MASSACRE NA SERRA: 3 A 1 FICOU MUITO BARATO
O Internacional massacrou o Juventude e venceu dentro do Alfredo Jaconi por 3 a 1 pela 25ª rodada do Brasileirão. A superioridade vermelha foi tamanha que o placar sequer condiz com o que foi o jogo. No onze contra onze ou com um jogador a mais, o colorado envolveu a equipe alviverde e criou um número de chances digno para fazer pelo menos o dobro dos gols que de fato fez. Contudo, o que mais importa é o resultado, que faz o Inter pensar em brigas maiores e reacende o alerta para o Ju sobre a luta pela permanência.
A primeira metade do primeiro tempo foi o momento mais equilibrado do jogo. Naquele período, o Juventude foi inclusive um pouco melhor que o Internacional, mesmo sem contundência. Até por jogar em casa, o Papo foi quem procurou aparecer mais no ataque de início. A equipe de Jair Ventura focou em manter a posse de bola e propor as ações, mas não teve dinamismo para se impor, vivendo de cruzamentos e chutes de média distância. O colorado, por sua vez, buscou se proteger defensivamente e escapar em contra-ataques. Conseguiu fazer uma boa proteção da área no 4–4–2, mas não as transições ofensivas com frequência, bem marcado. Um time anulava o outro. A primeira e única chegada de perigo neste recorte de tempo foi um chute de média distância do Juventude com Jadson, bem defendido por Rochet, aos 21 minutos.
Justamente a partir deste primeiro lance de maior relevância, o jogo começou a mudar de rumos. Aparentemente, o Internacional “acordou” com a defesa de Rochet, bem como as seguintes que ele fez também no escanteio gerado por ela. O time de Roger Machado intensificou a marcação adiantada sobre a saída de bola do Juventude, ideia que esporadicamente aparecia antes. Não ficava apenas atrás para contra-atacar, buscava jogadas reativas de mais perto da área rival. O Papo, por sua vez, aumentou a quantidade de erros técnicos com maior pressão sofrida. A brecha para os contragolpes vermelhos apareceu. E o Inter aproveitou bem. E, o principal, com repertório. O primeiro gol, aos 29 minutos, até veio em um ótimo cruzamento pelo alto de Bruno Tabata, bem finalizado de cabeça por Borré, mas surge após uma destas recuperações de bola no campo ofensivo e de uma sequência de passes do Inter. Sequência repetida no segundo gol, poucos minutos, do lado oposto, o esquerdo. Triangulação terminada em enfiada de Bernabei para Thiago Maia, que cruzou para Gabriel Carvalho chegar livre do outro lado ampliando o placar. Antes disso, o time já havia visto Rômulo acertar uma bola na trave em chute nas entrelinhas do Ju, após boa troca de passes. Muita gente no último terço do campo, combinações e eficiência. Inter merecidamente abriu 2 a 0 em belo momento na partida.
A partir da vantagem no placar, o Inter voltou a recuar no campo nos minutos finais da primeira etapa. Contudo, sem se aproximar demasiadamente da própria área ou deixar o Juventude gostar do jogo. Continuou intenso na marcação e achando contra-ataques com boa movimentação, algumas vezes até em condição numérica para ampliar o marcador, como no lance de três contra um desperdiçado por Wesley aos 40 minutos. A equipe jaconera não conseguia se encontrar na proposição do jogo. Não tinha mobilidade pelo meio ou profundidade pelas beiradas para viabilizar os cruzamentos. Sequer era organizado na marcação adiantada para impedir contragolpes e ainda começar jogadas nos arredores da área. Além de tudo, passou a ter a afobação como ingrediente. E fruto dela, Rodrigo Sam deu entrada duríssima em Rômulo em pleno campo de ataque e foi expulso aos 45 minutos. O que já estava ruim para o Juventude conseguiu piorar. O time da casa foi ao intervalo com dois gols de desvantagem e um jogador a menos. Cenário praticamente irreversível.
O segundo tempo foi linear, do início ao fim. Sem surpresa, o Internacional administrou a vantagem com tranquilidade. Mais do que isso, foi ainda mais produtivo que no tempo anterior e criou suficientemente para impor uma goleada histórica sobre o Juventude. Contudo, a falta de eficiência nas finalizações evitou isto. Toda a etapa final foi marcada por uma variação entre dois momentos: os que o colorado administrava com a bola e os que o fazia sem ela. E o time de Roger Machado conseguia ser contundente nos dois. Quando estava sem, atraía o adversário com um a menos e era extremamente perigoso em contra-ataques diretos, com muita profundidade das beiradas para dentro. Já quando tinha a pelota, fazia passes cadenciados entre os defensores e era perigoso quando alcançava Tabata, depois Alan Patrick, e parceiros nas entrelinhas rivais. Conseguia bons passes, tinha ultrapassagens e entrava com força na área. Este espaço à frente da zaga sempre foi o ponto fraco do Ju, não só hoje, desde a época de Roger. O Inter aproveitou muito bem. Bernabei fez o terceiro gol ainda cedo e perdeu outras seis chances claríssimas ao longo dos 48 minutos finais. Teria feito um estrago histórico se tivesse maior eficiência na finalização, e apenas nela mesmo, não no último passe que era bom.
Um dos poucos pontos fracos do Inter no jogo foi novamente Enner Valencia. O centroavante equatoriano até se movimentou bem para receber enfiadas, mas perdeu duas ou três chances muito perigosas para sair da seca pessoal e fazer o quarto gol do Inter. Enquanto todos os colegas exalavam confiança, ele não conseguia extravasar. E para piorar, foi quem evitou a goleada colorada também no aspecto defensivo. Praticamente no último minuto, deu de graça um contra-ataque ao Juventude ao perder uma bola na intermediária. Nele, Edson Carioca acionou Luís Oyama, que de fora da área fez o gol de honra dos donos da casa. Em momento algum do segundo tempo o Ju havia conseguido ser perigoso em transições, totalmente abalado e impotente pela desvantagem numérica. Achou do nada este tento de desconto. Negativo para Enner, que acrescenta mais ingredientes a sua fase delicada.
No sétimo e último confronto entre Juventude e Internacional em 2024, o colorado lavou a alma após ser eliminado duas vezes pelo alviverde. Com uma superioridade estratosférica, venceu por 3 a 1 e jogou em um nível digno de aplicar uma goleada histórica. Por falta de capricho no ataque quando já tinha conforto no placar, não a aplicou. Contudo, nada esconde o triunfo convincente. Foi da agressividade e do dinamismo vermelhos que surgiram os erros técnicos jaconeros. Dos espaços que o Papo costuma ceder, o Inter fez carnaval. Bernabei, Thiago Maia, Tabata, Gabriel Carvalho, Wesley, Borré, Bruno Gomes, Alan Patrick… Muitos jogadores colorados estiveram em dia feliz. O oposto dos alviverdes. No fim das contas, o clássico Juvenal em 2024 tem nome e sobrenome: Roger Machado. Quando estava no Ju, venceu os dois duelos de mata-mata, pelo Gauchão e pela Copa do Brasil. Já pelo Inter, venceu os dois jogos do Brasileirão. No fim da história de 2024, o confronto termina com 3 vitórias coloradas, 3 empates e 1 triunfo jaconero, que leva ainda as duas classificações nos duelos eliminatórios. Um ano em que este clássico esteve em voga como poucas vezes antes.
JUVENTUDE: Deu tudo errado para o Juventude nesta noite no Jaconi. As fragilidades táticas desde o onze contra onze e os frequentes erros técnicos mataram qualquer chance de o time de Jair Ventura competir diante do Internacional. Além da recomposição ruim e das crateras entre as linhas de marcação, foram várias rebatidas erradas, botes precipitados e passes equivocados. Anormal foi o gol achado por Luís Oyama em dia tão improdutivo para o Papo. A realidade é que o Juventude escapou de ser goleado dentro de sua casa. Todavia, a já derrota dura por 3 a 1 derruba o alviverde para a 14ª posição do Brasileirão, apenas três pontos acima da zona de rebaixamento. Apesar do grande momento na Copa do Brasil, um momento de oscilação já reacende o sinal de alerta para o Ju no campeonato nacional.
INTER: O Inter teve uma vitória convincente no Alfredo Jaconi, algo que não acontecia há muito tempo. Foi um 3 a 1 que poderia facilmente ter sido 6 a 1 ou até mais de tão grande que foi a produção ofensiva colorada. O dia ruim do Juventude realmente abriu caminhos, mas o Internacional soube transformar isto em uma de suas melhores atuações em 2024. Não foi um time que viveu apenas de cruzamentos pelo alto, mas sim que teve boas triangulações, ultrapassagens, profundidade, jogo por terra, enfiadas, dribles e bastante gente no último terço do campo. Sobretudo, contundência. Um gol de bola aérea, um de jogada tramada por vários pés e outro após enfiada e entrada de um lateral na área. Vários jogadores atuaram em um nível altíssimo, o que é muito promissor. Muito além do já positivo resultado, o time de Roger Machado apresentou uma versatilidade de armas ofensivas que deve ser aplicada em jogos futuros. E que pode mudar os rumos do Inter no Brasileirão. O colorado já é décimo colocado na tabela, nove pontos atrás do G6 com três jogos a menos.
ARBITRAGEM: Marcelo de Lima Henrique e equipe foram seguros no Alfredo Jaconi. A expulsão de Rodrigo Sam foi um grande acerto, visto que o zagueiro jaconero mantém a sola na direção de Rômulo após a disputa de bola e acerta em cheio o tornozelo do jogador colorado. Altíssimo grau de imprudência. No pênalti pedido pelo Ju, um dos poucos erros do apitador: não em realmente não o marcar, mas de dar uma falta na entrada da área em um lance em que a bola atinge a barriga de Bruno Gomes, sem infração. Outra polêmica foi a entrada de sola de Thiago Maia em Jadson, mas pela disputa de bola, o amarelo ficou cabível. Com muito rigor, poderia ter sido vermelho, mas seria um certo exagero. Sobretudo, é necessário citar que o resultado não passa por erros da arbitragem, que teve desempenho decente na serra gaúcha.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ JUVENTUDE: Gabriel Vasconcellos; João Lucas, Danilo Boza, Rodrigo Sam e Alan Ruschel; Jadson, Dudu Vieira (Luís Oyama), Jean Carlos (Yan Souto), Lucas Barbosa (Edson Carioca) e Erick Farias (Diego Gonçalves); Ronie Carrillo (Marcelinho). Técnico: Jair Ventura.
🗒️ INTER: Rochet; Bruno Gomes (Nathan), Vitão, Igor Gomes e Bernabei; Rômulo, Thiago Maia (Bruno Henrique), Bruno Tabata (Alan Patrick), Gabriel Carvalho e Wesley (Gustavo Prado); Borré (Enner Valencia). Técnico: Roger Machado.
⚽ Gols: Luís Oyama (Juventude) | Borré, Gabriel Carvalho e Bernabei (Inter)
👟 Assistências: Edson Carioca (Juventude) | Bruno Tabata e Thiago Maia (Inter)
🟡 Cartões amarelos: Lucas Barbosa (Juventude) | Thiago Maia e Wesley (Inter)
🔴 Cartão vermelho: Rodrigo Sam (Juventude)
👨⚖️ Árbitro: Marcelo de Lima Henrique (Rio de Janeiro)
🏟️ Local: Estádio Alfredo Jaconi, Caxias do Sul-RS