TANTO CAOS PARA NADA
Mesmo com uma quantidade enorme de eventos inesperados na partida, o Juventude conseguiu administrar a vantagem no agregado, empatou com o Internacional por 1 a 1 no Jaconi e se classificou para as oitavas de final da Copa do Brasil. O cenário do jogo abriu brechas para o colorado ao menos levar o jogo para os pênaltis, mas o time vermelho jogou contra si mesmo e impediu qualquer chance de uma reviravolta. No fim das contas, passou quem foi melhor no confronto.
Os eventos inesperados em Caxias do Sul começaram antes mesmo do início do jogo. Uma neblina nada incomum na serra tomou conta do Estádio Alfredo Jaconi. Não era possível nem se enxergar o campo, apenas o nevoeiro, a textura branca. Não havia como acontecer jogo naquele cenário, visto que a visão dos atletas sequer chegava ao outro lado do gramado. Em função disso, a partida foi corretamente adiada pelos organizadores até que se fosse possível ver alguma coisa e haver de fato uma disputa justa ali dentro. A partida foi adiada por mais uma de hora e começou apenas às 17h20min.
O jogo começou ainda com uma certa neblina no ar, dificultando a visibilidade de quem estava na arquibancada ou assistindo pela televisão, mas aparentemente com os jogadores conseguindo enxergar o lado oposto do campo. Na partida em si, um início novamente estudado, como no Beira-Rio. O Internacional procurou ter a bola, mas o Juventude marcou adiantado e nada de fato produtivo aconteceu para os dois lados. O papo, por ter a vantagem, não se arriscou demais na marcação para não ceder brechas, focando no posicionamento. O colorado, sem grande organização, não se mostrou capaz de realizar uma pressão quando o time alviverde tinha a bola. Até por isso, sem surpresa e repetindo a ida, a primeira chance perigosa foi justamente da equipe da casa em contra-ataque de João Lucas pela direita, em que uma bola cruzada resultou em bola no travessão após cabeceio de Erick Farias. Foram quinze minutos muito satisfatórios para o Juventude, ainda que o gol não tenha saído.
A partir desta finalização do Juventude no travessão, aparentemente o Internacional acordou para o jogo. Passou a marcar de forma mais adiantada, tendo recuperação de bola mais constante e controlando a posse. O restante de primeiro tempo foi favorável ao colorado. O Ju, apesar de ter se recuado justamente para não dar brechas, não foi consistente à frente da área como no jogo anterior. Deu brechas entre as linhas em seu 4–4–2. E o Inter, mesmo sem técnico, teve mais aproximação entre os jogadores no meio, algo até natural pelas peças escolhidas. Com isso, os espaços para finalizações de média distância surgiram. Até pela visibilidade fora do ideal, era uma alternativa útil. E o colorado tentou bastante. Bruno Henrique teve algumas finalizações perigosas. No entanto, nenhuma entrou ou exigiu grande defesa do goleiro Gabriel Vasconcelos. Portanto, faltaram eficiência e variação. Além de, claro, entrada na área. De novo a profundidade deixou a desejar. O time rondava, rondava, rondava, mas não infiltrava de fato. Quando cruzava, ao menos em menor quantidade que em Porto Alegre, consagrava a defesa jaconera. Sem eficiência, mais uma vez o Internacional não se impôs. O papo, apesar de certo sofrimento, não perdeu o controle. Em última instância, ainda dominou sua própria área. O colorado não soube aproveitar o momento favorável.
E, no finalzinho da primeira etapa, mais uma vez a bola puniu o Internacional pela falta de eficiência no ataque. Em seus hoje poucos contragolpes, o Juventude sempre buscou as bolas paradas para levar perigo. Situação que é conhecida virtude do papo e fragilidade colorada. Inteligente e eficaz. Aos 51 minutos, após escanteio cobrado por Jean Carlos, o zagueiro Rodrigo Sam surgiu no primeiro pau para cabecear a bola para o fundo das redes com muita imposição. Placar aberto. E o Ju já tinha ameaçado antes. Concretizou, mostrando novamente muito mais eficiência que o Inter. Mesmo em um primeiro tempo pouco confortável, foi o time da casa que levou vantagem no placar para o intervalo. E com imponentes dois 3 a 1 no agregado. Mundo dos sonhos para o papo.
O segundo tempo naturalmente agravou o cenário de ataque contra defesa. Com um Internacional ainda mais presente no campo de ataque e um Juventude arriscando menos saída justamente para não dar brechas, a partida se concentrou apenas em uma metade do campo. E o colorado, por mais que sentisse falta de dinamismo, teve um Wesley inspirado para construir oportunidades de uma reviravolta. Primeiro, aos seis minutos, sofreu pênalti de Abner. Uma chance como o time vermelho ainda não havia tido na série. Mas a ineficiência não cessou e Alan Patrick perdeu ao cobrar de forma displicente. Gabriel defendeu facilmente. Na sequência, mais ataques, mais boa proteção da área por parte do Juventude por um bom tempo, até que Wesley novamente foi derrubado na área, desta vez por João Lucas, e o colorado teve outro pênalti. O destino deu uma segunda chance. Desta vez, Enner Valencia foi para a cobrança. E também bateu pifiamente e perdeu. Para a sorte dele, Abner invadiu a área e o juiz mandou voltar o pênalti. Na segunda cobrança, o equatoriano bateu com seriedade e empatou o jogo aos 33 minutos.
Em meio a este pênalti, todo um caos aconteceu. Entre a primeira e a segunda cobrança de Valencia, um torcedor imbecil do Internacional invadiu o campo para agredir o equatoriano. Atletas do Juventude tentaram conter o babaca e acabaram brigando com o indivíduo. No meio da confusão, Alan Ruschel desferiu socos ao invasor e acabou expulso. Situação absurda. A regra obrigava realmente o apitador a expulsar o lateral alviverde, mas abre uma discussão profunda. Não é possível beneficiar o infrator. De um ato inadmissível do torcedor colorado, o Juventude saiu prejudicado ao ficar com um jogador a menos. Inaceitável. Se não for mudada, a lei pode abrir precedente para episódios semelhantes. Isto vai contra o esporte.
No novo cenário, de superioridade numérica do Internacional, naturalmente o treinador interino Pablo Fernandez jogou seu time para frente. Já tinha colocado Gabriel Carvalho, colocou também Alario e Wanderson. Ficou apenas com Igor Gomes, Mercado e Vitão atrás, sem laterais de origem, e vários atacantes. Procurou fortalecer a presença de área e as peças nos arredores para criar vantagem e realmente começar a infiltrar na área. O Juventude, por sua vez, se reformatou em uma espécie de 5–3–1. Focou justamente em ter gente no miolo para cortes, bloqueios e sobras. O ataque contra defesa continuou, mas novamente o colorado não foi capaz de se impor no cenário favorável. Faltou precisão na enfiada, no cruzamento, no chute de média distância. O desespero foi muito maior que a lucidez, que a organização. O chuveirinho até resultou em uma bola de Valencia no travessão, mas o cenário era tudo que a alta e forte defesa jaconera queria. Gabriel não precisou fazer nenhuma grande defesa para manter o empate. Tremenda incompetência do Internacional.
Nos últimos minutos, Vitão botou a pá de cal no seu próprio time. Jogou fora a única vantagem que o colorado tinha, a numérica. Caiu na provocação de Mandaca e agrediu o jogador do Juventude com um empurrão. Foi expulso corretamente. Com isso, matou o domínio de posse de bola que tinha o Internacional. A equipe vermelha nem chegou mais ao ataque após isso. O papo, com vários jogadores de marcação, se postou em zona intermediária e matou todas as jogadas por ali. E mais que isso, ainda rondou a área com perigo diante da defesa de dois homens do Internacional. É incrível como os jogadores colorados jogaram contra si mesmos. Com erros bobos do início ao fim. E o Ju, que nada tem a ver com isso, administrou a vantagem com mérito.
O Juventude está merecidamente classificado para as oitavas de final da Copa do Brasil. A realidade é que foi o único time de futebol no confronto. O único que teve uma defesa organizada, um meio-campo objetivo e um ataque rápido e eficiente. Apesar de ter cometido erros, não passou nem perto de superar a quantidade de falhas rivais. O Inter, na ida e na volta, não foi uma equipe, mas sim uma trupe de palhaços. Apenas expôs uma bagunça tática, falta de maturidade e tremenda incompetência, seja na marcação ou na criação de jogadas. E o engraçado é que mesmo com todos os defeitos, teve os dois pênaltis que precisaria para vencer o jogo e ao menos forçar disputa de penalidades máximas. Mas perdeu os dois penais com uma displicência inacreditável. Em um deles, teve a sorte de poder bater de novo e ainda fez um gol. Mas nem com um jogador a mais na sequência se mostrou decisivo no ataque para ganhar. Todo o caos que aconteceu no Alfredo Jaconi não mudou os rumos do confronto. O Juventude confirmou a vantagem obtida em Porto Alegre. É a segunda vez no ano que o papo elimina o colorado em um mata-mata. Antes fora no Gauchão, agora é na Copa do Brasil. Grande momento jaconero. É o melhor time do Rio Grande do Sul na atualidade.
JUVENTUDE: Não foi com o cenário esperado, mas o Juventude confirmou a classificação às oitavas de final da Copa do Brasil. Não há como ignorar que a defesa jaconera cometeu três pênaltis, dois marcados pelo árbitro, ao longo do jogo. E que deu muito espaço para finalizações coloradas de fora da área. São brechas que poderiam ter comprometido. Mas na garra, na sorte, na eficiência do ataque, na força do jogo aéreo e na competência dos defensores e do goleiro Gabriel, a vantagem no agregado foi garantida pelo papo. Apesar destes problemas citados, o Juventude foi muito mais time no confronto. Não merecia ser eliminado. E não foi. Pela segunda vez no ano elimina o Internacional em um mata-mata. Demonstra força ao derrubar um gigante do país. Expõe o grande momento no comando de Roger Machado. Está entre os 16 melhores da Copa do Brasil. Após o caos, festa no Jaconi!
INTER: Mais um fiasco. Mais uma eliminação para o Juventude em 2024. Mais uma queda consecutiva em fase inicial da Copa do Brasil. Tudo isso com um espetáculo ridículo em campo. Com as brechas caindo no colo mesmo sem desempenho, mas o time jogando contra si próprio em erros bobos. Displicência, imprecisão, imaturidade. Nos pênaltis perdidos, nas finalizações erradas, nos contra-ataques sofridos, na expulsão de Vitão. Não faltaram chances para o Inter ao menos reagir, mas faltou seriedade e competência aos atletas. Mostra como o problema colorado vai muito além do ex-técnico Eduardo Coudet. E quem paga o pato é o torcedor, que tem que engolir uma sequência de grandes frustrações, não os atletas, que agora jogarão menos partidas. São muitas manchas recentes na história colorada. Não se pode aceitar tantas eliminações precoces no torneio nacional. É um apequenamento.
ARBITRAGEM: Apesar de todo o caos, o único erro técnico de fato do apitador Rodrigo de Lima foi a não marcação do pênalti claro sofrido por Enner Valencia no primeiro tempo. De resto, apesar das polêmicas, acertou diante do que diz a regra. As duas penalidades máximas sofridas por Wesley foram bem marcadas, a cobrança de Valencia realmente deveria voltar por causa da invasão de área e Vitão foi bem expulso por agredir Mandaca. O lance que gerou maior comoção mundo afora, o cartão vermelho para Alan Ruschel, por mais absurdo que seja mesmo, foi uma decisão correta do árbitro de acordo com a regra do futebol. O lateral do Juventude realmente apenas tentou defender um colega de profissão de ser agredido por um criminoso invasor de campo, mas a lei do esporte diz que um atleta em campo deve ser expulso em caso de qualquer agressão. Vimos como às vezes a regra pode ser injusta em casos de exceção. E diante disso, é necessário mudá-la justamente nesses casos para que outros imbecis não procurem se beneficiar dela. A lei nunca deve ajudar o infrator. Nesse caso, falhou.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ JUVENTUDE: Gabriel Vasconcelos; João Lucas, Rodrigo Sam, Abner e Alan Ruschel; Caíque, Jadson (Luís Oyama), Jean Carlos (Mandaca), Lucas Barbosa (Ewerthon) e Erick Farias (Da Rocha); Gilberto (Gabriel Taliari). Técnico: Roger Machado.
🗒️ INTER: Anthoni; Bustos (Igor Gomes), Fernando (Mercado), Vitão e Robert Renan (Wanderson); Rômulo (Alario), Bruno Gomes (Gabriel Carvalho), Bruno Henrique e Wesley; Alan Patrick e Enner Valencia. Técnico: Pablo Fernandez.
⚽ Gols: Rodrigo Sam (Juventude) | Enner Valencia (Inter)
👟 Assistência: Jean Carlos (Juventude)
🟡 Cartões amarelos: Jadson, Erick Farias e Jean Carlos (Juventude) | Bruno Henrique (Inter)
🔴 Cartões vermelhos: Alan Ruschel (Juventude) | Vitão (Inter)
👨⚖️ Árbitro: Rodrigo José Pereira de Lima (Pernambuco)
🏟️ Local: Estádio Alfredo Jaconi, Caxias do Sul-RS