NOITE FELIZ CORINTIANA

Jonathan da Silva
6 min readNov 5, 2024

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Em um derby de extrema importância para as pretensões dos clubes no Campeonato Brasileiro, o Corinthians derrotou o Palmeiras por 2 a 0 em Itaquera com muito mérito. Enquanto o alviverde entrou para apenas mais uma rodada de Brasileirão, o alvinegro jogou uma final de campeonato, comeu grama e não desperdiçou nenhuma oportunidade que o jogo deu. A apatia e a ineficiência palmeirense não passaram impunes. O Timão encaminha a permanência na Série A e o Porco se distancia do título.

Contudo, a partida não foi um conto de fadas para o Corinthians do início ao fim. Pelo contrário, o primeiro tempo foi bem desconfortável. A estratégia inicial do Palmeiras foi melhor. O time visitante foi superior coletivamente na etapa inicial. Foi quem controlou as ações e chegou com mais perigo. Sem a bola, o time de Abel Ferreira fez bons encaixes na marcação e atrapalhou a equipe alvinegra desde a saída de bola, sem pressionar para não se expor atrás, mas cercando bem para forçar ao erro. Com isso, o Palestra teve também maior posse de bola. E, diferente do que tem sido habitual, não foi tão pobre na construção. Soube explorar a fragilidade da segunda linha de marcação do 5–2–3 corintiano, tendo profundidade especialmente pelas beiradas, com Estêvão e Marcos Rocha se entendendo pela direita. O alviverde assustou com cruzamentos, diagonais e inversões. Poderia ter aberto o placar em Itaquera e não seria nenhum absurdo.

Contudo, faltou eficiência ao Palmeiras. O Corinthians, mesmo desconfortável, não se desestabilizou, fez bons bloqueios nos arredores da área, algo coerente com os cinco defensores, e teve um Hugo Souza muito inspirado quando exigido. As finalizações alviverdes não eram impecáveis, mesmo as pelo alto com Flaco López e Felipe Anderson. O time ia deixando tudo para depois, pois estava melhor e achava que faria o gol a qualquer momento. Subestimou o tamanho da partida. Subestimou a relevância da eficiência no futebol. E pagou caro por isso. O Timão não teve uma grande quantidade de contra-ataques perigosos ao longo da etapa inicial, justamente por essa dificuldade de acertar a transição ofensiva diante da boa marcação palmeirense. Todavia, já na reta final, usou do feitiço contra o feiticeiro. O próprio Corinthians marcou adiantado e forçou o Palmeiras a errar uma saída de bola. Após a recuperação da posse, Yuri Alberto cruzou, Caio Paulista falhou clamorosamente e Rodrigo Garro acertou um chute preciso de fora da área para abrir o placar aos 40 minutos. Na primeira grande oportunidade, o alvinegro abriu o placar. Isto é entender o tamanho do jogo.

No segundo tempo, naturalmente o time de Abel Ferreira se jogou para cima, lembrando do que realmente valia este derby. De início, contudo, o comandante palmeirense não executou nenhuma troca, confiou que aquele time que era capaz de criar jogadas na primeira etapa também seria capaz de ser efetivo na segunda. Contudo, esqueceu que o Corinthians não tinha mais que sair para o jogo para obter resultado. Não precisava mais sair trabalhando a bola desde trás. Poderia ficar todo no campo defensivo protegendo a área e esperando por um contra-ataque. Dito e feito. O Palmeiras não criou nenhuma chance de real perigo nos primeiros minutos, mas o Corinthians sim. E explorando este adiantamento excessivo alviverde. Após um escanteio aos 10 minutos, Matheuzinho começou um contra-ataque, Garro conduziu com extrema qualidade e enfiou para Yuri Alberto ampliar o placar quase sem ângulo em saída péssima de Weverton do gol. Mais cenário dos sonhos que isto para o Corinthians era impossível.

Com os dois gols de vantagem para a equipe da casa, o cenário de ataque contra defesa obviamente perdurou até o fim do jogo. Contudo, Ramón Díaz não deu brechas para o perigo, mexeu no time e reforçou a marcação. Já havia colocado Raniele no intervalo, completou o serviço trocando Memphis por Breno Bidon, saindo do 5–2–3 para um 5–3–2. Carrillo, Romero e Bidu também entraram para reforçar a marcação. A compactação foi bem feita. E a pobreza habitual de construção do Palmeiras diante de times fechados voltou a aparecer. Abel até mexeu no time, passou para um 4–3–3 com Maurício, Gabriel Menino e Rony no ataque, com apenas Richard Ríos de volante. Contudo, teve zero dinamismo. Viveu de cruzamentos e jogadas individuais. Mas isso sem Estêvão e Flaco López em campo, os dois melhores nestes quesitos. Não foi difícil para o arquirrival neutralizar. E quando alguma coisa passou, natural pelo volume ofensivo palmeirense, Hugo novamente foi extremamente seguro.

Vitória justa do Corinthians no dérbi paulista contra o Palmeiras. Nos duelos tático e técnico, o jogo teve suas idas e vindas, poderia ter até pendido para o outro lado. Todavia, nos aspectos mental e físico, o Timão sempre esteve à frente. Sempre mostrou mais garra, mais determinação. E quando teve as chances, não desperdiçou, ciente do que representavam. O alviverde subestimou o clássico, o alvinegro deu o devido valor. No fim das contas, o time de Abel Ferreira fez apenas mais um jogo murrinha habitual neste Brasileirão, hoje sem o rival entregar a paçoca e facilitar a vida. Já o de Ramón Díaz, teve uma das noites mais inspiradas do ano, venceu por 2 a 0 mesmo com apenas seis finalizações, se afastou da zona de rebaixamento e atrapalhou muito o arquirrival na disputa pelo título brasileiro. Fim do jejum alvinegro contra o maior rival. Itaquera foi ao delírio. Com justiça.

CORINTHIANS: Esta é uma daquelas vitórias que o torcedor alvinegro não esquecerá tão cedo. O Corinthians jogou com a alma necessária que a partida pedia. Entrou em campo para uma final, com muita garra e, sobretudo, noção de que não poderia desperdiçar as oportunidades que surgissem. Não esteve confortável durante todo o jogo, o começo não foi bom coletivamente, mas soube se reencontrar, viu que as transições rápidas eram o caminho e, quando teve a vantagem, administrou com extrema competência. Hugo Souza, Matheuzinho, José Martínez, Garro, Yuri Alberto. Muita gente esteve no mais alto nível hoje. Derby vencido com muito caráter e mérito. O Corinthians encerra a sequência de oito partidas sem vencer o rival, aumenta muito as chances de permanência na elite do Brasileirão subindo para a 13ª posição e atrapalha bastante os planos do Palmeiras de ser tricampeão. Hoje é tudo festa em Itaquera.

PALMEIRAS: Foi uma noite extremamente infeliz do Palmeiras. Mesmo sabendo o que representa um derby contra o Corinthians e o que este jogo valia em termos de disputa por título, a equipe de Abel Ferreira teve uma postura praticamente indiferente em campo, apática. Mesmo quando esteve melhor na partida, foi deixando as coisas para depois, sem capricho, com ineficiência. Quando tomou os gols, aceitou, não reagiu, apenas piorou o desempenho com trocas inefetivas de Abel e ações equivocadas dos jogadores em campo. O alviverde nem foi tão inferior ao rival em termos táticos e técnicos, mas na pegada levou uma goleada. Para um time que já fez tantas grandes coisas em decisões, foi um jogo irreconhecível. Aceitou a derrota. Ajudou o Corinthians a escapar do rebaixamento e se distanciou ainda mais da briga pelo título brasileiro contra o Botafogo. Que noite pavorosa para o Palmeiras de Abel Ferreira. Comprometedora.

ARBITRAGEM: Wilton Pereira Sampaio e equipe fizeram jogo seguro em Itaquera. Os dois gols corintianos foram bem validados e não houve nenhum erro grave cometido ao longo da partida. Além disso, o calor do duelo foi bem contido e não aconteceu “picotagem” por parte da arbitragem, a bola rolou bastante. Desta vez, arbitragem segura do polêmico árbitro goiano. Aguentou bem o derby.

FICHA TÉCNICA:
🗒️ CORINTHIANS: Hugo Souza; Gustavo Henrique, André Ramalho (Raniele) e Félix Torres; Matheuzinho, José Martínez, Alex Santana (Carrillo), Garro e Hugo (Matheus Bidu); Memphis Depay (Breno Bidon) e Yuri Alberto (Romero). Técnico: Ramón Díaz.
🗒️ PALMEIRAS: Weverton; Marcos Rocha, Vitor Reis, Gustavo Gómez e Caio Paulista (Vanderlan); Aníbal Moreno (Maurício), Richard Ríos, Raphael Veiga, Estêvão (Gabriel Menino) e Felipe Anderson (Dudu); Flaco López (Rony). Técnico: Abel Ferreira.
⚽ Gols: Garro e Yuri Alberto (Corinthians)
👟 Assistências: Matheuzinho e Garro (Corinthians)
🟡 Cartões amarelos: Hugo e Matheuzinho (Corinthians) | Aníbal Moreno, Gabriel Menino e Marcos Rocha (Palmeiras)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨‍⚖️ Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (Goiás)
🏟️ Local: Arena Corinthians, São Paulo-SP

BOLA DE OURO DO JOGO: Rodrigo Garro/Corinthians | FOTO: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

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A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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