RETRANCA FURADA MESMO SEM BRILHO

Jonathan da Silva
8 min readFeb 3, 2025

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Em duelo válido pela quarta rodada da fase inicial do Gauchão, o Internacional venceu o Avenida por 1 a 0 no Estádio Beira-Rio. Mais uma vez o colorado teve trabalho para superar uma retranca bem armada, mas desta vez criou mais chances de gol e buscou a vitória mais cedo que na partida anterior. Mesmo longe do nível ideal, o time de Roger Machado segue na liderança do grupo B. Já o periquito, com mais uma derrota apesar do desempenho aguerrido, segue com a pior campanha do estadual até o momento e teme o rebaixamento.

Sem surpresa, o primeiro tempo foi inteiro de ataques do Inter contra defesa do Avenida. O time de Santa Cruz do Sul não teve vergonha de ficar estacionado no 5–4–1 perto da própria área, com Layon como lateral direito e Paniagua como zagueiro, enquanto o colorado tentava propor jogo. Com um bom posicionamento adiantado e uma combatividade razoável, o conjunto de Roger Machado sempre matou as tentativas de contra-ataque do periquito já na origem e dominou a posse de bola no campo rival com naturalidade. Para ser realmente reativo, faltou volume no apoio e qualidade na saída de bola ao Nida. Só em ligações diretas para Michel, não teve retenção nem gente para aproveitar uma segunda bola. Não fluiu na base da verticalidade. Deste modo, o alviverde ficou muito preso atrás e não deu um descanso que seria muito bem-vindo para o sistema defensivo.

Contudo, apesar de não conseguir contra-atacar, o Avenida foi competente na hora de defender. Com compactação, concentração ao extremo, bons encaixes individuais e coberturas atentas, protegeu muito bem a própria área apesar de estar totalmente retraído. Ao tentar propor, o Inter nem foi tão estático e lento como nos duelos anterior, mas sentiu falta de maior repertório e precisão no terço final de campo. Melhorou o ritmo em relação ao duelo contra o São José, mas ainda cometeu muitos erros técnicos e de tomada de decisão. Em uma espécie de 3–1–6, trabalhou bem em aproximações pelas beiradas e foi perigoso em cruzamentos. As bolas paradas, inclusive, foram as melhores armas, com finalizações que exigiram milagres de Rodrigo Mamá. Apesar da boa estrutura alviverde e de não jogar tudo que era capaz, o alvirrubro teve uma quantidade de chances claras de gol mais que suficiente para abrir o placar. Entretanto, relembrando o velho problema na conclusão das jogadas, foi ineficiente. Outra vez penou para furar uma retranca. Antes do intervalo, não o fez. O placar zerado prevaleceu ao final do primeiro tempo.

Em meio à dificuldade de penetrar na retranca do Avenida, o Inter voltou para o segundo tempo ainda mais ousado e agressivo. Roger Machado fez substituições bastante ofensivas no intervalo, com as entradas de Enner Valencia e Carbonero nos lugares de Wanderson e Enner Valencia. Tal qualna partida contra o São José, saiu no 4–2–3–1 para um 4–1–3–2 que era comum na época de seu antecessor, Eduardo Coudet. O impacto inicial da troca foi positivo. Os cinco primeiros minutos vermelhos na etapa final foram bem interessantes. De novo com impacto imediato do ponta esquerda colombiano, o alvirrubro ganhou em movimentação e intensidade. Em momentos, chegava até a fazer um 2–1–7 nos arredores da área do periquito, mais retraído que nunca. O Internacional rondou a área em cruzamentos e diagonais. Contudo, seguiu ineficiente e não tirou o zero do placar mesmo com a evolução. A bola de neve aumentava.

Todavia, este momento de forte pressão colorada não durou muito tempo. Apesar de ter melhorado o desempenho com bola, o Inter perdeu poderio de marcação com as mudanças. Já não era mais tão efetivo na marcação adiantada e tinha menos homens na recomposição. Ao perceber os espaços cedidos pelos donos da casa, o Avenida passou a também jogar. Deixou de viver só de ligações diretas para Michel, ainda que continuasse as fazendo. Passou a também conseguir melhores passes com os volantes, explorando de subidas dos pontas nas costas dos laterais colorados. Surpreendentemente, pela coragem do periquito, o jogo no Beira-Rio se transformou em “lá e cá”. O Nida levou perigo em cruzamentos, o alvirrubro em diagonais explorando as brechas concedidas pelos alviverdes em transição. Um gol, de algum dos lados, parecia vir a qualquer momento.

No fim das contas, quem se aproveitou mais deste cenário de trocação, apesar de sofrer mais defensivamente pela exposição dos zagueiros, foi o Internacional. As subidas do Avenida trouxeram espaços que antes o colorado não tinha para explorar. E com Alan Patrick na origem das jogadas e Wesley, Carbonero, Bernabei, Valencia e Borré para atacar em transição, o conjunto de Roger Machado tinha tudo para ser perigoso e em algum momento finalmente achar o gol. E o fez aos 17 minutos. Bernabei recebeu enfiada de Victor Gabriel e resolveu arriscar de fora da área. O argentino contou com a sorte em um desvio em Micael que simplesmente tirou a pelota do alcance do inspirado goleiro Rodrigo Mamá. Placar aberto. Retranca finalmente furada, logo quando já nem era mais tão retranca. Alívio colorado em Porto Alegre.

Após o gol do Internacional, curiosamente o Avenida voltou a recuar no campo e o colorado retomou o domínio da partida no campo rival. Claramente o que o time de Santa Cruz do Sul queria era se manter vivo no jogo para eventualmente se arriscar no fim. Optou por voltar ao 5–4–1 atrás, sem se expor contra-atacando com frequência, evitando “abrir a porteira”. O time de Roger Machado, por sua vez, também teve méritos ao melhorar a marcação adiantada com as entradas de Bruno Henrique e Ronaldo. E, mesmo já menos enérgico que nos minutos iniciais, continuava chegando com perigo. Nas iniciativas individuais de Carbonero, em cruzamentos e bolas paradas, o conjunto da casa novamente teve chances suficientes para transformar o placar em goleada. Borré, Enner Valencia e cia, todavia, não conseguiam acertar a tomada de decisão e as finalizações de modo algum. Vitinho e Bruno Henrique chegaram a colocar bolas no travessão. Enfim, a incompetência enorme no acabamento das jogadas que impediu o Inter de matar a partida no Beira-Rio.

Por fim, nos últimos minutos, como o imaginado, o Avenida arriscou mais e saiu do 5–4–1 para um 4–4–2 com a entrada do atacante Caíque no lugar do zagueiro Micael. A intenção era fortalecer as roubadas de bola na intermediária, contra-atacar pelos flancos e forçar um chuveirinho para a dupla de ataque resolver na área. Contudo, o periquito não teve pernas para isso. Renovou parcialmente o fôlego com as trocas, mas a maioria da equipe estava exausta. E o Inter, em contrapartida, estava bem preparado para evitar uma mudança de panorama. Já tinha recuperado a solidez no desempenho sem a bola e não a perdeu com as mudanças táticas do rival. Seguiu bem postado, atento e impositivo nos duelos individuais. Não permitiu contra-ataques e ainda levou perigo mais algumas vezes, novamente com mais espaços cedidos pelo rival. Apesar da tentativa válida alviverde, o colorado permaneceu superior. Por pouco não marcou o segundo gol e tranquilizou mais a torcida. Ainda assim, sustentou o placar mínimo que dá os mesmos três pontos.

O placar foi apertado pelo trabalho bem digno feito pelo Avenida em sua retranca, mas o Inter mereceu a vitória pela quantidade de chances criadas ao longo da partida. Mesmo sem a envolvência e o repertório esperados, o time de Roger Machado foi mais agressivo que nos jogos anteriores e fez o suficiente para furar uma retranca bem armada mesmo sem brilhar. Desta vez, apesar de não convencer, não é possível dizer que jogou mal. Contudo, vale frisar que o periquito tem a pior campanha do estadual e foi ao Beira-Rio sem nem ter um treinador efetivado. Diante disso, apenas não jogar mal e vencer por placar mínimo é suficiente? Para a tabela, em que o alvirrubro segue a caminho de uma classificação segura, sim. Para os momentos mais decisivos do campeonato, em que precisará de mais nível e intensidade, não. Aguardemos os próximos capítulos.

INTER

O resultado foi mais magro que o esperado e o futebol passou longe de ser convincente, mas a atuação colorada foi melhor que a apresentada contra o São José no jogo anterior. Fez um gol a menos, é verdade, mas criou mais chances de perigo ao longo da partida. Demonstrou maior intensidade, apesar de ainda longe da ideal, e dominou o adversário. Sem a bola, foi praticamente impecável na marcação adiantada, tirando a arrancada do segundo tempo em que perdeu força de marcação com as substituições. Além disso, foi menos previsível ao ter a pelota, com maior mobilidade e aceleração nos passes. O que faltou mesmo foi melhor nível perto da área rival. Nas tomadas de decisão, nos cruzamentos, nas finalizações. Foram 21 finalizações, oito na direção da goleira, e apenas uma pelota na rede. Com uma eficiência minimamente decente, o time de Roger Machado teria goleado mesmo longe de jogar tudo que é capaz. Apesar disso, furou a boa retranca do Avenida e chegou a três vitórias consecutivas no estadual. Mesmo em um grupo difícil, o Inter segue no caminho da classificação segura, na liderança da chave. Precisará evoluir para ser campeão, mas até o momento o desempenho não é comprometedor.

AVENIDA

O periquito fez o que podia com as armas que tem e conseguiu ser competitivo mesmo sem treinador, mas não o suficiente para evitar a derrota. A retranca montada pelo time de Santa Cruz do Sul no 5–4–1 foi muito compacta, encaixada e concentrada. No entanto, foi furada nos detalhes, justamente em um momento em que o alviverde ousou mais em subir ao ataque e deu brechas defensivas. Ainda assim, de modo geral, o time visitante atacou pouco. Só com Michel isolado, sem apoio consistente, teve raros contra-ataques, neutralizado já na saída de bola. Só foi perigoso quando o Inter perdeu poder de marcação, mas foi justamente quando se abriu atrás e acabou derrotado. Contudo, o Avenida sabia que não era hoje que se salvaria de ir para o quadrangular do rebaixamento. Lutou para conquistar pontos surpreendentes, mas não fará terra arrasada por sair zerado. Apesar de continuar com a pior campanha do Gauchão, com apenas um ponto somado, terá pela frente três jogos em casa nas quatro rodadas finais. Ainda pode reagir. Precisará, todavia, achar imediatamente um treinador.

ARBITRAGEM

O jovem árbitro Wagner Silveira Echevarria fez uma partida muito segura no Beira-Rio, sem invenções, sem erros relevantes, sem perder o controle emocional do duelo. Os seus auxiliares é que deixaram a desejar. Os bandeirinhas ao marcarem vários impedimentos claramente equivocados, que nem precisavam de replay para serem percebidos. E o homem do VAR, o infame Jean Pierre Lima, que chamou o apitador ao monitor para checar um possível pênalti em lance em que Bustamente mal encosta em Alan Patrick na área. Por sorte, Echevarria teve coragem de manter o que marcou em campo, absolutamente nada. Desta forma, apesar dos pesares, a arbitragem não interferiu no resultado da partida, que é o principal.

FICHA TÉCNICA

🗒️ INTER: Anthoni; Braian Aguirre, Vitão, Victor Gabriel e Bernabei; Fernando (Bruno Henrique), Thiago Maia (Enner Valencia), Alan Patrick (Ronaldo), Wanderson (Carbonero) e Wesley (Vitinho); Borré. Treinador: Roger Machado.
🗒️ AVENIDA: Rodrigo Mamá; Laion, Paniagua, Micael (Caíque), Vitor Dadalt (Rafael Klein) e Joel Jiménez; Amaral, Gorgoroso, Matheus Martins (Tallyson) e Bustamante (Branquinho); Michel (Brayan Kruger). Treinador: Alon Ritter.
🧮 Resultado: Inter 1×0 Avenida
Gol: Bernabei (Inter)
👟 Assistência: Victor Gabriel (Inter)
🟡 Cartões amarelos: Wanderson e Vitão (Inter) | Joel Jiménez (Avenida)
🔴 Cartões vermelhos:
👨‍⚖️ Árbitro: Wagner Silveira Echevarria (Rio Grande do Sul)
🏟️ Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre-RS

BOLA DE OURO DO JOGO: Bruno Henrique/Inter | FOTO: Ricardo Duarte/S.C. Internacional

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Jonathan da Silva
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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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