MAIS UM EPISÓDIO DEPRIMENTE
Em mais um jogo um tanto quanto monótono, o Paraguai venceu o Brasil por 1 a 0 em Assunção pela oitava rodada das Eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2026. Com uma estratégia reativa bem correta, a albirroja superou sem grande sofrimento uma Seleção Brasileira que voltou a ser inexistente coletivamente.
O jogo até começou com o Brasil tomando a iniciativa, mas claro que sem contundência. Primeiro, a equipe de Dorival Júnior só tinha realmente o domínio da posse de bola porque o Paraguai permitia. Os donos da casa, por estratégia, não pressionaram de início e focaram em se organizar bem defensivamente, no 4–4–2, para testar a solidez defensiva. Diante da compactação e dos bons encaixes paraguaios, o Brasil não foi capaz de criar nada, sem surpresa. Espaçado, lento e com movimentos previsíveis, o ataque canarinho foi presa fácil. Anulado facilmente. Nenhuma chance de perigo mesmo com muito mais posse de bola nos primeiros quinze minutos da partida.
Confortável na marcação, o Paraguai começou a sair mais para o jogo justamente a partir do começo do segundo terço do primeiro tempo. Sem se desestruturar coletivamente, a equipe de Gustavo Alfaro passou a marcar de maneira mais agressiva e adiantada, pressionando e forçando o erro na saída de bola brasileira. A partir disso, a albirroja passou a recuperar a bola mais perto do campo de ataque ou já mesmo nele. Tinha menos caminho para fazer e bons espaços para explorar nas beiradas. E assim foi chegando, de fora para dentro, com Enciso flutuando para fazer parceria com os pontas e laterais. Após algumas chegadas, Diego López acertou um belo chute de fora da área e abriu o placar merecidamente para os donos da casa já aos 19 minutos, pouco após iniciar a “pressão”. Vacilo do Brasil na rebatida, vacilo do Brasil no espaçamento entre as linhas, vacilo do Brasil ao Bruno Guimarães ser tão facilmente superado na marcação. Mérito de uns, demérito de outros.
A partir do gol paraguaio, praticamente mais nada de relevante aconteceu no restante da primeira etapa do jogo. O cenário voltou a ser muito semelhante àquele dos primeiros 15 minutos. O Brasil com a bola, sem produzir, e o Paraguai recuado, se protegendo bem e reagindo com contra-ataques. O cenário dos sonhos para os donos da casa, que já executariam essa estratégia mesmo sem ter vantagem no placar. Com ela, o fizeram de modo ainda mais confiante e seguro. O time de Dorival, sem nenhuma mudança estrutural, seguiu com movimentos óbvios, passes lentos, distância entre as peças e nenhuma solução individual que superasse a invalidez coletiva. Ao menos, houve uma marcação adiantada decente que impediu mais contra-ataques paraguaios. Porém, eles nem tentaram muito mesmo.
Na volta do intervalo, o Brasil mudou peças e até melhorou no sentido anímico, mas seguiu coletivamente pobre. Dorival optou por uma mudança conservadora, com João Pedro no lugar de Endrick, e uma mais ousada, com Luiz Henrique na vaga de Bruno Guimarães. Com isso, voltou a um 4–2–3–1 com Rodrygo por dentro e Luiz Henrique e Vini abertos. Ganhou em vitalidade e jogada individual, mas não achou rumos ofensivos. Rodrygo por dentro e Luiz Henrique por fora tiraram jogadas da cartola, mas não resolveram sozinhos. Sentiram falta da aproximação de colegas para tabelas, combinações, infiltrações. O time até tentou fazer aproximações pelas beiradas para ganhar em profundidade, mas não teve acompanhamento dos outros setores para viabilizar um cruzamento, uma inversão, uma entrada perigosa na área. Sobretudo, não adianta ter capacidade individual se o coletivo é uma âncora. Não adianta correr mais e correr errado, sem aproximação, sem movimentos coordenados, sem lógica. O Brasil melhorou em relação a ele mesmo, mas ainda passou longe de ser realmente produtivo como equipe. O Paraguai seguiu seguro em sua estrutura defensiva.
Na reta final do jogo, Dorival arriscou ainda mais. Colocou Estêvão no lugar de Guilherme Arana e partiu “com tudo” para cima. Contudo, o desespero era maior que a inspiração. O coletivo já nem era mais um foco do treinador, a ideia era acumular gente talentosa para achar alguma jogada brilhante “do nada”. Mas nada. A pressa para chegar ao empate gerava cruzamentos sem sentido, muita bola presa no pé, pouca lucidez. Para jogar atletas em uma panela de pressão e mesmo assim eles resolverem é preciso de um nível absurdamente alto. Não é o caso do momento da Seleção Brasileira. O Paraguai sequer precisou mudar de esquema para fortalecer a proteção da área. O time canarinho nem chegava lá. Não tinha organização, não tinha inspiração individual. Gatito Fernández não precisou fazer uma grande defesa para manter o 1 a 0. E por detalhes o Paraguai não encaixou um contra-ataque para matar o jogo ainda antes do apito final. Teve situações numéricas promissoras, mas errou o passe e o movimento técnico. É um time limitado do ponto de vista individual. Do coletivo, fazendo o óbvio, venceu o Brasil sem drama.
Resultado justo em Assunção. Só houve um coletivo em campo, o paraguaio. Gustavo Alfaro colocou um time em campo, com tática e estratégia. Armou uma defesa sólida, um meio-campo aguerrido e direto, um ataque explorador de espaços. Fez o feijão com arroz do futebol reativo e mesmo assim já fez muito mais que Dorival Júnior, que sequer conseguiu fazer o Brasil parecer um time. Remetendo aos piores momentos da Copa América, a Seleção Brasileira foi um bando em campo, sem alguma lógica de movimentação ofensiva para criar algo. Simplesmente um monte de gente isolada, trocando passes horizontais, lentos, esperando um brilho individual que escondesse os problemas. Não rolou. Se existe bobo no futebol, certamente não são as seleções emergentes, mas as que se enganam em relação a elas mesmas. Enquanto os paraguaios saem muito satisfeitos com esta Data FIFA, os brasileiros saem muito preocupados com o futuro. Motivos não faltam.
PARAGUAI: O Paraguai cumpriu muito bem o seu papel em Assunção. Diante de um adversário superior individualmente, se impôs com estratégia e organização baseadas no coletivo, em que foi bastante melhor que os brasileiros. Primeiro, com uma defesa forte, compacta, aguerrida e bem encaixada para se movimentar sem perder os eixos do 4–4–2. Depois, com objetividade ao ter a bola. Bons lançamentos e escapadas produtivas pelas beiradas. Não foi um time que brilhou e acumulou chances por todo o jogo, mas as criou quando necessário e teve eficiência. O gol de Diego López veio justamente após um período em que esse brilho aparecia. Vitória justa e conquistada sem grande sufoco pela albirroja. Com o empate diante do Uruguai fora de casa e este triunfo contra o Brasil em casa, o Paraguai volta a sonhar com classificação para a Copa do Mundo e já está em zona de repescagem, no sétimo lugar da tabela.
BRASIL: O desempenho patético em Assunção é uma continuidade do segundo tempo sonolento contra o Equador em Curitiba. Contudo, a inexistência coletiva não remete a apenas um jogo, mas a praticamente todo o trabalho do treinador Dorival Júnior até o momento. Não é que o Brasil tenha sucumbido diante da Argentina, do Uruguai ou da Colômbia. Na realidade, foi neutralizado e castigado por um Paraguai que é sétimo na tabela e só havia marcado um gol nas Eliminatórias até então. A Seleção Brasileira foi mais uma vez absolutamente apática, lenta, espaçada, previsível, frágil. Um time desorganizado que quase não cria e precisa de poucas chegadas do adversário para se entregar. A pobreza coletiva obstrui o desempenho individual. A situação é dramática. E vai muito além do resultado, que já é lamentável. O Brasil não apenas perde para o Paraguai por 1 a 0 fora de casa, mas também fica cada vez mais distante de encontrar esperanças ou caminhos para um futuro melhor. Não há evolução. E olha que é apenas a primeira derrota de Dorival com a seleção. Com tudo isso, a equipe verde-amarela é quinta na tabela, apenas um ponto acima da oitava colocada, primeira posição que deixaria fora da Copa.
ARBITRAGEM: A equipe de arbitragem comandada pelo uruguaio Andrés Matonte fez bem seu trabalho e passou em branco no Estádio Defensores del Chaco. O gol paraguaio foi bem validado, não houve lance polêmico, não houve erro relevante, não houve falta de critério. O apitador mostrou porque hoje é um dos mais bem cotados no continente.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ PARAGUAI: Gatito Fernández; Juan Cáceres, Balbuena, Alderete (Gustavo Velázquez) e Junior Alonso; Villasanti, Diego Gómez (Ramón Sosa), Bobadilla, Enciso (Blás Riveros) e Almirón (Hugo Cuenca); Pitta (Alex Arce). Técnico: Gustavo Alfaro.
🗒️ BRASIL: Alisson; Danilo, Marquinhos, Gabriel Magalhães e Guilherme Arana (Estêvão); André, Bruno Guimarães (Luiz Henrique) e Lucas Paquetá (Gerson); Rodrygo (Lucas Moura), Vinicius Júnior e Endrick (João Pedro). Técnico: Dorival Júnior.
⚽ Gol: Diego López (Paraguai)
👟 Assistências: ❌
🟡 Cartões amarelos: Bobadilla, Diego Gómez, Junior Alonso e Almirón (Paraguai) | Lucas Paquetá e Vinicius Júnior (Brasil)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Andrés Matonte (Uruguai)
🏟️ Local: Estádio Defensores del Chaco, Assunção-PAR