O TÍTULO PARA A MELHOR SELEÇÃO: ESPANHA SE ISOLA COMO MAIOR CAMPEÃ DA EURO

Jonathan da Silva
7 min readJul 14, 2024

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Com um triunfo sobre a Inglaterra na final, a Espanha é merecidamente a grande campeã da Euro 2024. Do início ao fim, a fúria foi a melhor seleção no torneio com sobras. Na decisão, foi superior aos ingleses pela grande maioria do tempo. O coletivo potencializado pelo talento individual superou o time de estrelas que salvam a falta de organização coletiva. Justiça no mundo da bola não acontece sempre, por isso merece ser valorizada. Hoje houve. Agora a Espanha é isoladamente a maior campeã da Europa, com quatro títulos continentais.

A etapa inicial inteira, do primeiro ao último lance, teve total cara de final de um grande torneio. Foi morna, de muito estudo e anulação, e pouquíssimas chegadas de perigo para as duas equipes. A Espanha, como esperado, tentou se impor a partir da posse de bola. Para isso, fez uma marcação alta muito organizada e eficaz, matando sempre as jogadas inglesas na origem e ficando com a pelota. No entanto, a Inglaterra se posicionou bem no campo defensivo, em um 4–4–2 que variava para 5–3–2, e fez ótimos encaixes individuais nos principais criadores de jogada espanhóis. Para a fúria, faltou algo fora do padrão para superar a defesa ajeitada dos ingleses. Apenas Nico Williams fazia coisas diferentes, mudando de lado, conduzindo, tentando. No English Team, faltou transição. As ligações diretas para Kane não deram resultado, faltou melhor trabalho de bola, dinamismo e apoio. Ninguém criou nada de real perigo ou teve alguma lamentação por chance perdida. Um anulou o outro. O 0 a 0 na ida ao intervalo foi absolutamente justo.

Aquele cenário de anulação e espera por um lampejo era sem dúvidas mais confortável para a Inglaterra, que na Euro tem vivido assim. Então a Espanha já começou com outra postura desde o minuto inicial do segundo tempo. Ainda mais agressiva sem a bola, mas desta vez convidando mais os ingleses a saírem do próprio campo, tendo em vista que assim surgiram as melhores jogadas espanholas na etapa anterior. Dito e feito. Já com apenas 1 minuto do tempo complementar, a Espanha encaixou uma transição rápida pelo lado direito, Lamine Yamal fez diagonal para o meio e deu grande passe para Nico Williams infiltrar nas costas de Kyle Walker e abrir o placar para a Espanha com um chute muito preciso. Um suco de Seleção Espanhola. Velocidade, talento, coordenação, poder de decisão.

Os minutos seguintes ao gol foram os mais confortáveis e criativos para a Espanha no jogo. A Inglaterra sentiu o tento sofrido, procurou sair mais para o ataque e deu muitas brechas para a transição ofensiva espanhola. E aí a fúria fez a festa. Toques rápidos e de primeira, movimentação inteligente, tomada de decisão correta, brilhantismo individual. Foram várias chances criadas pelos lados e pelo meio. Os encaixes individuais ingleses foram para o espaço de vez sem a possibilidade de ter todo o time no campo defensivo. A Espanha fez por merecer o segundo gol, tantas vezes ficou cara a cara com Pickford. Mas pecou na finalização e o goleiro da Inglaterra se tornou um dos protagonistas do jogo com grandes defesas. A fúria teve tudo para ampliar o placar com justiça, mas este detalhe deixou a desejar e impediu que a equipe matasse de vez o jogo.

E deixar esta Inglaterra cheia de estrelas viva nunca é o cenário ideal. Apesar da falta de fluência coletiva, com pouco dinamismo e muita dependência da bola ao pé, da jogada individual, o time inglês tem muita qualidade técnica. Tem gente capaz de resolver a qualquer minuto. Inclusive quem está no banco. E Gareth Southgate, por mais limitado que seja, não é bobo. Viu que Kane não estava agregando nada e colocou Watkins. Viu que precisava de mais presença ofensiva e velocidade e inseriu Palmer no lugar de Mainoo. O coletivo não passou a brilhar e a Espanha não parou de ser perigosa em transição, mas Bellingham começou a achar com quem tramar. Primeiro, recebeu de Watkins, limpou três defensores sozinho e chutou raspando a trave aos 17 minutos. Depois, aos 27, recebeu passe de Saka, fez ótima parede e tocou para Palmer chegar chutando com força e empatar o jogo para a Inglaterra. Do banco veio simplesmente o jogador com mais participações em gol no futebol inglês na temporada. Que muita gente pede para ser titular na seleção. E ele fez a diferença.

Os minutos seguintes ao gol inglês também foram os melhores da Inglaterra no jogo. Pressão sem a bola, presença no campo de ataque e proximidade da área da Espanha. No entanto, faltou justamente o repertório coletivo. Movimentos de atração de marcação, tabelas rápidas, cruzamentos de perto do fundo de campo, algo fora do previsível que era a jogada individual e a bola ao pé. Sem criar, os ingleses permitiram que os espanhóis retomassem os ataques. Aos poucos, o time de Luis de la Fuente foi novamente se encontrando nos movimentos do meio-campo e achando contra-ataques. E aí uma troca do técnico espanhol fez toda a diferença: a entrada de Oyarzabal no lugar de Morata. A Espanha esperou o jogo todo por movimentos de atração de defensores e pivôs de seu centroavante. E só foi ter quando entrou Oyarzabal. Em uma de suas primeiras participações, fez grande parede para Cucurella entrar de surpresa nas costas de Walker em contra-ataque. O lateral esquerdo chegou ao fundo e cruzou para o próprio Oyarzabal finalizar a bola para o fundo das redes. Dois heróis improváveis para o gol do título. Mas uma jogada bem tramada com toda cara de Espanha. Passe por dentro, pivô, tabela com o lateral, chegada ao fundo e decisão certa dentro da área. Aos 43, a fúria na frente de novo.

Os últimos minutos foram emocionantes. A Inglaterra, mesmo sem lucidez coletiva na criação, fez abafa com cruzamentos e bastante gente na área, inclusive com a entrada do centroavante Ivan Toney. A Espanha, já em vantagem, focou em se proteger, se postando com os 11 jogadores no campo de defesa. O chuveirinho inglês, apesar de pobre, foi perigoso. Mas a defesa espanhola se sobressaiu. Dominou o jogo aéreo. E quando perdeu, Unai Simón e Dani Olmo apareceram como heróis salvando praticamente de dentro do gol. Era para ser da Espanha. Estava escrito.

A final foi mais ou menos como todos esperávamos. A Espanha tomou a iniciativa e se mostrou muito mais lúcida coletivamente. A Inglaterra, com um coletivo pobre, se agarrou nas individualidades para atacar e defender, até amarrando o jogo por bom tempo dessa forma. Todavia, era imaginado que a fúria acharia alternativas. E não decepcionou, atraindo marcação e explorando espaços com seu rápido, inteligente e criativo ataque. Fez dois gols e poderia ter marcado diversos outros se não fosse Pickford. A Inglaterra também poderia ter feito mais a partir de lampejos de suas estrelas. Mas quem criou mais e dominou a partida por maior tempo foi a Espanha. Que já era disparadamente a melhor seleção do torneio antes da final. E ali só confirmou toda sua campanha e favoritismo. Justiça no futebol. A melhor seleção da Europa é a grande campeã da Euro 2024!

ESPANHA: Do início ao fim da Euro, a Espanha fez brilhar os olhos do público. Foi o melhor time do torneio com folga, misturando a qualidade dos jogadores com um coletivo muito bem organizado. Uma seleção protagonista, corajosa. Amor pela bola, movimentação, velocidade, talento individual e muita criação de ataques perigosos. Uma defesa sólida, de bom começo de jogadas; um meio versátil, que sufoca os adversários na marcação e joga com muita inteligência; um ataque letal, veloz, entrosado, decisivo. Carvajal, Rodri, Fabián Ruiz, Dani Olmo, Lamine Yamal, Nico Williams. Não faltam destaques. Luis de la Fuente montou um time que dá gosto de ver jogar. E tornou a Seleção Espanhola a maior campeã da Euro. Quatro títulos na história. Três no século XXI. A vida do torcedor da fúria é muito feliz. E com a juventude dos seus jogadores, as expectativas para o futuro são empolgantes.

INGLATERRA: A Inglaterra de Gareth Southgate se repete sempre. Chega longe jogando um futebol amarrado, de defesa relativamente sólida e muita solução individual no ataque. Sempre faltam recursos táticos que aproveitem todo o talento que o time tem. O treinador, apesar de ser bom gestor de grupo, não se mostra capaz de encontrar essas alternativas. Não há equipe no mundo que tenha mais estrelas que a Seleção Inglesa. Nunca na história o time dos três leões teve um elenco tão recheado. Já deveria ter conquistado um segundo título na história. Mas segue presa na Copa de 1966. Sem nenhuma Euro. Com fama de pipoqueira. No entanto, na realidade chega mais longe do que o coletivo merece, justamente porque o individual carrega. Hoje não bastou. E a final foi merecidamente perdida para um time melhor. Pode ter sido o ponto final para Southgate.

ARBITRAGEM: A equipe de arbitragem comandada pelo francês François Letexier teve um desempenho muito seguro em Berlim. Todos os gols foram legais e validados já em campo, o último com condição legal milimétrica de Oyarzabal confirmada pelo sistema semiautomático de impedimento. Não houve nenhum relevante, bem como o jogo fluiu muito bem do início ao fim. O time arbitral esteve no nível de uma final de Euro.

FICHA TÉCNICA:
🗒️ ESPANHA: Unai Simón; Carvajal, Le Normand (Nacho Fernández), Laporte e Cucurella; Rodri (Zubimendi), Fabián Ruiz, Dani Olmo, Lamine Yamal (Merino) e Nico Williams; Morata (Oyarzabal). Técnico: Luis de la Fuente.
🗒️ INGLATERRA: Pickford; Walker, Stones, Guéhi e Shaw; Rice, Mainoo (Palmer), Foden (Toney), Saka e Bellingham; Kane (Watkins). Técnico: Gareth Southgate.
⚽ Gols: Nico Williams e Oyarzabal (Espanha) | Palmer (Inglaterra)
👟 Assistências: Lamine Yamal e Cucurella (Espanha) | Bellingham (Inglaterra)
🟡 Cartões amarelos: Dani Olmo (Espanha) | Kane, Stones e Watkins (Inglaterra)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨‍⚖️ Árbitro: François Letexier (França)
🏟️ Local: Estádio Olímpico de Berlim, Berlim-ALE

BOLA DE OURO DO JOGO: Nico Williams/Espanha | FOTO: UEFA EURO/Reprodução

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Jonathan da Silva
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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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