FALTOU FUTEBOL
O choque-rei da 10ª rodada do Paulistão terminou em um 0 a 0 sem sal no Allianz Parque. O Palmeiras até tentou se impor, mais desesperado pelo resultado, mas o São Paulo se defendeu bem, permitiu poucas chegadas do rival e segurou um empate. Modesta a postura do tricolor de jogar apenas para não perder, mas que o garante a classificação ao mata-mata do estadual de forma antecipada. Já o alviverde, em terceiro no seu grupo, segue sem depender dele próprio para avançar de fase. A crise que estava instalada no Morumbi não passa com este jogo, mas a vivida pelo alviverde já atinge um nível semelhante e pode ter consequências bem mais graves.
Em um início estudado de partida, quem ficou ligeiramente mais com a bola foi o São Paulo. Saindo para o jogo em um 3–4–3, o tricolor trocava passes entre os zagueiros e procurava brechas para avançar diante do 5–3–2 praticamente espelhado feito pelo Palmeiras, com Facundo Torres de ala e Mayke colado na zaga. Na prática, nada de produtivo aconteceu nos primeiros minutos diante da lentidão são-paulina e a falta de conexão entre setores. Pablo Maia e Alisson não são armadores, Luciano não colaborou como esse elo e os laterais não tiveram vitória pessoal. O alviverde, por outro lado, também não pressionou na marcação para surpreender. Quando tinha a bola, apesar de mais objetivo que o rival, também não chegava com contundência por falta de vitória pessoal nos duelos individuais. Um início de clássico muito morno e parado no Allianz Parque.
Não demorou para que quem passasse a tomar a iniciativa e manter mais a bola fosse o Palmeiras, que, pela tabela, estava mais desesperado por um resultado positivo que o São Paulo. No entanto, o tricolor também espelhou bem a marcação com um 5–3–2 que igulaava o 3–2–5, que virava 2–3–5, feito pelo alviverde ao ter a pelota. Um sistema de encaixes individuais muito efetivo já que o time de Zubeldía esteve bem nos duelos e não cometeu nenhuma falha relevante, com coberturas também bem armadas. Faltou ao Palestra, para criar, ter mais dinamismo e vitória pessoal para superar esses combates são-paulinos. Com lentidão nos passes e movimentos dentro do previsto, não causava sufoco. Cruzamentos e jogadas individuais não levavam a nada. Rafael não fez uma defesa para contar história. O que faltou para o lado visitante foi ter a segunda parte da estratégia, os contra-ataques. Não houve velocidade nem movimentos por parte do São Paulo para superar a marcação adiantada e também individualizada do verdão. Quando o time do Morumbi tinha a bola, apenas a prendia e fazia o tempo passar. Desta forma, a “mornura” do jogo, apesar do calor nas divididas, não passou. Um lado anulava o outro. Na prática, melhor para o SPFC, que tinha essa ideia mais destrutiva que criativa. 0 a 0 confirmado na ida ao intervalo.
Sem trocas de nenhum lado no intervalo, o segundo tempo não começou muito diferente do que foi o primeiro. De início, o Palmeiras até esboçou aumentar a pressão, mas logo o São Paulo equilibrou a intensidade e passou a novamente equilibrar a posse de bola com uma retenção bem cadenciada. Aumentar a velocidade da troca de passes era um passo, mas o alviverde precisava de mais mobilidade, mais dribles, mais tabelas. Nem tudo é questão de postura no futebol. O tricolor então nem animicamente mudou, seguindo com pouca intenção de agredir em transição. A atuação do Calleri beirou o constrangedor. O fato de ele ter ido até o fim da partida matando contra-ataques é incompreensível. Zubeldía também não pensou em uma alternativa para trazer velocidade às transições. Sem surpresa, a anulação total e a falta de emoções seguiam vigentes no choque-rei diante da falta de intenção de um e da falta de capacidade de outro. Pobreza futebolística que reflete a fase de ambos.
Na segunda metade da etapa final, quando finalmente aconteceram substituições, ao menos o jogo deixou de ter zero emoções. Mesmo grande lucidez, o Palmeiras passou a jogar em uma espécie de 2–2–6, com a entrada do atacante Thalys no lugar de Gustavo Gómez. Abel Ferreira rejuvenesceu o time e possibilitou uma espécie de pressão. No entanto, a lógica era mesma da postura não acompanhada pela organização. O alviverde só empilhava cruzamentos. Não tinha repertório, pouco tinha de jogadas individuais. O São Paulo, apesar de ter perdido força de marcação com as entradas de Lucas e Oscar, este que mal tocou na bola, retrocedeu a um 5–4–1 e compensou o físico com a compactação. O tricolor seguiu tendo a imposição da zaga no jogo aéreo e ainda contou uma boa defesa de Rafael no único cabeceio perigoso palmeirense, de Flaco López, aos 26 minutos. Mesmo não retendo mais a bola para passar tempo, o time de Zubeldía resistiu ao momento mais desconfortável na defesa. A incompetência com a bola foi mesmo a marca da noite no Allianz Parque. Empate zerado consumado no apito final.
O grande destaque deste choque-rei, sem dúvida, é que faltou futebol. Faltou futebol ao Palmeiras para se impor ao tentar propor jogo, pobre na construção mais uma vez. Faltou futebol ao São Paulo para contra-atacar, com lentidão no trio ofensivo e na troca de passes. A realidade é que bola foi castigada e o público também. Prevaleceram as defesas em um duelo de claro espelhamento na marcação e duelos individuais no campo todo. Abel Ferreira e Luis Zubeldía souberam montar sistemas defensivos, mas não souberam tornar seus times criativos. A inevitabilidade do 0 a 0 foi, na prática, melhor para o tricolor. Apesar de somar, consecutivamente, o quarto jogo e o sexto clássico contra o alviverde sem vencer, garante antecipadamente a classificação ao mata-mata com o pontinho somado fora de casa. O Palestra, apesar de ter campanha melhor que o próprio rival de hoje, continua apenas na terceira posição de seu grupo, sem depender apenas dele para avançar ao mata-mata. Seja pela bolinha que joga ou pela tabela dos adversários, a chance de o atual tricampeão paulista não defender o título na fase decisiva é real. Das crises, a que pode ter resultado imediato mais grave é a do clube do Allianz Parque. Mas nem mesmo o torcedor são-paulino sai satisfeito desta partida. Começo de temporada conturbado para estes dois gigantes do futebol brasileiro.
PALMEIRAS
Mais uma partida em que o alviverde acaba com sensação de impotência. Uma sensação que já vem desde o ano passado, em que a falta de capacidade coletiva para se impor sobre adversários fechados defensivamente já aparecia de forma constante no Palestra. Hoje, como em tantas outras ocasiões, não apresentou alternativas coletivas ou individuais para superar a boa marcação do São Paulo. Não teve mobilidade, velocidade ou vitória pessoal para superar o espelhamento tático feito pelo rival na defesa. A profusão de cruzamentos, outro exemplo recorrente da pobreza de construção palmeirense, deu pouco resultado mesmo com Flaco López. Estêvão, que veio do banco, esteve bastante apagado. Ok, a marcação foi melhor que em jogos anteriores, mais consistente para desarmar em zonas adiantadas e recompor, mas hoje era necessário mais. Era preciso criar e prevalecer para sair do sufoco no Paulistão. Com este empate que tem sabor de derrota, a classificação para o mata-mata segue sendo incerta. Apenas em terceiro no grupo D, o Palmeiras precisa fazer sua parte nos dois últimos jogos e secar São Bernardo e Ponte Preta para avançar de fase. Quem enfrenta justamente esses dois times? O São Paulo. Mais uma vez, como no Brasileirão passado, o time de Abel Ferreira sente porque é tão complicado não depender de si. E novamente não foi competente para evitar que a situação chegasse a esse ponto.
SÃO PAULO
O principal objetivo de Luis Zubeldía para esta noite foi alcançado: anular o Palmeiras no Allianz Parque e garantir a classificação para o mata-mata do Paulistão. De fato, o tricolor jogou apenas para não perder, não necessariamente para ganhar, mas evitou de aumentar a pressão com uma derrota em clássico. Em especial, a defesa são-paulina foi bem montada em um sistema de marcações individuais, em um 5–3–2 com três zagueiros, e fez o adversário criar muito pouco ao longo do jogo. A necessidade para fazer a estratégia fluir era imposição nos duelos individuais e isto o time do Morumbi teve. O que faltou mesmo foi intenção de vencer. Com peças ofensivas lentas e uma troca de passes vagarosa, o São Paulo teve poucos contra-ataques nos 90 minutos. Apesar dos 44% de posse de bola, bom índice de retenção para quem joga mais defensivamente, foram apenas quatro finalizações em toda a partida. E as trocas, mesmo com Oscar e Lucas entrando, não ajudaram muito a melhorar o cenário. Um clube gigante como o SPFC deve querer vencer jogos grandes sempre. Não foi o caso hoje. É pouco, realmente, mas ao menos este resultado aumenta a crise no rival, que pode cair na fase de grupos do Paulistão. Esse risco o tricolor não corre mais, líder isolado em sua chave, ainda que as instabilidades não sejam escondidas por um empate modesto em um choque-rei.
ARBITRAGEM
A equipe comandada pelo experiente Flávio Rodrigues de Souza não comprometeu no Allianz Parque. Ok, houve certo “caseirismo” ao apresentar cinco cartões ao São Paulo e nenhum ao Palmeiras mesmo com ambos tendo cometido praticamente o mesmo número de faltas, mas não ocorreu nenhum erro capital. Além disso, os ânimos estiveram calmos, sem confusões. No fim das contas, uma arbitragem segura que não atrapalhou o clássico e não será tema de discussões durante a semana.
FICHA TÉCNICA
🗒️ PALMEIRAS: Weverton; Mayke (Marcos Rocha), Gustavo Gómez (Thalys), Murilo e Piquerez; Emiliano Martínez, Richard Ríos (Aníbal Moreno), Facundo Torres e Raphael Veiga (Allan); Maurício (Estêvão) e Flaco López. Treinador: Abel Ferreira.
🗒️ SÃO PAULO: Rafael; Arboleda, Ruan e Alan Franco; Igor Vinícius (Cédric Soares), Pablo Maia, Alisson (Marcos Antônio) e Enzo Díaz; Luciano (Oscar), André Silva (Lucas Moura) e Calleri. Treinador: Luis Zubeldía.
🧮 Resultado: Palmeiras 0×0 São Paulo
⚽ Gols: ❌
👟 Assistências: ❌
🟡 Cartões amarelos: Enzo Díaz, Alisson, Rafael e Calleri/Luis Zubeldía (São Paulo)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Flávio Rodrigues de Souza (São Paulo)
🏟️ Local: Allianz Parque, São Paulo-SP
