IGUALDADE ENTRE TRICOLORES MELHOR PARA O LADO GAÚCHO
No duelo entre tricolores pela 32ª rodada do Brasileirão, Fluminense e Grêmio ficaram no empate por 2 a 2 no Maracanã. O equilíbrio tático marcou o duelo movimentado no Rio de Janeiro. O tricolor carioca foi até ligeiramente melhor, mas o gaúcho foi mais eficiente nas poucas chances que teve. Igualdade no placar que fica melhor para o time de Renato Portaluppi, que não perde o confronto direto fora de casa e permanece à frente da equipe de Mano Menezes.
Toda a primeira metade da etapa inicial teve um roteiro muito claro: o Fluminense tentava atacar com o domínio da posse de bola e o Grêmio defendia sem fazer questão de ter a pelota, esperando um contra-ataque. O problema, e que tornou a partida chata naquele período, foi que ninguém conseguiu realmente construir algum ataque interessante, uma chance perigosa de gol sequer.
O Flu porque não tinha dinamismo para superar a boa retranca do Grêmio, que veio em um 4–5–1 muito próximo da própria área, com Edenílson entre os volantes, não adiantado. Por dentro, nada rolaria. Mano mandou seus comandados tentarem pelos lados, mas por ali também faltou mais movimentação e precisão para chegar ao fundo do campo. O time da casa só entrava na área cruzando, mas nem isso conseguia fazer muito. Extremamente improdutivo.
Por outro lado, a equipe gaúcha também não achava contra-ataques. Primeiro por só ter três peças ofensivas e elas estarem pouco próximas. Segundo, pela falta de um começo inteligente de jogadas, com um passe que quebrasse linhas. Terceiro, porque o tricolor carioca marcou bem no campo de ataque e recuperou a posse quase sempre por lá, com ocupação de espaços e botes precisos. De diferentes formas, uma anulava o outro. E nada acontecia. Reflexo de times que têm limitações estruturais e por isso estão na segunda página da tabela.
Apenas algum lampejo poderia tirar a predominância da monotonia no Maracanã. E quem o teve primeiro foi o Grêmio. O Fluminense marcava alto com competência, mas tinha sua zaga, que não é jovem, bem adiantada, o que traria problemas em caso de transição defensiva. E aos 25 minutos, finalmente o time de Renato achou um contra-ataque. Superou a marcação alta do Flu com Reinaldo, que tocou para Aravena escapar pela ponta. O chileno conduziu bem a bola, em uma velocidade que permitisse o lateral esquerdo voltar para a jogada, ultrapassando pela beirada. Primeiro apoio volumoso e com alternativas de passe curto para o imortal. Reinaldo chegou chutando. Fábio não defendeu com firmeza e no rebote, livre na pequena área, Braithwaite abriu o placar. Primeiro contragolpe com mais gente do Grêmio e a cobertura do Fluminense ruiu, sem encaixes, sem velocidade e sem atenção. O visitante saiu na frente.
Após o gol tricolor gaúcho, o jogo basicamente seguiu no roteiro em que estava antes, já que a anulação de lado a lado favorecia o Grêmio por ter a vantagem. Contudo, um detalhe mudou e colocou pimenta na partida. O time de Renato caiu em uma armadilha silenciosa de Mano Menezes. Ao ver que era possível contra-atacar com volume, a equipe visitante tentou isso mais vezes. Levou mais perigo, é verdade, mas sem contundência na hora de concluir as jogadas. Contudo, também cedeu os espaços que o Fluminense não estava achando. O Grêmio já não tinha mais dez jogadores na frente da área. Dava brechas. Tinha uma segunda linha fragilizada. E foi nesta brecha que Jhon Arias infiltrou e finalizou para empatar o jogo aos 42 minutos, em uma mistura de lampejo individual com oportunismo coletivo de explorar estes espaços cedidos pelo adversário que “ousou demais”. Do lado gaúcho, além da queda na armadilha, o goleiro Marchesín também poderia ter feito coisa melhor em um chute relativamente fraco. Mas não fez e o jogo foi ao intervalo com um justo empate por 1 a 1 entre os tricolores.
A volta para o segundo tempo recolocou o estágio da partida em algo semelhante ao que era pouco antes do gol do Grêmio, em que o Fluminense procurava propor pelas beiradas e o tricolor gaúcho contra-atacava sem muitos jogadores, justamente para não se expor na defesa. Teoricamente o cenário favoreceria a anulação de um ao outro novamente, mas o time da casa impediu a monotonia do jogo com uma postura muito mais agressiva. Não apenas sem a bola, na marcação adiantada, mas especialmente com ela. Se mexendo mais, colocando Ganso, Keno e Arias dentro do jogo, construindo jogadas, se encontrando, chegando ao fundo. Foram alguns bons cruzamentos e diagonais até o gol da virada, de Kauã Elias, aos 20 minutos, após cobrança de escanteio de Lima. E o tiro de canto só veio porque o tricolor carioca roubou uma bola na saída gremista e arriscou de fora da área para defesa de Marchesín. Flu merecidamente passou à frente.
Nos minutos seguintes e sem grande surpresa, foi a primeira vez no jogo em que era o Grêmio quem propunha e o Fluminense quem reagia. Natural pelo resultado. Contudo, mais uma vez faltou dinamismo ao time gaúcho. Apesar de ter a bola, a circulação dela acontecia em passes lentos, horizontais, sem grande movimentação das peças ofensivas e, por consequência, com dependência de cruzamentos e jogadas individuais. Renato até tentou ousar, colocando primeiro Cristaldo no lugar de Edenílson para ir ao 4–2–3–1 e depois Arezo no lugar de Dodi, fora outras trocas, para ir a um 4–1–3–2. Mas o Fluminense não sofria para marcar em seu 4–4–2, depois 4–1–4–1, bem compacto. Não havia alguma iniciativa gremista que bagunçasse a estrutura do Flu. Que ainda escapava pelas costas de João Pedro com perigo. Nonato teve uma chance claríssima para matar o jogo aos 36 minutos, mas desperdiçou. Deixou o conjunto gaúcho podendo usar de sua imortalidade. E a bola pune. A vitória parecia vir sem sufoco para o time carioca. Mas um erro sempre pode estragar tudo. E ele veio. Tardou, aconteceu aos 50 minutos do segundo tempo, mas veio. Fábio, no alto de sua experiência, cometeu um pênalti de garoto sobre Arezo, em um dos cruzamentos forçados pelo Grêmio. Na cobrança, aos 53 minutos, Reinaldo bateu com perfeição e empatou o jogo. Castigo tremendo para um Fluminense que fazia um segundo tempo bastante seguro. Mas que vacilou na frente e atrás, e pagou caro.
Empate cabível no Maracanã. O Fluminense jogou mais, mas o Grêmio foi mais eficiente. O time da casa buscou mais a vitória e criou mais oportunidades, realmente melhor no coletivo, mas o visitante foi efetivo nas poucas chances que construiu e que recebeu de presente. O tricolor gaúcho não venceu por suas limitações coletivas já conhecidas. O carioca não venceu por novamente cometer erros graves em momentos cruciais. Pensando por este lado, ninguém mereceu vencer. E o empate é melhor para o time de Renato Gaúcho, não só por ser fora de casa, mas por seguir à frente do de Mano Menezes na tabela e com distância confortável para o Z4.
FLUMINENSE: Empate com sabor de derrota para o Fluminense. Apesar de não ter jogado de forma convincente, o tricolor carioca foi ligeiramente melhor que o Grêmio no coletivo e teve a vitória em mãos até os acréscimos do segundo tempo, quando Fábio cometeu um pênalti grosseiro e pôs tudo a perder. O time de Mano Menezes demorou a encontrar formas de superar a retranca gaúcha, mas conseguiu ao longo do jogo e por isso mereceria um bom resultado. Mas quem comete um vacilo gravíssimo na defesa quando nem sofria para segurar a vantagem não merece mesmo vencer. O Grêmio nem pressionava, mas o Flu fez questão de dar a chance do empate de presente. Amargo para os mais de 30 mil presentes no Maracanã. Um triunfo que poderia praticamente salvar o tricolor carioca do rebaixamento virou um empate dentro de casa em um confronto direto que mantém o time próximo da zona da confusão, apenas três pontos acima do Z4. A tranquilidade bateu na porta do Fluminense, mas ele mandou embora.
GRÊMIO: O Grêmio foi apenas mais do mesmo em termos de desempenho, mas contou com a velha imortalidade para escapar da derrota no Maracanã. Defensivamente, a estrutura inicial foi boa, com compactação, mas com o tempo surgiram falhas e buracos provenientes de mudanças de cenário no jogo, que ocasionaram os dois gols merecidamente sofridos. Do lado ofensivo, houve sempre a dúvida entre contra-atacar com pouca gente e ser seguro atrás ou apoiar com mais gente e correr riscos. Nada esteve muito claro para o tricolor gaúcho, o que em muitas ocasiões leva um time à derrota. Mas o Grêmio de Renato Gaúcho é matreiro. Não é bobo. Não desperdiça as oportunidades que a vida dá. No primeiro ataque em que apoiou com volume, teve a primeira chance de gol e já foi eficiente para abrir o placar. No finalzinho, quando tinha dificuldade para criar algo, um presente de Fábio colocou o imortal na marca do pênalti. E Reinaldo não jogou fora a chance do empate. É isto. O Grêmio pode até jogar um futebol pobre, mas sabe maximizar seus resultados aproveitando as oportunidades que o jogo oferece. É deste caráter que busca este pontinho valioso em confronto direto fora de casa contra o Fluminense. E com este pontinho, chega aos 39 no Brasileirão, em 12º, muito perto de garantir a permanência na elite.
ARBITRAGEM: O jovem paulista Matheus Delgado Candançan fez uma partida bastante segura no Maracanã. Os três gols com bola rolando foram corretamente validados e o pênalti de Fábio em Arezo, em uma joelhada clara, que gerou o quarto gol, também foi muito bem marcado. Os cartões, apesar de muitos, foram cabíveis pelas reações demasiadas dos jogadores em lances em que o apitador sequer havia errado. Uma boa arbitragem no Maracanã.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ FLUMINENSE: Fábio; Samuel Xavier, Thiago Silva, Thiago Santos e Diogo Barbosa; Martinelli (Bernal), Lima (John Kennedy), Ganso (Nonato), Arias e Keno (Marquinhos); Kauã Elias (Cano). Técnico: Mano Menezes.
🗒️ GRÊMIO: Marchesín; João Pedro, Rodrigo Ely, Jemerson e Reinaldo; Villasanti, Dodi (Arezo), Edenílson (Cristaldo), Soteldo (Monsalve) e Aravena (Nathan Fernandes); Braithwaite (Diego Costa). Técnico: Renato Gaúcho.
⚽ Gols: Arias e Kauã Elias (Fluminense) | Braithwaite e Reinaldo (Grêmio)
👟 Assistências: Ganso e Lima (Fluminense)
🟡 Cartões amarelos: Martinelli, Ganso, Kauã Elias, Fábio, Arias e Thiago Santos (Fluminense) | Soteldo, Braithwaite, Reinaldo e Villasanti (Grêmio)
🔴 Cartão vermelho: Felipe Melo (Fluminense)
👨⚖️ Árbitro: Matheus Delgado Candançan (São Paulo)
🏟️ Local: Estádio Maracanã, Rio de Janeiro-RJ