PLACAR SEM SENTIDO
É difícil entender como zero a zero foi o placar do duelo entre Flamengo e Atlético Mineiro no Maracanã pela 33ª rodada do Brasileiro. Aliás, o motivo é conhecido e carrega o nome de Everson. O rubro-negro amassou o adversário por quase 80 minutos mesmo com time reserva, mas parou no goleiro atleticano. E o próprio Galo fez um abafa nos minutos finais e até poderia ter marcado um tento. Foram muitas chances de gol ao longo da partida, mas os teimosos zeros não saíram do resultado. O time de Filipe Luís volta ao G4 e o de Gabriel Milito segue no meio da tabela, mas aliviado por escapar mais uma vez de ser goleado.
O jogo até começou equilibrado. Nos dez primeiros minutos, não houve domínio de ninguém. Muitos combates dos dois times na intermediária do campo, chutões, contato e pouca lucidez. Quem até teve um pouco mais a bola foi o Atlético, tentando sair de forma trabalhada e esticar para Hulk e Deyverson. Contudo, pelo distanciamento, fez pouco. E o Flamengo já mostrava o que viria pela frente com algumas escapadas rápidas em transição que por pouco não viraram coisa melhor. Mas na arrancada mesmo do jogo, ninguém foi de ninguém.
A partir do décimo minuto, o Flamengo tomou as rédeas do jogo e teve uma dominância impressionante até o final do primeiro tempo. Reduziu o terreno de jogo ao seu campo de ataque, com controle absoluto da posse de bola a partir de uma marcação alta bem encaixada e agressiva. E com a pelota nos pés jogou futebol. Futebol vistoso. O Galo, bagunçado pela falta de ajuda defensiva de Hulk, Deyverson e, principalmente, Bernard, sofreu uma enormidade para proteger a área, completamente exposto. Defendia praticamente em um 4–3–0–3, pois a segunda linha só tinha três peças e não ajudava em quase nada, tendo de se desdobrar em várias. Foi um convite para o dinamismo do time de Filipe Luís. Muita gente no último terço de campo, trocas de posição, passes rápidos, movimentos coordenados, combinações de passe, cruzamentos da linha de fundo, vitória pessoal nos duelos individuais, diagonais, chutes de média distância. Foram vários recursos utilizados para deixar a defesa do Atlético desnorteada. O que faltou foi efetividade. Parou sempre em Everson, até em um pênalti perdido por David Luiz. Foram 14 finalizações contra apenas duas do time mineiro. Um massacre total. Mas por detalhes nos cabeceios e chutes, o jogo foi ao intervalo com o placar zerado. Quase incompreensível pela superioridade rubro-negra.
O retorno para o segundo tempo ainda foi de um Flamengo superior, ainda que não com o mesmo volume da etapa anterior. Nos primeiros minutos, o Atlético até tentou sair mais, mas daquele jeito vertical que pouco levava perigo, e com pouca duração. Logo o rubro-negro voltou a ter o domínio da posse de bola e fazer suas jogadas dinâmicas, mas com menos velocidade que antes e com a mesma dificuldade de ser eficiente. Surgiram outras chances de perigo, com bons lances de um contra um, enfiadas para Bruno Henrique e Matheus Gonçalves, que acertou a trave, cruzamentos interessantes, chutes de média distância. Mas não surgiu aquela oportunidade imperdível como na etapa anterior para o placar finalmente ser aberto. Foram mais cerca de trinta minutos do rubro-negro batendo na tecla, mas parando nas conclusões, seja em Everson ou fora do alvo. E o Galo, com as saídas de Hulk e Bernard para entrarem Paulinho e Alisson, também esteve menos grosseiro na marcação. Pela continuidade da superioridade, o Flamengo ainda deveria ter achado um gol. Mas não conseguiu e viu seu domínio ir gradativamente diminuindo.
Com a proximidade dos trinta minutos da etapa final, quem passou a gostar do jogo pela primeira vez foi o Atlético. O Flamengo cansou, sentiu o físico por ter pressionado, corrido e se movimentado de forma tão intensa por cerca de 75, 80 minutos. Não manteve a marcação alta e viu o Galo passar a ter mais a bola. E, apesar de mudar pouco taticamente, mantendo o jogo direto e de bolas pelo alto, o time alvinegro conseguiu ser perigoso. Teve mais movimentação e velocidade com a revitalização do ataque. Fez cruzamentos interessantes para Paulinho e Deyverson. Teve diagonais de Alisson e do próprio Paulinho que resultaram em bons chutes de média distância. E, claro, usou das bolas paradas. Realmente assustou Rossi por alguns momentos. Poderia ter achado um gol e cometido um grande crime mesmo após ter ficado nas cordas, quase como um boxeador que fica nas cordas por 14 rounds e nocauteia o adversário no 15º. Mas também foi ineficiente e não conseguiu. Isto tudo sem falar que o Flamengo também teve algumas escapadas neste momento defensivo em que procurava resistir em seu 4–4–2. Mas se não aproveitou antes, dificilmente ali teria sido diferente. Placar zerado consolidado.
O resultado no Maracanã é extremamente enganoso. Não condiz em nada com o que foi a partida. O empate não faz jus ao tamanho da superioridade do Flamengo, que mais uma vez envolveu o Atlético com muito dinamismo e velocidade. Poderia facilmente ser uma goleada se o goleiro atleticano fosse comum, não Everson. E o placar zerado faz ainda menos jus ao jogo porque nos últimos minutos até o Galo teve suas chances de perigo. Foram muitos ataques que poderiam ter terminado em gol, cerca de 12 para o rubro-negro e três para o alvinegro. Mas o destino quis mesmo que o reencontro entre os clubes poucos dias após a Copa do Brasil ficasse com o placar zerado. Nem o Galo achou uma consolação, nem o Flamengo aumentou ainda mais a paternidade recente sobre o rival interestadual. No desempenho, outro massacre carioca, mas no resultado a igualdade. Para efeitos de tabela, pouca mudança na vida de ambos. O rubro-negro segue distante da briga pelo título, mas volta ao G4. O alvinegro segue apenas em décimo, mas com um jogo a menos e a apenas um ponto de um possível G9 e quatro do G8, situação que só importará mesmo se o time não conquistar a Libertadores.
FLAMENGO: O rubro-negro não venceu, mas outra vez apresentou um futebol consistente. É elogiável como Filipe Luís consegue manter um padrão de jogo com a equipe reserva, que também tem excelentes peças. Do 10º minuto do primeiro tempo ao 35º do segundo, o Flamengo mais uma vez colocou o Galo na roda. Com marcação alta agressiva, movimentação, trocas de posição, velocidade, cruzamentos, chute de fora da área, tabelas, jogadas individuais. Empilhou chances perigosíssimas de gol, mas parou em Everson. O defeito rubro-negro foi a ineficiência. Ao menos uma das várias chances deveria ter sido melhor finalizada. Poderia ser a do pênalti então, mas David Luiz bateu de forma bisonha. E nos minutos finais, quando o Malvadão cansou, houve até risco de perder o jogo mesmo depois de tamanha dominância. Pelo que foi a partida, o 0 a 0 é um resultado a se lamentar, especialmente por praticamente acabar com as chances de o Flamengo ainda voltar para a briga pelo título brasileiro. Pela atuação, pelo retorno ao G4 e pelo título da Copa do Brasil no domingo, tudo é festa e o placar de hoje com equipe reserva fica em segundo plano. Nada tira a alegria do torcedor flamenguista nesse momento.
ATLÉTICO MINEIRO: Gabriel Milito não quer mais ver Filipe Luís em sua frente. Mesmo com time titular diante dos reservas do Flamengo, o Galo apenas escapou de ser goleado no Maracanã. O 0 a 0 é um lucro semelhante ao de quem investiu em Bitcoin há dez anos e colheu frutos recentemente. É quase inexplicável. Mas a explicação tem nome de Everson. A defesa em si, exposta pela falta de ajuda das peças mais ofensivas, não teve quase mérito algum. A área atleticana foi uma peneira. Uma bagunça difícil de assimilar. O goleiro salvou de forma brilhante, inclusive defendendo pênalti. E o ataque também só apareceu para o jogo no fim, quando Paulinho e Alisson entraram, ao mesmo tempo que o time carioca cansou. No restante, o festival de balonismo para Deyverson isolado não produziu quase nada. Essa é a resposta que o Atlético dá para o torcedor após a perda na final da Copa do Brasil? Mais uma atuação patética diante do Flamengo, que jogou com time reserva? Complicado. Com mais este empate, o Galo segue estacionado na décima posição do Brasileirão, a 42 pontos. No cenário trágico de perder a final da Libertadores e o arquirrival ganhar a Sul-Americana, ao menos o time de Milito está colado no “G9”. Isto consola alguém?
ARBITRAGEM: Não há nada relevante que criticar na atuação do capixaba Davi de Oliveira Lacerda. O pênalti de Lyanco, apesar de sem querer, foi realmente bem marcado por derrubar Wesley. O jogo fluiu bem, com poucas paralisações, cartões e confusões. Os auxiliares não inventaram nada. Arbitragem bastante segura no Maracanã.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ FLAMENGO: Rossi; Fabrício Bruno, David Luiz e Alex Sandro; Wesley, Evertton Araújo, Alcaraz (Shola) e Ayrton Lucas (Cleiton); Matheus Gonçalves (Lorran), Michael e Bruno Henrique. Técnico: Filipe Luís.
🗒️ ATLÉTICO MINEIRO: Everson; Saravia, Lyanco e Battaglia; Gustavo Scarpa, Otávio, Vera e Rubens (Bruno Fuchs); Hulk (Alisson), Bernard (Paulinho) e Deyverson (Alan Kardec). Técnico: Gabriel Milito.
⚽ Gols: ❌
👟 Assistências: ❌
🟡 Cartões amarelos: Fabrício Bruno (Flamengo) | Gustavo Scarpa (Atlético Mineiro)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Davi de Oliveira Lacerda (Espírito Santo)
🏟️ Local: Estádio Maracanã, Rio de Janeiro-RJ