TRÊS PONTOS DESBLOQUEADOS NO FIM
Em duelo válido pela terceira rodada da fase inicial do Gauchão, o Internacional derrotou o São José por 2 a 0 no encharcado Estádio do Vale. Em um confronto de ataque contra defesa do início ao fim, a retranca do Zeca deu trabalho mesmo com um jogador a menos, mas o colorado de Roger Machado encontrou os caminhos para a vitória no fim. Erros individuais do time de Rogério Zimmermann e lampejos individuais alvirrubros definiram a parada em Novo Hamburgo.
Já desde o período inicial, com duelo de onze jogadores contra onze, o confronto tinha um panorama tático bem desenhado: o Inter propunha as ações ofensivas e o São José executava uma retranca clássica. Rogério Zimmermann mandou a campo um 5–4–1, com Jadson na zaga. Com um posicionamento compacto e bastante intensidade, o Zeca conseguia fazer uma proteção da área segura e ainda subir em contra-ataques pelas laterais a partir dos pivôs de Douglas para os pontas, que ajudavam atrás e na frente. O colorado, em um ritmo moroso, não criava chances, estático e com muitos erros de passe. Inviável entrar em uma defesa fechada com “sono”. Além disso, ao perder a pelota, optava não por uma pressão imediata para já partir rumo à área, mas sim focava na recomposição, em não levar bolas nas costas da defesa. Ainda assim, o São José encontrou algumas enfiadas nas costas de Aguirre e Bernabei. O que evitou drama maior em um começo improdutivo do Internacional foi a boa atuação de Victor Gabriel, Vitão e Fernando nas coberturas. Deste modo, pouquíssimo futebol aconteceu nos primeiros dez minutos. E quem passou mais perto de levar perigo foi, surpreendentemente, a reativa equipe de Rogério Zimmermann.
Justamente após o 10º minuto, um lance veio para dificultar ainda mais a estratégia defensiva do Zeca. Em entrada imprudente, Jhonata Varela acertou as travas da chuteira na altura do joelho de Alan Patrick e foi expulso de forma direta por Anderson Daronco. Com um a menos, o trabalho para o São José seria ainda maior. De imediato, sem fazer substituições, Rogério Zimmermann reajustou seu time para um 5–3–1, com Douglas tendo de ajudar mais na marcação, sendo quase um quarto homem da segunda linha defensiva, como era Varela. E, surpreendentemente, o clube alviazul da capital gaúcha teve um bom momento logo após o cartão vermelho de seu volante. Tomado pela coragem, marcou a saída de bola do Internacional e ficou por alguns minutos no campo ofensivo, inclusive levando relativo perigo em cruzamentos e chutes de média distância. O Inter, com um a mais, deu uma “relaxada” e permitiu essa postura mais agressiva do adversário. Claramente estava focado em não sair do esforço mínimo para se poupar mesmo sem poupar peças. Todavia, o placar não saiu do zero também naquele período.
Da metade do primeiro tempo em diante, o duelo voltou a ser o de ataque do Internacional contra defesa do São José. Com um homem a menos, naturalmente o Zeca não teria fôlego para continuar passando tempo no ataque e focou em se defender de forma compacta próximo da própria área. Douglas já era de vez um quarto homem de marcação em um 5–4–0 do time de Rogério Zimmermann. Uma retranca estilo ferrolho mesmo. As raras subidas aconteciam justamente com o centroavante-volante e um dos pontas em subidas raríssimas. A virtude do Inter, àquela altura, era mais sem a bola do que com. Conseguia neutralizar as subidas adversárias com imposição individual nas coberturas e um posicionamento adiantado efetivo. No entanto, na hora de criar seguia pobre. Roger Machado apostava na amplitude para tentar espaçar o adversário. O colorado chegava a atacar em uma espécie de 3–1–6 para tentar bagunçar a linha de cinco do rival municipal. Entretanto, o alvirrubro não saía do posicionamento. Permanecia estático, esperando a pelota ao pé, sem uma dinâmica de atrair e explorar, sem vitória pessoal, sem chute de média distância. Não adianta ampliar o campo e os espaços se não há alguém para aproveitar, se mexendo de forma mais intensa. Nem mesmo empurrar a defesa do São José para o fundo a modo de ter brechas para uma finalização mais confortável o Internacional foi capaz de fazer. Velocidade baixíssima. Em meio a tudo que aconteceu, o Zeca ainda terminou a etapa inicial com mais finalizações que o colorado. Caricato. E o duelo foi mesmo ao intervalo no 0 a 0.
Para o segundo tempo, Roger resolveu apostar em uma mudança tática. Com as entradas de Enner Valencia, Vitinho e Nathan nos lugares de Thiago Maia, Wanderson e Braian Aguirre, o Inter passou a jogar em um 4–1–3–2 em que Alan Patrick era um dos três meias. Bastante ofensivo. De imediato, se notou uma melhor movimentação no meio e maior trabalho para a zaga do São José, com um homem a mais para marcar no terço final. Contudo, quando o colorado ameaçava começar a levar perigo em cruzamentos e diagonais, Rogério Zimmermann fez uma troca defensiva para ajustar a marcação. Colocou o volante Lucas Hulk no lugar do centroavante Douglas. O 5–4–0 tomava forma real e oficial, agora apenas com gente do ofício. O Zeca basicamente abriu mão de existir ofensivamente para continuar no ferrolho atrás, para resistir à evolução do rival. E, com sufoco, o clube do Passo D’Areia conseguiu voltar a sofrer menos. Apesar de ser menos óbvio que na etapa anterior, o Inter continuava sem ter uma criação de jogadas variada. Faltava repertório e dinamismo. Havia maior compactação e intensidade, mas os poucos movimentos e a previsibilidade na troca de passes prosseguiam. Até os zagueiros já estavam perto da área adversária ajudando na criação, mas o time não fazia mais do que levantamentos para a área, passes horizontais e tentativas de alguma jogada individual. Nem chutar de fora da área, brecha aberta pela retração total do Zeca, fazia. A equipe de Roger tinha maior volume, mas continuava sem criar chances reais de gol.
Pelo panorama, tudo levava a crer que o empate por 0 a 0 prevaleceria no placar ao final da partida. O São José não contra-atacava, sem forças e intenção de subir para o ataque, até para não dar brechas defensivas. O Inter propunha com o time quase todo perto da área rival, mas não fazia algum movimento fora do previsível e não criava. As únicas coisas que poderiam romper aquele cenário, àquela altura, eram um lampejo ou um erro individual. E foi a segunda opção que aconteceu para impedir a ficha limpa. Em um dos tantos cruzamentos colorados naquela segunda etapa, Enner Valencia deu uma casquinha na bola e o volante Lucas Hulk simplesmente deu uma cotovelada na pelota dentro da própria área aos 40 minutos. No finalzinho, perto de alcançar o objetivo, uma irresponsabilidade de um jogador comprometeu o Zeca. Pênalti que caiu do céu para o Internacional que martelava e não acertava o prego. Na cobrança, Fábio Rampi até pulou no canto certo e passou perto de salvar o São José, mas Alan Patrick bateu com perfeição, na bochecha da rede. Indefensável. Aos 43, o colorado finalmente abria o placar após tanta insistência. Mesmo com um desempenho pobre, alcançava o objetivo de vencer sem se desgastar muito. Alívio vermelho.
Após o gol colorado, o São José se atirou ao ataque para tentar um milagre. Zimmermann colocou Kayan e Giovane Gomez nos lugares de Gabriel Terra e Jadson. Arriscou tudo. Mas deu errado. O Zeca não só não criou, como permitiu ao Internacional criar. Na frente, viveu de cruzamentos de onde dava, até mesmo do meio-campo em bolas paradas. Impraticável. Atrás, ficou em igualdade ou inferioridade numérica ao colorado em vários contra-ataques. Foi um convite ao time de Roger Machado para matar o jogo. Com muito mais espaços e Alan Patrick e Carbonero inspirados, o Inter finalmente conseguiu fazer boas combinações e entrar na área de forma lúcida, bem trabalhada. Após assustar algumas vezes, o alvirrubro anotou o segundo gol aos 48 minutos, com o colombiano estreante, após boa jogada coletiva terminada em passe de letra para trás do camisa 10 vermelho. Após um boi passar, abriu-se a porteira. Ao menos, para o Zeca, não havia muito tempo restante e uma goleada foi evitada. Mas, podendo fazer transições rápidas, o colorado viveu o único momento realmente bom na partida. Triunfo consumado fora de casa.
O jogo em Novo Hamburgo realmente teve total cara de 0 a 0, mas um lampejo ou uma falha sempre podem mudar tudo. Foi o caso, nos erros de Lucas Hulk e Jhonata Varela, nos lampejos de Alan Patrick e Carbonero. Por praticamente 90 minutos, o ferrolho do São José segurava um Internacional previsível, com circulação de bola vagarosa e pouquíssima movimentação. Um se esforçava ao máximo para não perder, outro se esforçava ao mínimo para ganhar, com uma postura prévia intensificada pelo fato de ter atuado com um jogador a mais por quase todo o confronto. Sem vantagens táticas para os ataques, pesou a qualidade técnica. Principalmente pelo caso do Zeca, em que há falta dela. Portanto, entre idas e vindas e com mais emoção que o esperado, favoritismo colorado confirmado. Com gols na reta final, quando finalmente desbloqueou a retranca, o time de Roger Machado buscou os três pontos que precisava para se garantir na liderança do grupo B por mais uma rodada. Com mais sorte que juízo, mas conseguiu. Do outro lado, a equipe de Rogério Zimmermann, que provavelmente nem contava com pontuar nesta rodada, continua no terceiro lugar da chave A. Um esforço hercúleo para resistir na defesa acabou não salvando a noite.
SÃO JOSÉ
O Zeca jogou para empatar e, como grande parte das equipes que adotam esta postura, perdeu. Quem atua de forma tão retraída como o time de Rogério Zimmermann, ainda mais com um jogador a menos, não pode cometer erro algum. E a equipe de Porto Alegre até cometeu poucos, mas eles foram comprometedores. A expulsão de Varela em solada desnecessária e a cotovelada de Lucas Hulk dentro da própria área jogaram por água abaixo uma atuação coletiva que não foi desprezível. Bem pelo contrário, foi aguerrida e valente. Atrás, um 5–4–1 e depois um 5–3–1 muito compactos e preparados para proteger a área. No primeiro tempo, inclusive com contra-ataques interessantes a partir da força de Douglas e do apoio dos pontas. Faltou a precisão que um jogo contra clube grande exige. Deste modo, Rogério Zimmermann segue sem jamais ter vencido o Internacional em toda sua longa carreira como treinador. E o São José fica na terceira posição do grupo A do estadual, cada vez mais distante do sonho de brigar por classificação.
INTER
A atuação colorada no Estádio do Vale foi fraca, mas o resultado foi excelente. Foi notório que o Internacional entrou em campo com a intenção de vencer fazendo o menor esforço possível. Até não poupou titulares, mas se poupou em campo com um ritmo bem vagaroso. E sem dinamismo na hora de construir jogadas, teve enormes dificuldades para superar a retranca do São José mesmo quando ficou com um jogador a mais. Estático, só poderia mesmo ter a noite salva por lampejos individuais e erros técnicos do rival, como aconteceu. De destaque mesmo, apenas mais uma atuação segura da dupla de zaga Vitão e Victor Gabriel e as boas participações de Alan Patrick e Carbonero. Portanto, com os três pontos fora de casa, o time de Roger Machado se mantém firme na liderança do grupo B do Gauchão. Com o estadual a tiro curto, tem que vencer a qualquer custo, mesmo quando não joga bem, para ter uma classificação segura. Isto o Inter soube fazer hoje.
ARBITRAGEM
Por mais incrível que pareça, quem poderia reclamar da arbitragem em Novo Hamburgo nesta terça é o Internacional. O único lance arbitral realmente questionável foi o gol anulado de Enner Valencia por um suposto toque de mão que não fica claro em replay nenhum. A expulsão de Jhonata Varela por colocar as travas na chuteira próximo ao joelho de Alan Patrick foi certeira. O pênalti marcado em uma cotovelada de Lucas Hulk na bola dentro da área, utilizando do braço paa afastar a pelota, também. Estranho mesmo foi Anderson Daronco ter precisado do VAR para tomar todas essas decisões. Demonstração da má fase que vive o consagrado árbitro gaúcho. Contudo, no fim das contas, é muita polêmica e pouco sentido.
FICHA TÉCNICA
🗒️ SÃO JOSÉ: Fábio; Danielzinho, Fredson, Rafael Dumas, Jadson (Giovane Gomez) e Lailson; Jhonata Varela, Gabriel Terra (Kayan), Marcos Vinícius (Maicon Assis) e Renê (Marquinhos); Douglas (Lucas Hulk). Treinador: Rogério Zimmermann.
🗒️ INTER: Anthoni; Braian Aguirre (Nathan), Vitão, Victor Gabriel e Bernabei; Fernando (Bruno Henrique), Thiago Maia (Enner Valencia), Alan Patrick, Wanderson (Vitinho) e Wesley (Carbonero); Borré. Treinador: Roger Machado.
🧮 Resultado: São José 0×2 Inter
⚽ Gols: Alan Patrick e Carbonero (Inter)
👟 Assistência: Alan Patrick (Inter)
🟡 Cartões amarelos: Douglas, Fredson e Marquinhos/Rogério Zimmermann (São José) | Vitinho e Bruno Henrique (Inter)
🔴 Cartão vermelho: Jhonata Varela (São José)
👨⚖️ Árbitro: Anderson Daronco (Rio Grande do Sul)
🏟️ Local: Estádio do Vale, Novo Hamburgo-RS