TESTE DE ALTO NÍVEL
Espanha e Brasil fizeram um amistoso divertidíssimo que terminou em empate por 3 a 3 no Estádio Santiago Bernabéu. Os ataques dinâmicos e rápidos prevaleceram sobre defesas ainda inseguras. Os donos da casa foram superiores no geral, mas o time brasileiro mais uma vez mostrou personalidade para não sair derrotado. Bom teste para ambos, seja pelas lições positivas ou negativas.
O primeiro tempo em Madri foi de total domínio espanhol. Com uma marcação alta organizada e combativa, a posse de bola esteve a maioria do tempo com a Espanha no campo de ataque. E o time de Luis de la Fuente soube produzir com ela. Com bom posicionamento, soube atrair a defesa brasileira para fora do lugar, fora do 4–1–4–1, para abrir espaços. Mais uma vez o time de Dorival mostrou não saber ainda quais movimentos fazer, seja nas coberturas, nos encaixes individuais, enfim, nos detalhes. E ainda apresentou certa passividade. Com isso, a fúria conseguiu ter profundidade, usando as entrelinhas para combinar e as beiradas para chegar ao fundo e fazer cruzamentos para quem chegasse de frente ou mesmo executar uma diagonal para finalizar da entrada da área. No entanto, mesmo com a produção, se sentiu falta de mais capacidade de exploração desses espaços por parte da Espanha. Às vezes o Brasil saía do lugar, mas alguém da Roja não infiltrava no espaço. Detalhes que poderiam fazer a diferença. Mesmo assim, a Espanha conseguiu dois gols, ambos em diagonais da direita para dentro, um sofrendo pênalti para Rodri converter aos 11 minutos e outro com Dani Olmo, em bola rolando, aos 35.
O porém que diminuiu o brilho da etapa inicial espanhola foi o gol de desconto do Brasil. A equipe espanhola praticamente não trabalhou no campo de defesa antes do intervalo porque sempre se sustentou na marcação adiantada, matando as jogadas brasileiras já na origem. Ali faltou mais dinamismo do trio de meias brasileiro para encontrar os passes longos que executou em Wembley. Não havia uma transição ofensiva sólida do Brasil que fizesse a Espanha ficar preocupada. O gol de Rodrygo aos 39 minutos foi quase um acaso. Foi um erro bobo do goleiro Unai Simón na saída de bola, pois o time brasileiro nem pressionava, apenas cercava. O arqueiro errou um passe, deu a bola nos pés do atacante do Real Madrid e foi encoberto. Foi um golpe no emocional espanhol sofrer um gol mesmo em um primeiro tempo de total controle. A vantagem de 2 a 1 não satisfez o time de Luis de la Fuente pelo que foi o jogo antes do intervalo.
E o começo do segundo tempo justificou a sensação desagradável da Espanha por não ter obtido uma vantagem mais sólida. O Brasil voltou com uma postura bastante agressiva, muito mais combativo na marcação que no primeiro tempo e mais distante da própria área. Com isto, desarmou mais perto da intermediária, pegou a Espanha desprevenida e apareceram os espaços para o conjunto canarinho realizar as transições rápidas que fez bem em Wembley. Toques rápidos, boa movimentação e muita correria. Já aos quatro minutos, o iluminado Endrick, recém ingressado, empatou o jogo em sobra de escanteio. E outras chances foram perdidas pelo Brasil.
No entanto, a pressão brasileira não teve uma duração tão extensa. A partir dos 15 minutos, a Espanha voltou a ter maior controle da posse de bola e do espaço territorial. Os mecanismos de atrair marcação voltaram, mas a falta de exploração dos espaços abertos foi intensificada em relação ao primeiro tempo. O time vermelho pareceu horizontal. Circulou bem a bola, mas não infiltrou na área com a mesma qualidade. Isto, claro, casado com a melhor proteção da área feita pelo Brasil, que melhorou nas coberturas, mais intenso que na etapa inicial. A contundência espanhola diminuiu, mas o terceiro gol ainda veio aos 42 minutos, com Rodri, após mais um pênalti polêmico obtido em mais uma diagonal daquelas produtivas, definitivamente a melhor arma da fúria.
Com o gol no final, tudo parecia encaminhado para uma vitória da Espanha, que seria coerente pela superioridade da equipe na maior parte da partida. No entanto, tem sobrado personalidade e estrela ao Brasil neste começo de ano. Mesmo com pouco tempo restante, o time canarinho fez pressão, sem o desespero de jogar a bola na área de qualquer jeito, mas tentando se achar na base do talento individual e da velocidade. Numa dessas, Galeno foi derrubado na área por Carvajal. Pênalti e gol de empate dos pés de Lucas Paquetá aos 50 minutos. Parece que não era para o Brasil perder de jeito algum, até mesmo porque dois dos gols que levou teoricamente não deveria ter sofrido.
É difícil falar sobre justiça no contexto deste duelo amistoso. Como a Espanha teve uma atuação melhor no geral, foi mais produtiva e esteve duas vezes na frente do placar, teoricamente seria a justa vencedora. No entanto, como dois gols espanhóis vieram de pênaltis inexistentes e o Brasil fez seus três gols de forma legal, ainda que dois com vacilos crassos da fúria, também poderia ser dito como justo ganhador. O que se pode dizer do resultado é que ele é o que é, assim como o divertidíssimo jogo foi o que foi. Um amistoso bem jogado que traz lições positivas e negativas para os dois lados e que ninguém mereceu perder.
ESPANHA: A Espanha jogou melhor que o Brasil, mas o volume ofensivo não foi acompanhado de solidez defensiva para a obtenção da vitória. A fúria controlou o jogo com muita posse de bola, atração de marcação e chegadas perigosas pelas beiradas, com diagonais e cruzamentos de perto da linha de fundo. Criou boas chances e fez três gols, o que seria mais do que suficiente para uma vitória. No entanto, a defesa também cedeu três tentos. Quando a marcação alta não se impôs, a recomposição foi muito insegura e até mesmo erros individuais estiveram no roteiro. É um ponto que Luis de la Fuente precisará cuidar muito para a Euro. La Roja jogou bem e deveria ter vencido o Brasil no Santiago Bernabéu, mas os vacilos defensivos limitaram o resultado a um empate por 3 a 3.
BRASIL: Assim como na estreia de Dorival, o Brasil foi bem no ataque e inseguro na defesa. A Espanha impôs mais desafios que a Inglaterra. A falta de entrosamento do sistema defensivo brasileiro repetiu desencaixes vistos em Wembley e os espanhóis souberam aproveitar melhor que os ingleses. No ataque, a velocidade, o talento e a aproximação novamente tornaram o Brasil criativo, mas não no mesmo volume do jogo anterior por um começo de jogadas inferior. Ainda assim, mesmo em um cenário complicado, o time canarinho não saiu derrotado. Pelo contrário, esteve duas vezes atrás no placar e ainda assim buscou o empate por 3 a 3. Com os defeitos e as virtudes, também se pode considerar mais um teste positivo para o time de Dorival Júnior.
ARBITRAGEM: Com a ausência de VAR, a atuação caseira do português António Nobre comprometeu. Os dois pênaltis marcados para a Espanha em lances onde mal houve contato são erros grotescos e decisivos do apitador. A penalidade de Carvajal em Galeno realmente existiu, para dizer que algum acerto do apitador houve. No entanto, desta vez a arbitragem foi decisiva no resultado da partida a partir de erros graves.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ ESPANHA: Unai Simón; Carvajal, Le Normand (Cubarsí), Laporte e Cucurella; Rodri, Fabián Ruiz, Dani Olmo, Lamine Yamal (Jesús Navas) e Nico Williams (Sancet); Morata (Oyarzabal). Técnico: Luis de La Fuente.
🗒️ BRASIL: Bento; Danilo (Yan Couto), Fabrício Bruno, Beraldo e Wendell; Bruno Guimarães (André), Lucas Paquetá e João Gomes (Andreas Pereira); Raphinha (Endrick), Vinicius Júnior (Douglas Luiz) e Rodrygo (Galeno). Técnico: Dorival Júnior.
⚽ Gols: Rodri [2×] e Dani Olmo (Espanha) | Rodrygo, Endrick e Lucas Paquetá (Brasil)
👟 Assistência: Lamine Yamal (Espanha)
🟡 Cartões amarelos: Le Normand, Laporte e Carvajal (Espanha) | Bruno Guimarães, Fabrício Bruno, Lucas Paquetá, Endrick, Andreas Pereira e Beraldo (Brasil)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: António Nobre (Portugal)
🏟️ Local: Estádio Santiago Bernabéu, Madri-ESP