IGUALDADE EM JOGAÇO NO BEIRA-RIO
De atrasado, apenas a rodada em que o jogo foi realizado, a 17ª do Brasileirão. Em campo, tudo à frente do tempo, rápido, intenso, de tirar o fôlego. Internacional e Flamengo fizeram um dos melhores jogos do campeonato, quiçá o melhor até aqui. Um 2 a 2 que poderia tranquilamente ter sido 4 a 4 ou mais. E que qualquer equipe poderia ter vencido pela quantidade de chances reais de gol criadas dos dois lados. No geral, o empate se faz justo já que o rubro-negro foi melhor no primeiro tempo e o colorado no segundo. Com isso, a igualdade no confronto direto fica com sabor melhor para o time de Filipe Luís, que permanece no G4 e ainda segura o adversário fora de casa mesmo poupando jogadores importantes. Mas certamente ninguém sai decepcionado pelo nível apresentado.
O começo de partida no Beira-Rio foi para recordar a velha história da pressão inicial que o Internacional costuma fazer e não vinha fazendo tanto. O Flamengo até tomou a iniciativa com a bola, mas o time de Roger Machado fez uma marcação alta bastante agressiva. A ideia rubro-negra era atrair o colorado para contra-atacar, mas não teve a devida movimentação e velocidade nos passes na saída para o jogo, ficando refém do combate feito pelas peças ofensivas vermelhas. Foram algumas recuperações de bola do Inter no campo de ataque e chances perigosas de gol criadas, como aquela finalização de Borré que Varela cortou praticamente de cima da linha do gol. Contudo, apesar da arrancada colorada, o rubro-negro resistiu e manteve o 0 a 0.
Com a proximidade dos dez minutos do primeiro tempo, o jogo entrou em uma fase de trocação muito interessante. Um time atacava, o outro respondia. Ambos agressivos na marcação e objetivos com a bola no pé. O Inter naquele expediente de recuperar da intermediária para a frente e agredindo com perigo das beiradas para dentro, chegando ao fundo e cruzando. Tabata acertou uma bola no travessão neste panorama. O Flamengo, por sua vez, passou a acertar as transições. Começou a tirar proveito do adiantamento colorado para jogar nas costas da defesa, principalmente com Bruno Henrique. Neste expediente, com o falso 9 arrancando e os jogadores de beiradas aparecendo para dar opção, o rubro-negro também teve ótimas chances perdidas.
Todavia, a etapa inicial ainda teria mais uma mudança de rumos. A partir da metade do primeiro tempo, o Flamengo tomou o controle do jogo. O Internacional, sem o mesmo fôlego, já não sustentava mais a mesma marcação alta, ainda adiantado, mas já sem a mesma efetividade nos combates. Com isto, o time de Roger seguiu exposto atrás para jogadas diretas bem usadas pelo rubro-negro. Mas não foi apenas isto. A vantagem flamenguista também se deu pelo domínio que passou a ter no meio-campo, com mobilidade, passes rápidos, aproveitando estes espaços dados pela ineficiente marcação colorada. Com isso, a equipe de Filipe Luís não avançava apenas de forma vertical, mas também trabalhando bem por dentro e tendo profundidade pela direita, com Gonzalo Plata, Gerson e Varela combinando bem. Nos últimos minutos antes do intervalo, a superioridade do Flamengo se fez valer no placar. Numa jogada curiosamente pelo lado oposto, não o mais explorado pelo rubro-negro, Thiago Maia enfiou a mão na bola e cometeu um pênalti grosseiro, o terceiro consecutivo dele em jogos colorados. Se o cenário já era delicado para o time da casa, um erro individual surgiu para comprometer de vez. Na cobrança, Alcaraz bateu com muita segurança e abriu o placar para o clube carioca aos 47 minutos. Por ter sido superior durante mais tempo da primeira etapa, merecido o Flamengo ir ao intervalo em vantagem.
A arrancada da segunda etapa manteve o ritmo frenético de mudanças do panorama da partida. Saiu do controle de meio-campo do Flamengo para algo semelhante com a troca de golpes vista antes da metade da etapa anterior. Contudo, com um roteiro diferente. Desta vez com o Internacional tendo mais a bola e ele tentando atrair o rubro-negro para fora do lugar e explorar espaços. Criou boas oportunidades assim, mas seguiu sem converter e não empatou. O time de Filipe Luís, por sua vez, seguiu com seus contra-ataques verticais, velozes e criativos. Aproveitava o adiantamento colorado e metia bolas para Bruno Henrique, Gonzalo Plata e Alcaraz exploraram espaços e se encontrarem em poucos passes. Também teve chances para ampliar o placar e não aproveitou. Mas mais de um gol poderia ter acontecido para os dois lados e não seria absurdo algum.
Chegados os 15 minutos do segundo tempo, em função do placar, apareceu o previsível cenário em que o Internacional propunha jogo e o Flamengo esperava mais na defesa. E o nível incrivelmente não baixou. De um lado, Filipe Luís botava em prática aquilo que aprendeu com Diego Simeone e colocava seu time em um 4–4–2 bem compacto e móvel. Do outro, Roger Machado respondia colocando Enner Valencia no lugar de Thiago Maia, deixando o time ainda mais ofensivo. E o colorado foi competente na criação mesmo sem o rubro-negro cometer algum erro grosseiro. Com velocidade na circulação de bola e movimentação, o time da casa teve algumas jogadas de profundidade, seja cruzando da linha de fundo ou enfiando bolas pelo meio. Contudo, pela compactação, o Flamengo conseguia se proteger na hora H, dentro da área, cortando e ficando com os rebotes. O Inter tinha volume, mas o Flamengo resistia e ainda dava suas escapadas perigosas, mas bem mais raras que antes. O cenário durou bastante, mas seguiu sem sair gol.
Parecia que o 1 a 0 para o Flamengo iria mesmo prevalecer, pois apesar do bom desempenho do Internacional, o rubro-negro se defendia bem. Contudo, nos últimos minutos, o time de Filipe Luís resolveu tentar assegurar a vitória retendo a bola e até atacando mais vezes, aproveitando que o colorado já nem tinha mais volantes. Pecado mortal. As transições rápidas já haviam sido muito bem usadas pelo Inter antes, imagine agora com Enner Valencia em campo. Não deu outra. Aos 43 minutos da segunda etapa, ao tentar prender a bola no campo de ataque, Evertton Araújo perdeu uma bola para Alan Patrick e um contra-ataque se desenhou para o time da casa. Wanderson apareceu nas entrelinhas espaçadas do Flamengo em transição e enfiou para Enner Valencia, nas costas da zaga. Desta vez, em sua jogada mais característica, o equatoriano não desperdiçou mais uma grande chance e empatou o jogo com boa finalização. No momento que o time mais precisava, ele voltou às redes e salvou de uma derrota.
Nos últimos minutos, já nos acréscimos, o colorado foi em busca da virada, com cruzamentos e enfiadas, mas não teve uma chance claríssima para conseguir de fato ainda sair vencedor. O Fla, já sem pernas, não arriscou muito e mostrou-se satisfeito em assegurar o empate. Aí talvez o erro de Filipe Luís que deva ser destacado, pois fez apenas duas trocas mesmo com os atletas babando na gravata de tão exaustos. Os jogadores atirados em campo após o apito final mostra o que foi a exigência física. E o empate prevaleceu.
As quase 50 mil pessoas presentes no Estádio Beira-Rio e os milhões assistindo da televisão foram presenteados com um grande jogo de futebol. De duas equipes que jogaram para vencer, sem medo, com repertório ofensivo. Os ataques venceram as defesas, expostas justamente por essa intenção dos dois lados de criar, agredir, se impor. O Flamengo, por ter mais controle do meio-campo, foi melhor no primeiro tempo; o Inter, pela agressividade e pela dinâmica ofensiva, foi superior no segundo. E os dois criaram pares de chances reais de gol tanto quando eram melhores quanto no momento em que estavam inferiores. E isto explica o nível visto em Porto Alegre. Um dos melhores jogos do futebol sul-americano em todo o ano de 2024. 1 a 1 foi muito pouco para tudo que a partida foi. E a igualdade, por todo o equilíbrio em meio ao contexto frenético, é justo. E fica melhor para o rubro-negro, que poupou peças para a final da Copa do Brasil e mesmo assim pontuou no confronto direto em que já estava à frente da tabela, se mantendo à frente. Que jogo!
INTER: O Inter sai do Beira-Rio com gosto amargo por não ter vencido o confronto direto e ter perdido a chance de entrar finalmente no G4, mas não deve sair tão decepcionado com o rendimento e fazer terra arrasada. Era um ótimo adversário do outro lado, que exigiu do time de Roger Machado nível máximo. O que pegou foi que a defesa colorada deixou a desejar em transição defensiva, incapaz de defender estando posicionada de forma adiantada. Contudo, o ataque mostrou repertório para criar diante de um forte adversário. E criou tanto em jogadas diretas após roubar a bola quanto propondo, chegando com profundidade pelos lados e cruzando ou passando. Se a eficiência tivesse sido alta, o time de Roger Machado poderia até ter vencido. Ou seja, sem a bola, o rendimento foi bem abaixo da média, mas com ela não houve motivo para desespero. No fim das contas, o Internacional não perde sua sequência invicta, que agora chega a 12 jogos. E continua a dois pontos do G4, ainda em quinto no Brasileirão. Segue com potencial de brigar até o fim para terminar dentro dele.
FLAMENGO: Mesmo com vários desfalques e peças importantes poupadas, o Flamengo de Filipe Luís fez um bom jogo no Beira-Rio. Diante de um adversário também em boa fase e completo na escalação, jogou de igual para igual, sem medo. Teve seus erros defensivos, especialmente na saída de bola e marcando contra-ataques, mas sobrou em virtudes do meio para a frente. Seja tramando com passes rápidos pelo meio, seja contra-atacando de forma vertical com Bruno Henrique indo muito bem de falso 9. Uma vitória em Porto Alegre não teria sido nada absurda pela quantidade de chances criadas pelo rubro-negro, inclusive depois de estar em vantagem. Mas pelo equilíbrio do jogo, já que o malvadão também concedeu oportunidades ao rival, o empate é mesmo o mais justo. Todavia, é mais uma demonstração de como o Flamengo recuperou seu potencial competitivo depois da chegada de Filipe Luís. É um time preparado para competir em qualquer cenário e com quaisquer peças. Mesmo com time misto, empata um confronto direto com o Internacional em pleno Beira-Rio e se mantém dentro do G4 do Brasileirão. Longe de ruim.
ARBITRAGEM: Se o jogo foi excelente, não se pode dizer o mesmo da arbitragem. O capixaba Davi de Oliveira Lacerda não fez uma grande partida em Porto Alegre. Acertou no pênalti claro cometido por Thiago Maia em toque de mão, mas deixou de dar um quase tão claro quando Varela saltou com o cotovelo na bola em outro momento. Além disso, ora deixava o jogo rolar, ora marcava faltinhas boas que matavam tempo. Ora marcava impedimentos no campo, ora deixava a jogada terminar. Critérios bem questionáveis. E ainda distribuiu cartões a rodo. O apitador do Espírito Santo ainda não está pronto para duelos deste tamanho.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ INTER: Rochet; Bruno Gomes, Rogel (Clayton Sampaio), Vitão e Bernabei; Rômulo (Bruno Henrique), Thiago Maia (Enner Valencia), Alan Patrick, Bruno Tabata (Gabriel Carvalho) e Wesley (Wanderson); Borré. Técnico: Roger Machado.
🗒️ FLAMENGO: Rossi; Varela, Fabrício Bruno, Léo Ortiz e Ayrton Lucas; Pulgar, Evertton Araújo, Gerson, Gonzalo Plata (Michael) e Alcaraz (Matheus Gonçalves); Bruno Henrique. Técnico: Filipe Luís.
⚽ Gols: Enner Valencia (Inter) | Alcaraz (Flamengo)
👟 Assistência: Wanderson (Inter)
🟡 Cartões amarelos: Rogel (Inter) | Varela, Pulgar, Fabrício Bruno e Gerson (Flamengo)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Davi de Oliveira Lacerda (Espírito Santo)
🏟️ Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre-RS