PRIMEIRO CAPÍTULO DO GALO NO MONUMENTAL É BEM-SUCEDIDO
O Atlético Mineiro segurou o River Plate em um Estádio Monumental em modo caldeirão e é o primeiro finalista da Libertadores 2024. O time argentino até mostrou bastante valentia e garra, mas não teve lucidez coletiva para desestabilizar a estrutura defensiva bem armada pelo Galo. Com muita maturidade e até certo conforto, o alvinegro mineiro soube confirmar sem grande sofrimento a grande vantagem de três gols favoráveis.
Os primeiros minutos de jogo no Monumental, tão importantes em uma semifinal de Libertadores, foram surpreendentemente mornos. O River não fez uma super pressão inicial, o Galo não quis se expor e nada de relevante aconteceu. O time argentino nem tentou marcar alto porque o Atlético saía jogando de forma direta, sem brechas para um erro de passe. Com isso, a equipe de Gallardo tentou sair jogando deste trás, mas o Galo se posicionou bem para matar as jogadas na intermediária e ainda segurou a bola nas beiradas por alguns minutos. Cenário favorável ao Galo.
A partir dos 10 minutos, sim, o jogo começou a mudar de panorama para uma relativa pressão do River Plate. Uma blitz mais emocional e física que tática e técnica. O que aconteceu foi que o time argentino adiantou suas linhas, de fato, e impediu que o Galo continuasse matando tempo com jogadas pelas beiradas. O Atlético passou a apenas viver de chutões que não geravam retenção nenhuma de bola e deixavam o time argentino com a pelota sempre. Contudo, atrás o alvinegro estava bem protegido. Bem ajeitado em um 4–4–2 com Lyanco de lateral direito e Scarpa mais adiantado, além de Paulinho como o “segundo lateral” pela esquerda. O River precisava sair do óbvio para desestruturar isso. Mas, assim como na ida, não soube. Viveu de bolas paradas, de cruzamentos frontais, de tentativas de chutes de longe. Zero combinações, zero atração de marcação, zero criatividade dos meias. Apenas algumas tabelas entre Colidio e Borja traziam esperança, mas não levavam a nada concreto. Mesmo com o domínio da segunda bola em função do recuo atleticano e todo o volume que tinha pela garra, o time de Gallardo não produzia ataques que levassem a uma chance clara. O único jeito de o Galo sofrer um gol, por estar muito atrás e ser refém de qualquer vacilo, seria cometer um erro grosseiro. Lyanco flertou com isso, mas não alcançou. Everson trabalhou pouco. E a ida ao intervalo no 0 a 0 foi inevitável.
Os primeiros minutos do segundo tempo foram, sem sombra de dúvidas, os mais confortáveis para o Atlético Mineiro em Buenos Aires. Ali, inclusive, flertou com abrir o placar. Gabriel Milito insistiu em manter Hulk, Paulinho, Scarpa e Deyverson juntos mesmo naquele momento de “retranca”. E ali valeu a pena, pois o Galo ajustou o começo das jogadas, acabou com a efetividade do River na “pressão pós-perda de posse” e começou a encontrar suas peças ofensivas em transição. Ainda com bolas longas, mas não mais chutões despretensiosos e distanciamento em campo. Os ataques começaram a entrar e o millonario, que tinha muito campo a marcar, tinha dificuldade em fazer a transição defensiva. Não à toa, aos 2 minutos, Scarpa acertou bola no travessão e Deyverson perdeu boa chance na sobra, parando em Armani. Mundo dos sonhos para o Galo. Sem sofrer atrás e dando suas estocadas.
Contudo, este cenário não durou muito tempo. Com a água batendo no pescoço, Marcelo Gallardo finalmente mexeu no time. Em menos de 20 minutos, fez as cinco substituições a que tinha direito e revitalizou o ataque do time. Colocou os criativos Echeverri, Mastantuono e Pity Martínez, além do volante Villagra e do atacante Bareiro. Não mudou o esquema, mas mudou as características. Saiu da correria desenfreada para o pensamento. Não virou um time super dinâmico, combinativo, envolvente, mas deixou de ser um nada. Já não era mais só chuveirinho. Apareciam jogadas por dentro. Apareciam combinações. Echeverri sozinho criou mais que todos seus colegas até então. Mas faltou o algo a mais. Ainda faltou maior profundidade, alguém atraindo marcação e abrindo espaços, um centroavante de “hierarquia”. Nem Borja nem Bareiro entregaram isso. E o River, apesar de mais inteligente e com maior capacidade de solução individual, seguiu sem ser imparável. E não achou nem sequer o gol de uma vitória de honra.
Mérito do Galo. Gabriel Milito não assistiu à evolução do River sem reação. Já no intervalo havia colocado Saravia no lugar de Lyanco pela iminente expulsão do defensor. Colocou um lateral direito de origem onde estava jogando um zagueiro improvisado. Depois, quando Gallardo fortaleceu a meia cancha, o técnico atleticano respondeu fazendo a mesma coisa. Com as entradas de Rubens e Otávio nos lugares de Deyverson e Paulinho, o Atlético passou a se defender em um 4–1–4–1. Reocupou bem os espaços e, com bons encaixes individuais, limitou os efeitos da melhoria criativa do time argentino. E seguiu protegendo bem a área com a dupla de zaga impecável. Não teve mais contra-ataques, com Hulk isolado e Scarpa cansado, mas não fez falta. Soube fazer o tempo passar atrás. Maturidade de uma equipe finalista da Libertadores.
O classificado para a final da Libertadores não poderia ser outro pelo que foi o duelo de 180 minutos. O Atlético sempre teve o River sob controle. Em Belo Horizonte, com uma defesa bem ajustada e um ataque brilhante, criativo, forte, eficiente. Em Buenos Aires, com uma fortaleza na frente da área e frieza para fazer o tempo passar. Em momento algum o time argentino foi realmente criativo ou envolvente. Teve força e lampejos individuais, mas coletivamente não competiu de fato com o Galo. Além da vantagem na qualidade individual, o grande fator desta semifinal foi que Gabriel Milito superou Marcelo Gallardo. A estratégia atleticana esteve sempre mais eficaz que a millonaria. Na ida e na volta. E a vaga na decisão ficou com quem mereceu mais. O River se despede do sonho do penta, o Atlético voltará ao Monumental para pelear pelo bi. Novos tempos na América do Sul.
RIVER PLATE: Assim como na ida, o River Plate foi vítima não só do Galo, mas também de sua própria falta de criatividade. É inegável que a postura millonaria no Monumental foi muito melhor que a da ida na Arena MRV, mas o jogo não é só mental. Para reverter uma desvantagem de três gols, é necessário ter construção coletiva. Mas é “mais fácil” trabalhar o psicológico que o tático em uma semana. E o resultado foi o visto em campo: muita luta, muito volume, mas pouco dinamismo, pouca lucidez. Tirando cruzamentos forçados em demasia e lampejos individuais de Colidio e Echeverri, o River não teve nada. Se achasse um gol, seria um lucro tremendo para tamanha pobreza. Seguindo a lógica, não achou e deu adeus. Com um futebol nada millonario, o River Plate de Marcelo Gallardo está merecidamente eliminado da Libertadores. Chegar à semifinal foi até mais do que o desempenho indicava para o time argentino.
ATLÉTICO MINEIRO: O Atlético confirmou a classificação para a segunda final de Libertadores da sua história sem grande sofrimento. Brilhantismo na ida, segurança na volta. Mais uma vez o pragmatismo de Gabriel Milito deu certo. Por alguns momentos até houve um certo exagero na retração defensiva, mas na grande maioria do tempo o Galo soube controlar o River com uma estrutura defensiva bem armada. O time atacou pouco, mas Everson fez poucas defesas e Battaglia muitos cortes. Pelo que foi o jogo, poderiam acontecer mais três tempos e o alvinegro não levaria gol. O primeiro capítulo atleticano no Monumental de Núñez nesta Libertadores é bem-sucedido. Resta saber agora se no segundo, na grande decisão, o final também será feliz e o bi da América será escrito.
ARBITRAGEM: Wilmar Roldán gosta de se envolver em polêmicas ao longo da carreira, mas hoje foi praticamente impecável no Monumental. Sem lances polêmicos, fez boa condução psicológica da partida e não cometeu nem mesmo erros pequenos que tenham chamado atenção. Arbitragem condizente com uma semifinal de Libertadores.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ RIVER PLATE: Armani; Bustos, Pezzella, Paulo Díaz e Acuña; Kranevitter (Villagra), Santiago Simón (Echeverri), Maxi Meza, Solari (Mastantuono) e Colidio (Pity Martínez); Borja (Adam Bareiro). Técnico: Marcelo Gallardo.
🗒️ ATLÉTICO MINEIRO: Everson; Lyanco (Saravia), Battaglia e Junior Alonso; Gustavo Scarpa, Vera, Alan Franco e Guilherme Arana (Vargas); Hulk, Paulinho (Otávio) e Deyverson (Rubens). Técnico: Gabriel Milito.
⚽ Gols: ❌
👟 Assistências: ❌
🟡 Cartão amarelos: Lyanco e Everson (Atlético Mineiro)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Wilmar Roldán (Colômbia)
🏟️ Local: Estádio Monumental de Núñez, Buenos Aires-ARG