POLÊMICO, MAS O TRICAMPEÃO VAI À ÚLTIMA ETAPA DA DEFESA DE TÍTULO

Jonathan da Silva
8 min read2 days ago

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Em uma semifinal com grande polêmica de arbitragem, o Palmeiras derrotou o São Paulo por 1 a 0 no Allianz Parque e é o segundo finalista deste Paulistão. Até o pênalti inexistente que gerou o gol da vitória palmeirense, o choque-rei era equilibrado, com uma equipe anulando a outra em duelo muito físico. Na sequência, com a desvantagem, o tricolor se desesperou e se perdeu, enquanto a equipe de Abel Ferreira fez uma administração extremamente segura na defesa e quase matou de vez o confronto em contra-ataques perigosíssimos. Desta forma, o atual tricampeão estadual garantiu mais uma defesa de título em sua sexta final consecutiva. Mas até lá, o clássico desta segunda-feira será motivo de intensas discussões.

O primeiro tempo inteiro no Allianz Parque foi de um jogo de xadrez em que uma equipe anulou a outra. O São Paulo, que tinha mais a posse de bola e tentava atrair o Palmeiras adiante para explorar espaços, saindo de bem trás em um 3–1–1–5 com Oscar junto aos zagueiros e Alisson mais à frente, não teve sucesso porque o porco não pressionou na marcação e recompôs de forma segura ao 4–4–2 ou 4–5–1, conforme Estêvão voltava ou não. Apesar do camisa 8 são-paulino ter ajudado na origem das jogadas, não fez milagre com os lançamentos e a equipe sentiu falta de repertório coletivo, dinamismo e, em especial, de uma conexão entre defesa e ataque. Do outro lado, o alviverde, mais objetivo, também não mostrava qualquer construção elaborada. Retomava a pelota e rapidamente partia de forma desordenada para chutar de fora da área assim que pudesse. Não havia qualquer combinação ou mesmo cruzamentos e enfiadas, o verdão era só diagonal e finalização. Quando tentava tramar, algo mais raro, o time de Abel Ferreira formatava um 3–3–4, mas também sem mobilidade para obter vitórias táticas. O tricolor recompunha bem no 5–3–2 e protegia a área com boa compactação, com as peças mais ofensivas ajudando sem bola, como se exigia diante da escalação de Zubeldía.

No geral, os visitantes fluíram melhor na primeira metade e os mandantes na segunda, mas ambos sem uma vantagem que os fizesse realmente flertar com uma concretização em gol. O 0 a 0 era a cara da etapa inicial e deveria, por justiça, ter sido o placar na ida ao intervalo. Só que no finalzinho, já com os 45 minutos batendo à porta, um erro absurdo da arbitragem mudou os rumos do clássico. Em um passe errado do goleiro Rafael, Vitor Roque recuperou uma bola dentro da área do São Paulo e, diante da cobertura de Arboleda, simplesmente mergulhou para tentar forçar um contato com o zagueiro são-paulino, que retirou o pé para não cometer falta. Uma simulação do estreante atacante alviverde que o árbitro Flávio Rodrigues de Souza, referendado pelo VAR Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral, considerou pênalti. Inacreditável. Na cobrança, o especialista Raphael Veiga, que não tem culpa pelo erro dos homens do apito e do vídeo, deu um chutaço indefensável e abriu o placar para o Palmeiras aos 46 minutos. Polêmico. Quando uma injustiça esportiva causa impacto no resultado de uma partida de futebol, não é apenas o clube prejudicado que perde, mas sim todo o esporte.

Diante do placar favorável aos donos da casa, o segundo tempo não fugiu do cenário previsível de um São Paulo desesperado para reagir e um Palmeiras mais administrativo, esperando e contra-atacando. O tricolor não fez, de cara, nenhuma mudança estrutural, mas adiantou linhas e tentou acelerar a troca de passes. Todavia, não conseguiu deixar de depender de bolas longas e lampejos individuais. Mesmo com Oscar mais livre para flutuar, seguiu faltando um elo entre defesa e ataque. Seguiram faltando combinações, movimentos envolventes, atrações de marcação. O alviverde conseguia fazer com que Weverton fosse mero expectador da partida. Sem bola, o verdão mantinha o sistema tático do primeiro tempo, mas com ainda mais compactação e recuo, sendo capaz de bloquear linhas de passe mesmo sem fazer pressão. Com a pelota, fluiu melhor que em toda a etapa anterior. Com a exposição são-paulina, Estêvão, Veiga, Torres e Roque tiveram campo para explorar. Foram vários contra-ataques alviverdes em igualdade numérica com a defesa rival, viabilizados muito pelo bom primeiro passe de Emiliano Martínez. Chances claras, cara a cara com Rafael, surgiram. Faltou capricho nas finalizações para o Palestra matar de vez o choque-rei e, com um segundo gol, ter mais argumentos para dizer que não se classificou apenas por causa da arbitragem. Ainda assim, vale se dizer que esta evolução do time de Abel Ferreira foi muito mais circunstancial, pelo adiantamento dos visitantes, que por alguma evolução tática significativa na criação de jogadas.

Além disso, outro fator crucial para que o São Paulo não tenha criado sequer uma chance clara de empatar a partida no segundo tempo foram as substituições, as suas e as do Palmeiras. Com as mudanças de peças, Zubeldía passou o tricolor para um 4–1–3–2, com Ferreira e Lucas, depois Erick, nas pontas, Oscar centralizado à frente de Alisson, André Silva e Calleri no ataque, e Igor Vinícius e Enzo Díaz nas laterais. Uma equipe ainda mais ofensiva, que formatava uma espécie de 3–1–2–4 ao ter a pelota, mas que não seguia sem critério na construção de jogadas. Que se tornou de vez um amontoado, com movimentos aleatórios, sem combinações, sem um pensador, com mera correria e desespero. O Soberano apenas cruzava de qualquer jeito para tentar fazer valer a presença de dois homens de área. Nem solução individual tinha, já que Ferreira, para variar, entrou mal e as outras peças estiveram em dia pouco inspirado. E isto tudo ainda casou com o fortalecimento defensivo alviverde feito por Abel Ferreira. O Palestra passou, na reta final, a atuar em um 5–4–1 na defesa, com Mayke auxiliando Marcos Rocha na direita e o zagueiro Gustavo Gómez no lugar do volante Emiliano Martínez. Um ferrolho clássico, com ainda mais compactação e recuo, para não correr qualquer risco. Não deu outra, o verdão assegurou a vantagem mínima sem grande sofrimento. E ainda teve mais contragolpes propícios para ampliar o escore. Se a forma como o Palmeiras conseguiu a vantagem é bem questionável, a maneira como a administrou foi quase impecável, com frieza, maturidade e competência. Uma aula de mata-mata.

Com a lastimável interferência direta de um erro de arbitragem, é impossível não considerar o resultado do choque-rei injusto. Uma pergunta sempre ficará na cabeça do público: como teria sido o jogo sem o pênalti inexistente marcado para o alviverde? Até ele, havia equilíbrio entre as equipes, com uma anulação de lado a lado, com as defesas controlando os ataques. No segundo tempo, com a continuidade do 0 a 0, quem teria arriscado mais? Seria o Palmeiras, que jogava em casa? E teria sido ele capaz de sair da pobreza para finalmente criar algo de forma coletiva? Teria o São Paulo recuado mais para conseguir enfim explorar espaços? Teria algum dos chutes palmeirenses de fora da área entrado? Teria Lucas ou Oscar algum lampejo decisivo? Teria tudo continuado como estava diante do jogo de xadrez tático? Bom, nunca teremos uma resposta definitiva. O que sabemos é que, da forma como foi, o Palestra soube administrar a vantagem que recebeu de presente e disputará a final do Paulistão pela sexta vez seguida. Buscará, diante do arquirrival Corinthians, o quarto título estadual consecutivo. Da forma como o time de Abel Ferreira se classificou, seria um justo campeão ou haveria para sempre uma mancha na campanha? Outro debate que só no futuro saberemos se existirá ou não. Na bola, hoje, pela inconsistência, é difícil apontar um favorito para a grande final. Fácil é prever que haverá ainda mais drama.

PALMEIRAS

O erro arbitral salvou a equipe de Abel Ferreira de mais uma atuação paupérrima. Na defesa, o alviverde até fez uma partida decente, mas no ataque, até ser presenteado com o pênalti, era rigorosamente improdutivo. O Palestra simplesmente não tinha qualquer elaboração coletiva, vivia de pura correria bagunçada e chutes de fora da área. Em vantagem, aí sim, fez uma boa administração. Reforçou ainda mais o sistema defensivo, que desde o início já não caía em armadilhas e recompunha bem, e passou a encontrar bons contra-ataques, com bastante espaços a explorar. Ainda assim, por ineficiência, o porco não foi capaz de matar o jogo mesmo com avanços em igualdade numérica e chances claras. Não fez um segundo gol que talvez diminuísse a polêmica. Não é dessa forma que o torcedor palmeirense gostaria de ver seu time classificado para a final. E isto não só pela arbitragem, mas também pelo rendimento em si. Como o Corinthians também vem em decadência, talvez a preocupação para a decisão seja menor, mas que o Palmeiras deveria evoluir para se impor por méritos próprios é fato. Repetindo esta pobreza, teria que contar com mais demérito do rival que qualquer coisa para levar a taça. Todavia, é destacável que o atual tricampeão defenderá o título em sua sexta final consecutiva de Paulistão. O verdão é uma equipe cascuda em mata-matas e merece respeito.

SÃO PAULO

O tricolor tem razão para sair do Allianz Parque inconformado com a arbitragem. Mesmo com a pouca criatividade no ataque, possivelmente o time de Zubeldía teria levado a semifinal aos pênaltis sem o erro do juiz, já que tinha um controle defensivo interessante até então. O 5–3–2 montado sem a bola, com as estrelas focadas em ajudar na marcação, estava sendo suficiente para a boa proteção da área. O que faltou, desde o início e ainda mais após o gol sofrido, foi construção ofensiva. A tentativa de atrair o Palmeiras para explorar espaços não deu certo e o Soberano não teve repertório. Não teve uma conexão lúcida entre setores. Viveu de lançamentos e jogadas individuais. Na segunda etapa, para piorar, se tornou uma peneira em transição defensiva, completamente exposto. Rafael fez várias grandes defesas. Ou seja, fora a polêmica, em termos de desempenho, o clube do Morumbi realmente precisa evoluir para as principais competições da temporada. Com a falta de repertório ofensivo e as dificuldades para marcar contra-ataques, dificilmente brigará por títulos. A sensação de impotência desta noite é explicativa. Luis Zubeldía, mesmo há tanto tempo como técnico são-paulino, ainda não foi capaz de solucionar estes problemas. Caso não apresente alguma resposta nas primeiras rodadas de Brasileirão, talvez um rompimento deva ser pensado. Fim de Paulistão amargo e de reflexão para o São Paulo Futebol Clube.

ARBITRAGEM

Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral, o responsável pelo VAR, foi o grande protagonista, ou melhor, vilão da partida no Allianz Parque. O pênalti que o assistente de vídeo deixou ser marcado para o Palmeiras é inadmissível. Ok, o erro no campo já é grosseiro para alguém do nível de Flávio Rodrigues de Souza, um árbitro FIFA, mas no calor do campo e na dificuldade de ângulos até seria possível cometer um equívoco humano. Agora, o homem do vídeo, sentado no ar condicionado e com vários replays, com direito a zoom e câmera lenta, não ver que Vitor Roque mergulhou para forçar um contato com Arboleda, que recolhia a perna, é inacreditável. É uma incompetência imensurável que, infelizmente, mancha o campeonato. Aliás, após o erro, o juiz de campo inclusive passou a “marcar tudo”, paralisar o jogo em qualquer contato, o oposto do que vinha fazendo até a penalidade inventada. Bagunça completa. Portanto, atuação comprometedora da arbitragem neste choque-rei. Na prática, um erro crasso dela foi o que definiu um dos finalistas do Paulistão. O São Paulo tem todo o direito de reclamar.

FICHA TÉCNICA

🗒️ PALMEIRAS: Weverton; Marcos Rocha, Micael, Murilo e Vanderlan; Richard Ríos (Aníbal Moreno), Emiliano Martínez (Gustavo Gómez), Raphael Veiga, Estêvão (Mayke) e Facundo Torres (Felipe Anderson); Vitor Roque (Flaco López). Treinador: Abel Ferreira.
🗒️ SÃO PAULO: Rafael; Ferraresi (Igor Vinícius), Arboleda e Alan Franco (Sabino); Cédric Soares (Ferreira), Alisson, Oscar e Enzo Díaz; Lucas Moura (Erick), Luciano (André Silva) e Calleri. Treinador: Luis Zubeldía.
🧮 Resultado: Palmeiras 1×0 São Paulo
Gol: Raphael Veiga (Palmeiras)
👟 Assistências:
🟡 Cartões amarelos: Emiliano Martínez, Estêvão e Micael/Abel Ferreira (Palmeiras) | Alan Franco, Ferraresi e Sabino/Luis Zubeldía (São Paulo)
🔴 Cartões vermelhos:
👨‍⚖️ Árbitro: Flávio Rodrigues de Souza (São Paulo)
🏟️ Local: Allianz Parque, São Paulo-SP

BOLA DE OURO DO JOGO: Emiliano Martínez/Palmeiras | FOTO: Cesar Greco/S.E. Palmeiras

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Jonathan da Silva
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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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