VITÓRIA COLORADA NO PRIMEIRO GRE-NAL EM OUTRO ESTADO BRASILEIRO

Jonathan da Silva
9 min readJun 23, 2024

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Com o 1 a 0 sobre o mandante Grêmio no Couto Pereira, o Internacional vence o primeiro Gre-Nal disputado em outro estado brasileiro. O clássico foi nivelado por baixo, mas o colorado teve mais lucidez, foi superior ao tricolor, errou menos e obteve a vitória com justiça. Enquanto o time de Chacho Coudet entra no G6, o de Renato Portaluppi amarga mais uma rodada no Z4.

Com o desespero para sair da zona de rebaixamento e encerrar a sequência de derrotas no campeonato, o Grêmio foi quem tomou a iniciativa da partida. Aquela velha filosofia do Inter de Chacho Coudet, de fazer uma pressão inicial, não tem mais sido vista com os desfalques e a sequência de jogos. Quem procurou marcar alto e manter a bola no campo de ataque foi o tricolor. No entanto, apesar da vontade, faltou qualidade. Sem um centroavante ou uma figura que fizesse o papel de falso nove, faltou profundidade ao time de Renato. O caminho para o perigo teria de ser a movimentação, mas ela foi discreta e não gerou nenhuma chegada de clareza. Apenas Gustavo Nunes e Cristaldo tentaram algo de média distância a partir do individual, mas sem qualquer produtividade real.

Na realidade, mesmo no começo melhor gremista, quem teve a melhor chance dos quinze minutos iniciais foi o Internacional. Ainda que o colorado estivesse distante e retivesse pouco a bola pela inoperância de Alario, havia um certo Wesley partindo da ponta direita para dentro. E quando ele toca na bola, há perigo. Sem a bola, o Grêmio se posicionava em um 4–3–3 justamente para bloquear o começo das jogadas vermelhas. No entanto, acabava deixando um buraco à frente de sua zaga que poderia ser explorado pelo time de Coudet se houvesse mais velocidade e movimentação nas jogadas. Não houve coletivamente, mas houve por parte de Wesley. Ele levou ao fundo, cruzou, a zaga cortou e Renê, livre, perdeu uma boa chance da entrada da área aos seis minutos.

No entanto, se a sequência de jogos pesa fisicamente para o Inter, não é diferente para o Grêmio, que também tem o calendário de jogos cheio. A partir dos quinze minutos, aquela marcação alta e extremamente combativa do tricolor começou a cessar. O jogo passou a ser de momentos de posse para um lado e momentos para o outro até o final da etapa inicial. E com um festival de chutões que certamente não agradou a ninguém que assistiu. O Grêmio usava das ligações diretas por estratégia, para tentar pegar o Inter em transição defensiva e usar da teórica mobilidade de seu ataque sem centroavante. Na prática, não teve retenção de bola e foi bem marcado por uma retaguarda bem cuidada pelo colorado, que não subia tanto justamente para se proteger. Do lado vermelho, os chutões vinham por falta de mobilidade. Como as opções curtas não vinham pelo distanciamento e falta de variação nos movimentos, a zaga colorada alongava bolas para Alario perder quase todas as disputas aéreas.

No entanto, em alguns momentos o Inter conseguiu trocar passes terrestres, explorando os espaços que o Grêmio cedia à frente da zaga. Apesar da falta de contínua compactação, o colorado teve lampejos de movimentação. Wanderson, Bustos ou Wesley surgiram por vezes como opção para a zaga sair do marasmo, bem como as subidas de Vitão foram interessantes. Aliado a isto, o próprio tricolor entregou bolas bobas no meio-campo que facilitaram o caminho para o colorado. Com o espaço entre as linhas, Alan Patrick teve momentos muito promissores nos pés. Mas no primeiro tempo ficou devendo e acumulou erros. Wesley seguiu sendo o único a realmente levar perigo e trazer profundidade, atropelando o marcador que tivesse pela frente. Mas na hora do cruzamento ou do passe, faltava opção ou a finalização do colega saía ruim.

A ida ao intervalo no 0 a 0 foi caricatura do primeiro tempo de pouquíssimo futebol no Couto Pereira. Foram mais chutões que finalizações. E na direção do gol, não houve nenhuma para qualquer um dos times. Pobreza pura. O Grêmio tentava chegar na base da garra e dos lampejos individuais, mas não tinha estrutura e profundidade. O Inter tentava ser o de sempre da construção terrestre, mas não tinha dinamismo e acabava também apelando para bolas longas e jogadas individuais. Por ter melhores individualidades, foi quem mais chegou na área. Mas não a ponto de se impor.

Na volta para o segundo tempo, novamente o Grêmio procurou fazer uma pressão inicial. Recuperou o fôlego e repetiu a mesma postura da primeira etapa. No entanto, dessa vez conseguiu ser perigoso. Aos cinco minutos, forçou uma saída de bola errada do Internacional perto da área colorada. Em poucos passes, o tricolor viu Cristaldo fazer as vezes de pivô e deixar João Pedro de cara para Fabrício. O lateral, no entanto, finalizou rasteiro e o goleiro do Inter fez grande defesa. Poucos minutos depois, o tricolor teve um contra-ataque com quatro atacantes contra três defensores, mas Gustavo Nunes tomou decisão ruim pela esquerda e foi desarmado. Apesar de ter levado mais perigo, novamente o time de Renato não aproveitou o momento.

Porém desta vez a pressão gremista durou até menos do que quinze minutos. Nem chegou aos dez. Logo o jogo voltou àquele cenário de meio-campo com o Inter levemente mais fluente e chegando mais, mas de anulação dos dois lados quando realmente a coisa apertava. Neste panorama, quem buscou por trocas primeiro foi Eduardo Coudet. Lucca entrou no lugar de Alario para trazer velocidade e movimentação ao ataque colorado, Aránguiz entrou no lugar do discreto Bruno Henrique para trazer um passe mais qualificado. De fato, foram trocas positivas. Em uma das primeiras jogadas após a troca, Lucca já puxou um contra-ataque promissor em um espaço enorme concedido pelo Grêmio à frente da defesa. Dodi precisou pará-lo com falta. Pouco depois, o colorado chegou cruzando pela direita com Bustos e novamente o atacante colorado esteve na disputa da jogada, forçando Geromel a afastar a bola para escanteio pelo alto. Lucca precisou sair por lesão logo na sequência da jogada, mas do escanteio veio o gol da vitória colorada. Na sobra da cobrança, o camisa 10 colorado fez boa jogada e cruzou rasteiro. Marchesín defendeu, mas deu rebote e Vitão se impôs sobre Geromel no alto, cabeceou na direção do gol e Gustavo Martins desviou contra o próprio patrimônio, tirando as chances do goleiro gremista e abrindo o placar para o rival Internacional aos 18 minutos do segundo tempo.

Após o gol, o cenário era óbvio: o Grêmio iria no desespero para o ataque e o Inter iria fechar a casinha para manter o resultado. Com a saída de Lucca, o colorado ficou sem nenhum atacante de fato em campo, o que foi combustível ainda maior para Eduardo Coudet fazer trocas defensivas. Como tem feito nos jogos em que vence, o treinador argentino terminou o jogo com Igor Gomes na lateral, Bustos um pouco adiantado, Mercado, Vitão e Fernando por dentro, e Thiago Maia e Aránguiz à frente da zaga. Uma retranca à moda antiga. Não menos pragmáticas foram as trocas de Renato Gaúcho. Edenílson no lugar de Carballo, Nathan Fernandes no de Pavón, JP Galvão no de Galdino e Rodrigo Ely como centroavante, substituindo o primeiro volante Dodi.

A ideia do técnico gremista era de procurar um chuveirinho, ele próprio abordou isso na coletiva pós-jogo. No entanto, isto foi pouco produtivo. O Grêmio teve a bola no pé por toda a segunda metade da etapa final e não criou absolutamente nada com bola rolando. Gustavo Nunes tentava individualmente, mas parava quando chegava perto da área. Os laterais não acertavam um cruzamento. O meio, sem peças, naturalmente não tramava uma jogada. Era um festival de chuveirinho que batia na parede e voltava para o Grêmio, que ao menos tinha a segunda bola, mas não usava ela de maneira produtiva.

Para piorar o cenário, quem teve chances mais contundentes mesmo foi o Internacional. Mesmo com apenas Wesley e Gustavo Prado de opções ofensivas, o colorado achou um contra-ataque já nos últimos minutos em que Wesley avançou em diagonal e finalizou na trave. Na sobra, Gustavo Prado chutou com perigo e Geromel cortou em cima da linha. Na sequência, o tricolor saiu errado, a bola permaneceu na área e Aránguiz acertou a trave mais uma vez. Foram três chances claríssimas de matar o jogo que o Inter desperdiçou. O Grêmio, quase sem defensores, assumiu o risco. E ainda teve uma última chance, após falta boba cometida por Thiago Maia na intermediária. Cristaldo cruzou e Geromel conseguiu bom cabeceio, que passou perto da trave de Fabrício. Oportunidade de bola parada, mas que quase salvou a noite. No entanto, perdida. Chacho Coudet novamente foi efetivo ao fechar a casinha, porque o colorado sofreu pouco. O tricolor, por sua vez, facilitou o trabalho ao optar pelo chuveirinho mesmo com Rodrigo Ely e JP Galvão de atacantes em vez de algo coletivamente tramado e via velocidade.

O jogo foi feio. Nenhum dos times jogou realmente bem, nem o Grêmio, nem o Internacional. No entanto, o colorado errou menos que o tricolor, mostrou mais lucidez técnica e teve mais ataques perigosos ao longo do jogo. Considerados os momentos distintos do jogo, foi quem teve a estratégia mais confortável e efetiva. E, na marra e na sorte, achou um gol que até poderia ter feito de forma mais simples em outro momento. O time de Renato tentou resolver as coisas na garra, mas sentiu falta de maior organização, fôlego e qualidade técnica. O Inter, mesmo até mais desfalcado que o Grêmio, teve de onde tirar mais produtividade com Wesley, Bustos e Alan Patrick, por exemplo. Foi justo vencedor. Confirmou o favoritismo que tinha e justamente aproveitando das razões que o tinha, a fase pior do rival. O colorado vence o terceiro Gre-Nal seguido e chega a 163 triunfos no clássico, ante 141 do tricolor. No Brasileirão, dorme no G6, enquanto o Grêmio segue terrivelmente posicionado na vice-lanterna. O Couto Pereira pode até lembrar o velho Olímpico, mas lembra àquele das vitórias emblemáticas vermelhas. E cheira à fundo de tabela.

GRÊMIO: O Grêmio segue em um calvário. No Brasileirão, chega a sete derrotas em nove jogos. Mesmo com os impactos da catástrofe e os desfalques, que merecem sim entrar na conta, é um aproveitamento ridículo. O time é limitado, mas não para ser o penúltimo colocado do campeonato. Renato tem mérito pela classificação na Libertadores, mas tem dependido de uma postura aguerrida para compensar a falta de um coletivo organizado. O ídolo gremista não tem encontrado repertório diante da limitação de peças, as individualidades já não resolvem como em 2023, quando havia um tal de Suárez no ataque. Neste momento, o tricolor precisa de uma recuperação urgente, antes que a situação vire uma bola de neve e tudo comece dar errado nos momentos decisivos, como nos outros três rebaixamentos azuis.

INTER: O Inter passou longe de jogar um grande futebol, mas fez o que pedem os clássicos e os pontos corridos: venceu. Mesmo sem atuar bem, achou uma forma de ganhar. Apesar de todos os desfalques importantes, da falta de aproximação em campo e de erros técnicos até repetitivos, teve gente com lucidez técnica para ao menos fazer o time chegar com perigo algumas vezes. Bustos e Wesley foram produtivos do início ao fim. Vitão e Fernando aceleraram o jogo para eles em diversos momentos. Alan Patrick teve lampejos decisivos. Por aí veio a vitória em um jogo de equilíbrio na posse de bola. E, claro, na boa atuação defensiva pós-vantagem. O time de Chacho Coudet está distante do rendimento ideal, mas já vence a segunda seguida no Brasileirão e o terceiro Gre-Nal consecutivo. Mesmo atuando em onze estádios diferentes nos onze últimos jogos, tem 7 vitórias, 1 empate e 3 derrotas. E o time entrou no G6. Há muito o que melhorar, mas há de onde organizar uma remobilização. E vencer dois rivais em sequência é combustível para isso.

ARBITRAGEM: O catarinense Ramon Abatti Abel fez uma partida bem positiva para um Gre-Nal. Apesar de alguns erros pequenos, controlou bem o calor do jogo e não cometeu falhas que interferissem no resultado. Não quis chamar o protagonismo para ele. Atuação segura. Se credencia para voltar a apitar o clássico.

FICHA TÉCNICA:
🗒️ GRÊMIO: Marchesín; João Pedro (Fábio), Geromel, Gustavo Martins e Reinaldo; Dodi (Rodrigo Ely), Carballo (Edenílson), Cristaldo, Pavón (Nathan Fernandes) e Gustavo Nunes; Everton Galdino (JP Galvão). Técnico: Renato Gaúcho.
🗒️ INTER: Fabrício; Bustos, Vitão, Fernando e Renê; Thiago Maia, Bruno Henrique (Aránguiz), Wesley e Wanderson (Igor Gomes); Alan Patrick (Mercado) e Alario (Lucca/Gustavo Prado). Técnico: Eduardo Coudet.
⚽ Gol: Gustavo Martins [contra] (Inter)
👟 Assistências: ❌
🟡 Cartões amarelos: Geromel, Gustavo Nunes e Dodi (Grêmio) | Fernando e Bustos (Inter)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨‍⚖️ Árbitro: Ramon Abatti Abel (Santa Catarina)
🏟️ Local: Estádio Couto Pereira, Curitiba-PR

BOLA DE OURO DO JOGO: Vitão/Inter | FOTO: Ricardo Duarte/Sport Club Internacional

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Jonathan da Silva
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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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