FRANÇA CONQUISTA PRIMEIRO LUGAR DO GRUPO EM PLENA ITÁLIA
Em pleno San Siro, a França derrotou a Itália por 3 a 1 na rodada final da fase inicial da Nations League e conquistou o primeiro lugar da chave. Os italianos não souberam administrar a boa vantagem que tinham na tabela e caíram nas armadilhas táticas francesas, com as bolas paradas exercendo papel fundamental para o resultado. Vitória imponente dos bleus em um tradicional clássico do futebol europeu mesmo sem Mbappé.
O jogo mal começou e já tivemos uma noção clara do que ele seria. A Itália não tentou pressionar, a França tomou a iniciativa com a posse de bola e rapidamente cavou um escanteio. Na cobrança, Lucas Digne colocou a bola na cabeça de Rabiot, que abriu o placar com um testaço já no segundo minuto da partida. De modo relâmpago, a equipe francesa já tinha andado metade do caminho que precisava. Não poderia ser melhor.
Nos minutos seguintes ao tento de Rabiot, a Itália até tentou dar uma resposta, mas não fluiu com a bola. Intensificou a marcação na intermediária, o que limitou as subidas francesas e concentrou as jogadas no campo de ataque italiano. Contudo, o bom posicionamento da França sem a bola a manteve no controle do jogo. Um 4–3–3 em que três homens dificultavam a saída de bola da azzurra e outros três se movimentavam para dar sustentação à linha defensiva. A Itália não teve nenhuma jogada por dentro. Só tentou coisas pelas beiradas, onde o time de Deschamps se sustentou bem na marcação com dobras e imposição nos duelos individuais. Taticamente a seleção visitante se mostrava bem-preparada para a batalha que viria.
Passados os 15 primeiros minutos, esta marcação agressiva da Itália sem a bola cessou. E a França passou a ficar mais tempo com a pelota nos pés, o que era importante dentro da necessidade de vencer por dois gols de diferença para obter a liderança da chave. Contudo, a fluência não foi a mais ideal possível. Do ponto de vista de não sofrer atrás tendo a pelota nos pés, tudo bem, a equipe francesa conseguiu fazer o tempo passar de forma positiva. Agora, no objetivo de ampliar o placar, a falta de profundidade foi um problema. O time era capaz de avançar para perto da área italiana, superior numericamente no setor da bola, superando o 5–3–2 adversário. Mas esta linha de cinco dificultava as entradas na área. E os bleus não apresentavam a vitória pessoal necessária para resolver individualmente os problemas. Todavia, estar perto é sempre poder se beneficiar de alguma nuance. E nuance que lá no início vimos que favorecia a França era a das bolas paradas. E foi justamente em uma, aos 32 minutos, que Lucas Digne cobrou uma falta diretamente no travessão de Vicario, a bola bateu nas costas do arqueiro italiano e entrou. De novo a “pelota quieta” abriu caminhos para a seleção campeã mundial de 2018.
Mas o futebol gosta de dar reviravoltas inesperadas. Quando a França estava em seu momento máximo de confiança por conseguir a vantagem que garantia a liderança, cometeu um erro defensivo grosseiro. A Itália, por sua vez, voltou a acordar com o segundo gol sofrido e forçou esta falha. Em uma das escapadas pela beirada, na esquerda, a azzurra finalmente conseguiu ter vitória pessoal para chegar ao fundo de campo e cruzar. E nisto, o ala direito Cambiaso apareceu completamente livre para finalizar dentro da área francesa e reduzir o placar para 2 a 1. Movimento surpresa inteligente da Itália, mas descuido total da França na marcação. Um apagão que fez ruir os encaixes individuais nas tentativas de coberturas e gerou um clarão na frente da defesa. Custou caro e a azzurra voltou a ter um placar que, apesar de ser negativo, mantinha a primeira posição da chave em suas mãos.
Após o gol de desconto, quem ganhou confiança e fez bons minutos finais de primeiro tempo foi a Itália. Talvez o único momento da partida em que a azzurra tenha estado melhor que a França no jogo. Seguiu utilizando deste expediente das jogadas pelas alas, mas conseguindo alguns cruzamentos e inversões de perigo. A equipe francesa, um pouco afetada pelo gol sofrido, perdeu duelos individuais importantes que permitiram essa “perda de controle”. Mas se sustentou com a segurança dos volantes e da zaga. A ida ao intervalo foi mesmo com o 2 a 1 de vantagem para os franceses.
A chegada do segundo tempo voltou a mudar o panorama da partida. A Itália parou de buscar o empate e focou em se proteger para administrar a vantagem, teoricamente “aceitando a derrota”, o que certamente já causa questionamentos da torcida por se tratar de um clássico. E a França, necessitando do terceiro gol, fez questão de ter a bola. E com estas ideias de cada uma das equipes, sem surpresa alguma a partida voltou para aquele panorama que durou dos 15 aos 35 minutos da primeira etapa, em que a seleção visitante propunha, mas sentia falta de um algo a mais para se impor com a pelota rolando. Rigorosamente o mesmo cenário tático daquele período. Com os mesmos encaixes, as mesmas vantagens francesas no meio e a mesma proteção da área italiana. Então o desfecho também tinha que ser o mesmo, com uma bola parada sendo crucial. E ela aconteceu aos 19 minutos, quando de novo Lucas Digne cobrou uma falta lateral na cabeça de Rabiot, que marcou seu segundo gol no jogo, o terceiro da Seleção Francesa. Até onde isto estava nos planos de Deschamps, nunca saberemos. Mas de uma forma ou de outra, o cenário pensado por ele deu o resultado ofensivo esperado.
Mas desta vez a França não falhou defensivamente logo na sequência para deixar a vantagem escapar. Nem a Itália achou forças do nada para reagir novamente. O restante do jogo foi dos franceses administrando a vantagem e dos italianos agora tentando mudar a classificação da chave. Spalletti mexeu no time, passou a um 4–3–3, tentou confundir o também 4–3–3 francês. Contudo, Deschamps evitou o perigo fazendo com que suas três peças ofensivas voltassem mais, sem perder as referências de marcação, mas aumentando a compactação do time e os auxílios aos laterais. A azzurra não teve o dinamismo necessário para bagunçar esse sistema. Sequer teve ritmo para forçar cruzamentos e enfiadas para no abafa achar um gol. Maignan só foi exigido uma vez, praticamente no minuto final, mas fez defesa segura. Os bleus não precisaram “saber sofrer”, pois seu posicionamento evitou um sofrimento considerável. Placar garantido.
No fim das contas, a França devolve na Itália os 3 a 1 que sofreu para a azzurra em casa. E com o melhor aproveitamento por um gol de saldo nos confrontos restantes da chave, garante a primeira posição do grupo. O time de Deschamps fez aquilo que de melhor faz em momentos decisivos: foi efetivo. Não jogou um futebol exuberante, mas amarrou a Itália e usou das bolas paradas para se impor. Spalletti não soube fazer seu time ser administrativo e ao mesmo tempo competitivo. Focou em manter a vantagem, esqueceu de tentar vencer. Combinação de fatores que leva ao desfecho favorável aos bleus. Relativamente surpreendente como se desenhou o clássico europeu. Mas justo.
ITÁLIA: A azzurra se sentou em cima da vantagem que tinha e fez jogo muito fraco em Milão. Em momento algum a Itália buscou fazer o dever de casa e vencer a partida diante da França. Concentrou apenas em administrar um placar que garantia a liderança do grupo, sem uma postura agressiva ou ofensiva. Esperou demais, deixou a passividade e caiu nas armadilhas táticas de Deschamps. Quando tentou reagir, já tardiamente, não teve dinâmica na construção de jogadas para entrar na área com real perigo. Foi controlada no meio-campo e não teve as vitórias pessoais necessárias pelas laterais. Jogo ruim com consequências importantes. Derrotada por duros 3 a 1 em casa, a Itália termina a fase inicial da Liga A da Nations League no segundo lugar de sua chave. Perde a liderança na última rodada. Perde um clássico dentro do San Siro. Com uma exibição muito abaixo da média.
FRANÇA: As mudanças feitas por Didier Deschamps deram resultado. Em um inédito 4–3–1–2, a França conseguiu ter o controle do meio-campo em Milão e buscou a vitória por dois gols de diferença que precisava para terminar na liderança do grupo da Nations League. Na defesa, apesar do vacilo clamoroso no gol sofrido, os encaixes individuais foram bem-feitos e os espaços bem ocupados. No ataque, apesar da falta de profundidade a partir da troca de passes que fluía até perto da área rival, as bolas paradas surgiram como solução. Dois gols em cruzamentos de Digne para Rabiot, um em escanteio e outro em falta, e um em cobrança de falta direta do lateral esquerdo francês. Não foi uma atuação exuberante, empolgante, mas foi uma partida eficiente. Algo que é aquilo que a França busca desde quando seu vencedor treinador assumiu o cargo. Com o triunfo em solo italiano, os bleus avançam para as quartas de final da Liga A da Nations League na liderança de uma chave que tinha Itália e Bélgica. Dever cumprido.
ARBITRAGEM: A equipe comandada pelo esloveno Slavko Vinčić foi segura em Milão. Nenhum lance polêmico, nenhum erro grave, nenhuma confusão e nenhum equívoco ao validar os quatro gols do jogo. A arbitragem foi a esperada para um confronto do tamanho do clássico entre Itália e França.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ ITÁLIA: Vicario; Di Lorenzo, Buongiorno e Bastoni; Cambiaso (Daniel Maldini), Locatelli (Rovella), Frattesi (Raspadori), Tonali, Barella e Dimarco (Udogie); Retegui (Kean). Técnico: Luciano Spalletti.
🗒️ FRANÇA: Maignan; Koundé (Pavard), Konaté, Saliba e Digne; Koné, Guendouzi, Rabiot e Nkunku; Marcus Thuram (Barcola) e Kolo Muani. Técnico: Didier Deschamps.
⚽ Gols: Cambiaso (Itália) | Rabiot [2×] e Vicario [contra] (França)
👟 Assistências: Dimarco (Itália) | Digne [2×] (França)
🟡 Cartões amarelos: Frattesi (Itália) | Kolo Muani e Guendouzi (França)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Slavko Vinčić (Eslovênia)
🏟️ Local: Estádio San Siro, Milão-ITA