SPURS DERRUBAM LONGA INVENCIBILIDADE DOS REDS PARA SAIR EM VANTAGEM NA SEMI
O Tottenham derrubou o favoritismo e uma invencibilidade de 24 jogos do Liverpool para sair em vantagem na semifinal da Copa da Liga Inglesa. Um suado, mas merecido 1 a 0 em Londres com gol já nos minutos finais de partida. Na realidade, muito pouco aconteceu na partida, mas mais uma vez os reds estiveram muito abaixo da média e os Spurs sempre flertaram mais com o triunfo dentro de uma estratégia reativa. Um dia de alegria para os lírios brancos em meio a uma temporada instável.
Nos primeiros minutos de partida, o Tottenham esboçou “dar uma de Liverpool” e imprimir uma marcação adiantada e agressiva. A ideia era fazer uma pressão, achar um gol cedo e depois poder jogar de forma confortável em uma estratégia reativa. E os reds sentiram esta postura dos Spurs. Além de não conseguirem subir ao ataque com competência, ainda cometeram alguns erros de saída de bola quase comprometedores. Contudo, faltou precisão aos lírios brancos nessas jogadas verticais. A ideia de explorar enfiadas e cruzamentos fazia sentido diante dos espaços, mas erros técnicos e movimentos que dificultavam o passe foram empecilhos. Ainda assim, em um escanteio, Alisson precisou fazer milagre em finalização rasteira de Drăgușin em uma sobra de bola. Chance claríssima de gol. Mas o Tottenham não fez valer do bom começo para abrir o placar.
Além disto, neste lance de bola parada aconteceu um dos momentos mais marcantes da partida em Londres. E não um lance relacionado diretamente ao desenvolvimento do jogo, mas sim fora do foco da jogada, tanto que demorou certo tempo para os atletas perceberem o que aconteceu. Ao tentar realizar um cabeceio no primeiro pau, o meia uruguaio Rodrigo Bentancur simplesmente caiu desacordado no chão. Não disputava espaço com ninguém, apenas despencou sozinho no gramado de forma assustadora. O jogo ficou paralisado por cerca de dez minutos para o atendimento do jogador do Tottenham, que, para alívio geral do público, deixou o campo consciente, em uma maca e foi ao hospital para ser avaliado. Que tenha sido realmente apenas um susto e o uruguaio uma rápida recuperação!
Após a paralisação, o retorno para a partida foi bem morno. A iniciativa agressiva do Tottenham deu lugar a um duelo de meio-campo sem emoções. Possivelmente pelo susto com o lance de Bentancur e pelo tempo parado, que pode ter esfriado o corpo dos jogadores, os dois times demonstraram certa apatia. De ambos os lados, houve pouca pressão sem a bola e um foco excessivo em tentar abrir espaços para jogadas em profundidade. Tanto os reds quanto os Spurs procuravam atrair o oponente com a posse para enfiar pelotas nas costas da defesa ou esperavam na intermediária para roubar a bola e avançar de forma vertical. O pensamento de se movimentar, trocar passes rápidos e produzir ofensivamente de forma tramada ninguém teve. Na prática, um acabou anulando o outro com defesas atentas que não caíram em armadilhas. Um longo período em que nenhuma chance de perigo apareceu para qualquer equipe. Àquela altura, uma semifinal de campeonato parecia um amistoso de pré-temporada. Monótono. Sem graça. Maldosos diriam que lembrava a terrível final de Champions League entre os dois clubes no ano de 2019.
Já perto da reta final do primeiro tempo, o confronto entrou em um momento de mero duelo físico. Ambos os times “acordaram” e começaram a “morder” muito mais sem a bola, mas sem a devida lucidez para tirar a partida do marasmo. O Liverpool, mais adiantado, ficou ligeiramente mais com a posse de bola e tentou infiltrar com seus já conhecidos cruzamentos e inversões. O Tottenham se postou organizadamente em seu 4–1–4–1 e visou roubar pelotas na intermediária para novamente aproveitar de lançamentos e exploração de espaços para entrar na área com perigo. Do lado vermelho, faltou velocidade na circulação de bola e um meio-campista que colocasse o trio ofensivo no jogo. Sem Szoboszlai, os reds têm sentido falta de um jogo nas entrelinhas que possibilita combinações perigosas rumo ao gol. Curtis Jones não é esse cara. Da parte branca, faltou acabamento de jogadas. As peças ofensivas estavam muito isoladas, seja do restante do time ou mesmo entre elas. A ligação direta vinha, mas uma andorinha só não fazia verão e a jogada dificilmente prosseguia diante das coberturas seguras do Liverpool. No fim das contas, o equilíbrio seguiu em todos os aspectos. A melhora de postura não foi acompanhada da parte tática e técnica. Proposição e reação não tiveram produção. E como ninguém teve nenhum lampejo individual, já que Salah e Son estiveram sumidos, o duelo em Londres foi inevitavelmente empatado por 0 a 0 ao intervalo.
Para a tristeza geral do universo futeboleiro, o segundo tempo continuou morno. O que mudou foi que quem adiantou as linhas e passou a tentar ser mais impositivo no jogo, tal qual na arrancada da etapa anterior, foi o Tottenham. Porém, sem a devida consistência. Havia iniciativa, mas não havia a devida coesão nos encaixes de marcação para os Spurs de fato recuperarem a pelota perto da área rival e rapidamente agredirem a meta. Ainda assim, às vezes a vontade compensa a falta de lucidez. E o Liverpool já havia se mostrado inseguro em alguns momentos desta partida, além da anterior. Deste modo, os lírios brancos conseguiram uma chance claríssima para abrir o placar aos 10 minutos. Bergvall, o volante, tomou a decisão de ir pressionar o goleiro Alisson em uma saída de bola. De início, foi driblado, mas levantou e conseguiu chegar a tempo desviar o passe do arqueiro brasileiro. A pelota sobrou nos pés de Solanke, que só não abriu o placar porque Van Dijk fez um bloqueio providencial. Ainda assim, na sequência, a bola foi parar nos pés de Pedro Porro, já dentro da área, com ótimas condições para finalizar. E o lateral português bateu cruzado para fora. Duas grandes oportunidades na mesma jogada. Em mais um erro técnico vermelho, desta vez de Alisson. E mais um momento de ineficiência dos Spurs.
Passados os 15 primeiros minutos da etapa complementar, o certame voltou ao cenário em que o Liverpool tinha mais a posse de bola e o Tottenham esperava para achar algum contra-ataque vertical derradeiro. Só uma coisa não mudava de jeito nenhum: o marasmo. Nem parecia um jogo do futebol inglês de tão sonolento e pouco emocionante. Acontecia quase tudo de forma igual à reta final do primeiro tempo, em que os reds trocavam passes horizontais, não existiam nas entrelinhas e viviam de bolas levantadas. Mesmo as entradas de Alexander-Arnold, Darwin Núñez, Konaté e Luis Díaz não mudaram a cara do time. Aumentaram a intensidade, mas mantiveram a pobreza construtiva. Não parecia o líder isolado da Premier League jogando. Do outro lado, tampouco os Spurs saíam do previsto. Continuavam alongando pelotas e as perdendo seja na primeira bola, na disputa individual pelo alto, ou na segunda, porque não tinha aproximação para produzir algo de perigo. Erros de um lado, erros de outro. Foram mais longos minutos sem nada de produtivo. Anulação e anulação. Até gol anulado teve, em impedimento de Solanke.
Parecia que ambos os times iriam mesmo morrer abraçados em estratégias que não valeram a pena por diferentes motivos. Tudo se encaminhava para um modorrento 0 a 0 que deixaria tudo para ser definido em Anfield na volta. No entanto, um lampejo aos 40 minutos impediu o placar zerado. De tanto insistir em bolas longas em profundidade, o Tottenham, que era mesmo quem havia tido mais e melhores chances de gol ao longo da partida, foi premiado. Pedro Porro, que havia perdido aquela chance clara, deu um grande lançamento do campo de defesa diretamente para Solanke. O centroavante, que também havia desperdiçado uma oportunidade, arrastou Konaté para a direita, o fintou com facilidade e tocou para Bergvall, que infiltrava com liberdade já que Van Dijk teve um raro descuido na cobertura. O volante sueco de 18 anos, de partida tão produtiva na defesa e no ataque, finalizou de primeira sem chances para Alisson Becker. Um gol salvador para trazer uma vantagem crucial para os Spurs. Na hora H, a estratégia de Ange Postecoglou acabou valendo a pena. E o Liverpool de Arne Slot, de tanto errar atrás, acabou punido.
A jogo de ida da semifinal da Copa da Liga Inglesa foi equilibrado, e sobretudo, morno. Os dois times criaram pouco e tiveram um ritmo inferior ao esperado. Ainda assim, se compararmos o confronto de hoje com o 6 a 3 para os reds pelo Campeonato Inglês no final de dezembro, notamos um claro contraste. O Tottenham evoluiu, deixando de ser absolutamente exposto na defesa e tendo uma estratégia clara de contra-ataques. O Liverpool deu um passo atrás, apático, desatento, errante, improdutivo. Por muitos momentos, pareceu satisfeito com o 0 a 0. Os lírios brancos, não. Até por jogar em casa, sabiam da necessidade do resultado e, mesmo com suas limitações e desfalques, sempre buscaram mais o triunfo. E realmente foram os únicos a de fato terem chances claras de gol, mesmo com menos posse de bola. Na última delas, para alívio e vibração geral do Tottenham Hotspur Stadium, foram premiados e obtiveram uma valiosa vantagem na luta por um lugar na final. Nada está definido, a diferença no agregado é mínima, mas os Spurs poderão jogar pelo empate em Anfield. A partida de volta será realizada no dia 6 de fevereiro.
TOTTENHAM
Não há dúvida de que os Spurs saem muito satisfeitos desta noite em Londres. Sobretudo, claro, por derrotar um forte rival e sair em vantagem na semifinal da Copa da Liga. Mas também pela evolução do time em relação a ele próprio. Como esquecer da bagunça total no 6 a 3 sofrido para o próprio Liverpool menos de um mês atrás? Bem, hoje em quase nada o Tottenham lembrou aquele desempenho. Não é nem que tenha jogado grande futebol, mas ao menos foi uma equipe em campo. Com uma estratégia clara, competiu em igualdade com os líderes da Premier League. Na defesa, um 4–1–4–1 sólido em que os desfalques na zaga finalmente não pesaram, além de um estreante Kinský muito seguro no gol. Anulou o adversário. No ataque, muitos erros de acabamento, é verdade, mas uma clara e válida intenção de sempre procurar a profundidade, explorando as transições defensivas dos reds. Até pressionar na marcação chegou a fazer. Quando finalmente acertou tecnicamente perto da área rival, confirmou a eficiência do plano de jogo e buscou este grande resultado. Muito melhor que o esperado. O Tottenham segue sonhando em sair do jejum de 17 anos sem títulos.
LIVERPOOL
Se presencia o primeiro momento instável dos reds sobre o comando de Arne Slot. São dois tropeços consecutivos em adversários em má fase: no domingo, empate em casa contra o rival Manchester United pela Premier League; hoje, derrota para o Tottenham no jogo de ida da semifinal da Copa da Liga, encerrando uma sequência invicta de 24 partidas. Com o agravante de que os resultados são consequências de performances ruins. De uma fragilidade defensiva rara, seja em saídas de bola erradas ou transições defensivas atabalhoadas. E de um ataque pouco produtivo, que não sai dos óbvios cruzamentos, com muito menos dinamismo que o normal, sem meio-campo. Claro que nesta quarta há o atenuante de ter entrado com time misto, mas mesmo quando mais titulares ingressaram não houve progresso. E, mesmo sendo o terceiro principal torneio do país, era uma semifinal de campeonato. Duelo importante. O Liverpool agora precisa colocar a cabeça no lugar para não sair dos eixos rumo aos títulos, como fazem as grandes equipes. Na Premier, tem gordura a queimar. Na Copa da Liga, tem a volta dentro de casa. Teoricamente, vencer por um ou mais gols de diferença dentro de Anfield não é nenhum absurdo. Ainda não há nada perdido para os reds.
ARBITRAGEM
A partida em Londres exigiu bastante trabalho da equipe arbitral comandada por Stuart Attwell. No fim das contas, o apitador escreveu certo por linhas tortas e não interferiu diretamente no placar. De fato, pouco antes do gol do Tottenham, Bergvall cometeu uma falta para cartão amarelo e, como ele já tinha um, teria sido expulso. Todavia, o primeiro canário belga foi injusto, pois o levou em uma falta cometida na realidade por Brennan Johnson. Não deveria ver o vermelho de qualquer jeito. Na prática, o árbitro “compensou”. De resto, a bola na rede foi legal; o tento anulado de Solanke por impedimento, correto; e a não marcação de pênaltis em contatos no limite do normal dentro da área, também. Portanto, a arbitragem foi polêmica, mas no fim das contas não beneficiou nem prejudicou ninguém. Isto é o que vale mais que tudo.
FICHA TÉCNICA
🗒️ TOTTENHAM: Kinský; Pedro Porro, Drăgușin, Archie Gray e Spence; Bissouma, Bergvall e Bentancur (Brennan Johnson); Kulusevski, Son (Timo Werner) e Solanke. Treinador: Ange Postecoglou.
🗒️ LIVERPOOL: Alisson; Conor Bradley (Alexander-Arnold), Quansah (Endo), Van Dijk e Tsimikas; Gravenberch, Mac Allister (Konaté), Curtis Jones, Salah e Gakpo (Luis Díaz); Diogo Jota (Darwin Núñez). Treinador: Arne Slot.
🧮 Resultado: Tottenham 1×0 Liverpool
⚽ Gol: Bergvall (Tottenham)
👟 Assistência: Solanke (Tottenham)
🟡 Cartões amarelos: Bissouma e Bergvall (Tottenham)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Stuart Attwell (Inglaterra)
🏟️ Local: Tottenham Hotspur Stadium, Londres-ING