yıldız (Mbangula); Koopmeiners. Técnico: Thiago Motta.
⚽ Gols: ❌
👟 Assistências: ❌
🟡 Cartões amarelos: Rafael Leão, Emerson Royal e Fofana (Milan) | Gatti e Locatelli (Juventus)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Daniele Chiffi (Itália)
🏟️ Local: Estádio San Siro, Milão-ITA