INTER SEGUE EM BELA FASE
O time alternativo do São Paulo até saiu ganhando, mas o Internacional foi bastante superior no Morumbi e com autoridade venceu de virada por 3 a 1 pela 27ª rodada do Brasileirão 2024. A grande diferença da partida esteve na postura: o tricolor foi mais agressivo por 15 minutos e foi premiado com um gol; colorado foi mais agressivo por 75 e conquistou a vitória com direito a três tentos marcados.
A arrancada da partida foi um tanto quanto surpreendente. Por estar com a cabeça na Libertadores, o São Paulo poupou a grande maioria dos seus titulares. O Inter, por sua vez, chegou em grande fase e tinha maior foco na partida de hoje. Contudo, quem tomou a iniciativa e executou uma pressão inicial foi o time da casa, o tricolor paulista. Agressivo na marcação, o time de Zubeldía não deixou o conjunto visitante pensar em tramar uma jogada ofensiva. Roubava bolas e partia com muita volúpia em transição, acertando ótimas combinações nas entrelinhas e tendo profundidade pelas beiradas. Sem assimilar o que acontecia, o Inter apenas assistia na marcação, espaçado e frágil pelas beiradas, especialmente pela direita. Antes mesmo do jogo completar um minuto, Lucas Moura já havia obrigado Rochet a fazer um milagre. Aos cinco, Lucas cruzou e Luciano, o Lucigol, abriu o placar com justiça.
A partir dos 15 minutos, o Internacional começou a entrar no jogo e a pressão do São Paulo cessou. Em vantagem, o tricolor não via motivos para manter a agressividade e já pensava em marcar mais atrás, focado em transições. O colorado, por sua vez, passava a ter mais espaços para carregar e tocar a bola. Até por volta de 30 minutos, a primeira etapa ficou em um limbo sem ninguém realmente ter o controle das ações. Por mais que tivesse a bola, o Inter não encontrava as entrelinhas do São Paulo com tanta frequência e produzia menos do que costuma, levando perigo apenas das beiradas para dentro ou quando o adversário esboçava adiantar a marcação e se espaçava, permitindo enfiadas. O tricolor, por sua vez, mantinha a segurança sem a bola, mas já achava poucas transições, com mais campo a percorrer e uma marcação mais intensa do adversário. Ainda assim, mesmo sem os dois times jogarem tudo que são capazes, Bobadilla acertou uma bola no travessão do lado são-paulino e Jandrei fez defesas importantes para evitar o empate alvirrubro.
Contudo, os últimos 22 minutos do primeiro tempo (os 15 finais mais os 7 de acréscimo) foram de uma intensa pressão do Internacional. O colorado foi gostando do jogo pelos momentos anteriores e sentiu confiança para ser agressivo. Adotou uma marcação alta digna de lembrar dos melhores momentos de 2023, quando quase foi campeão da América. Simplesmente não deixou o São Paulo respirar. E a equipe de Zubeldía sucumbiu. Não teve velocidade e movimentação para sustentar a saída de bola, prendeu demais a pelota e foi desarmada o tempo todo. Com estas recuperações frequentes no campo de ataque, o colorado teve mais espaços para tramar e o fez com competência. Como nos jogos anteriores, com passes rápidos e de primeira, bom apoio e variação de jogadas, tendo enfiadas, tendo cruzamentos, tendo tabelas. Após a insistência, buscou o empate aos 41 minutos, com lindo chute de Bruno Gomes após Thiago Maia recuperar sobra de cruzamento e dar bela assistência. Pelo começo melhor do time da casa e término superior dos visitantes, empate coerente na ida ao intervalo.
Na volta do segundo tempo, havia uma incógnita: se repetiria a pressão inicial do São Paulo ou haveria continuidade do momento superior e até certo ponto avassalador do Internacional? A realidade é que não foi nem uma coisa, nem outra, mas se aproximou mais do panorama favorável ao colorado gaúcho. O tricolor paulista ficou mais com a bola nos minutos iniciais, mas longe de construir qualquer jogada de perigo, sem mobilidade no meio, com passes lentos e cruzamentos improdutivos. O Inter, por sua vez, mantinha a marcação agressiva, ainda que não apenas na saída de bola adversária como antes. Com isso, continuou tendo chances para transições rápidas. Achava contra-ataques em que inclusive tinha mais jogadores que o São Paulo no campo de ataque. Foi questão de tempo para virar o jogo. Já aos oito minutos, logo um lance após Wesley perder grande chance, Thiago Maia fez o segundo gol colorado. E aos 17, em mais uma roubada no campo ofensivo, Alan Patrick completou o placar com uma linda finalização da entrada da área. Um Inter envolvente em transições rápidas e objetivas.
Na segunda metade da etapa final, com a desvantagem de dois gols, naturalmente o São Paulo ficou mais com a bola. Contudo, na prática, o cenário do jogo praticamente não mudou. Na realidade, ficou ainda pior para o próprio tricolor paulista. Zubeldía empobreceu ainda mais a construção do time ao tirar Lucas e Bobadilla e ficar com dois centroavantes, Calleri e André Silva. Não havia movimentação por dentro, o time não conseguia reter a posse de bola no campo ofensivo. Ou trocava passes entre os zagueiros ou tentava algo individualmente pelas beiradas. Nem cruzar conseguia. Pelo contrário, seguia sendo desarmado pelo Internacional o tempo todo e sofrendo contra-ataques. Mesmo com a grande vantagem, o time de Roger Machado não tirou o pé na pressão sem a bola e flertou com marcar ainda mais gols, pois seguia criativo. Não estacionou o ônibus atrás, teve confiança para seguir ofensivo. Com isso, Rochet não precisou fazer uma defesa sequer. O São Paulo não esboçou qualquer reação na reta final da partida e quem ficou mais próximo de marcar mais gols foi o próprio Inter. Categórico.
Venceu quem priorizou a partida e, por consequência disso, foi amplamente superior. Simples. O São Paulo poupou quase todo o time titular para priorizar a Libertadores. O Inter, em grande fase, foi com força máxima e total interesse em vencer para encostar no G6. O que saiu do padrão foi o começo superior do tricolor, mas o restante do jogo de agressividade, excelente marcação e construção dinâmica de jogadas por parte do colorado foi o esperado. O time de Roger Machado tem mostrado cada vez mais repertório e maturidade para sair de cenários adversos. O de Zubeldía, por sua vez, é punido por um risco que já sabia correr. O São Paulo volta a perder no Morumbi pelo Brasileirão após três meses e vê os times de fora do G6 se aproximarem. O Inter vence a quarta seguida e cola justamente neste pelotão. Campeonato pegando fogo em todas as partes da tabela!
SÃO PAULO: Em função do foco no jogo decisivo de quarta-feira contra o Botafogo pela Libertadores, o São Paulo optou por poupar praticamente todos os titulares diante de um bom adversário e pagou o preço caro por isto. O começo até foi bom, surpreendente, com agressividade e boa construção justamente dos poucos titulares em campo, mas a grande maioria do jogo foi de lentidão, pouca mobilidade e total controle do Internacional na marcação. Além dos méritos do rival, foram diversos erros técnicos cometidos pelo tricolor que facilitaram a parada, com passes errados, desarmes sofridos e botes precipitados. Isto sem falar na terrível transição defensiva de todo o coletivo. Não apenas a derrota, mas também a diferença de gols foi merecida pelo pouco que jogou o São Paulo. É natural que a cabeça são-paulina esteja no maior torneio do continente, mas ainda não é possível abandonar o Brasileirão, pois uma futura saída do G6 pode ser um castigo. No momento, o tricolor é quinto colocado, apenas dois pontos acima do sétimo. Alerta ligado.
INTER: Mais uma vez o Inter conquistou a vitória porque foi maduro e porque jogou bom futebol. Começou desligado, é verdade, e saiu perdendo com justiça. Contudo, juntou os cacos e foi buscar a virada na base da agressividade e da boa construção de jogadas. Não se desesperou, marcou adiantado com competência, botou a bola no chão e criou frequentes chances com objetividade, velocidade e entrosamento. Foram ótimas enfiadas, tabelas e infiltrações. Fernando, Thiago Maia, Alan Patrick, Borré, Bernabei e Bruno Gomes jogaram um belo futebol. Com autoridade e confiança, o time de Roger Machado cumpriu com a obrigação de superar a equipe praticamente reserva do São Paulo lá dentro do Morumbi. Demonstração de força, de caráter e de continuidade da evolução. O Inter chega a quatro vitórias seguidas no campeonato, cinco nos últimos seis jogos, dos quais não perdeu nenhum. O momento anima o torcedor. E o colorado, por mais que continue em oitavo no Brasileirão, já está a apenas dois pontos do G6 e quatro do G4.
ARBITRAGEM: A arbitragem não cometeu erros graves, mas abriu margem para polêmica. O tento do São Paulo surgiu de uma anulação de gol do Internacional muito polêmica. O árbitro Ramon Abatti Abel marcou uma falta inexistente de Borré e logo mandou o jogo seguir, algo sem o menor cabimento. O que poderia haver no lance seria um impedimento do atacante colorado, mas isso demandaria uma revisão com linhas sendo traçadas. Sem acontecer isso, surge o contra-ataque são-paulino, em que aí sim, tudo foi legal e a bola acabou na rede. Fora isso, um jogo tranquilo tecnicamente para a equipe arbitral, sem mais polêmicas.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ SÃO PAULO: Jandrei; Igor Vinícius, Ferraresi, Ruan e Michel Araújo; Marcos Antônio (Liziero), Bobadilla (Galoppo), Luciano (Calleri), Lucas Moura (William Gomes) e Erick (Rodrigo Nestor); André Silva. Técnico: Luis Zubeldía.
🗒️ INTER: Rochet; Bruno Gomes, Mercado (Rogel), Vitão e Bernabei; Fernando (Rômulo), Thiago Maia (Bruno Henrique), Alan Patrick, Gustavo Prado (Wanderson) e Wesley; Borré (Enner Valencia). Técnico: Roger Machado.
⚽ Gols: Luciano (São Paulo) | Bruno Gomes, Thiago Maia e Alan Patrick (Inter)
👟 Assistências: Lucas Moura (São Paulo) | Thiago Maia e Gustavo Prado (Inter)
🟡 Cartões amarelos: André Silva, Erick, William Gomes, Calleri e Rodrigo Nestor (São Paulo) | Wesley (Inter)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Ramon Abatti Abel (Santa Catarina)
🏟️ Local: Estádio do Morumbi, São Paulo-SP