UMA GOLEADA MESMO SEM GRANDE RENDIMENTO COLETIVO PARA MOSTRAR QUE NEM TUDO ESTÁ PERDIDO
O Brasil goleou o Peru por 4 a 0 em jogo válido pela 10ª rodada das Eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo. Diante da fragilidade peruana, a equipe canarinho precisou apenas de confiança e inspiração individual para aplicar um placar elástico em Brasília. Uma goleada mesmo sem jogar grande futebol: coisas que acontecem com a Seleção Brasileira e mostram que em termos de peças nem tudo está perdido.
O primeiro tempo teve uma história linear. Do início ao fim, teve apenas um cenário: ataque do Brasil contra defesa do Peru. Contudo, com um desenrolar absolutamente chato. Sem graça e sem sal como o setor construtivo da Seleção Brasileira. Apesar de dominar a posse de bola, não só pela postura retrancada do Peru, mas também por executar uma boa marcação adiantada, o time brasileiro não demonstrava qualquer criatividade ao ter a pelota nos pés. O corredor central era algo inutilizado. A movimentação, discreta. A velocidade, digna de se ter inveja das lesmas. O que o time de Dorival tentava era achar profundidade pelas beiradas e cruzar ou esperar o brilho individual de uma das peças ofensivas. Naquele momento não bastou. Só mesmo o pênalti bobo cometido por Zambrano em boa jogada de Igor Jesus pôde salvar a parada. Na cobrança da penalidade, Raphinha abriu o placar aos 37 minutos. E foi isso. Nada mais que este pouco.
Nos minutos iniciais do segundo tempo, pouco de fato mudou. Mesmo com o placar mínimo favorável ao Brasil, o Peru ainda não achou que era momento de se expor. E o panorama seguiu aquele de proposição brasileira e da espera peruana por um milagre. Contudo, se nas dinâmicas coletivas o roteiro permaneceu, individualmente o time canarinho cresceu. Sem um peso nas costas, os bons jogadores tiveram mais confiança para arriscar, para tentar sair da caixinha. E numa dessas, Savinho sofreu outro pênalti, de novo cometido pelo imprudente Zambrano, para Raphinha converter e fazer 2 a 0 para a Seleção Brasileira já aos 8 minutos da etapa final. Mesmo sem jogar bem, o time da casa já encaminhava a vitória com muito tempo ainda pela frente.
A partir do momento em que o Brasil ficou com dois gols de vantagem, sim, o jogo passou a mudar de panorama. O Peru finalmente resolveu sair mais para o jogo. Porém, não fez isto da melhor forma. Adiantou a marcação e tentou ficar mais com a bola, mas sem critério. Viveu apenas de tentativas de lançamentos, inversões e cruzamentos. Nada bem tramado por terra, nada dinâmico. Pelo contrário, apenas se expôs mais atrás. Se espaçou e deu espaço para o Brasil finalmente tramar alguma coisa até pelo corredor central. O time de Dorival não passou a ser um primor coletivo, mas teve ainda mais confiança, utilizou bem das brechas e aumentou a produção ofensiva. Continuou com as beiradas como maior foco, mas teve boas iniciativas individuais pelo meio com Gerson, Andreas e Luiz Henrique. Os dois últimos, aos 26 e aos 28 minutos, em belas finalizações, tornaram o placar em goleada de 4 a 0. Inesperado, mas plausível pelo desenrolar da história.
Apesar de o Brasil não ter jogado grande futebol, o placar não é enganoso. Por demérito do Peru e pela inspiração individual brasileira, o jogo foi digno do 4 a 0 mesmo. A construção coletiva verde-amarela pode ter sido pobre, mas as iniciativas pessoais a partir da confiança e dos espaços dados pelos peruanos foram pontos positivos que levaram à discrepância. Focado só em defender, o conjunto visitante nem pensou em competir ofensivamente. E quando precisou fazê-lo por necessidade, não soube como, completamente pobre. Nenhum dos times apresentou algum brilho no desempenho como equipe. Com isso, venceu quem tem mais talento para achar algo fora da caixinha. Padrão. Favoritismo confirmado pelo Brasil mesmo em meio ao cenário de aleatoriedade e pouca esperança de futuro.
BRASIL: O Brasil conseguiu golear mesmo sem jogar um bom futebol coletivamente. No primeiro tempo, diante da retranca do Peru, ficou notória a falta de dinamismo coletivo da equipe de Dorival Júnior, sem mobilidade, lenta, previsível, zero criativa. O pênalti dado de presente por Zambrano, assim como ele voltaria a fazer no segundo gol, salvou o desempenho fraco. Com a vantagem no placar, surgiu a inspiração individual. A pressão diminuiu, a confiança aumentou e a produção ofensiva, por consequência, também. E o time nem passou a jogar bem como conjunto, mas a insistência nos cruzamentos deu mais resultado e as ações individuais, fora da caixinha, surgiram com mais qualidade e maior frequência. Nisso, ocorreu o placar elástico mesmo sem uma exibição empolgante. Em dois jogos de mais do mesmo no coletivo, o Brasil soma seis pontos diante das seleções fracas do Chile e do Peru. Em meio à crise, individualidades como Gerson, Andreas Pereira, Igor Jesus, Luiz Henrique e Raphinha surgem como uma luz no fim do túnel e ajudam a seleção amarelinha a ficar mais próxima de mais uma participação em Copa do Mundo, agora na quarta colocação das Eliminatórias. Eles e outras peças mostram que nem tudo está perdido no futuro verde-amarelo.
PERU: Após o lampejo e da vitória importante diante do Uruguai na “crise Bielsa”, o Peru voltou ao normal. A seleção de Jorge Fossati não é penúltima colocada das Eliminatórias por acaso. Tentou competir contra o Brasil na base da “retrancalha” e de algum momento de brilho ofensivo. Não deu certo. Na defesa, apesar de até não estar tão bagunçado no 5–3–2 executado, os erros individuais, principalmente os de Zambrano, impediram a segurança defensiva. No ataque, sem qualquer velocidade e movimentação para superar a marcação adiantada brasileira, o Peru praticamente não apareceu. Tentou jogar só depois de estar perdendo e, sem nada que não fosse chutão e cruzamento, apenas se expôs mais na retaguarda e viu a goleada surgir. Planejamento barato e execução paupérrima da Seleção Peruana. Derrota dura de 4 a 0 para o Brasil e a permanência na vice-lanterna da disputa por uma vaga na Copa do Mundo. Mesmo com tantas vagas, parece que o time vice-campeão da América em 2019 ficará mais uma vez de fora do Mundial. Não tem jogado bola para mudar o cenário, tampouco tem utilizado peças que empolgam.
ARBITRAGEM: Esteban Ostojich tentou se complicar, mas o VAR o ajudou bem. Logo no início, um de seus auxiliares corretamente anulou um gol de Flores por impedimento. Contudo, na reta final da etapa inicial, o apitador uruguaio não viu no campo o pênalti claro cometido por Zambrano com a mão e precisou ficar minutos analisando no VAR para mudar de ideia. Pouco depois, durante o intervalo, o lateral Marcos López simplesmente derrubou intencionalmente o monitor do assistente de vídeo no chão. Ostojich e seus parceiros do vídeo simplesmente ignoraram o que era motivo claro para expulsão. Ao menos, durante a segunda etapa, o uruguaio corretamente marcou outro pênalti de Zambrano, desta vez em pisão sobre Sávio, e não viu nenhuma irregularidade nos gols claramente legais do Brasil. Arbitragem confusa, mas não comprometedora.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ BRASIL: Ederson; Vanderson, Marquinhos, Gabriel Magalhães e Abner; Bruno Guimarães (André), Gerson, Rodrygo (Andreas Pereira), Raphinha (Matheus Pereira) e Sávio (Luiz Henrique); Igor Jesus (Endrick). Técnico: Dorival Júnior.
🗒️ PERU: Gallese; Miguel Araujo, Zambrano e Callens; Advíncula (Andy Polo), Jesús Castillo (Sonne), Cartagena, Sergio Peña (Murrugarra) e Marcos López; Bryan Reyna (Luis Ramos) e Edison Flores (Joao Grimaldo). Técnico: Jorge Fossati.
⚽ Gols: Raphinha [2×], Andreas Pereira e Luiz Henrique (Brasil)
👟 Assistências: Luiz Henrique e Igor Jesus (Brasil)
🟡 Cartão amarelos: Vanderson (Brasil) | Bryan Reyna, Gallese, Jesús Castillo, Zambrano e Cartagena (Peru)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Esteban Ostojich (Uruguai)
🏟️ Local: Estádio Mané Garrincha, Brasília-DF