ROTINA PARISIENSE
A rotina continua: em um dos principais desafios que tem na Ligue 1, o Paris Saint-Germain simplesmente goleou o Monaco por 4 a 1 no Parque dos Príncipes em duelo válido pela 21ª rodada. E o mais absurdo: sem fazer um grande sacrifício, claramente abaixo do que é capaz em termos de intensidade. Mas claro, com um ataque que joga por música, se encontra até de olhos fechados e cria chances de gol em quantidade industrial. Os monegascos foram vítimas mais uma vez. Cuidado, o PSG pode ser campeão francês a qualquer momento sem você nem perceber.
Como sempre, o Paris começou o duelo em casa tomando a iniciativa. E tal qual o padrão que aplica nestas situações, buscava sair jogando desde bem atrás para tentar atrair o Monaco e explorar espaços com velocidade em lançamentos, inversões e enfiadas, sempre com bastante mobilidade nas entrelinhas. Se postava em um 2–1–2–2–3, ou seja, várias camadas e possibilidades de passe. Só que os asemistas, de início, não foram presa fácil. Se adiantavam, é verdade, mas com seis homens e roubavam pelotas com certa frequência. Ameaçavam com passes objetivos e boas diagonais. Já aos quatro minutos, Minamino perdeu uma chance cristalina de gol cara a cara com Donnarumma. Este foi o pecado sem perdão. Por quê? Porque já no lance seguinte, o PSG abriu o placar. Em uma das primeiras chegadas interessantes nas entrelinhas, o conjunto parisiense cavou uma falta perto da área. Na cobrança, Vitinha surpreendeu cobrando por fora da barreira, que não estava bem posicionada. Majecki também poderia ter feito coisa melhor debaixo das traves. Castigo imediato. A matreirice do time de Luis Enrique é absurda. Abriu o placar mesmo em um começo discreto.
A partir do tento parisiense, o Monaco ficou receoso em deixar o rival encaminhar uma vitória logo cedo e parou de pressionar de forma adiantada. Sem pressão, o PSG passou a trocar passes quase o tempo todo entre os zagueiros, ainda tentando atrair marcação, mas já sem obter brechas. Ainda sem pensar em adiantar as linhas, ameaçava pouco, mas administrava a vantagem que já tinha, sem sufoco. O conjunto monegasco, parado atrás no 4–4–2, queria que o Paris justamente saísse de trás, fosse para o campo ofensivo tramar. Fazia pouco sentido para um Monaco que precisava reagir? Até podia parecer, mas a ideia era abrir espaços nas costas da defesa do time de Luis Enrique para poder tramar contra-ataques desde trás. Uma leitura diferente e efetiva de Adi Hütter, já que aos 16 minutos, o clube principesco chegou ao empate justamente desta forma. Saiu desde a própria defesa, explorou buracos nas entrelinhas rivais com ótimos passes e entrou na área à vontade para finalizar, com o volante Zakaria sendo o autor do gol. Reação também sorrateira dos visitantes, à la oponente. Jogo vivo!
Desde que o placar foi igualado, o primeiro tempo foi abertíssimo e interessante de assistir. Os dois ataques iam bem, ao mesmo passo que as duas defesas deixavam a desejar. O sistema defensivo do PSG pecava pela apatia na pressão pós-perda, permitindo transições já que não combatia e ainda sofria ao recompor. O Monaco, penava pela dificuldade de acompanhar a circulação de bola do Paris, de um repertório impressionante. Já cientes de que o conjunto monegasco não cairia na atração de marcação, o time da casa passou a finalmente armar jogadas nos arredores da área. E o fez com dinamismo, variando posições, tocando e já se movendo para dar opção, sendo perigoso mesmo sem acelerar tanto. Tinha cruzamentos, diagonais e chutes de média distância bem interessantes. Do outro lado, a equipe asemista subia em peso e também trabalhava muito bem a pelota, mostrando que tem potencial para competir neste tipo de confrontos. Ora era mais rápido e vertical, ora mais cadenciada e móvel, combinando passes. No geral, criou chances até mais claras que o próprio PSG. Só que nenhum dos times foi eficiente na hora H. Minamino inclusive deve estar com a orelha quente, pois a torcida alvirrubra certamente não perdoou tantas chances desperdiçadas. E o jogão foi ao intervalo no 1 a 1.
Na volta para o segundo tempo, o PSG finalmente “botou o pé” para valer e, para a surpresa de ninguém, encaminhou a vitória em menos de 15 minutos. Sem a bola, passou a marcar de forma mais agressiva no campo de ataque, impedindo contra-ataques e já recomeçando a criar jogadas de perto da área rival. Com a pelota, teve uma mudança tática importante: a ida de Kvaratskhelia para o lugar de Dembélé como falso 9. O francês melhorou indo para a ponta direita e o georgiano trouxe uma atração de marcação interessante por dentro. O Monaco ficou perdido no novo cenário, sem descanso e sem referências de marcação. Só “admirou” a troca de passes parisiense. Assim, o time de Luis Enrique fez o segundo gol já aos oito minutos da etapa final, em lindíssima enfiada de Barcola para Kvara. Valeu a pena utilizar o ex-Napoli por dentro. Humilhou Mawissa com uma finta linda e fez seu primeiro tento com a camisa do Paris. E aos 11, o terceiro tento veio com o artilheiro imparável Dembélé. Mas não sem antes João Neves e Doué participarem de forma brilhante em uma triangulação envolvente. Caio Henrique nem viu a cor da bola. Dois golaços com a cara da equipe da capital francesa. Ali “já era”.
Perto da metade da segunda etapa, o Monaco fez substituições para tentar propor jogo pela primeira vez, mais adiantado. Golovin e Ben Seghir substituíram Biereth e Minamino com a intenção de trazer mais mobilidade e velocidade ao ataque. Todavia, o Paris respondeu de imediato às trocas com a entrada de Lucas Hernández e Kang-in Lee para fortalecer a marcação. João Neves até continuou na lateral direita, mas do outro lado havia uma dobra com Lucas e Nuno Mendes. Em meio a isso, apesar da tentativa válida de reagir, os monegascos nem reter a bola conseguiram de forma suficiente. Claro, passavam mais tempo com ela do que antes, mas longe de algo consistente e duradouro. Não tinham dinamismo para não perdê-la o tempo todo, tampouco força na marcação alta para recuperá-la. O Paris administrou a situação com muita facilidade, ora segurando a pelota para passar tempo, ora contra-atacando com contundência nas costas da defesa adiantada asemista. Mesmo sem precisar, era o time de Luis Enrique quem flertava com o gol seguinte. E, deste modo, ainda transformou o resultado em goleada. Aos 44, em bela escapada e enfiada do “ponta” Nuno Mendes, o insaciável Dembélé fechou a conta. 21 gols na temporada para ele. 4 a 1 no Parque dos Príncipes.
O Monaco é um dos melhores times da França, um dos elencos com mais qualidade, um dos poucos clubes que pode incomodar o Paris Saint-Germain ao longo da temporada. E o que o PSG fez nos confrontos diretos pela Ligue 1? Em um turno, meteu 4 a 2 em plena casa monegasca. Em outro, 4 a 1 mesmo claramente se dosando na questão física. Ao natural, colocou 8 a 3 no “agregado”. Está aí uma mostra clara do que é o futebol francês. Há times interessantes além do parisiense, mas ele está em um outro patamar. Mesmo sem Neymar, Messi e Mbappé, continua com um elenco absolutamente talentoso, mas agora com estrelas em formação, não mais com galáticos já consolidados. Donnarumma, João Neves, Marquinhos, Vitinha, Doué, Kvaratskhelia e Dembélé são jogadores da elite europeia. E Luis Enrique tem feito um coletivo dinâmico, envolvente, sem a pressão das temporadas anteriores. Na Ligue 1, já já será campeão. Na Champions, é candidato a surpreender. O Monaco, que também atua nas duas frentes, sabe que “o que vier é lucro”. No torneio nacional, ao menos tem totais condições de segurar o lugar no G4. No entanto, a diferença entre um e outro é abismal.
PARIS SAINT-GERMAIN
Mais uma demonstração do tamanho da supremacia parisiense no futebol francês. Sem fazer um grande sacrifício, o PSG goleou simplesmente um dos principais oponentes que tem no país. No primeiro tempo, quando não teve combatividade na marcação, cedeu chances, mas as empilhou e ainda ficou no empate. No segundo, quando minimamente botou o pé, encaminhou o triunfo com dois gols. E quando relaxou de novo, ainda transformou em goleada. O dinamismo ofensivo que tem esse time do Luis Enrique encanta. É claramente uma equipe subestimada que, sim, pode surpreender na Liga dos Campeões. Na Ligue 1, só conta as horas para mais um título. Líder isolado, o Paris Saint-Germain dormirá com 13 pontos de vantagem para o segundo colocado. Dominante.
MONACO
Os monegascos chegaram a ser competitivos em Paris, mas mais uma vez não souberam acompanhar o ritmo do PSG na partida inteira. Na primeira etapa, quando levou um empate ao intervalo, estava bem vivo, fazendo valer de uma intensidade bem acima da parisiense. Sofria atrás, mas armava boas transições. No segundo, quando o rival fez ajustes táticos e aumentou a pegada, se perdeu totalmente. As fraquezas da defesa desencaixada comprometeram e o ataque parou de produzir. Até o emocional foi para o espaço. A imagem que fica é a de que os asemistas tomaram 3 a 0 quando os poderosos quiseram jogar. Sem achar um novo formato funcional, mesmo com a ida ao 4–2–3–1, os visitantes terminaram sem reação, goleados. O Monaco de Adolf Hütter tem potencial e boas peças, mas em jogos grandes só tem decepcionado. Com mais esta dura derrota, pode até cair da terceira posição da Liga Francesa ao fim da rodada.
ARBITRAGEM
De modo geral, o desempenho da equipe arbitral comandada pelo badalado Clément Turpin não teve grande exigência e fez um jogo discreto, como pede o manual. No entanto, um gol anulado de Doué por suposta saída de bola em cruzamento de João Neves foi bastante questionável. Nenhum replay mostrou a irregularidade com clareza. Pelo contrário, davam impressão de que a pelota fazia contato com a linha. Para o bem da arbitragem, isto “não fez falta” e ela não será pauta dos debates esportivos do fim de semana.
FICHA TÉCNICA
🗒️ PARIS SAINT-GERMAIN: Donnarumma; João Neves, Marquinhos, Pacho e Nuno Mendes; Vitinha, Doué (Kang-in Lee) e Fabián Ruiz; Barcola (Lucas Hernández), Kvaratskhelia (Gonçalo Ramos) e Dembélé. Treinador: Luis Enrique.
🗒️ MONACO: Majecki; Vanderson, Kehrer, Mawissa e Caio Henrique (Diatta); Zakaria, Magassa (Al Musrati), Akliouche e Minamino (Golovin); Biereth (Ben Seghir) e Embolo (Michal). Treinador: Adolf Hütter.
🧮 Resultado: Paris Saint-Germain 4×1 Monaco
⚽ Gols: Vitinha, Kvaratskhelia e Dembélé [2×] (Paris Saint-Germain) | Zakaria (Monaco)
👟 Assistências: Barcola, Doué e Nuno Mendes (Paris Saint-Germain) | Magassa (Monaco)
🟡 Cartão amarelo: Doué (Paris Saint-Germain)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Clément Turpin (França)
🏟️ Local: Parque dos Príncipes, Paris-FRA