PARA VENCER UM BOM ADVERSÁRIO, BOM FUTEBOL

Jonathan da Silva
7 min readSep 12, 2024

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Em duelo atrasado da 19ª rodada do Brasileirão, o Internacional venceu merecidamente o Fortaleza por 1 a 0 no Estádio Beira-Rio. A partida foi movimentada, com bons ataques dos dois lados, mas o colorado esteve visivelmente em um dia melhor que o pouco inspirado leão e criou mais oportunidades de gol ao longo da partida. A grande vantagem vermelha no desempenho sem a bola também foi um diferencial.

Como nos bons tempos, o Internacional começou a partida “com tudo”. Diante de sua torcida no Estádio Beira-Rio, executou a velha pressão inicial que já fora tão produtiva no passado. Foram 25 minutos exemplares do colorado gaúcho. Intensidade, mobilidade, velocidade e dinamismo. Da marcação alta às grandes jogadas coletivas, o time de Roger Machado fez uma festa entre as linhas do 4–4–2 defensivo do Fortaleza. Tabelas rápidas, trocas de posição intensas, inspiração individual, ultrapassagens, combinações, enfiadas, cruzamentos. Sobraram recursos. E faltaram reações ao leão, que saía do lugar sem cobertura, não tinha presença nas laterais e perdia duelos o tempo todo. Até que demorou para sair o gol colorado, que só veio aos 22 minutos com Alan Patrick, após bela arrancada de Bernabei e passe de Tabata. Outras chegadas poderiam ter terminado nas redes. Apresentação animadora do time da casa na arrancada da partida.

Com a vantagem no placar, o Internacional não manteve o ritmo agressivo do começo. Natural, até pelo físico. Contudo, custou caro. Até por volta dos 35 minutos, o jogo ainda continuou “lá e cá”, com troca de golpes, da verticalidade do Fortaleza aos contra-ataques de passes e movimentos rápidos colorados. Mas nos dez minutos finais mais os acréscimos, o time de Roger Machado recuou demais e o leão passou a gostar do jogo pela primeira vez. Com o domínio da posse de bola, o tricolor do Pici conseguiu passar a ser perigoso, atraindo marcação e explorando de enfiadas pelas beiradas e por dentro. Sobretudo, os cruzamentos foram a principal arma procurada pelo time de Vojvoda, com bola parada ou rolando, e geraram as duas primeiras chances de gol para o leão, perdidas. Ainda assim, quem está atrás está refém de qualquer erro. E em uma falta para o Fortaleza, a defesa do Inter errou. Anthoni saiu mal, trombou com Fernando e deixou a bola escapar de suas mãos, lembrando Renan naquele Gre-Nal épico de 2011. Na sobra, Titi empatou o jogo para o Fortaleza aos 47 minutos. Mesmo com a superioridade colorada pela maioria do tempo, a vantagem de maturidade e eficiência do Fortaleza pesou para o jogo ir empatado ao intervalo. Time matreiro.

Na primeira metade do segundo tempo, o jogo manteve um certo equilíbrio, relembrando aquele período dos 25 aos 35 minutos da etapa anterior, também com ligeira superioridade do Internacional. O colorado tomava a iniciativa e chegava mais, mas o leão dava sinais de vida com contra-ataques verticais perigosos. O time de Roger tentou repetir a agressividade daquele começo avassalador, mas o Fortaleza não concedeu os mesmos espaços e o Inter não teve o mesmo brilho. Ainda assim, com boa movimentação, chegava com perigo nas entrelinhas e nas beiradas, mas pecava nas definições. O tricolor, por sua vez, seguia apostando na verticalidade. Nos lançamentos, na busca por jogar nas costas da defesa adversária. Enfiadas para Lucero ou para os pontas eram frequentes. E, apesar de muitas vezes terem parado na marcação alta do time da casa, foram perigosas quando entraram. Mas faltou maior apoio leonino para transformar em chances de fato reais. Anthoni não precisou fazer nenhuma grande defesa, diferentemente de João Ricardo.

A partir das substituições, o panorama mudou. Enquanto o Fortaleza decaiu, o Internacional passou a dominar de vez. Vojvoda optou por tentar preencher o meio-campo para acabar com a farra nas entrelinhas, enquanto Roger apostou em vitalidade com jogadores mais jovens. O treinador argentino fracassou na ideia, pois Martínez pouco resolveu o problema, assim como não armou nenhum contra-ataque decente como Calebe poderia ter feito. E Machuca, como de costume, foi uma nulidade. Já no Inter, Ricardo Mathias, Gustavo Prado e Rômulo acrescentaram vigor na marcação alta, na movimentação, na variação de jogadas. As ultrapassagens, combinações e cruzamentos aumentaram de número. Elevaram o perigo. E aos 37 minutos, com justiça, o recém-entrado Gustavo Prado recolocou o colorado na frente do placar após bate e rebate que já tinha inclusive parado na trave em chute de Vitão. Antes disso, Alan Patrick também já tinha colocado bola no travessão e Ricardo Mathias perdido gol feito na sobra. Estava maduro o tento vermelho, que merecidamente saiu.

Durante as reclamações demasiadas e injustificadas de uma possível irregularidade no gol colorado, o Fortaleza se “matou de vez”. O zagueiro Brítez, que já tinha cartão amarelo, reclamou demais e foi expulso. Deixou o leão com um gol e um homem a menos. Com cerca de dez minutos para tentar alguma reação. Sem surpresa, não a teve. Sequer conseguiu ficar com a bola no pé para ao menos tentar um chuveirinho ou variações. Não finalizou mais. Pelo contrário, esteve muito perto de levar mais gols. Além de administrar a vantagem trocando passes cadenciados, o Inter dava suas estocadas em arrancadas dos jovens. Chegou a ter situações de três contra dois no ataque. Mas por falta de capricho na definição, não matou o jogo antes do apito final. Contudo, desta vez não fez falta.

Resultado justo no Beira-Rio. O Internacional apresentou bom futebol e jogou melhor que o Fortaleza. Ambos tiveram bons ataques ao longo da partida, mas o colorado teve mais volume, melhor organização e se “defendeu” com muito mais consistência. Se o favoritismo pela tabela era leonino, os últimos jogos mostram que era possível que o colorado aprontasse. Enquanto o tricolor tem oscilado e jogado menos do que pode até quando vence, o alvirrubro tem evoluído não só nos resultados, mas também coletivamente. Roger tem encontrado repertório. O Inter voltou a ser um time competitivo. No fim das contas, quem aproveita o jogo atrasado é o colorado gaúcho. O Fortaleza não assume a liderança, mas o Internacional diminui a distância para o G6 com a segunda vitória seguida, a terceira nos últimos quatro jogos.

INTER: Com uma vitória merecida diante de um forte adversário, o Inter consolida uma mudança de fase. Sai da falta de rumo para enxergar um horizonte esperançoso. Para superar o vice-líder Fortaleza, o colorado jogou bom futebol. Oscilou por alguns momentos, mas na maioria da partida teve desempenho positivo. Na postura, na tática e na técnica. Com agressividade, ótima movimentação no meio-campo, profundidade, velocidade e repertório. Aquele time que só cruzava agora também tabela, triangula, ultrapassa, dá enfiadas, tem jogadas individuais e joga em outro nível de intensidade. E hoje fez tudo isso com desfalques importantes como Rochet, Wesley, Enner Valencia e Borré. Muito além do resultado, que já é excelente, o Internacional deixou o torcedor animado porque teve rendimento. Apresentou armas úteis para o futuro que podem o colocar sim na briga por classificação para a próxima Libertadores da América. Com a vitória no jogo atrasado, o time de Roger Machado sobe para o oitavo lugar do Brasileirão, a seis pontos do G6 e ainda com dois jogos a menos. Promissor.

FORTALEZA: O Fortaleza está acostumado a conseguir bons resultados em dias ruins, mas hoje não foi o caso. Diante de um Internacional bastante aguerrido e produtivo, a atuação mediana do leão não passou impune. O time de Juan Pablo Vojvoda até fez 15 minutos bons na reta final do primeiro tempo, mas esteve abaixo do seu padrão e do adversário no restante da partida. Teve lampejos com bolas longas no ataque, mas defensivamente foi muito frágil entre as linhas de marcação e nas laterais. O tempo todo permitiu que o time gaúcho tabelasse, chegasse ao fundo e entrasse na área. Faltaram pegada, encaixes e melhores coberturas. João Ricardo ainda fez algumas boas defesas e a trave ajudou, mas o revés foi inevitável. No jogo atrasado que era esperança para recuperar a liderança, o Fortaleza perde. Não é absurda uma derrota no Estádio Beira-Rio, mas para ser campeão diante de adversários como Botafogo, Palmeiras e Flamengo é necessário obter vitórias, ou pelo menos pontos, em grandes palcos. Diante dos desfalques do adversário, havia a brecha. Faltou ao leão ter rendimento para isso. Não há motivo para crise, mas as duas derrotas seguidas são justas por atuações abaixo da média do tricolor.

ARBITRAGEM: Gustavo Ervino Bauermann não cometeu nenhum erro comprometedor, mas deu brechas para reclamações dos dois lados com sua postura confusa e falta de critério. Não houve pênalti de Tinga ou Bruno Gomes, um em toque no braço de apoio, outro em mão próxima ao corpo. Não houve irregularidade em nenhum dos três gols. Houve impedimento de Bruno Tabata no tento anulado de Alario. Nos principais lances técnicos, interpretações corretas. Contudo, nos lances menores, ficou difícil de entender o padrão do paranaense. Em lances iguais, tomava decisões diferentes conforme o momento do jogo. Perdeu o controle emocional. A expulsão de Brítez, que até foi correta, só aconteceu justamente por essa falta de imposição e critério do apitador. Desempenho polêmico da arbitragem em Porto Alegre.

FICHA TÉCNICA:
🗒️ INTER: Anthoni; Bruno Gomes, Mercado, Vitão e Bernabei; Fernando (Rômulo), Thiago Maia (Bruno Henrique), Alan Patrick, Bruno Tabata (Gustavo Prado) e Gabriel Carvalho; Alario (Ricardo Mathias). Técnico: Roger Machado.
🗒️ FORTALEZA: João Ricardo; Tinga, Brítez, Titi e Felipe Jonatan; Hércules (Calebe), Lucas Sasha (Renato Kayzer), Tomás Pochettino (Emmanuel Martínez), Yago Pikachu (Mancuso) e Breno Lopes (Machuca); Lucero. Técnico: Juan Pablo Vojvoda.
⚽ Gols: Alan Patrick e Gustavo Prado (Inter) | Titi (Fortaleza)
👟 Assistência: Bruno Tabata (Inter)
🟡 Cartões amarelos: Fernando e Rômulo (Inter) | Yago Pikachu, Tinga, Emmanuel Martínez e Brítez (Fortaleza)
🔴 Cartão vermelho: Brítez (Fortaleza)
👨‍⚖️ Árbitro: Gustavo Ervino Bauermann (Paraná)
🏟️ Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre-RS

BOLA DE OURO DO JOGO: Gabriel Carvalho/Inter | FOTO: Ricardo Duarte/S.C. Internacional

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Jonathan da Silva
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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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