IMPORTANTE VANTAGEM VERMELHA

Jonathan da Silva
8 min read4 days ago

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Na tão esperada final do Gauchão 2025, quem sai na frente é o Internacional. Em plena Arena do Grêmio, o colorado venceu de forma contundente por 2 a 0 e leva importante vantagem para a decisão no Estádio Beira-Rio. Na prática, o Gre-Nal 445 foi muito parecido com o 444, mas desta vez o time de Roger Machado não foi só superior, foi também vencedor. Envolveu o rival no primeiro tempo e administrou bem o resultado no segundo. Do outro lado, nada deu certo para o tricolor, seja tática, técnica ou mentalmente. Ao menos, se é que isto ameniza algo, evitou uma goleada em casa, o que tornaria a situação basicamente irreversível.

Nos primeiros 15 minutos de confronto em Porto Alegre, não houve praticamente nada de futebol. A grande combatividade física de ambas as partes esteve acompanhada de pouca lucidez com a pelota. O Grêmio, mandante, até tentava tomar a iniciativa com a posse de bola, mas só progredia no campo através de lançamentos pelo alto para os pontas. O Inter, por sua vez, não fazia diferente. Também não conseguia colocar a esfera no chão e contra-atacar de maneira trabalhada como o esperado, vivendo de bolas longas que não costuma usar, ainda mais por Enner Valencia não ser um centroavante de pivôs. Os dois times ficaram presos nas pressões feitas pelo rival na zona intermediária. O tricolor, mais acostumado com esta verticalidade, pareceu ligeiramente mais confortável porque conseguia algumas chegadas à linha de fundo. Todavia, ninguém passou perto de criar alguma chance perigosa de gol naquele período. Pobreza comum em Grenais, mas inesperada para este em específico.

Passado o primeiro terço da etapa inicial, a batalha física arrefeceu e o futebol finalmente começou a aparecer. Mas, curiosamente, foi por parte do Internacional e não do Grêmio, que era quem tomava a iniciativa com a posse de bola. O tricolor caiu na mesma armadilha do Gre-Nal anterior, onde parecia estar propondo ações, mas na verdade apenas estava sendo atraído para sofrer contra-ataques. Apesar de ter a pelota, o time de Quinteros fazia uma saída de jogo muito previsível no 2–3–2–3, com pouca mobilidade, passes laterais entre os defensores e muitos lançamentos para os pontas, sem sair da pobreza que já apresentava no comecinho de partida. O colorado, já em um bloco mais médio no 4–4–2, se postou bem, recuperou a pelota com frequência e finalmente soube colocá-la no chão para contra-atacar. Com uma pressão já desorganizada por parte do imortal e mais mobilidade própria, o conjunto vermelho ativou o diferencial Alan Patrick e passou a fazer ótimas combinações em transição. Fez rigorosamente a mesma coisa que no clássico anterior, só que desta vez com fome de decisão e eficiência. Na primeira chance perigosa, em drible desconcertante de Vitinho sobre Pavón e cruzamento com desvio de Bruno Henrique, Carbonero apareceu no segundo pau para abrir o placar aos 22 minutos. Na segunda oportunidade, já aos 25, o ponta colombiano deu boa enfiada para Bernabei, que cruzou e o camisa 10 colorado apareceu para ampliar em finalização de qualidade do lado oposto. Quando a disputa se tornou estratégica e técnica, a equipe de Roger Machado não demorou para se impor. Recomposição pavorosa dos donos da casa, expondo absolutamente a zaga a uma situação de equilíbrio numérico. Alegria vermelha em plena Arena do Grêmio.

Com o duro 2 a 0 contrário no placar, o Grêmio até tentou ser ainda mais ofensivo no restante da primeira etapa, mas, além da marcação do Internacional, seus próprios erros impediram um avanço real. Além de manter as bolas longas que cada vez faziam menos sentido, o tricolor começou a também errar passes já na saída de bola. O abalo emocional atrapalhava aquilo que já no placar zerado era uma construção paupérrima de jogadas. O time de Quinteros, na prática, só teve alguns chutes de fora da área e cruzamentos rifados até o intervalo. Muito pouco para esboçar uma reação, já que não se via melhora anímica, técnica ou tática. O colorado, em contrapartida, até diminuiu a pressão e apareceu mais postado no próprio campo, mas ainda conseguiu outras transições bem tramadas. Diminuiu o volume, mas manteve a naturalidade na elaboração. Um entrosamento digno de fazer o antes contestado Braian Aguirre ter uma chance perigosíssima defendida por Tiago Volpi. E Anthoni, o arqueiro vermelho, sequer trabalhou. A equipe de Roger Machado esteve, naquele momento, mais próxima de impor uma goleada que ter a vantagem descontada. Contraste imenso de desempenho no primeiro dos quatro tempos da decisão.

Na volta para o segundo tempo, o Grêmio ao menos apresentou uma evolução de postura, com uma pegada condizente com quem procurava reagir. O tricolor conseguiu imprimir uma espécie de pressão por cerca de 20 minutos. Não evoluiu significativamente na parte tática ou técnica, mas a partir da marcação alta e de mais velocidade na troca de passes, conseguiu ter volume. Chegou mais vezes perto da área pelos lados, o que aumentou a periculosidade dos insistentes cruzamentos. Conseguiu uma sequência de escanteios. Mesmo de forma “feia”, o imortal entrou na área e poderia ter descontado no placar se finalizasse com mais precisão. O que também colaborou para aquele panorama foi que Inter entrou em um ritmo abaixo do necessário. Se “escorou” na vantagem e diminuiu a combatividade e a velocidade. Na defesa, permitiu inversões e levantamentos do rival com pouca pressão, sem a devida proteção para a zaga. No ataque, apenas prendeu bolas sem objetividade, sem compactação e permitiu contra-ataques perigosos. Ainda assim, mesmo na única fase de rendimento ruim na partida, o colorado resistiu pela atuação praticamente perfeita da dupla de zaga, com a ajuda do volante Fernando. A quantidade de cortes providenciais por cima e por baixo, de desarmes e de finalizações bloqueadas realizadas pelos defensores vermelhos foi impressionante. Mesmo com as chegadas insistentes do Grêmio, Anthoni não fez uma defesa difícil sequer. Isto explica de forma cristalina o que foram as atuações de Vitão e Victor Gabriel nesta tarde. Resistência crucial para os visitantes.

Todavia, a partida voltou a se estabilizar antes mesmo da metade da segunda etapa. Dali em diante, o Internacional fez uma administração quase impecável da vantagem e Grêmio não criou mais nada de perigoso. O tricolor até passou para um 4–3–3 com a entrada de Edenílson no lugar de Monsalve, mas isto só deixou o time ainda mais previsível. A inexistência no corredor central se acentuou e até os avanços pelas beiradas já não foram mais os mesmos. Isto porque o colorado também mexeu e foi para um 4–1–4–1 com as entradas de Ronaldo e Luis Otávio. A equipe de Roger Machado passou a fazer dobras mais consistentes nas laterais e tirou o impacto de Amuzu e Cristian Olivera. Além disso, o conjunto visitante voltou a ter vida nos contra-ataques e foi, surpreendentemente, o único que teve chance clara de gol naquela reta final. Borré e Wesley entraram bem, prendendo bolas, pressionando na marcação e arrancando com velocidade. O ponta colorado, quase no último minuto, fez uma diagonal e entrou com bastante liberdade na área. Só que, assim como no Gre-Nal 444, pecou na finalização na hora de tirar o 10 e não transformou o resultado em goleada. Ainda assim, o que certamente foi mais importante para o torcedor alvirrubro, é que houve a garantia do triunfo sólido com bastante segurança. O Inter apresentou a maturidade que se deve ter em uma final de campeonato. O imortal não teve repertório para sair da improdutividade.

O Internacional sai da Arena do Grêmio com uma grande e justa vantagem na final do Gauchão. Superior, o colorado fez valer o trabalho mais longo e consistente de Roger Machado em relação ao de Gustavo Quinteros, ainda recente e cambaleante. O time visitante se impôs sem sentir a barreira de jogar fora de casa. Enquanto um lado esteve bem postado e marcou bem, outro passou por um “Deus nos acuda” a cada recomposição, exposto. Um botou a bola no chão e tramou bem as transições, outro pareceu estar no futebol inglês dos anos 80 e empilhou ligações diretas e cruzamentos. Um contraste tático e técnico impressionante para um clássico tão aguardado por azuis e vermelhos pela representatividade histórica que tem esta edição do estadual. Agora, com este resultado, é quase tudo questão de maturidade para o clube do Beira-Rio voltar a ser campeão estadual. Coisa de não “sentar” no agregado, de não contar vitória antes do tempo, de não subestimar uma reação que o rival certamente tentará, mobilizado para honrar sua grandeza. Se repetir a mentalidade de hoje, o Inter tem tudo para levantar o troféu em casa.

GRÊMIO

A impressão que fica é que Gustavo Quinteros não aprendeu nada com o Gre-Nal anterior. Apesar das novas peças, o tricolor repetiu os mesmos problemas estruturais daquela partida na Arena. Na defesa, uma peneira em cada ataque sofrido. Incompetente para matar as jogadas na origem, o imortal expôs a zaga e fez uma recomposição sofrível. No ataque, a construção de jogo foi paupérrima. Zero elaboração pelo meio. Zero combinação de passes. Zero inspiração técnica. Zero solução individual. O time gremista viveu basicamente de “chuveirinho”, ligações diretas e chutes de fora da área. Ok, houve uma garra temporária que até gerou um momento promissor no começo do segundo tempo, mas para vencer uma final é preciso também de tática e técnica, o que esteve muito em falta para a equipe azul hoje. Para ser octacampeão gaúcho, o Grêmio terá que mudar da água para o vinho no Beira-Rio. Vencer por dois ou três gols de diferença só será possível com uma evolução radical, com um rendimento quase perfeito que ainda não foi apresentado nesta temporada. No entanto, tudo é possível no futebol e a grandeza exige que o clube ainda acredite na conquista épica.

INTER

O colorado praticamente repetiu a estratégia que o fez ser superior já no Gre-Nal anterior, mas desta vez com o acréscimo decisivo da eficiência. O time de Roger Machado foi francamente superior no primeiro tempo, sofreu um pouco no começo do segundo e depois administrou muito bem a vantagem. Mostrou a organização, a inspiração e a maturidade que se esperam para uma final. Sem bola, se postou bem e marcou com garra. Soube dar a impressão de estar “abrindo mão” da posse para poder explorar as fragilidades do rival. Todos os homens do sistema defensivo vermelho estiveram em grande tarde. Além disso, com a pelota, houve muita fluência em cada transição ofensiva. Velocidade, movimentação, qualidade técnica. Alan Patrick mostrou porque é diferenciado não só para a equipe, mas para o futebol sul-americano. Sem o desgaste físico, talvez o Inter pudesse até ter goleado em plena Arena do Grêmio, pois perdeu chances reais para isso mesmo com a queda de ritmo do 2 a 0 em diante. Sobretudo, o alvirrubro sai com uma vantagem muito grande da ida da final do Gauchão. Para ser campeão, “só” precisa não fazer um fiasco em casa, onde está 100% no ano. A seca colorada no estadual nunca esteve tão próxima do fim.

ARBITRAGEM

Apesar de ter sido caseiro nos lances “menores”, o catarinense Ramon Abatti Abel não comprometeu no Gre-Nal 445. Inverteu várias faltas e lances de linha de fundo, mas não cometeu nenhum erro capital. Como Villasanti saiu de campo sem receber um cartão amarelo é uma grande incógnita da bola. Contudo, o gol de Arezo foi bem anulado por impedimento e os pênaltis pedidos pelo Inter não foram lances claros. Desta forma, por não ter interferido diretamente no resultado e não ter dado margem para confusão, pode-se dizer que foi uma arbitragem positiva na Arena do Grêmio.

FICHA TÉCNICA

🗒️ GRÊMIO: Tiago Volpi; João Pedro, Gustavo Martins, Wagner Leonardo e Lucas Esteves (Luan Cândido); Villasanti (Arezo), Camilo (Dodi), Monsalve (Edenílson), Cristian Olivera e Pavón (Amuzu); Braithwaite. Treinador: Gustavo Quinteros.
🗒️ INTER: Anthoni; Braian Aguirre, Vitão, Victor Gabriel e Bernabei; Fernando, Bruno Henrique (Ronaldo), Alan Patrick (Borré), Vitinho (Luis Otávio) e Carbonero (Wesley); Enner Valencia (Gustavo Prado). Treinador: Roger Machado.
🧮 Resultado: Grêmio 0×2 Inter
Gols: Carbonero e Alan Patrick (Inter)
👟 Assistências: Bruno Henrique e Bernabei (Inter)
🟡 Cartões amarelos: Gustavo Martins (Grêmio) | Bernabei e Anthoni (Inter)
🔴 Cartões vermelhos:
👨‍⚖️ Árbitro: Ramon Abatti Abel (Santa Catarina)
🏟️ Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre-RS

BOLA DE OURO DO JOGO: Alan Patrick/Inter | FOTO: Ricardo Duarte/S.C. Internacional

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Jonathan da Silva
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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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