LONGE DE SER SURPRESA
Não há nenhuma surpresa no empate por 1 a 1 entre Botafogo e Vitória no Rio de Janeiro pela 35ª rodada do Brasileirão. Muito se fala da dificuldade botafoguense em enfrentar retrancas, mas hoje o leão foi muito mais do que um time meramente encolhido. Com organização, não só defendeu bem, como também jogou. Coisa que em momento algum o alvinegro conseguiu fazer com fluência. Achou o empate quase que de modo fortuito. A igualdade no placar é péssima para o glorioso no campeonato, pois perde a liderança, mas é mais do que mereceu. E o rubro-negro baiano, mesmo deixando o triunfo escapar, se aproxima cada vez mais da confirmação da permanência na Série A com outro bom resultado.
Desde o início o Vitória mostrou que não foi ao Estádio Nilton Santos com o objetivo de apenas empatar com o Botafogo. Com menos de um minuto, já tinha perdido uma ótima chance após roubar a bola na intermediária e atacar de forma vertical. E esta foi a túnica de toda a primeira metade da etapa inicial. O alvinegro procurava propor o jogo, mas não tinha a velocidade e a movimentação necessárias para desorganizar o 5–3–2 do rubro-negro sem a bola. Zero profundidade do time da casa. E o leão não era passivo, fazia sim pressão para ter constantes recuperações da pelota. E quando conseguia, não saía de qualquer jeito. Apoiava com bastante gente e trabalhava a bola de forma elaborada, ora usando dos pivôs de Alerrandro, ora avançando com aproximações pelas beiradas. Não fazia sacrifício para chegar nos arredores da área e cruzar, inverter ou fazer diagonais. Em função disso, com muito mérito, o Vitória abriu o placar aos 20 minutos com uma jogada muito bem tramada após desarme na intermediária, terminada em cruzamento de Matheuzinho quase da linha de fundo para Alerrandro finalizar às redes.
Na segunda metade do primeiro tempo, já com a vantagem do leão no placar, naturalmente a posse de bola botafoguense aumentou. Mas o panorama do jogo não passou por nenhuma mudança drástica. O time alvinegro seguiu com enormes dificuldades para ser criativo. Não conseguia acelerar as jogadas, bem cercado, com poucos passes de primeira, sem uma movimentação fora do previsto. Desde ali já começou a forçar a barra em cruzamentos de longe da área, já que os laterais eram incapazes de chegar ao fundo. Sem Luiz Henrique, nem mesmo uma jogada individual tinha. O Vitória, bem postado, pouco sofreu. E ainda valorizou a posse de bola. Quando tinha a pelota, não se livrava dela. Trocava passes cadenciados e fazia contra-ataques pontuais de perigo. Não chegou a ter uma chance clara para ampliar o placar, mas também não concedeu nenhuma. 1 a 0 justamente confirmado na ida para o intervalo.
Na arrancada do segundo tempo, finalmente o Botafogo conseguiu implementar uma pressão. Com as entradas de Tiquinho Soares, Eduardo e Mateo Ponte nos lugares de Júnior Santos, Tchê Tchê e Vitinho, o alvinegro carioca conseguiu melhorar seu ritmo ofensivo. Já não era tão vagaroso e estático. Executava uma marcação pós-perda de bola mais combativa e efetiva. O Vitória já se via na necessidade de defender em um 5–4–1. E sem a mesma tranquilidade de antes. Provavelmente foram os únicos minutos do jogo em que o glorioso realmente se aproximava de construir um gol de forma merecida. Ainda assim, para entrar na área só conseguia em cruzamentos e enfiadas pelo alto. Apesar da melhora de postura, taticamente ainda faltava o algo a mais. Faltava o punhal.
E com as mexidas de Thiago Carpini aos 10 minutos, o leão voltou para o jogo. Os ingressos de Carlos Eduardo e Gustavo Mosquito nos lugares de Matheuzinho e Janderson revigoraram a marcação e as transições ofensivas do Vitória. O Botafogo seguiu mais com a bola, mas já sem fazer desarmes constantes no campo de ataque e com muito menos velocidade ao ter a pelota. Já vivia só de cruzamentos desesperados. E o rubro-negro, além de se impor na área, ainda era perigoso nos ataques. Já não subia com tanta gente quanto antes, mas ainda assim seguia se aproximando de Alerrandro para ter escapadas de perigo. E conforme o alvinegro se expunha mais, como com a entrada de Óscar Romero no lugar de Gregore, os ataques do leão aumentavam de perigo. Contudo, faltou precisão ao time baiano para matar o jogo em uma escapada.
Apesar de um longo período de troca de ataques e poucas chances reais de gol, o Botafogo chegou vivo na reta final da partida. E sem nada a perder, se adiantou totalmente, enchendo o último terço ofensivo de jogadores. Isto, apesar da pobreza na construção de jogo, que era meramente bola cruzada de onde pudesse, era um fator interessante para atrair a sorte ao seu lado. E também tornava o Vitória refém de qualquer erro, já que àquela altura só defendia. O alvinegro não tinha repertório, não achava nada de forma elaborada, mas insistia. Merecia de fato empatar? Em teoria, não. Mas pelo volume, poderia. E, diferente do que a lógica indicaria, conseguiu. Aos 41 minutos, Matheus Martins cruzou, Tiquinho Soares cabeceou e Wagner Leonardo, azarado, desviou a bola para o fundo das redes. Já que o glorioso era incapaz de empatar, um gol contra o salvou da derrota. Falta de sorte tremenda do leão, que vinha sendo seguro. Mas estar atrás é correr riscos.
Nos acréscimos, o Botafogo desligou qualquer intenção defensiva e botou todo mundo na área. Cruzou, cruzou e cruzou. Não tinha lucidez, desesperado, mas insistia como podia em levantamentos. Esperava outro lance fortuito. Mas desta vez não veio. E a expulsão infantil de Tiquinho Soares praticamente no minuto final encerrou de vez as chances de uma virada. Parecia o jogo contra o Atlético Mineiro mais uma vez. Não era para o Botafogo vencer hoje. E, definitivamente, não era para o Vitória perder.
O time mais organizado no Estádio Nilton Santos e que, em função disso, seria o mais próximo de ser merecedor de um triunfo foi o Vitória. Defendeu bem, contra-atacou bem, administrou bem o andamento da partida. O Botafogo, desesperado pela situação na tabela e pelo próprio retrospecto recente, era exposto atrás e meramente insistente em cruzamentos na frente. Quem elaborou algo coletivamente foi o leão. Quem teve a vitória em mãos pela maior parte do tempo foi o rubro-negro baiano. Mas, por um lance fortuito no fim, o que prevaleceu foi o empate. Resultado que é melhor do que o rendimento do Botafogo e pior do que do Vitória. Ainda assim, o ponto somado certamente é mais valioso para o clube baiano que para o carioca. Com ele, o time de Thiago Carpini praticamente garante a permanência na elite do Brasileirão por mais um ano. Isto fora de casa. Já o glorioso certamente encara como dois pontos perdidos. Seja pelo fator mando de campo ou pela tabela, em que agora já não ocupa mais a primeira colocação. Ainda depende só de si para ser campeão porque enfrenta o líder Palmeiras na próxima rodada, mas tem uma sequência de jogos difíceis. Sobretudo, a essa altura, pega fogo o campeonato!
BOTAFOGO: A capacidade botafoguense de superar defesas organizadas, que já existiu em outros momentos da temporada, parece ter ido mesmo embora. Em um curto recorte de tempo, o alvinegro não foi incapaz de se impor diante das defesas de Cuiabá, Criciúma, Grêmio, Atlético Mineiro e Vitória. Estes pontos preciosos jogados no lixo explicam a perda da liderança do campeonato para o Palmeiras. Na noite de hoje, especificamente, alguns pontos foram comprometedores. Primeiramente, a transição defensiva. A incapacidade de recompor de forma segura foi evidente. Não seria absurdo se tivesse levado mais que um gol. Segundamente, pela falta de criatividade e repertório ofensivo. O time aparentemente só quer entrar na área cruzando. Foram 55 cruzamentos hoje. Único recurso. Muito pouco. E por fim, pela falta de maturidade. No cenário adverso, a perna tem pesado e a cabeça tem jogado contra. Ok, achou o gol de empate quase sem saber como no fim, mas já não tinha mais qualquer lucidez na criação de jogadas. Só apelava, apelava e apelava. A expulsão de Tiquinho Soares nos acréscimos diz muito. O tropeço de hoje não chega a ser surpresa, mas não é menos frustrante por isso. De novo o Botafogo perde o primeiro lugar do Brasileirão para o Palmeiras na 35ª rodada. E em meio a esta crise de identidade e confiança, irá enfrentá-lo na próxima partida, às vésperas da final da Libertadores, valendo a liderança. Panela de pressão.
VITÓRIA: O triunfo escapou no finalzinho, mas a partida diante do ex-líder Botafogo foi mais uma demonstração da competência do Vitória. Um time extremamente organizado, intenso e perigoso. Um conjunto que supera as limitações técnicas com coletividade. Na defesa, um 5–3–2 que virou 5–4–1 muito bem tramado. Compacto, bem encaixado, com coberturas ajustadas e uma proteção quase impecável da área. Ganhou quase tudo pelo alto. Teve um tremendo azar com o gol contra de Wagner Leonardo. Mas cedeu muito poucas chances ao adversário. No ataque, alta periculosidade. Transições objetivas e rápidas, usando dos pivôs de Alerrandro e subindo com bastante gente para poder ter opções de jogada. Não é um time que só sabe cruzar, ainda que o tento tenha saído assim. Tem variações, com diagonais, chutes de média distância e enfiadas. Poderia ter feito mais gols se caprichasse mais no acabamento das jogadas. E não abdicou de atacar em momento algum. Pelo rendimento, vencer teria sido merecido. Mas o empate, apesar de relativamente amargo por ter sido sofrido no finalzinho, está longe de ser um resultado ruim. É um ponto somado fora de casa diante do time que começou a rodada na liderança do campeonato. E que praticamente assegura a permanência do Vitória na Série A em 2025. Que arrancada do time de Thiago Carpini!
ARBITRAGEM: O catarinense Ramon Abatti Abel não comprometeu hoje. Tem seu histórico de polêmicas, mas nesta noite o jogo não teve nenhum lance extremamente duvidoso e o apitador não inventou nada. A expulsão de Tiquinho, apesar de rigorosa, é cabível pelo nível de reclamação do atacante botafoguense. Sobretudo, não passou pelo desempenho da arbitragem o andamento e o resultado da partida.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ BOTAFOGO: John; Vitinho (Mateo Ponte), Adryelson, Bastos e Cuiabano; Gregore (Óscar Romero), Tchê Tchê (Eduardo), Savarino e Almada (Matheus Martins); Júnior Santos (Tiquinho Soares) e Igor Jesus. Técnico: Artur Jorge.
🗒️ VITÓRIA: Lucas Arcanjo; Raúl Cáceres (Willean Lepo), Edu, Neris, Wagner Leonardo e Lucas Esteves; Ricardo Ryller (Machado), Matheuzinho (Gustavo Mosquito) e Willian Oliveira; Janderson (Carlos Eduardo) e Alerrandro (Léo Naldi). Técnico: Thiago Carpini.
⚽ Gols: Wagner Leonardo [contra] (Botafogo) | Alerrandro (Vitória)
👟 Assistência: Assistência: Matheuzinho (Vitória)
🟡 Cartões amarelos: Gregore, Mateo Ponte e Cuiabano/Arthur Jorge (Botafogo) | Willian Oliveira, PK, Lucas Esteves e Carlos Eduardo (Vitória)
🔴 Cartão vermelho: Tiquinho Soares (Botafogo)
👨⚖️ Árbitro: Ramon Abatti Abel (Santa Catarina)
🏟️ Local: Estádio Nilton Santos, Rio de Janeiro-RJ