SURPRESA QUE NÃO SURPREENDE
O Internacional não conseguiu sair do 0 a 0 dentro de casa contra o modesto Real Tomayapo pela segunda rodada da fase de grupos da Copa Sul-Americana. Com boa retranca e atuação inspirada do goleiro Galindo, o jovem clube boliviano obteve um resultado histórico no Estádio Beira-Rio. Por sua vez, o colorado, apático e ineficiente, aumentou ainda mais seu momento de instabilidade com um novo fracasso diante de sua torcida.
O jogo foi pavoroso desde o começo. Os quinze minutos iniciais foram praticamente de inexistência de futebol. O Internacional optou por não fazer pressão. Não marcou alto, não tentou recuperar a bola rapidamente após perdê-la e não se movimentou para fazer combinações e abrir o placar logo cedo. Distante, trocou passes laterais e esperou um lampejo que não veio. O Real Tomayapo, por sua vez, fez o que se esperava dele: uma boa retranca. Cristian Arán não teve pudor de escalar um 5–4–1 que chegava a virar linha de sete defensores em momentos específicos. Linhas baixas mesmo, mas que bloquearam com eficiência a entrada da área na maioria do jogo. Nos minutos iniciais, inclusive, apenas o time boliviano conseguiu finalizações. Sem combate do Inter, os visitantes conseguiram contra-ataques mesmo com grande distância entre seus jogadores e pouca gente apoiando. Não levaram perigo, mas foram quem teve as três primeiras conclusões da partida. Caricato.
Os sessenta minutos seguintes de partida tiveram um único roteiro: a batalha de um ataque inoperante contra uma defesa confortável. Mesmo com o decorrer do tempo, o Internacional não saiu de sua postura apática. O desinteresse imperou por mais uma hora. Houve um certo avanço no campo, especialmente porque Bernabei foi uma luz em meio a escuridão pela esquerda e criou algumas jogadas a partir de inspiração individual, mas nada de criatividade coletiva. Não apareceu uma boa combinação, uma tabela, uma atração de marcação, uma pressão na marcação alta. Nada do que caracterizou os melhores momentos desse time. Apenas chuveirinho para a área e jogadas individuais do lateral esquerdo. Pobre.
Com esse cenário, houve certo conforto para a defesa do Real Tomayapo. O 5–4–1 de Arán não precisou de grandes desdobramentos para ser efetivo. Precisou de boa combatividade nos arredores da área e presença dentro dela, chegando a ter nove homens por lá, além de atenção à segunda bola, às sobras. Com estes pontos bem controlados, nem mesmo algumas saídas do lugar e bolas nas costas sofridas nas laterais geraram alguma desestruturação do sistema defensivo verdolaga. As coberturas estiveram sempre atentas para compensar espaços entre as linhas e as chegadas do adversário ao fundo. Sem contar que quando algo passava, em cruzamentos ou chutes do Internacional de fora da área, Pedro Galindo mostrava segurança debaixo das traves mesmo com seus 1,76 m, altura baixa para um goleiro nos dias de hoje.
O panorama do jogo só foi mudar mesmo quando a água bateu no pescoço do Internacional. Quando o desespero superou a indiferença. Ali nas proximidades dos 30 minutos do segundo tempo, o colorado finalmente começou a pressionar. Sem muito jeito, mas com força, com postura de quem quer algo da vida. Eduardo Coudet fez trocas ofensivas e revigorou o sistema ofensivo. Passou a existir uma marcação alta, uma pressão pós-perda de bola. O colorado não deixou de ser pouco dinâmico ao ter a posse, seguiu descoordenado, aleatório e dependente de individualidades, mas ao menos correu e se movimentou mais, saiu da mera vida dos passes horizontais e teve alguns lampejos táticos para chegar ao fundo com certa frequência. Ainda assim, para entrar na área do Tomayapo o time só viveu de cruzamentos. No entanto, pela presença numérica perto do gol adversário, o time de Chacho Coudet levou perigo. Teve chances claríssimas para abrir o placar. Achou uma alternativa para vencer o jogo. Mas não venceu. Não teve eficiência. Errou finalizações de forma bisonha. Teve bola na trave com Lucca. Teve Borré tirando um gol quase em cima da linha. Teve várias defesas de Galindo, que segurou o time boliviano em um momento de dificuldade para acompanhar o ritmo colorado. E a bola não entrou. Quando o Inter começou a jogar algo parecido com futebol, a velha ineficiência veio junto.
Por incrível que pareça, o resultado é justo. Os 78% de posse de bola e 33 finalizações do Internacional (contra apenas três do Tomayapo) dão a entender que houve um massacre, mas os números são inflados por chutes de fora da área e conclusões para fora. A maioria do tempo de jogo teve uma retranca bem montada amarrando um ataque apático. A indiferença, o distanciamento e a ineficiência imperaram do lado colorado, que só foi criar algo perigoso mesmo nos 15 últimos minutos. Por outro lado, a garra, a compactação e a boa atuação do baixo goleiro Galindo foram pilares do valioso empate para os verdolagas bolivianos. O Real Tomayapo, tal qual o dito futebolístico, “soube sofrer”. E o Inter não soube machucar. 0 a 0. Beira-Rio em fúria. Tarija em festa.
INTER: A indiferença dos jogadores colorados anda de mãos dadas com os fracassos retumbantes no Estádio Beira-Rio. Hoje o Inter foi apático por praticamente 75 minutos de jogo. Andou em campo, achou que venceria o modesto Real Tomayapo de qualquer jeito. Uma mistura de prepotência com falta de respeito a história da própria camisa vermelha. Entretanto, criou chances reais de gol em volume altíssimo quando finalmente começou a jogar futebol na reta final do jogo. E ainda assim foi ineficiente, desperdiçou oportunidades inacreditáveis. É um empate pior que muitas derrotas. Mais um tropeço lamentável dentro de casa. Outra vez o time de Chacho Coudet foi incapaz de furar uma retranca. Momento de muita instabilidade no Internacional.
REAL TOMAYAPO: Foi uma noite histórica para o Real Tomayapo. Na primeira competição internacional em seus 25 anos de existência e em seu primeiro jogo oficial fora do país, o clube que há pouco tempo subiu da segunda divisão boliviana parou o poderoso Internacional dentro do Estádio Beira-Rio. Um feito e tanto, obtido através de muita garra e de uma boa retranca do técnico Cristian Arán. Ponto marcante. Não deve ter impacto no futuro da competição, não deve ser uma virada de chave para uma eventual classificação, mas é uma igualdade fora de casa contra um gigante do continente. Ficará marcado. Empate com sabor de vitória para o jovem clube de Tarija.
ARBITRAGEM: A equipe arbitral liderada pelo uruguaio Christian Ferreyra fez um trabalho seguro no Beira-Rio. Os dois gols anulados do Internacional foram corretamente impugnados, ambos por faltas de Borré, um em toque no braço e outro em carga nas costas do goleiro Galindo. Ademais, o jogo não exigiu tanto da arbitragem, que deixou a bola rolar bastante e não inventou nada.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ INTER: Rochet; Hugo Mallo, Igor Gomes (Bustos), Mercado e Bernabei; Thiago Maia (Wanderson), Alan Patrick (Lucca), Bruno Henrique e Wesley (Gustavo Prado); Borré e Alario (Maurício). Técnico: Eduardo Coudet.
🗒️ REAL TOMAYAPO: Galindo; Justiniano, Padilha, Rioja, Aldair Cantillo e Orellana; Alcaraz, Sergio Villamil (Avilés), Graneros e Noble (Jaime Villamil); Tomianovic (Mateo Hernández). Técnico: Cristian Arán.
⚽ Gols: ❌
👟 Assistências: ❌
🟡 Cartões amarelos: Bustos e Mercado (Inter) | Mateo Hernández (Real Tomayapo)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Christian Ferreyra (Uruguai)
🏟️ Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre-RS