POUCO, MAS SUFICIENTE
Em confronto de dois tempos bem diferentes, o Barcelona confirmou o favoritismo e venceu o Alavés por 1 a 0 no Estádio Olímpico Lluís Companys pela 22ª rodada do Campeonato Espanhol. No primeiro tempo, os albiazules surpreenderam e conseguiram neutralizar os culés. No entanto, o conjunto blaugrana se recuperou após o intervalo e foi envolvente como de costume para buscar o triunfo em casa. O Barça segue na luta pelo título, o Deportivo continua amarrado na guerra contra o rebaixamento.
Surpreendentemente, quem foi ligeiramente superior no primeiro tempo foi o Alavés. Em especial, porque conseguiu anular o Barcelona. Com as variações do 4–2–3–1 para o 4–4–2 no posicionamento defensivo, o time de Eduardo Coudet executou bons encaixes individuais e foi bastante combativo para impedir uma circulação de bola fluente dos culés. E, além de tudo, conseguiu pressionar na marcação e tirar linhas de passe dos blaugranas sem perder a compactação, sem ceder espaços nas entrelinhas. Faltou à equipe de Flick sair do previsível. O Barça não fez mais do que variar entre o 2–4–4 e o 2–3–5 e buscar as pontas, com a esperança de que Lamine ou Raphinha encontrasse uma diagonal incisiva. Não teve um movimento inesperado para surpreender o rival, não acelerou a troca de passes, não teve nem mesmo um lampejo individual perto da área rival. Como o os albiazules pressionavam, o mandante poderia ter pensado em uma atração de marcação e exploração de espaços, mas não teve vitória pessoal nem dinamismo para realizar um passe vertical. Apesar de ter 73% de posse de bola, o conjunto catalão não exigiu nenhuma defesa difícil de Owono antes do intervalo. Muito abaixo da média de um time que, mesmo quando tropeça, costuma ser envolvente e criativo. Pouca dinâmica àquela altura.
Além disso, o Alavés ainda conseguiu algumas jogadas promissoras em transição. Por uma boa parte da etapa inicial, havia uma alternância de ataques entre os dois times, um lá e cá inesperado. Justamente pela marcação combativa, o time de Coudet conseguia contra-ataques constantes. E apoiava sempre com ao menos seis homens alinhados, o que gerava uma situação de igualdade numérica com a defesa do Barça, que não fazia uma recomposição tão rápida para ceder menos espaços, tampouco fazia uma pressão pós-perda decente. Contudo, esta retaguarda culé teve um bom aproveitamento na linha de impedimento, algo que é um ponto forte desta equipe e foi providencial hoje. Várias chegadas perigosas dos Babazorros foram paradas em impedimentos. Fora que faltou mais inspiração por parte dos albiazules também, sem um passe diferenciado, sem uma diagonal decisiva, sem uma combinação bem pensada. Só em cruzamentos e bolas paradas não foi um ataque muito mais produtivo que o do Barcelona, ainda que tenha chegado perto da área mais vezes. Deste modo, com a improdutividade dos dois ataques, o primeiro tempo todo não teve sequer uma chance real de gol, independentemente do lado. Foram apenas três finalizações do Barça e nenhuma do Alavés. O 0 a 0 na ida ao intervalo foi inevitável e coerente.
Entretanto, o Barça voltou para o segundo tempo com uma outra cara. As mudanças de Hans-Dieter Flick, seja na postura ou nas peças, fizeram muita diferença. As entradas de Eric García e Frenkie de Jong nos lugares de Ronald Araújo e Casadó deram outra fluência para a saída de bola culé, além de surpreendentemente também terem ajudado na combatividade. A conhecida agressividade dos blaugranas passou a imperar, com uma marcação alta muito efetiva. Além disso, pela maior intensidade, o dinamismo também aumentou. Havia mais trocas de posição, mais “arrastamento” de marcação, mais vitória pessoal, mais diagonais, mais combinações. Este sim já era o Barcelona que o público está acostumado a assistir, rápido e envolvente. Naturalmente, sem encontrar as referências defensivas, o Alavés se retraiu em seu 4–4–2. Não passava mais do meio-campo, nem conseguia conter a circulação de pelota rival. A abertura de placar naturalmente era questão e tempo. E aconteceu aos 15 minutos, em linda inversão de Pedri para Lamine Yamal, que chutou cruzado e o matador Lewandowski empurrou a esfera para os barbantes. O trigésimo gol do polonês em 32 partidas na temporada. Como é empolgante o ataque culé!
Após o gol do alívio, o Barça fez uma excelente administração da vantagem. O Alavés tentou voltar a sair para o ataque e ser competitivo, mas os culés tiveram uma postura adequada para manter o domínio do jogo. Mesmo sem a mesma energia da arrancada do segundo tempo, manteve a eficiência da marcação adiantada a partir do bom posicionamento e ainda foi seguro na recomposição, sempre com alta eficiência na linha de impedimento. Com a bola, também prosseguiu envolvente e criativo. Não tão veloz, mas ainda trocando ótimos passes, tendo vitória pessoal e infiltrando na área com cruzamentos, tabelas, diagonais, enfiadas e jogadas individuais. Flertou bastante com o segundo gol para matar de vez a parada, mas não teve aquela gana no terço final de campo. Estava confortável. Não sofreu atrás, sem os albiazules apresentarem algum repertório, alguma solução do banco. Só encher de atacantes para forçar uma bola aérea que mal conseguiu não foi suficiente. Triunfo blaugrana naturalmente confirmado.
No fim das contas, o favoritismo do Barcelona foi confirmado. De fato, o conjunto culé deixou a desejar no primeiro tempo, mas teve muitos méritos ao se impor no segundo, em uma atuação muito próxima do padrão envolvente que costuma apresentar. Pedri e Lamine Yamal conduziram o coletivo com um ritmo e nível encantadores. O Alavés, valente e organizado, até deu mais trabalho que o esperado, mas não fez o suficiente para parar os blaugranas. Tanto na defesa quanto no ataque, sentiu falta de maior repertório na “hora H”. Com o resultado dentro do esperado, os dois clubes seguem bem “metidos” em suas brigas no campeonato, que são muito diferentes. O Barça continua na caça ao título, reduzindo a desvantagem para o líder Real Madrid a quatro pontos. O Deportivo intensifica a luta contra o rebaixamento, agora dentro do Z3, dois pontos atrás do Espanyol, primeiro time de fora da zona indesejável. O drama continua.
BARCELONA
Após um primeiro tempo em que nem parecia o Barça de Hansi Flick em campo, a equipe culé se impôs bem na segunda etapa com um desempenho sólido. Apesar do começo vagaroso, o conjunto blaugrana soube ir da previsibilidade para a envolvência. Quando melhorou a saída de bola e foi mais agressivo na marcação sem ela, parou de sofrer contra-ataques e jogou o Alavés contra as cordas, como o esperado. Até não foi uma atuação brilhante, de modo geral, mas foi boa e suficiente para este confronto. O principal destaque foi o show de Lamine Yamal, que teve uma performance de recordar Lionel Messi e Neymar Júnior, seus ídolos. Com o triunfo em casa e o tropeço do Real Madrid ontem, o Barcelona ainda sonhando com o título da Liga Espanhola. Ainda é terceiro colocado, mas fica a quatro pontos dos merengues e a três do Atlético. Ainda terá confronto direto contra os dois. Tem potencial para competir.
ALAVÉS
Os albiazules ficaram no quase em Barcelona. A primeira etapa foi bem competitiva, até levemente superior ao Barça, mas os comandados de Eduardo Coudet se perderam exatamente quando os culés se encontraram. Se na etapa inicial o conjunto alavezense conseguiu executar uma marcação bem encaixada e agressiva, com frequentes contra-ataques, não teve capacidade para acompanhar o ritmo e a dinâmica rival na volta do intervalo. Perdeu as referências, se retraiu e mal ficou com a bola, sempre a perdendo logo após recuperar. Ao menos, se é que serve de consolo, fez um papel bem digno e perdeu de pouco em um jogo que certamente não contava com pontos. Ainda assim, a derrota mantém o Alavés dentro da zona de rebaixamento do Campeonato Espanhol, em 18º, posição para a qual caiu após a vitória do Espanyol sobre o Real Madrid ontem. O concorrente direto derrotou um gigante, os babazorros não. Desde a chegada de Chacho, o clube do País Basco obteve apenas uma vitória em oito partidas. Situação delicada na Liga.
ARBITRAGEM
O jogo na Catalunha não teve lances polêmicos e a atuação do experiente árbitro andaluz José Luis Munuera Montero não comprometeu. Ainda assim, o apitador poderia ter coibido mais as entradas duras do Alavés. É difícil de entender como o Barcelona terminou a partida com mais cartões que o adversário, mesmo tendo cometido oito faltas contra 20. Entretanto, ao menos a equipe arbitral não perdeu o controle emocional do duelo em momento algum. O destaque vai para os bandeirinhas, que marcaram corretamente mais de uma dezena de impedimentos do time visitante. Não é possível afirmar que a arbitragem foi bem, mas ela ao menos não interferiu diretamente no resultado.
FICHA TÉCNICA
🗒️ BARCELONA: Szczęsny; Koundé, Ronald Araújo (Eric Carcía), Cubarsí e Balde (Gerard Martín); Casadó (Frenkie de Jong), Gavi (Fermín López) e Pedri; Lamine Yamal, Raphinha (Ferran Torres) e Lewandowski (Pau Víctor). Treinador: Hans-Dieter Flick.
🗒️ ALAVÉS: Owono; Tenaglia, Mouriño, Moussa Diarra e Manuel Sánchez; Guevara (Villalibre), Antonio Blanco, Guridi (Toni Martínez), Carlos Vicente (Novoa Ramos) e Conechny (Carlos Martín); Kike García. Treinador: Eduardo Coudet.
🧮 Resultado: Barcelona 1×0 Alavés
⚽ Gol: Lewandowski (Barcelona)
👟 Assistência: Lamine Yamal (Barcelona)
🟡 Cartões amarelos: Gavi, Ronald Araújo, Raphinha, Fermín López e Lamine Yamal (Barcelona) | Benavídez e Tenaglia (Alavés)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: José Luis Munuera Montero (Espanha)
🏟️ Local: Estádio Olímpico Lluís Companys, Barcelona-ESP