GOLEADA SEM SACRIFÍCIO

Jonathan da Silva
8 min readNov 24, 2024

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Mesmo sem jogar tudo que é capaz, o Internacional aplicou ao natural uma goleada de 4 a 1 no Red Bull Bragantino pela 35ª rodada do Brasileirão. Um colorado que, mesmo oscilando entre momentos de intensidade e conforto, cria chances de gol em quantidade industrial a partir do entrosamento, da organização e da confiança. Um Massa Bruta que até se esforça, mas empilha erros e exala limitações. Um chega a 16 jogos sem perder. Outro a 11 sem ganhar. O melhor time do returno engoliu o pior. Contraste tremendo que vai além do resultado desta tarde no Beira-Rio.

Os primeiros minutos de jogo foram característicos do Internacional de Roger Machado. Agressividade sem a bola e dinamismo com ela. Não deixou o Red Bull Bragantino ensaiar sair para o jogo, controlou a pelota, atraiu o adversário para fora do lugar, o que é algo muito fácil diante do Massa Bruta, e explorou os espaços com inteligência. Já aos dois minutos, Wesley chegou livre pela esquerda ao fundo, cruzou e Borré sofreu pênalti ao tentar finalizar. Na cobrança, aos quatro, Alan Patrick converteu a penalidade com segurança. O colorado praticamente começou a partida já ganhando. Com pouquíssimo tempo já fez fluir seu rendimento.

Todavia, passados alguns minutos depois do gol de abertura do placar, o colorado optou por diminuir o ritmo e entrou em uma zona de conforto perigosa já que o Bragantino estava desesperado pelo resultado e naturalmente se atirou ao ataque. Além de conceder a pelo ao adversário, o Internacional confundiu administração com passividade. Até se postou em seu 4–4–2 habitual, mas perdeu muitos duelos pelas beiradas e cedeu escanteios ao Massa Bruta. Que era mesmo a única forma que o time de Fernando Seabra encontrava para ser perigoso. Tinha méritos por manter a bola a partir da marcação alta, mas não fazia nada diferenciado com ela. Uma combinação, uma enfiada, uma chegada ao fundo para cruzar rasteiro. Mesmo as jogadas individuais não levavam a nada. Mas aos 19 minutos, em escanteio bem cobrado por Lincoln, Juninho Capixaba apareceu livre no primeiro pau para empatar o jogo. Descuido de Rogel e Wesley, que estavam próximos do lateral esquerdo do Braga. A desconcentração custou caro ao colorado e deu sobrevida ao Massa Bruta.

Após o susto do empate, o Inter acordou e voltou a jogar bola. Por volta da metade do primeiro tempo voltou a marcar alto, dominar a posse da pelota e propor as ações. E novamente soube fazer o serviço ofensivo de forma rápida. Sem nenhuma novidade. Apenas atraindo a marcação do Bragantino para fora do lugar, vencendo os duelos individuais, explorando espaços, chegando ao fundo e entrando na área com boas condições. Já aos 25 minutos, após cobrança de lateral no campo de ataque, o colorado combinou rápidos passes, Bruno Gomes chegou perto da área, cruzou rasteiro e Borré, que fez o papel do homem de área, finalizou com qualidade para recolocar o Internacional na frente. O Massa Bruta de novo caiu facilmente nas armadilhas, extremamente incompetente que é sem a bola. E Cleiton aceitou um chute defensável. Erros e mais erros de um lado, eficiência rápida de outro. Reflexo da confiança de cada um dos times pelo momento vivido.

Do 2 a 1 em diante, o primeiro tempo foi morno. O Internacional aprendeu com o vacilo anterior e soube fazer uma administração do placar com segurança na reta final da etapa inicial, ainda que sem brilho. Segurava a bola de forma cadenciada e quando o Bragantino se precipitava tentando esboçar uma pressão, acelerava os movimentos e chegava na área adversária com perigo. Incapaz sequer de fazer pressão na marcação, o Massa Bruta não conseguiu produzir mais nada. Não conseguia ter a pelota, naturalmente não conseguia jogar. Não acionava seus pontas velozes nas costas da defesa adversária, não tinha bolas paradas, nada. E já dava indícios de dor de cabeça mental, de abalo, de tristeza. Impotência total. O colorado foi em vantagem ao intervalo, desta vez sem sufoco.

Na volta para o segundo tempo, o Bragantino tentou novamente fazer uma pressão, mas sem sucesso. Até adiantou a marcação e conseguiu algumas roubadas de bola a partir da combatividade, mas seguiu sem produzir nada. Chega nos arredores da área e não tem movimentos capazes de desestruturar a defesa adversária. Apenas força chutes ruins de fora da área após as diagonais dos pontas. Nem cruzamento consegue fazer por falta de gente na área, dada a inexpressiva participação de Sasha. A infertilidade foi tão grande que esta iniciativa agressiva não durou nem cinco minutos. Fácil neutralização por parte da cobertura ajustada da defesa do Internacional. Caricato.

Logo o jogo voltou ao cenário de administração do final da primeira etapa. O Internacional controlava a bola, girando-a de um lado para o outro, esperando erros do Bragantino para dar estocadas perigosas. O Massa Bruta, preocupado em não se expor demais, pressionava pouco, tendo muito menos a posse de bola do que deveria. Foram cerca de 15 minutos de um jogo sonolento. Um time não queria se desgastar e pouco agredia. Outro até queria agredir, mas não sabia como fazer de forma organizada. Melhor para quem estava em vantagem.

Por volta da metade do segundo tempo, o Bragantino finalmente resolveu arriscar. Fernando Seabra fez trocas ofensivas para que o time voltasse a propor o jogo. Victor Mota, Henry Mosquera, Luan Cândido e Vitinho entraram nos lugares de Vinicinho, Lincoln, Matheus Fernandes e Eduardo Santos. O time ficou apenas com Jadsom, Pedro Henrique, Lucas Evangelista e Juninho Capixaba (se é que conta) como jogadores de marcação. E voltou a ter mais a posse da bola, mas não com a competência necessária. Provavelmente o treinador nem queria que o time se tornasse absolutamente dinâmico, mas que ao menos soubesse se aproximar para aproveitar o tanto de gente com vocação ofensiva que tinha. Mas nada. Era uma sopa de letrinhas que não se entendia e não conseguia articular três passes inteligentes. Só forçava diagonais e chutes de média distância que não faziam cócegas em Rochet. Nem para encher a área de gente serviram. Impressionante.

Mas a situação foi ainda pior. O Massa Bruta não só era improdutivo no ataque como levava contra-ataques altamente perigosos o tempo todo. Completamente exposto e incapaz de marcar no campo de ataque mesmo cheio de gente por lá, o time paulista penava para se proteger das transições rápidas do Internacional. Com passes objetivos na origem das jogadas e boa movimentação, o colorado encontrava os caminhos do ataque com extrema facilidade e contundência. Ora por dentro com Alan Patrick, ora com Wesley pela beirada. Sempre usando de enfiadas, inversões e boas conduções nas costas amplamente espaçosas da defesa do Bragantino. O time de Roger Machado esteve sempre muito mais próximo de ampliar o placar que de sofrer o empate. Empilhou chances para matar o jogo. Perdeu várias com Gabriel Carvalho, Enner Valencia e Wesley. Botou duas bolas na trave. Mas fez o serviço no fim. Com um físico impressionante para seguir tão rápido até os minutos finais. Aos 40 minutos, Wanderson cobrou escanteio e Wesley apareceu sem nenhuma marcação no primeiro pau para fazer o terceiro gol. Aos 42, o próprio Wesley recebeu bola pela esquerda, chegou ao fundo do campo e cruzou rasteiro para Gabriel Carvalho, que finalizou, a bola desviou em Wanderson e entrou na goleira. 4 a 1. A incompetência do Bragantino e a inspiração do Internacional foram tão grandes que a partida descambou para uma goleada. Nada mais descritivo sobre o momento das equipes que isso.

A lógica foi seguida no Beira-Rio. O melhor time na tática, na técnica, no físico e no mental se impôs. E nem precisou jogar um futebol brilhante, apenas fez o básico e explorou as fragilidades do adversário com eficiência. O Internacional não apenas confirmou o favoritismo como também goleou um desesperado e perdido Red Bull Bragantino. O colorado sabe por que está na terceira posição, com 15 jogos sem vencer e ainda sonha remotamente com o título. Mas o Massa Bruta certamente não entende seus problemas, sua falta de maturidade, os erros grosseiros, os desempenhos inconsistentes. Quem não encontra solução estando dentro do Z4, chega a 11 jogos sem vencer e faz esse tipo de apresentações geralmente cai. Jogo caricato e categórico em Porto Alegre.

INTER: O colorado chegou a um patamar em que é capaz de obter uma goleada sem grande sacrifício mesmo quando não joga no seu melhor nível. É disto que se fala ao abordar o padrão de jogo mínimo do time de Roger Machado. Mesmo quando oscila momentos de intensidade e de zona de conforto, sempre está criando jogadas de perigo no ataque por ter saber o que fazer taticamente e ter entrosamento e confiança altíssimos. E isto com pouco sofrimento atrás pelos mesmos motivos. O Internacional chega a 16 jogos consecutivos sem saber o que é perder, tendo vencido 12 deles. Segue com a melhor campanha do segundo turno do Brasileirão e ocupa momentaneamente a terceira posição na tabela, cinco pontos atrás do líder. O torcedor colorado tem razões para sonhar alto. O futebol consistente anima.

RED BULL BRAGANTINO: Mais um resultado típico de time rebaixado. Após os vários pontos perdidos em jogos onde o Massa Bruta competiu em condições de ganhar, hoje teve uma atuação constrangedora que levou merecidamente a uma goleada do Internacional. Se o Bragantino se salvar após tudo isso, é caso a ser estudado. Contraria a lógica. A defesa é uma peneira. As laterais não existem e os espaçamentos entre as linhas de marcação sobram. O ataque faz muita fumaça e pouco fogo. Tem individualidades velozes, mas pouca dinâmica coletiva e basicamente nenhuma profundidade. Isto sem falar nos erros bisonhos e na total falta de confiança. A bola de neve já se formou. O BragaBull é 18º colocado do Brasileirão e não vence há 11 partidas. Não demonstra por onde irá se salvar do rebaixamento, mesmo com os confrontos diretos que tem pela frente. Após anos bons, o projeto Red Bull em Bragança Paulista está em apuros.

ARBITRAGEM: A atuação do experiente Marcelo de Lima Henrique foi mais uma vez duvidosa. Um lance em específico chama a atenção: o pênalti marcado para o Internacional. Ok, Borré foi derrubado por Juninho Capixaba claramente, mas na sobra do lance o colorado faz o gol. É regra básica da arbitragem não beneficiar o infrator e foi o que aconteceu. Para sorte do apitador, Alan Patrick fez o gol de pênalti. Fora isso, nenhum erro grosseiro da equipe arbitral. Seria muito exagero marcar penalidade no contato leve de Bernabei sobre Sasha em bola dominada pelo Inter na própria área. Os cartões foram bem aplicados. A bola rolou bastante. E os ânimos estiveram calmos. No fim das contas, a arbitragem não interferiu diretamente no resultado em Porto Alegre.

FICHA TÉCNICA:
🗒️ INTER: Rochet; Bruno Gomes, Rogel, Vitão e Bernabei; Fernando (Luis Otávio), Bruno Henrique (Rômulo), Alan Patrick (Wanderson), Bruno Tabata (Gabriel Carvalho) e Wesley; Borré (Enner Valencia). Técnico: Roger Machado.
🗒️ RED BULL BRAGANTINO: Cleiton; Jadsom, Pedro Henrique, Eduardo Santos (Luan Cândido) e Juninho Capixaba; Matheus Fernandes (Vitinho), Lucas Evangelista, Lincoln (Victor Mota), Vinicinho (Henry Mosquera) e Jhon Jhon; Eduardo Sasha (Raul). Técnico: Fernando Seabra.
⚽ Gols: Alan Patrick, Borré, Wesley e Wanderson (Inter) | Juninho Capixaba (Red Bull Bragantino)
👟 Assistências: Bruno Gomes, Wanderson e Gabriel Carvalho (Inter) | Lincoln (Red Bull Bragantino)
🟡 Cartões amarelos: Borré e Bruno Henrique (Inter) | Juninho Capixaba (Red Bull Bragantino)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨‍⚖️ Árbitro: Marcelo de Lima Henrique (Rio de Janeiro)
🏟️ Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre-RS

BOLA DE OURO DO JOGO: Wesley/Inter | FOTO: Ricardo Duarte/S.C. Internacional

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Jonathan da Silva
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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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