UM JOGO VAZIO
O duelo de abertura do grupo C da Copa Sul-Americana entre Belgrano e Internacional não poderia mesmo terminar em outro resultado que não o 0 a 0. A partida em Córdoba foi um grande vazio, de baixíssima qualidade técnica, muito contato físico e praticamente nenhuma chance de gol para ambos os lados.
Os primeiros minutos de jogo deram claros indícios do que seria o confronto no Estádio Mario Alberto Kempes. Ali em especial não houve futebol organizado, mas sim muito contato físico, muita tentativa de mostrar garra, especialmente do lado do Belgrano. Se notou que a estratégia do time mandante passava muito mais pela atitude que pelo planejamento tático em si. Muita pegada, ainda que acompanhada de certo distanciamento em campo. E o Inter, aparentemente pouco interessado, apenas seguiu o roteiro que a equipe argentina pensou para o jogo. Sem apresentar algo novo do que foi visto na semifinal do estadual.
Passados os dez primeiros minutos, o jogo teve redução no contato físico intenso, mas o marasmo não deixou de imperar pelo resto do primeiro tempo. O Internacional tomou as rédeas da partida e acabou a etapa inicial com incríveis 76% de posse de bola, mas foi muito vagaroso, estático e espaçado. Criou pouquíssimo. Bem da verdade, a única chance real de gol colorada veio de um erro grotesco da defesa do Belgrano, em que uma bola mal rebatida pelo goleiro Chicco sobrou para Borré livre, mas o atacante colombiano não conseguiu dominar de primeira e foi travado na finalização. De resto, um jogo muito parado. O Belgrano apenas esperava atrás, já sem morder tanto na marcação, apenas postado com claros espaçamentos em seu 4–4–2, mas conseguindo também isolar os setores do próprio Internacional, algo semelhante ao que fez o Juventude no Gauchão. O Inter, por sua vez, repetiu o mesmo expediente daqueles jogos lamentáveis. Melhorou a circulação de bola e teve algumas boas enfiadas, mas não foi produtivo porque novamente se movimentou muito pouco. Não se aproximou para fazer combinações, para ativar seus melhores jogadores, e acabou fazendo das bolas longas a única maneira de ameaçar o adversário. Mesmo com a bola nos pés por três quartos do tempo. Pouco.
O segundo tempo começou com um expediente diferente. O Belgrano pela primeira vez saiu mais, achou ataques. Havia finalizado apenas uma vez no primeiro tempo e foi um chute travado, sequer foi ao gol ou para fora. Em menos de dois minutos da etapa final, já tinha dobrado o número e com chegadas de perigo, com uma chance real de gol desperdiçada pelo artilheiro Lucas Passerini. O time argentino voltou a ser mais agressivo na marcação e finalmente achou seu centroavante em bolas longas, utilizando dos pivôs dele para empurrar o Internacional para trás e dar espaço para seus meias e pontas chegarem perto da área. Os piratas fizeram alguns cruzamentos de perto do fundo de campo, algumas boas diagonais e poderiam ter achado um gol. Todavia, o momento de empolgação durou pouco, não mais do que cinco minutos.
Passada a pequena pressão do Belgrano, o jogo voltou e foi até o final com um roteiro muito semelhante ao que prevaleceu no primeiro tempo. O Internacional continuou com o domínio da posse, mas discreto na produção. O que mudou foi que o time argentino encontrou mais contra-ataques, mas seguiu também levando pouquíssimo perigo. As substituições pouco impactaram no jogo. O colorado até foi mais agressivo, teve mais intensidade sem a bola, se mexeu mais, mas não encontrou uma forma de se aproximar e avançar com qualidade no campo. Certamente porque entrou o pulmão, especialmente de Gustavo Prado, jogadores como Alan Patrick, Wanderson e Borré já estavam desgastados e dois deles inclusive não demoraram tanto a sair. O Belgrano, por sua vez, parou de apoiar com volume numérico e dar auxílio a Passerini. O jogo direto favorecia o centroavante, mas a falta de aproximação impedia a continuidade das jogadas.
No fim das contas, o que faltou para ambos os lados foi repertório. Não apenas isto, mas principalmente isto. Para o Inter, faltou mais intensidade, movimentação, interesse pela partida, por uma resposta para o fracasso no estadual. Para o Belgrano, faltou qualidade técnica, organização, mais entrosamento, o que não surpreende em uma equipe cujo técnico realiza apenas o segundo jogo no comando. Os defeitos superaram as virtudes por muito. Ninguém soube se impor. 0 a 0 inevitável em Córdoba. E ninguém sai em vantagem no grupo C da Copa Sul-Americana.
BELGRANO: O Belgrano foi aguerrido, mas não escondeu suas limitações técnicas e não poderia mesmo obter mais que o 0 a 0 em casa contra o Internacional. O time de Juan Cruz Real demorou a aparecer no ataque e apenas por dois minutos da etapa final foi realmente perigoso. Não teve repertório. Na defesa, apresentou vários buracos, mas soube isolar também o adversário e por isso sustentou a ficha limpa. Sobretudo, um empate contra o principal time da chave não é de todo mal para os piratas de Córdoba.
INTER: O Inter não deu uma resposta ao fracasso no Gauchão. Pelo contrário, de novo demonstrou apatia, distanciamento em campo, estaticidade e, principalmente, improdutividade. O colorado controlou a partida, de fato, mas não se impôs. Não teve repertório. Viveu de bolas longas. Pobre. Abaixo do esperado. Não fez valer o favoritismo. Estreou na Sul-Americana, da qual é favorito ao título, da mesma forma como terminou o estadual. E, mesmo fora de casa, se deparou com um adversário fraco. Dizer que o resultado é positivo é malabarismo.
ARBITRAGEM: Poderia ter marcado dois pênaltis para o Inter, um em empurrão sofrido por Borré e outro em pontapé sobre Bustos. Eram lances interpretativos, mas mais penais do que não penais. O VAR optou por não interferir.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ BELGRANO: Chicco; Barinaga, Matias Moreno, Troilo e Meriano; Longo, Ariel Rojas (Heredia), Metilli (Lencioni) e Lucco (Bryan Reyna); Matias Suárez (Marin) e Passerini (Franco Jara). Técnico: Juan Cruz Real.
🗒️ INTER: Rochet; Bustos (Igor Gomes), Vitão, Fernando e Renê; Thiago Maia, Bruno Gomes (Bruno Henrique), Maurício (Gustavo Prado) e Wanderson (Wesley); Alan Patrick (Lucca) e Borré. Técnico: Eduardo Coudet.
⚽ Gols: ❌
👟 Assistências: ❌
🟡 Cartões amarelos: Barinaga e Longo (Belgrano) | Vitão, Wanderson e Borré (Inter)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Kevin Ortega (Peru)
🏟️ Local: Estádio Mario Alberto Kempes, Córdoba-ARG