URUGUAI ASSUME A VICE-LIDERANÇA EM JOGO ELETRIZANTE

Jonathan da Silva
8 min readNov 16, 2024

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Eletrizante! Sem surpresa, Uruguai e Colômbia fizeram um duelo eletrizante pela 11ª rodada das Eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2026. Com emoção até o último suspiro, a celeste fez valer o fator casa e buscou aos 55 do segundo tempo a vitória por 3 a 2 no confronto direto para ficar com a vice-liderança, que pertencia à equipe colombiana até então. Em uma partida com forte presença do fator imponderável, o fator anímico pesou mais que a batalha tática e a garra uruguaia sobrepôs a imaturidade tricolor. Futebol sul-americano em estado puro.

O primeiro tempo inteiro em Montevidéu foi marcado por certo equilíbrio, mas sempre com a Colômbia trabalhando melhor as suas jogadas. O cenário foi de troca de golpes, com quatro finalizações uruguaias e cinco colombianas, além de 53% a 47% para os visitantes na posse de bola. Contudo, a fluência das jogadas foi claramente mais vista do lado tricolor. No início da partida, por exemplo, quem tentou marcar de forma adiantada e ter mais a bola foi a celeste. E realmente teve mais a posse, mas sem conseguir armar bons ataques, forçando muitas bolas longas para Darwin, mas sem as devidas aproximações para ter continuidade. Os passes errados e desarmes sofridos eram constantes. Já a Colômbia partia ao ataque de forma mais direta. Recuperava a pelota, simplificava nos primeiros passes com boa movimentação e utilizava de bons lançamentos para explorar as costas dos defensores uruguaios adiantados com a velocidade dos pontas. Chegou na área com mais liberdade e perigo que a seleção da casa. Contudo, sentiu falta de melhor trabalho por dentro para já abrir o placar.

Com a proximidade dos 15 minutos, o cenário de jogo mudou. O Uruguai deixou de marcar alto de forma agressiva e voltou ao seu campo, mais constantemente postado no 4–4–2 em seu campo, tal qual a equipe colombiana fazia no início. E o time celeste até melhorou seus ataques, com mais espaços para explorar, tendo algumas chegadas interessantes da beirada para dentro, mas seguiu acumulando erros técnicos, seja em passes, tentativas de drible ou mesmo com dois jogadores se atrapalhando na hora de finalizar. A Colômbia, mesmo mais com a pelota e com menos espaços para explorar que antes, seguia mais fluente. Seguia com um trabalho técnico mais qualificado. Atraía a marcação uruguaia para um lado e constantemente procurava inversões para seguir tendo campo a correr. Além de ela própria também passar a marcar alto e forçar os mandantes a erros perto da própria área. Com cruzamentos e diagonais, a equipe cafeteira chegava. Ainda cedo, Durán perdeu chance claríssima após cruzamento de Richard Ríos. Mas aos 30 minutos, a bola finalmente entrou. Em cobrança de falta surpreendente do craque Quintero, que tirou mais uma das suas mágicas da cartola, Rochet falhou clamorosamente ao expor seu canto armando mal a barreira e pulando mal na pelota. A Seleção Colombiana abriu o placar com mérito no Centenário.

Nos últimos minutos da etapa inicial, em função do placar, a partida voltou para aquele cenário em que o Uruguai marcava de forma mais agressiva e tinha ligeiramente mais posse de bola. Todavia, a celeste não teve dinâmica para mudar o cenário da dificuldade na criação de jogadas. Seguiu correndo mais que a bola, com pressa, errando passes bobos e se atrapalhando tecnicamente. Havia intenção, mas não havia lucidez, calma, coordenação. Os erros não paravam. E a Colômbia, com suas jogadas objetivas, seguia conseguindo suas transições rápidas. Contudo, até pela vantagem no resultado, apoiou com menos volume que antes. E deste modo, voltou a ter um acabamento ruim de jogadas pelo meio. Com isso, o duelo em Montevidéu foi mesmo ao intervalo com uma justa vantagem mínima para a Colômbia. Coerente, já que havia equilíbrio na iniciativa e na quantidade de ataques, mas a equipe visitante sempre foi melhor nos detalhes.

Como era esperado, o Uruguai intensificou a pressão no começo do segundo tempo. Foi ainda mais agressivo na marcação alta e aumentou a posse de bola. A Colômbia, por sua vez, reduziu a pegada nos combates e focou em proteger a área no 4–4–2. Não contragolpeou com frequência, procurou mais administrar o resultado. Contudo, apesar do cenário diferente, parecia que não aconteceria nenhuma mudança no placar, já que taticamente pouco havia mudado. Mas o imponderável do futebol apareceu para modificar essa história. Aos 11 minutos, em um cruzamento quase despretensioso de Saracchi, o zagueiro Davinson Sánchez falhou de forma grosseira e acabou fazendo um gol contra bisonho. E não parou por aí. Menos de cinco minutos depois, aos 15, a defesa colombiana teve outro apagão e viu o Uruguai virar o jogo com o estreante Rodrigo Aguirre. Na primeira grande troca de passes, a celeste já botou a bola na rede com competência. E os marcadores tricolores ficaram apenas olhando, sem dar bote, esperando alguém agir. Confundiu administração com passividade. Foi castigada. E a equipe local foi premiada pela persistência mesmo sob pressão, quando as coisas não davam certo como ela gostaria.

Após a virada uruguaia, a Colômbia precisou voltar a propor as ações. Mas o jogo não foi nem de perto o mesmo da primeira etapa. Desta vez, com a vantagem, o Uruguai conseguiu marcar de forma mais consistente. Um dos fatores foi que Bielsa trocou Aguirre por Ugarte, saindo do 4–2–3–1 para o 4–1–4–1, reforçando a marcação. Não mudou os encaixes individuais, mas voltou com mais peso ao próprio campo e teve melhor aproveitamento nos duelos de homem contra homem. A equipe colombiana, sem conseguir confundir o adversário para ter espaços a explorar, praticamente não criou mais. Não fez mais inversões, enfiadas ou diagonais, além de ter cruzado pouco. Nem mesmo as entradas de James Rodríguez e Borré conseguiram trazer mais mobilidade e imprevisibilidade. Rochet nem era exigido. Tudo parecia calmamente se encaminhar para o término da partida com o placar de 2 a 1.

Todavia, o fator imponderável do futebol quis destacar sua importância nessa noite. Aos 50 minutos, quando o juiz já começava a pensar em terminar o jogo, a Colômbia achou um gol chorado com o recém-ingressado Carlos Gómez. Em um raro descuido da defesa uruguaia na segunda etapa, Mojica cruzou, a bola passou na frente de alguns defensores celestes e Gómez, com certa liberdade, finalizou relativamente fraco, mas Rochet, em noite ruim, não conseguiu salvar com os pés. Até pelo que foi o jogo como um todo, o empate fazia sentido e refletia o cenário de que cada time havia sido melhor em um dos tempos.

Contudo, o tal do imponderável resolveu dar as caras de novo. Quando tudo parecia acabado, os deuses do futebol resolveram lembrar a razão de este ser o melhor esporte do mundo e surpreender a todos com mais um gol. Em uma última investida uruguaia, muita gente foi ao ataque logo após a bola voltar pós-tento colombiano. Bentancur tocou para Varela, que mesmo com todos os jogadores da Colômbia no campo defensivo, conseguiu achar um espaço livre nas entrelinhas para fazer um último cruzamento. A bola nem saiu tão boa, mas a defesa tricolor focou só em Darwin Núñez, simplesmente não teve capacidade de fazer um movimento para realizar o corte e a pelota sobrou limpa para Pellistri, que escorou para Ugarte, que chegava de trás, finalizar e marcar o terceiro gol celeste aos impressionantes 55 minutos do segundo tempo. No último suspiro, na última esperança, no último lance, o Uruguai foi premiado por sua persistência interminável e encontrou a vitória. E a Colômbia, com mais um vacilo defensivo grave, punida pela falta de maturidade ao administrar o jogo.

Eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo em estado puro. Em nenhum lugar do mundo a disputa por vagas ao Mundial é tão intensa e tem partidas tão dramáticas como a América do Sul. Como tem sido costume no confronto direto, Uruguai e Colômbia travaram um jogo eletrizante, peleado do início ao fim. Na batalha tática, houve equilíbrio, com os colombianos melhores na primeira etapa e os uruguaios na segunda. Mas o que realmente desequilibrou a partida foi o aspecto anímico. A personalidade de cada uma das equipes no momento decisivo, sob pressão. Nisto, a celeste foi francamente superior. Enquanto a equipe de Nestor Lorenzo acumulou erros grosseiros quando apenas precisava administrar o resultado, o time de Bielsa buscou três gols decisivos na base da luta, da persistência e da coragem mesmo quando o desempenho passava longe do ideal. O caráter decidiu mais que a técnica nesta noite. E no duelo que valia a vice-liderança, venceu o time que não marcava gol há quatro jogos e hoje meteu um trio. Uruguai assume o segundo lugar e a Colômbia passa a ser terceira. Viva o futebol.

URUGUAI: A celeste foi buscar essa vitória na marra. O time de Marcelo Bielsa não jogou um grande futebol, mas teve uma garra exemplar e lutou ao extremo para conquistar os três pontos. A defesa teve erros pontuais e o ataque fluiu pouco na criação de jogadas, mas a persistência e a intensidade sempre mantiveram a equipe da casa viva no jogo. Com mais maturidade que a Colômbia na hora decisiva, encontrou os gols que precisava mesmo sob pressão e buscou este triunfo importantíssimo no confronto direto. O Uruguai assume a vice-liderança das Eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo e já pode dizer que neste certame venceu Argentina, Brasil e Colômbia. Apesar da oscilação recente, a celeste segue a passos largos para a disputa de mais um Mundial. E nesta noite será difícil dormir em Montevidéu.

COLÔMBIA: A Seleção Colombiana não jogou necessariamente mal, mas subestimou o tamanho do jogo e o adversário. Foi ao intervalo com justa vantagem pelo controle tático do primeiro tempo, mas exalou imaturidade na segunda etapa. De início, confundiu administração com passividade e tomou a virada rapidamente com dois graves vacilos defensivos. E no final, quando achou o gol de empate já nos acréscimos mesmo com enorme dificuldade para criar chances, esqueceu de marcar praticamente no último lance e conseguiu tomar o gol da derrota aos 55 minutos. Vacilos inadmissíveis em uma partida deste peso. Pelo desempenho, a Colômbia nem merecia perder, pois o jogo foi equilibrado, mas pela falta de maturidade e pelas bobeiras grosseiras se entende como saiu derrotada. Com o revés, o time de Nestor Lorenzo perde também a vice-liderança das Eliminatórias justamente para o Uruguai. Não há razão para terra arrasada, mas uma derrota com estes moldes requer bastante análise para não ser repetida em momentos decisivos.

ARBITRAGEM: A equipe comandada pelo peruano Kevin Ortega fez uma partida segura em Montevidéu. Em um confronto conhecido pelo calor, praticamente não aconteceram confusões ao longo do jogo. Além disso, não houve nenhum erro técnico grosseiro do apitador, com destaque para a validação correta de todos os gols. Com a discrição necessária, arbitragem positiva.

FICHA TÉCNICA:
🗒️ URUGUAI: Rochet; Nández, Giménez, Mathías Olivera e Saracchi (Varela); Bentancur, Fede Valverde, Rodrigo Aguirre (Ugarte), Pellistri e Maxi Araújo; Darwin Núñez. Técnico: Marcelo Bielsa.
🗒️ COLÔMBIA: Camilo Vargas; Daniel Muñoz, Davinson Sánchez, Lucumí e Mojica; Richard Ríos, Portilla (Mina), Quintero (James Rodríguez), Arias (Carlos Gómez) e Luis Díaz; Durán (Borré). Técnico: Nestor Lorenzo.
⚽ Gols: Davinson Sánchez [contra], Rodrigo Aguirre e Ugarte (Uruguai) | Quintero e Carlos Gómez (Colômbia)
👟 Assistências: Mathías Olivera e Pellistri (Uruguai) | Mojica (Colômbia)
🟡 Cartões amarelos: Bentancur, Rodrigo Aguirre, Fede Valverde e Nández (Uruguai) | Quintero e Durán (Colômbia)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨‍⚖️ Árbitro: Kevin Ortega (Peru)
🏟️ Local: Estádio Centenário, Montevidéu-URU

BOLA DE OURO DO JOGO: Mathías Olivera/Uruguai | FOTO: AUF/Reprodução

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Jonathan da Silva
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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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