MAIS UMA RETRANCA FURADA E ALGUMAS NOITES NO G4

Jonathan da Silva
7 min readNov 9, 2024

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O Internacional cumpriu o favoritismo e venceu o Fluminense por 2 a 0 no Estádio Beira-Rio em jogo válido pela 33ª rodada do Brasileirão 2024. O colorado mais uma vez se deparou com uma retranca do outro lado e novamente foi capaz de superá-la, com alto volume ofensivo e inspiração. Em desvantagem, o tricolor chegou a aparecer na partida, mas o time de Roger Machado resistiu, matou a parada no contra-ataque e garantiu o 14º jogo consecutivo sem derrota, além de mais algumas noites dentro do G4.

O primeiro tempo inteiro teve apenas um padrão de jogo: ataque do Internacional contra defesa do Fluminense. Não é exagero, o tricolor mal passou do meio-campo, enquanto o colorado teve praticamente 70% de posse de bola. Como o time de Mano Menezes veio com a ideia de ficar postado bem atrás, sair para o campo ofensivo era tarefa difícil. Seria necessária uma saída de bola muito rápida ou precisão nas bolas longas. Com a marcação adiantada do Inter e a própria falta de dinamismo do Flu, nenhuma das opções aconteceu. Quando não perdia a posse já na zaga ao ser pressionado, o tricolor chegava ao meio de campo, prendia a pelota por não ter nenhuma opção à frente e perdia a posse já ali ou voltava para a defesa e então perdia ela após dar um lançamento sem ter ninguém para receber no outro campo. A velocidade baixíssima e o apoio muito discreto impediam a real reatividade acontecer. Por essa falta de escape do Fluminense, eventualmente até já imaginada pelo Mano em função do foco defensivo, é que o duelo na etapa inicial foi mero ataque contra defesa.

Todavia, em contrapartida, por estar todo atrás, o Flu conseguiu limitar a produção ofensiva do Internacional. Não a anulou, já que Vitor Eudes precisou fazer algumas boas defesas, mas não deixou o colorado entrar na área com liberdade em muitas ocasiões. O time de Roger Machado passou longe de ser estéril, teve uma boa circulação de bola, toques de primeira, combinações e chegadas ao fundo, mas a chegada perto do gol rival ocorreu sem a “tranquilidade” necessária, sem sair aquela chance claríssima e imperdível. Alguns cruzamentos foram interessantes, mas por terra a zaga tricolor, especialmente Manoel, conseguiu dar conta do recado e afastar a pelota. Faltou ao colorado arriscar mais de fora da área quando tinha espaço e ter vitória pessoal para quebrar a estrutura compacta do Fluminense. O time carioca não sai do lugar para pressionar, fica estacionado em seu 4–4–2 justamente para não se esburacar, mas tem seus espaços entre as linhas que poderiam ser utilizados com mais lances de drible, finta e até mesmo dobras. Dobra quem fez foi o conjunto carioca, com dois laterais direitos, Samuel Xavier na posição e Guga adiantado, para parar os avanços de Bernabei e Wanderson, tanto que o colorado atacou mais vezes pela direita. Com isso, apesar da superioridade colorada, quem foi mais efetivo na estratégia de jogo e levou o 0 a 0 para o intervalo foi o Fluminense. Se foi ataque contra defesa e a defesa não sofreu gol, melhor para ela.

O começo de segundo tempo se encaminhava para ser mais do mesmo. O Fluminense esperando, o Internacional agredindo e de alguma forma o tricolor resistindo à pressão do colorado. Todavia, uma saída do lugar do time carioca bastou para os rumos da partida mudarem. Em uma tentativa de marcar a saída de bola do Internacional com mais gente, o Fluminense deu o sonhado espaço para Bernabei avançar pela esquerda, o que fazia menos com Guga, que saiu para a entrada de Marquinhos, em campo. O lateral argentino recebeu bom lançamento, chegou ao fundo e cruzou com desvio para Borré abrir o placar aos seis minutos da etapa final. O volume ofensivo e a inteligência colorada de explorar uma mínima brecha finalmente abriram os caminhos e o placar para o time da casa.

Em vantagem e com o desgaste em função do jogo intenso contra o Criciúma na terça-feira, naturalmente o Internacional recuou. E o Fluminense, que já teria de ir ao ataque por obrigação, passou a ter o controle da posse de bola. Contudo, a construção foi pobre. Sem o pensador Ganso ou o diferenciado Arias, havia muito pouco de construção bem tramada, já que não acontecia alguma combinação de passes, tabela rápida ou armadilha a partir de movimentação. Era levantamento para a área ou jogada individual de Marquinhos. Simples assim. Nos últimos minutos, com a aproximação de Serna, alguns cruzamentos da linha de fundo até levaram perigo, mas John Kennedy parou em Sergio Rochet. Evidentemente que para o tricolor fazer o gol a qualquer custo valia muito mais do que jogar bem para buscar o empate. Contudo, sem lucidez, dependendo de um lampejo, seria muito difícil superar um colorado inspirado. Toda a linha defensiva do Internacional foi bem nos duelos individuais. O Flu precisava de mais para evitar o revés. E mesmo com os jogadores indisponíveis, pelo rendimento recente, teria sido difícil, vide o jogo contra o Grêmio em casa.

O que talvez tivesse dado mais alívio para a administração de resultado do Inter fosse mais retenção de bola e contra-ataques. O chegou a ter por um período na casa dos 30 minutos, mas não durou muito. Faltava pernas e nem mesmo as trocas de Roger mudaram drasticamente o panorama já que o adversário marcava adiantado e o esquadrão vermelho não tinha muita gente com fôlego para correr. Contudo, a defesa deu conta do recado. Ganhou tudo pelo alto e quase tudo por terra. Protegeu bem a área no típico 4–4–2. E quando achou o contragolpe no finalzinho, diante de um Fluminense que mal recompunha e deixava a zaga exposta, o colorado não perdeu a chance de matar o jogo. E fez em uma jogada com a cara do time: enfiada de Alan Patrick para Bernabei, que chegou ao fundo e não rifou a bola, mas sim cruzou rasteiro para trás, para Bruno Henrique infiltrar “de surpresa” e fazer o segundo gol aos 49 minutos. O tento da tranquilidade. O tento da vitória assegurada.

Às vezes o futebol tem lógica. Algumas delas foram seguidas hoje. O melhor time no coletivo venceu. Quem jogou apenas para não perder, não para vencer, perdeu. Quem estava desfalcado jogou pior do que o pouco esperado. Quem tinha confiança soube superar uma retranca. Não há muito mais a se dizer que: o Internacional foi superior ao Fluminense e venceu com justiça. Sempre teve mais repertório e organização dos dois lados do campo. Chegou a sofrer para furar a retranca e depois para segurar o resultado, mas teve sucesso nas duas tarefas com maturidade e lucidez. O Inter chega a 14 jogos sem perder. O Fluminense a duas derrotas nos últimos três jogos. No fim das contas, sobretudo, o resultado reflete bem o atual momento das duas equipes.

INTER: O Inter se transformou em uma máquina de consistência com Roger Machado. Não fez um esforço descomunal para chegar hoje aos 14 jogos sem derrota, fez ao natural por manter um padrão mínimo de desempenho, que começa no bom e vai ao excelente. Hoje, tal qual contra o Criciúma, em função da retranca do adversário, ficou na casa do bom. Houve dificuldade para entrar na área rival, mas os ótimos padrões de jogo coletivo levaram ao sucesso. Pós-primeiro gol, com o desgaste por ter jogado na terça, o colorado até chegou a sofrer na defesa, mas se sustentou e outra vez matou o jogo no finalzinho. Até neste caráter nos momentos decisivos o treinador teve impacto. Triunfo da consistência, do padrão de jogo e da inspiração de jogadores em ótima fase. Com o 2 a 0 sobre o Fluminense, o Internacional passará mais alguns dias dentro do G4 do Brasileirão. Grande momento vermelho e sonho realista com a vaga direta para a fase de grupos da Libertadores.

FLUMINENSE: O desempenho do Fluminense foi exatamente o que se esperava em função dos numerosos desfalques e da atual fase da equipe mesmo quando completa. Um futebol pobre. Iniciou sem sequer ser capaz de chegar ao ataque, apenas trancando a rua para ao menos segurar o empate. Quando sofreu gol e teve de sair, viveu de jogadas individuais e cruzamentos, poucos deles realmente trabalhados. Não empatou e ainda sofreu mais um gol em frágil marcação a contra-ataques. As coisas não andam para o time de Mano Menezes. Quando a condição na tabela indicaria um final de campeonato mais seguro, os resultados ruins voltam a deixar o Fluminense em alerta sobre a possibilidade de rebaixamento. Sim, se der tudo errado na rodada, o tricolor pode parar dentro do Z4. Assusta.

ARBITRAGEM: O experiente Luiz Flávio de Oliveira não comprometeu. Apesar de alguns escanteios claros não dados para os dois times e dos oito minutos de acréscimo na etapa final, o paulista não cometeu nenhum erro grave ao longo da partida, bem como manteve o controle emocional dos atletas. Os dois gols colorados foram bem validados e o anulado, por impedimento de milimétrico de Borré, também foi acerto da arbitragem via VAR. Atuação segura da equipe de amarelo.

FICHA TÉCNICA:
🗒️ INTER: Rochet; Bruno Gomes, Rogel, Vitão e Bernabei; Rômulo (Luis Otávio), Thiago Maia (Bruno Henrique), Alan Patrick, Bruno Tabata (Gabriel Carvalho) e Wanderson (Gustavo Prado); Borré (Enner Valencia). Técnico: Roger Machado.
🗒️ FLUMINENSE: Vitor Eudes; Samuel Xavier, Thiago Silva, Manoel e Diogo Barbosa; Bernal (Renato Augusto), Martinelli, Lima (Isaac), Guga (Marquinhos) e Keno (Serna); Cano (John Kennedy). Técnico: Mano Menezes.
⚽ Gols: Borré e Bruno Henrique (Inter)
👟 Assistência: Bernabei (Inter)
🟡 Cartões amarelos: Bernabei, Vitão e Bruno Gomes (Inter) | Bernal (Fluminense)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨‍⚖️ Árbitro: Luiz Flávio de Oliveira (São Paulo)
🏟️ Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre-RS

BOLA DE OURO DO JOGO: Bernabei/Inter | FOTO: Ricardo Duarte/S.C. Internacional

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Jonathan da Silva
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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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