MESMO COM RESERVAS, CONSISTÊNCIA
O consistente Flamengo de Filipe Luís fez mais uma vítima, desta vez o Cruzeiro de Fernando Diniz em plena Arena Independência, pela 32ª rodada do Brasileirão. Mesmo com time reserva, o rubro-negro foi superior ao longo da partida, seguro na defesa e mais fluente no ataque. Falta de fluência que foi justamente o maior problema do lado cruzeirense.
O jogo em Belo Horizonte foi quente desde o início. Com menos de um minuto, os dois times já haviam incomodado o adversário na saída de bola. Contudo, quem realmente colocou uma pressão duradoura na arrancada da partida foi o Cruzeiro. Não só pela marcação adiantada, mas porque o Flamengo optou por esperar mais atrás e o cabuloso conseguiu reter a posse de bola. Com ela, apesar de não estar compacto como gostaria Fernando Diniz, a raposa conseguiu atrair a marcação rubro-negra para fora do 4–4–2 e deste modo explorar espaços. Das beiradas para dentro, o time mineiro levou perigo, mas pecou nas tomadas de decisão e finalizações, sem abrir o placar no começo melhor.
Com a proximidade dos 15 minutos, o Flamengo conseguiu equilibrar a partida. Saiu de trás, começou a incomodar a saída de bola cruzeirense com mais frequência e também passou a ter posse de bola. Gradativamente o controle do jogo foi mudando de mãos. O Cruzeiro, errando bastante no começo das jogadas, perdeu o poder de retenção e atacou muito pouco em transição. Por volta dos 30 minutos em diante, a superioridade rubro-negra já era clara. Além do domínio na posse, o Flamengo conseguia ser muito perigoso roubando bolas no campo de ataque e imediatamente fazendo diagonais perigosas para finalizar, principalmente com Bruno Henrique que chegou a acertar a trave. Propondo em si, faltou dinamismo para o meio-campo flamenguista, que não é necessariamente construtor, é mais móvel, direto, e teve dificuldades para superar o 4–4–2 que virava 4–5–1 do time mandante. Ainda assim, é preciso dizer que o conjunto de Filipe Luís teve as brechas que precisava nos erros cruzeirenses, teve mérito nas chegadas de perigo, mas também não foi eficiente na conclusão das jogadas e não abriu o placar.
Já nos últimos minutos do primeiro tempo, mais uma mudança de cenário. Talvez pelo desgaste, o Flamengo voltou a retroceder no campo, sem seguir pressionando a saída de bola do Cruzeiro. Com isso, a raposa novamente teve a bola no campo de ataque, mas sem o mesmo volume de antes. Ainda distante, não conseguiu novamente espaçar o adversário e chegar com perigo. Forçou pelas beiradas e até teve alguns cruzamentos, mas nada realmente perigoso. Em compensação, o rubro-negro aproveitou o adiantamento do Cruzeiro para ter algumas boas escapadas com Bruno Henrique, Plata e Matheus Gonçalves. Teve mais uma oportunidade perigosa com BH, mas não concluiu bem. Com a ineficiência dos ataques, o jogo foi mesmo zerado ao intervalo.
Tal qual a etapa anterior, o segundo tempo começou com alta temperatura. Em um cenário de ida e volta: ataque de um lado e resposta do outro na sequência. O Cruzeiro procurava propor jogo naquele formato de atrair marcação e inverter bolas, enquanto o Flamengo marcava de forma agressiva e procurava as jogadas verticais. Os dois times tiveram ataques perigosos, mas um lado claramente se sentiu mais confortável e teve eficiência: o rubro-negro. O time carioca teve muito mais fluência e periculosidade nos contra-ataques. O cabuloso, tal qual na reta final da primeira parte, não teve a devida compactação para atrair e segurar a bola, tampouco gente entrando nos espaços para receber. Isto porque o Flamengo ajustou as coberturas, fez bons encaixes e pressionou bem na marcação. Teve recuperações de bola constantes. E soube jogar nas costas da defesa cruzeirense, com poucos e bons passes, movimentação inteligente e velocidade. Em um destes contra-ataques, uma falta foi cavada praticamente na entrada da área. Na cobrança, com malandragem, David Luiz distraiu Marlon, desarrumou a barreira do Cruzeiro e cobrou quando Cássio nem esperava. De um modo até peculiar, com esperteza de um lado e imaturidade do outro, o Flamengo abriu o placar aos sete minutos do segundo tempo.
Com a vantagem, o rubro-negro permitiu se recuar e jogar na base da especulação. Se postou no 4–4–2 atrás, seguiu com os bons encaixes de marcação e sofreu pouco. Esteve compacto, ganhou os duelos individuais e não caiu nas armadilhas de Diniz. O Cruzeiro, sem conseguir tirar o adversário do lugar, teve de apelar para um jogo mais rudimentar. Não à toa, o treinador tirou o cérebro do time, Matheus Pereira, para colocar o centroavante Lautaro Díaz. Apostou em um jogo de muito mais cruzamentos e de alguns chutes de fora da área, estes sim que até levaram perigo e geraram uma chance clara perdida por Kaio Jorge no rebote, perto dos 30 minutos. Mas a raposa passou longe de ser um time criativo. Reteve a bola, mas não infiltrou com qualidade, sem a dinâmica coletiva e sem a imposição no jogo físico. O Flamengo venceu a maioria dos duelos e Rossi nem trabalhou. Só uma grande falha poderia tirar o rubro-negro dos eixos, mas hoje não aconteceu.
O que “faltou” para o time de Filipe Luís talvez ter mais alívio na reta final foi mais presença ofensiva depois de fazer o gol. Contra-atacou com menos volume numérico de jogadores e com menos frequência. Não só pela marcação adiantada do Cruzeiro, mas também por falta de iniciativa. Além disso, faltou ter mais momentos de retenção de bola, de fazer o tempo passar segurando a posse, para descansar a defesa. Nos últimos minutos, era claro que o time estava exausto. Allan ainda foi expulso para dar um drama maior. A defesa sustentou o resultado, mas o ataque poderia ter colaborado mais, pois se viu antes que havia brechas. Todavia, evidentemente não fez falta.
O bom jogo em Belo Horizonte foi vencido por quem foi melhor coletivamente. A partida teve idas e vindas, mudou de cenário várias vezes e com chances perigosas sempre. Contudo, quem esteve mais confortável na maior parte do tempo foi sem sombra de dúvidas o Flamengo. Seja tomando a iniciativa ou reagindo. O Cruzeiro, apesar de corajoso, não encontrou as devidas dinâmicas coletivas para se impor. O rubro-negro, com objetividade e solução individual, sim. No fim das contas, o Flamengo chega a 8 vitórias e 1 empate nos últimos 9 jogos contra a raposa. E expõe novamente aquilo que é capaz mesmo com time alternativo. Consistência de um lado, o oposto disso do outro.
CRUZEIRO: O Cruzeiro teve um desempenho pobre na Arena Independência. O começo foi promissor, mas no restante do jogo o time reserva do Flamengo sempre esteve mais confortável. Com a bola, faltou dinamismo à equipe de Diniz. A ideia de tentar atrair marcação e explorar espaços era boa, mas na prática faltou compactação e mobilidade para tal. Sem isso, o time careceu de movimentos mais surpreendentes e viveu de bolas alçadas à área, que claramente consagraram a defesa rival. Sem a bola, o padrão: pecou em transição defensiva. Não se sustentou na marcação alta, sofreu vários contra-ataques e não conseguiu acompanhar a velocidade flamenguista na recomposição. A cobertura, exposta, até salvou em último recurso algumas vezes, mas não salvou a pátria. O Cruzeiro esboçou ser competitivo, mas sentiu falta de maior organização para evitar uma derrota para os reservas do Flamengo. Amargo tropeço em casa que estaciona a raposa na oitava posição do Brasileirão. Já são sete jogos sem vitória no campeonato. Momento ruim.
FLAMENGO: Mais uma vez o Flamengo conseguiu competir em alto nível mesmo com time reserva. Desta vez, com ainda menos titulares do que naquele jogo intenso contra o Internacional. O que se ressalta é que o padrão coletivo foi mantido. Um time com variedade futebolística. Que defende com organização e tem transições rápidas extremamente produtivas, mas que também é capaz de marcar alto e reter a posse de bola. Poderia ter feito até mais de um gol, mas o destino quis que a esperteza de David Luiz naquela cobrança de falta fosse o caminho para a vitória. Vitória merecida por um desempenho sólido, de sofrimento contido atrás e produtividade na frente. O Flamengo de Filipe Luís recupera seu lugar dentro do G4 e cola no Fortaleza, agora a apenas dois pontos do terceiro colocado. Mais uma demonstração da força do elenco e do bom começo do treinador.
ARBITRAGEM: O catarinense Gustavo Bauermann fez uma partida segura. Não perdeu o controle emocional, não cometeu nenhum erro grave, acertou em validar o gol de David Luiz na cobrança de falta peculiar, pois já tinha autorizado a batida, e expulsou bem Allan por dois cartões amarelos. No lance mais polêmico, o possível impedimento de Alcaraz, fica a dúvida sobre de quem veio a bola, mas o posicionamento do argentino era realmente adiantado. No fim das contas, o mais importante é que não passou pela arbitragem a definição do vencedor da partida.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ CRUZEIRO: Cássio; William, João Marcelo, Villalba e Marlon; Lucas Romero (Lucas Silva), Walace (Barreal), Matheus Pereira (Lautaro Díaz), Matheus Henrique e Gabriel Veron (Mateus Vital) ; Kaio Jorge. Técnico: Fernando Diniz.
🗒️ FLAMENGO: Rossi; Varela, David Luiz (Léo Pereira), Fabrício Bruno e Ayrton Lucas (Alex Sandro); Pulgar (Evertton Araújo), Allan, Matheus Gonçalves (Michael) e Alcaraz; Gonzalo Plata e Bruno Henrique (Lorran). Técnico: Filipe Luís.
⚽ Gol: David Luiz (Flamengo)
👟 Assistências: ❌
🟡 Cartões amarelos: Marlon e Villalba (Cruzeiro) | Gonzalo Plata, David Luiz, Evertton Araújo, Allan e Alex Sandro (Flamengo)
🔴 Cartão vermelho: Allan (Flamengo)
👨⚖️ Árbitro: Gustavo Ervino Bauermann (Santa Catarina)
🏟️ Local: Arena Independência, Belo Horizonte-MG