MATREIRA COMO EM TODA A CAMPANHA, A ARGENTINA SE SAGRA A MAIOR CAMPEÃ DA AMÉRICA
Matreira como toda a campanha, a Argentina derrotou a Colômbia por 1 a 0 na prorrogação da final e é a grande campeã da Copa América 2024. O último jogo não poderia ter mais a cara albiceleste no torneio: aguerrida, sólida, fria e decisiva mesmo em um duelo complicadíssimo em que chegou a parecer inferior. A Colômbia deu trabalho porque apresentou o melhor futebol do torneio, mas a Argentina levou a taça porque é a melhor seleção do continente. E agora, isoladamente o país com mais títulos da Copa América na história: 16.
Os vinte primeiros minutos de jogo foram marcados por uma forte pressão da Colômbia. Com seu 4–4–2 em losango que se assemelha a um 4–3–3, a seleção tricolor marcou com agressividade a saída de bola da Argentina. E com isso conseguiu recuperações em território adiantado ou forçar a albiceleste a usar de chutões, devolvendo também a bola. Com a posse, o objetivo bem executado pelos colombianos foi de trabalhar rapidamente a bola por dentro e encontrar a profundidade pelas beiradas, mais especificamente pela direita com Santiago Arias nas costas de Di María. Na teoria deu certo, porque foram várias chegadas perigosas pelo setor para cruzamentos ou diagonais infiltrando na área. Mas na prática, faltou o gol. Faltou se impor no momento de superioridade. Córdoba até colocou bola na trave, mas a Colômbia não passou disso. E em jogo contra a Argentina, sabemos como pode custar caro.
A partir dos arredores dos vinte minutos, este abafa colombiano arrefeceu. O jogo virou lá e cá. A Argentina começou a aparecer mais para o jogo, mais confortável para realizar a saída de bola. No ataque, a albiceleste apostou em atacar pelas beiradas, já que o 4–3–1–2 colombiano concentra os marcadores pelo meio e não dá o devido auxílio aos laterais, que inclusive sobem muito, como o Arias. Não à toa Scaloni colocou Di María na esquerda e por ali surgiram as melhores jogadas argentinas. Não muitas, mas perigosas, como a grande chance albiceleste na etapa inicial, um chute de Messi na pequena área para fora. Todavia, a Colômbia não deixou de ter ataques perigosos. Mantendo o mesmo roteiro de antes, mas com mais campo a explorar. Richard Ríos foi um motorzinho pelo meio para ativar a dupla de ataque e os laterais. Faltou James conseguir se liberar mais da marcação e Luis Díaz acertar mais tecnicamente. Com as virtudes e defeitos de cada lado, o jogo foi ao intervalo em um 0 a 0 coerente. Apesar da garra dos dois lados, o futebol ficou devendo em qualidade. A Colômbia foi levemente superior, mas não teve precisão na hora H para sair à frente.
Os primeiros quinze minutos da segunda etapa foram os momentos mais interessantes de futebol em Miami. O cenário de troca de golpes foi mantido, mas todos os ataques, seja de um lado ou de outro, eram perigosos. Os dois times recuperaram fôlego e voltaram a ser agressivos sem a bola, a albiceleste inclusive pela primeira vez no jogo de fato. A Colômbia levava perigo com as chegadas de Arias ao fundo para cruzar ou mesmo finalizar. A Argentina respondia com Di María jogando exatamente no setor do lateral cafetero. Faltavam encaixes de marcação aos dois times. Mas nenhuma chance imperdível foi de fato criada. E o jogo não saiu do 0 a 0 nem assim.
Passada a arrancada emocionante da etapa final, a partida ficou em uma relativa calmaria por cerca de quinze minutos. A Argentina reduziu aquela intensificada na marcação, além de ter perdido Messi por lesão e precisado mudar de esquema para o 4–3–3, com Di María pela direita, Julián pelo centro e Nico González na esquerda. A Colômbia também reduziu a velocidade das jogadas, mas procurou manter a posse de bola para não correr riscos defensivos e conseguir colocar James Rodríguez no jogo. Conseguiu pouco ofensivamente, mas não levou contra-ataques tão perigosos. Isto porque a Argentina, de início, também não ativou os setores com objetividade, ainda entendendo o novo planejamento e já sentindo certo cansaço. Além de tudo isso, foi um período de muitos pontapés e faltas. Ninguém aliviava. E o jogo ficou muito pouco produtivo e bem picotado.
Nos últimos quinze minutos, o jogo voltou a ter um pouco mais de emoção. A Colômbia claramente cansou e perdeu poderio de marcação adiantada, recuando mais ao campo defensivo como em poucos momentos de toda a campanha. Além disso, demonstrou nervosismo por não ter conseguido se impor e começou a errar bastante tecnicamente. A Argentina, mais inteira e já mais adaptada ao novo esquema, começou a explorar estas fragilidades. Fez algumas diagonais e cruzamentos de perigo, jogando de um lado para o outro, mexendo com a falta de marcação horizontal colombiana e com o desgaste físico. Mas pecou no acabamento, seja no último passe ou na finalização. Apesar de ter controlado as ações e não sofrido contra-ataques, sentiu falta de mais gente na área. E os poucos que entraram não tiveram precisão, especialmente Nico González. Após muitas idas e vindas no jogo, o 0 a 0 se manteve até o fim do tempo regulamentar.
No primeiro tempo de prorrogação, as coisas se estabilizaram relativamente. Com as substituições, a Colômbia recuperou o fôlego e conseguiu voltar a executar uma marcação mais competitiva. Com isso, reapareceu no ataque, especialmente em transições rápidas com Quintero fazendo ótimo papel de meia de ligação. Mas perto da área manteve os erros técnicos, especialmente com um Luis Díaz nada inspirado hoje. A Argentina não ficou por baixo. Seguiu explorando as fragilidades colombianas e sendo perigosa da beirada para dentro. Aos quatro minutos do tempo extra, justamente em contra-ataque pelo corredor lateral direito, Di María fez grande cruzamento e Nico González perdeu chance quase inacreditável da pequena área. Parou em Camilo Vargas. Nenhuma chance em todo o jogo havia sido clara como aquela, para qualquer um dos lados. Desta vez, a Argentina perdoou.
A segunda etapa da prorrogação consolidou a volta do momento em que mais havia porrada que futebol. Se um jogador ficasse com a bola por mais de um segundo, tomava uma entrada dura. Tudo precisava ser de primeira. E aí surge o peso do plantel. A força das substituições. De um lado, o colombiano, entraram Borja, Carrascal e Uribe. De outro, o albiceleste, ingressaram o artilheiro Lautaro Martínez e os meias Lo Celso e Paredes, que ao lado de De Paul, ainda em campo, formaram justamente a meia cancha que começou a reviravolta na história argentina em 2021. Que contraste. A Colômbia não chegou mais com perigo. A Argentina, com capacidade para morder muito na marcação e achar combinações de primeira, chegou. E aos 7 minutos, após Paredes roubar bola e Lo Celso dar bela enfiada, Lautaro Martínez abriu o placar da final estufando as redes com muita categoria. Demonstração de hierarquia e de repertório no elenco. Não é qualquer time que tem essas três opções no banco para colocar.
A partir do gol albiceleste, não houve mais jogo. A maturidade para administrar vantagem é outra virtude da Argentina. Catimba, cera, faltas cometidas para parar ataques perigosos, bola presa em setores confortáveis, desestabilização do adversário. Ferramentas de quem sabe fazer o tempo passar. Dibu sozinho comeu certamente mais de um minuto do tempo. A Colômbia, já com um ataque todo reserva, não achou meios coletivos para tramar uma jogada e ser perigosa. Tentou um chuveirinho que consagrou ainda mais a zaga argentina, de partida absurdamente boa. Não criou nada. A Argentina confirmou a vitória com muita maturidade.
A vitória da Argentina nesta final vem da hierarquia. O jogo em si foi muito igual, com uma etapa melhor para cada no tempo regulamentar e equilíbrio nos ataques perigosos. A Colômbia, como previsto, pareceu até mais lúcida e bem tramada coletivamente. Mas a albiceleste nunca perdeu o controle. Nunca saiu de fato dos eixos. Sempre manteve a defesa sólida, sempre teve seus ataques pontuais e perigosos. Quando a coisa apertou e o cansaço bateu, fez valer de sua força do elenco. De quem tem um banco cheio de boas peças, diferentemente do time colombiano. E, além disso, da maior frieza, das tomadas de decisão mais precisas, da confiança que a sequência gloriosa traz. Apesar de todo o bom momento da seleção desafiante, em momento algum da etapa final em diante parecia ser possível a albiceleste perder. E não foi mesmo. Se impôs mesmo sem Messi, se impôs com leitura de jogo em meio ao caos e poder de decisão absurdo. Não foi fácil, mas a Argentina é a grande campeã da Copa América! A maior vencedora isolada do torneio, agora com 16 taças. Não jogou tudo que pode, mas jogou tudo que precisava. Já sabe os atalhos para ganhar, não utiliza mais só do brilhantismo para isso. Aí está a hierarquia tão falada.
ARGENTINA: A Argentina buscou essa na hierarquia. Na capacidade de decisão. Na força do plantel. Não jogou um futebol convincente, mas nunca perdeu o controle das ações e sempre mostrou que a qualquer momento poderia decidir. Como foi em toda a campanha deste torneio, em que achava os gols derradeiros quando parecia dominada. É preciso ter qualidade e cabeça para isso. E na final ficou claro como não há ninguém no continente com essa mentalidade e capacidade. Que geração albiceleste! É uma hegemonia no futebol mundial. Desde que saiu da seca de mais de 27 anos sem títulos em 2021, a Argentina ganhou todas as taças que disputou: duas Copas América, uma Finalíssima e uma Copa do Mundo. Além disso, se isolou como maior vencedora do torneio sul-americano com 16 conquistas. Hoje é muito bom ser argentino!
COLÔMBIA: Não deu. Faltou o algo a mais. A Colômbia levou a Argentina ao limite, mas não teve capacidade para se impor. Marcou bem, teve dinamismo e achou formas de construir boas chances mesmo em dia apagado de James Rodríguez e Luis Díaz. Todavia, até pela pouca colaboração deles, faltou precisão na hora H. Um último passe melhor, uma tomada de decisão mais correta, uma finalização mais precisa. Quando as substituições aconteceram então, ficou escancarada a diferença técnica entre as seleções, claramente favorável à Argentina. Mas a campanha cafetera merece ser valorizada. Um futebol competitivo, envolvente, criativo. Só faltou ser mais eficiente. E não só hoje, mas em todo o torneio que brincou de perder gols. Acaba a sequência de 28 jogos invictos. Mas não acabam as esperanças da Colômbia em um futuro melhor. Há gente boa surgindo. E 2026 é logo ali.
ARBITRAGEM: O jogo foi quente, mas Raphael Claus e equipe não comprometeram. Nenhum dos pênaltis pedidos pelas seleções aconteceu, um gol argentino foi corretamente anulado por impedimento e o de Lautaro Martínez bem validado. Claus poderia apenas ter coibido mais os pontapés, mas ao não apresentar cartões conseguiu impedir que a situação descambasse para brigas. No fim das contas, a equipe de arbitragem brasileira cumpriu um bom papel na final da Copa América.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ ARGENTINA: Emiliano Martínez; Montiel (Molina), Cristian Romero, Lisandro Martínez e Tagliafico; Enzo Fernández (Lo Celso), De Paul, Mac Allister (Paredes) e Di María (Otamendi); Messi (Nico González) e Julián Álvarez (Lautaro Martínez). Técnico: Lionel Scaloni.
🗒️ COLÔMBIA: Camilo Vargas; Santiago Arias, Carlos Cuesta, Davinson Sánchez e Mojica; Lerma (Mateus Uribe), Richard Ríos (Castaño), Jhon Arias (Carrascal) e James Rodríguez (Quintero); Luis Díaz (Borja) e Jhon Córdoba (Borré). Técnico: Néstor Lorenzo.
⚽ Gol: Lautaro Martínez (Argentina)
👟 Assistência: Lo Celso (Argentina)
🟡 Cartões amarelos: Mac Allister e Lo Celso (Argentina) | Jhon Córdoba e Borja (Colômbia)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Raphael Claus (Brasil)
🏟️ Local: Hard Rock Stadium, Miami-EUA