PLACAR BARATO
No confronto da semifinal do Gauchão entre clubes da Série A do Brasileirão, quem saiu em vantagem foi o Grêmio. O Juventude até ousou e tentou medir forças com o tricolor em plena Arena, mas foi inconsistente, deu espaços para o time de Quinteros jogar e acabou derrotado por 2 a 1. Pela quantidade de chances de gol criadas, o resultado foi até mais magro à favor do imortal do que deveria. O atual heptacampeão gaúcho leva “apenas” uma vantagem mínima para a serra gaúcha, mas carregará também uma grande moral pela superioridade evidente do confronto de ida.
O começo de partida na Arena foi estudado e truncado, reflexo natural de um duelo de meio-campo entre times de escalações espelhadas taticamente. Ambos iniciaram em um 4–2–3–1 que virava 4–4–2 na defesa e 2–2–4 no ataque. E de forma surpreendente, quem tinha mais a posse de bola nos minutos iniciais e tentava propor era o Juventude. No entanto, o time da serra gaúcha prendia muito a pelota entre os defensores e não tinha nenhuma fluência pelo corredor central, tentando apoiar somente pelos lados. Além disso, o Grêmio mostrou forte intensidade desde o princípio, combatendo bem na intermediária e explorando jogadas de jogadas rápidas, também pelas pontas, em especial a direita. No entanto, diferentemente dos visitantes, fazia com qualidade e perigo, encontrando boas diagonais e cruzamentos, usando muito bem das aproximações de Villasanti, Olivera e João Pedro pela direita. Quando o tricolor deixou de ser apenas frenético e começou também a reter mais a pelota na construção após recuperá-la associando a garra com a lucidez tática, não demorou a abrir o placar. Já aos 13 minutos, João Pedro recebeu em profundidade pela direita, driblou Abner com extrema facilidade, cruzou e o matador Braithwaite se antecipou à zaga na área para finalizar ao fundo das redes com muita qualidade. O Papo até não falhou clamorosamente no tento sofrido, mas permitiu o duelo de um contra um pela equerda, o perdeu e ainda foi antecipado no miolo da defesa. Retaguarda insegura para quem queria jogar de igual para igual. Merecida vantagem imortal ainda cedo no confronto.
Após sair atrás no marcador, o Juventude passou a tentar propor ações de forma ainda mais clara. Com uma combatividade ligeiramente menor do Grêmio, um pouco mais recuado, o Papo tinha mais posse de bola e buscava uma reação. Todavia, seguia sem fluência. Estéril por dentro e sem as devidas combinações para ser perigoso pelos lados. Prendia a pelota entre os zagueiros para tentar espaçar o tricolor, mas o time de Quinteros não caía na armadilha. Quando o imortal realmente procurava marcar, o fazia muito bem em seu 4–4–2 principalmente pelo meio. Não pressionava alto, mas dominava os duelos individuais na intermediária e continuava explorando bem de transições rápidas. Em todo contra-ataque, a equipe gremista apoiava com muita gente, por vezes chegando a ter seis homens na área jaconera. Com a confiança pela vantagem e a maior exposição adversária, o Grêmio usou muito bem do contexto da partida para criar chances. Mostrou o entrosamento que animou a torcida na fase inicial. Flertou mais com a ampliação do placar que o Juventude com o empate. Cenário muito promissor para os donos da casa.
No entanto, ao menos o alviverde percebeu ainda no primeiro tempo que o cenário de proposição era ruim e não o trazia vantagem alguma. Perto dos 30 minutos, o Papo retrocedeu as linhas de marcação e “deixou” o tricolor voltar a ter mais a bola, claramente com a segunda intenção de explorar transições. É exatamente o que os adversários que complicam jogos para o Grêmio têm feito: esperar e reagir. No entanto, o imortal, que não é bobo, aproveitou da liberdade para chegar com certo perigo pela direita, mantendo o apoio e as combinações. Só que, pelo adiantamento, deu margem para contra-ataques em pelotas perdidas e o Juventude também passou a existir ofensivamente. Como pede o manual: atraindo e explorando. Foi deste modo que a equipe serrana conseguiu empatar o confronto aos 32 minutos. O conjunto gremista se adiantou, não executou boa pressão pós-perda e foi superado nos duelos pela esquerda. Ênio e Jean Carlos tramaram muito bem e Batalla apareceu pelo meio para finalizar. O periquito ainda contou com certa dose de sorte pelos desvios em Lucas Esteves e Braithwaite, que tiraram as chances de defesa para Tiago Volpi. Ainda assim, houve mérito pela boa transição. E o time da casa pagou por “rifar” uma bola e recompor mal. Tem pecado constantemente na transição defensiva. O centroavante estar na área fazendo coberturas é um sinal de alerta. Confuso. O empate, àquela altura, não foi aleatório.
Na reta final da primeira etapa, após o empate, houve uma troca de golpes interessante. O Grêmio ainda propunha as ações, o Juventude seguia com a ideia de reagir. Ninguém dominava claramente a posse de bola, mas ambos tinham velocidade nos ataques quando surgiram espaços. Os dois lados tiveram finalizações perigosas a partir de diagonais e cruzamentos. A diferença entre eles naquele momento foi mesmo a maior qualidade na construção de jogadas por parte do tricolor. O Papo não tinha capacidade para fazer grandes combinações, dependia muito das conduções individuais mesmo. O imortal também as tinha, mas era capaz de colocar a bola no chão, triangular de fora para dentro e entrar na área com bastante gente. O lado direito gremista ainda era extremamente produtivo. Ainda assim, outra coisa em comum entre azuis e verdes neste recorte foi a ineficiência. Apesar de boas chegadas, ninguém deu bom acabamento às jogadas. O confronto em Porto Alegre foi ao intervalo no 1 a 1 mesmo.
O segundo tempo na Arena parecia começar novamente incerto, com idas e vindas, alternância de ataques. No entanto, quem ficava ligeiramente mais com a bola era o Grêmio. Quem pressionava mais na marcação era o Grêmio. Quem trabalhava melhor as jogadas era o Grêmio. O Juventude até tentava sair de forma terrestre para contra-ataques, mas o tricolor marcava com agressividade e roubava bolas da intermediária para a frente. Além disso, quando tinha a pelota para propor, já era mais lúcido e também tentava atrair o time da serra para fora do lugar a fim de explorar espaços. Não partia com tudo para cima para atropelar e encarar duelos físicos, atropelava infiltrando nas costas dos defensores rivais. Foi assim que, após uma bola longa de Wagner Leonardo na saída de bola e um bate-rebate no meio-campo, Monsalve apareceu livre por dentro para iniciar uma jogada vertical. O colombiano deu ótima enfiada para o recém-ingressado Amuzu, que passou com muita facilidade por Abner. Contraste de velocidade absurdo. O belga fez boa diagonal e cruzou para Cristian Olivera, infiltrando do outro lado, recolocar o time da casa na frente do placar aos seis minutos. Velocidade, qualidade técnica e eficiência. A equipe de Quinteros é extremamente produtiva quando tem campo para atacar. O alviverde serrano não teve inteligência para se proteger disso.
Assim como da primeira vez em que o tricolor ficou em vantagem, o Juventude voltou a propor mais o jogo na sequência. Só que, sem mudanças táticas e de peças, seguiu pobre. Apenas prendia a bola, cometia erros técnicos e permitia contra-ataques perigosos do Grêmio o tempo todo. Mesmo com uma marcação menos agressiva que antes, o time de Quinteros se mantinha bem posicionado e exibia toda a intensidade quando tinha a pelota. Começava as jogadas por dentro, ainda mais móvel com Monsalve no lugar de Cristaldo, mais centralizado, e chegava ao fundo pelos dois lados, com Olivera pela direita e Amuzu pela esquerda. O contraste entre a capacidade criativa dos dois times era visível. O Papo não conseguia vitória pessoal em jogada alguma, nem mesmo pelas pontas. Errava tecnicamente em quantidade industrial e estava completamente exposto para a recomposição. O imortal era organizado sem e com a pelota, vencendo na velocidade, vencendo na movimentação, vencendo tecnicamente as divididas. Flertou com o terceiro gol em diagonais, cruzamentos e bolas paradas. Pecou mais uma vez nas definições e deixou de matar o jogo ainda cedo da etapa complementar. Ainda assim, não sofria risco algum de ceder o empate novamente.
Já perto da reta final da partida, por volta dos 30 minutos do segundo tempo, os dois times passaram a jogar em um 4–3–3. Quem mudou primeiro, com a entrada de Mandaca no lugar de Jean Carlos para ganhar em preenchimento do meio, foi o Juventude. Mas o Grêmio deu resposta imediata com Edenílson na vaga de Monsalve, não correndo riscos de perder o controle do setor. Na prática, a consequência foi que o tricolor voltou a ser quem tinha mais a bola, querendo ampliar a vantagem para o jogo de volta. Na hora de propor, já com maior desgaste das peças ofensivas, o time gremista até usava bem os lados, mas não era tão fluente quanto antes em cruzamentos e diagonais. Era mais perigoso mesmo quando deixava o Papo sair do próprio campo e retomava a pelota na intermediária para transitar. Com espaços, criava chances claras mesmo com o cansaço natural de uma reta final de partida. Teve um gol anulado justamente explorando espaços. E, após uma bola parada, Braithwaite ainda teve uma finalização no travessão. Para se ter uma ideia, o alviverde serrano terminou o jogo fazendo até cera, mesmo perdendo. Fábio Matias não foi capaz de achar uma solução tática para competir. Ou prendia a bola e era castigado em contra-ataques, ou esperava atrás, não reagia e ficava refém de qualquer erro, coisa que vinha acontecendo bastante em noite terrível de Abner. Optou mais pela segunda opção e demonstrou clara satisfação por perder de pouco. Quase sem saber como, saiu vivo de um massacre tático sofrido na etapa complementar. Prevaleceu o 2 a 1 ao apito final de Jonathan Pinheiro.
A vantagem é do Grêmio, mas o lucro é do Juventude. Diante da superioridade tricolor, a diferença de apenas um gol na Arena é negócio muito melhor do que o time alviverde merecia. O primeiro tempo até foi relativamente equilibrado pela sobreposição do físico ao técnico, mas ali mesmo o imortal já era ligeiramente superior e mais fluente. No segundo, a disparidade foi clara e enorme em favor dos donos da casa. Pouco contraste na posse de bola, mas grande no número de chances perigosas de gol. O Ju quis jogar de igual para igual e deu justamente os espaços que o conjunto de Gustavo Quinteros queria para explorar com velocidade. Para golear, isto mesmo, golear, faltou à equipe gremista apenas melhor acabamento de jogadas. Com o 2 a 1, o confronto da semifinal do Gauchão até vai aberto para a volta no Estádio Alfredo Jaconi, mas se as estratégias forem parecidas com as deste sábado, o favoritismo tricolor é imenso.
GRÊMIO
O tricolor teve a intensidade e a velocidade que se esperam em uma semifinal de campeonato. Foi claramente superior ao Juventude em casa e venceu até por um placar menor do que merecia. O time de Quinteros até não marcou tão adiantado, deixou o adversário tentar jogar, mas combateu com muita firmeza e organização na intermediária e explorou espaços em ataques objetivos, com mobilidade e vitória pessoal. Quiçá, em diversos momentos, tenha faltado maior lucidez e respiro para o imortal ter maior controle da partida, vide o entorno do gol sofrido no primeiro tempo. No entanto, já do modo frenético que atuou, o conjunto gremista amassou quando teve espaços. Teve alto volume na criação de jogadas do início ao fim, com dia bom de praticamente todas as peças do sistema ofensivo. Só não obteve um placar ainda maior por erros de acabamento nos arredores da área e por um pênalti não dado pela arbitragem. Ainda assim, o Grêmio sai da primeira batalha pela vaga na final em vantagem. E se o saldo não é tão grande, a confiança em função do rendimento certamente é. Sobretudo, foi uma resposta azul muito positiva ao sofrimento inesperado do meio da semana contra o modesto São Raimundo na Copa do Brasil. O sonho do octacampeonato gaúcho vive e muito.
JUVENTUDE
A estratégia de Fábio Matias para a partida foi totalmente equivocada. O treinador jaconero foi para a Arena querendo jogar de igual para igual com o Grêmio e deu todos os espaços que o adversário precisava para explorar com velocidade. Limitado que é, o Papo perdeu bolas na intermediária de forma constante e foi aniquilado em contra-ataques, sem sequer ver nem a cor da pelota nas transições defensivas. Completamente superado individual e coletivamente, na recomposição e nas coberturas. Abner, em especial, foi constrangedor na marcação. E a construção de jogadas alviverde também não justificava a ideia do comandante. O time foi totalmente lento e previsível, inexistente por dentro, vivendo de individualidades pelas beiradas. Não aleatoriamente achou seu gol contra-atacando, não propondo. No fim das contas, o Juventude saiu no lucro ao perder por apenas um gol de diferença em Porto Alegre. Jogo muito ruim com e sem a bola. Em vez de repetir a postura reativa dos adversários que complicaram jogos contra o tricolor, o técnico juventudista preferiu adotar a exposta dos que foram derrotados. Se repetir uma tática parecida no Jaconi, as chances de eliminação do verdão beiram os 99%.
ARBITRAGEM
A equipe arbitral comandada por Jonathan Pinheiro não foi nada bem na Arena. Além de ter picotado demais o jogo, interferiu diretamente no resultado ao cometer um erro capital: não marcou um pênalti para o Grêmio em lance em que Abner dá chute nas pernas de Monsalve dentro da área. O gol tricolor anulado até foi correto por falta clara de Camilo em Jadson, mas os gremistas têm motivo para reclamar, pois o VAR deveria ter chamado o juiz para a revisão naquela penalidade da mesma forma que fez nesta jogada da invalidação. Arbitragem comprometedora em Porto Alegre!
FICHA TÉCNICA
🗒️ GRÊMIO: Tiago Volpi; João Pedro, Wagner Leonardo, Jemerson (Gustavo Martins) e Lucas Esteves; Cuéllar (Camilo), Villasanti, Cristaldo (Amuzu), Cristian Olivera e Monsalve (Edenílson); Braithwaite. Treinador: Gustavo Quinteros.
🗒️ JUVENTUDE: Gustavo; Ewerthon, Adriano Martins, Marcos Paulo (Alan Ruschel) e Abner; Jadson, Giraldo, Jean Carlos (Mandaca), Batalla (Petterson) e Ênio (Giovanny); Erick Farias (Gabriel Taliari). Treinador: Fábio Matias.
🧮 Resultado: Grêmio 2×1 Juventude
⚽ Gols: Braithwaite e Cristian Olivera (Grêmio) | Batalla (Juventude)
👟 Assistências: João Pedro e Amuzu (Grêmio) | Jean Carlos (Juventude)
🟡 Cartões amarelos: Villasanti e Jemerson (Grêmio) | Ênio, Marcos Paulo, Jadson, Giraldo e Abner (Juventude)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Jonathan Pinheiro (Rio Grande do Sul)
🏟️ Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre-RS