ENTRE ALTOS E BAIXOS, MAIS UMA VITÓRIA DO BRASIL

Jonathan da Silva
7 min readJun 9, 2024

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O Brasil venceu o México por 3 a 2 no Texas em amistoso preparatório para a Copa América. O placar foi mais movimentado que a partida, que realmente teve total clima de jogo-treino. O time alternativo canarinho venceu sem fazer grande esforço, tendo bons momentos pontuais e qualidade técnica para resolver o duelo. O conjunto mexicano teve postura melhor que nas últimas apresentações, mas o desempenho ainda foi muito modesto em função da falta de funcionamento coletivo.

O começo de jogo foi um dos pontos altos do Brasil. Não só pelo belo gol de Andreas Pereira aos quatro minutos, mas também pela postura inicial agressiva. Marcação adiantada e intensa, bastante gente no campo de ataque e objetividade ao recuperar a bola, com passes rápidos e bons movimentos de infiltração. O México mais uma vez sofreu para se proteger ao perder a bola, novamente se expondo demais e precisando se arriscar em duelos de um contra um que não deram certo. Merecida vantagem canarinho na arrancada do jogo.

Passados os dez primeiros minutos de jogo, o Brasil já começou a jogar de forma cadenciada. Em primeiro momento, ainda manteve o controle da posse de bola de forma segura, mas o distanciamento para a goleira adversária foi crescendo gradativamente. Ao perceber a mudança de cenário, o próprio México intensificou e adiantou a marcação. A partir da metade da primeira etapa, o time brasileiro pouco passou do meio de campo. Faltou dinamismo ao time brasileiro para realizar a transição entre a defesa e o ataque, muito pouco móvel e bem vagaroso. Os mexicanos, com a postura mais agressiva, passaram a recuperar a bola já da intermediária para a frente.

No entanto, nem mesmo assim a situação ficou totalmente agradável para a seleção tricolor. Apesar de ter a bola no campo brasileiro, o México não teve criatividade para se impor. O meio-campo foi muito previsível, sem grandes combinações ou apoio para auxiliar as sobrecarregadas pontas. As individualidades pelas beiradas foram realmente a única arma da equipe de Jaime Lozano, com alguns cruzamentos e diagonais que não deram em nada justamente por mais falta de opções pelo meio. Também pode se citar o mérito da defesa do Brasil, que esteve bem posicionada no 4–4–2. Apesar de não ter continuidade nas jogadas ofensivas, a equipe de Dorival não se desestruturava quando perdia a bola. Até por estar em próprio campo, optava por ocupar bem os espaços em vez de pressionar imediatamente e eventualmente cometer um erro. Diminuiu as chances de um contra-ataque letal, mas aumentou a proteção da área. Alisson de fato pouco trabalhou.

A realidade é que mesmo com o aumento das chegadas do México, o jogo não saiu de uma velocidade de treino desde o gol do Brasil. O time brasileiro voltou a finalizar apenas nos minutos finais do primeiro tempo. O time mexicano acertou somente uma finalização na direção do gol durante toda a etapa. A contribuição do Brasil para o marasmo veio pela falta de interesse em acelerar as ações e por tentar fazer testes de forma cadenciada. A do México, por falta de competência tática e solução individual.

Repetindo o que fez na primeira etapa, o Brasil começou o segundo tempo novamente tentando atacar. Não com tanta agressividade na marcação alta, mas com controle da posse de bola a partir da intermediária e maior velocidade na troca de passes. Os meias e os pontas conseguiram boas combinações e as chegadas pelas beiradas foram bem produtivas, especialmente nos apoios de Yan Couto. E justamente dele, perto da linha de fundo, veio o cruzamento para trás em que Gabriel Martinelli fez o segundo gol brasileiro aos nove minutos. O México ali sofreu menos na transição defensiva, mas sentiu mais a falta de auxílio dos pontas aos laterais. A tentativa de um 4–1–4–1 defensivo foi na prática um 4–3–3 com claro espaçamento entre setores. O Brasil aproveitou.

De novo em repetição da etapa inicial, o ritmo do jogo voltou a cair após o gol brasileiro. No entanto, desta vez, com dois gols de desvantagem, nem mesmo o time mexicano mostrou motivação para buscar algo diferente. Sem pressão, a Seleção Brasileira conseguiu manter o controle do jogo mesmo com uma posse de bola menos objetiva e mais vagarosa. Com uma movimentação menos intensa e com mais variações em testes, o time canarinho até teve outras chegadas, mas esporádicas e não tão perigosas.

Todavia, o cenário tranquilo e de passos largos para a confirmação da vitória brasileira foi interrompido quando as substituições começaram a acontecer dos dois lados. O México mudou para a melhor e o Brasil, surpreendentemente, para pior. Alexis Vega e Orbelín Pineda trouxeram outro dinamismo para o meio-campo mexicano, com muito mais mobilidade e correria. Aumentou a marcação adiantada e as opções de ataque, finalmente com mais gente pisando no último terço por parte do time tricolor. A equipe brasileira, por sua vez, perdeu intensidade quando mais titulares começaram a entrar. Os jogadores pareceram entrar apenas para ganhar algum tipo de ritmo, mas sem de fato “botar o pé” e se arriscar a sofrer alguma lesão. Com isso, naturalmente, o México passou a ser melhor na partida. E aos 27 minutos, descontou no placar com Quiñones.

Com o gol mexicano, o Brasil até acordou e voltou a ter um lampejo no jogo. Logo na sequência ao tento sofrido, teve uma chance perigosa com Vinicius Júnior, mas parou no goleiro González. No entanto, o time canarinho não foi além. Logo após a chance perdida, voltou a recuar. Não teve interesse em adiantar a marcação e procurar um gol que matasse o jogo. Ficou atrás. Parado, apenas procurando proteger a área. Teve relativo sucesso, porque com bola rolando o México não teve capacidade de criar perigo, correndo bastante, mas sem critério, forçando cruzamentos e tentativas de jogadas individuais. Ainda assim, qualquer vacilo brasileiro e lampejo mexicano poderia ser fatal. E foi. Aos 46 minutos, em sobra de escanteio, Guillermo Martínez empatou o jogo e causou delírio na torcida mexicana que lotava o Kyle Field. Na marra, o empate tricolor. Alisson aceitou chute defensável.

Parecia que o México conseguiria uma boa resposta ao fiasco diante do Uruguai. E que o Brasil pagaria caro pela postura indiferente e pelas várias preservações. No entanto, um tal de Endrick surgiu para evitar o tropeço brasileiro. De novo ele. Com uma aura e uma estrela impressionantes. Vinicius Júnior, o favorito a ganhar a bola de ouro na temporada, cruzou e o novo atacante do Real Madrid acertou um belo cabeceio para fazer o gol da vitória verde-amarela aos 50 minutos do segundo tempo. Mesmo sem grande altura, o gesto técnico do garoto de 17 anos foi muito bem feito. Decisivo. Endrick decide jogos como brinca com seus amigos. É impressionante a naturalidade do jovem para fazer coisas incomuns na história do futebol. Três jogos seguidos marcando pela seleção. Aos 17 anos, apenas Pelé havia feito isso na história.

Mesmo em ritmo de jogo-treino, o Brasil chega a duas vitórias com Dorival Júnior em três jogos. Algumas peças claramente aproveitaram o teste, como Yan Couto, Andreas Pereira, Sávio e Endrick (novamente). Vencer mesmo com esforço baixo mostra como o plantel brasileiro tem potencial. Com evolução via treinamentos, é um time que pode sim incomodar na Copa América. Já o México, parece que terá de treinar muito para ver algum horizonte. Mesmo com várias mudanças de peça e muito mais intensidade, o time segue frágil na defesa e pouco produtivo no ataque. É uma das piores fases da Seleção Mexicana em anos. Difícil imaginar competitividade no torneio que se avizinha. A vitória brasileira em solo norte-americano no último minuto da partida teve a emoção que o jogo em si não teve. Mas o teste não foi improdutivo.

MÉXICO: O México melhorou a imagem deixada nos últimos jogos, especialmente naquele massacre sofrido para o Uruguai, mas ainda passou longe de jogar bem. A tri cresceu no jogo com as substituições do segundo tempo, mas novamente sofreu muito em transição defensiva e foi pobre de repertório, seja pelas limitações técnicas ou pela falta de dinamismo coletivo. Há que se ponderar também que era um Brasil alternativo e em ritmo de jogo-treino. O resultado quase foi bom para a Seleção Mexicana, mas o time ainda não parece estar quase no rumo certo para ser competitivo na Copa América e posteridade.

BRASIL: Apesar dos altos e baixos, o Brasil venceu e teve boas respostas para os testes. Quando de fato tentou jogar, o time brasileiro teve bons movimentos e combinações. Quando diminuiu o ritmo, se mostrou seguro na defesa de forma geral. Decaiu mesmo apenas quando os titulares entraram totalmente desinteressados. Mas gente como Yan Couto, Sávio, Andreas e Endrick aproveitaram a oportunidade. Mostraram que são alternativas úteis para a Copa América. O time de Dorival Júnior ainda está verde, mas mostra ter caminho para evoluir.

ARBITRAGEM: O jogo exigiu pouco e a arbitragem comandada pelo estadunidense Lukasz Szpala foi segura. Nenhum erro técnico grave e temperatura morna. Tudo bem amistoso realmente.

FICHA TÉCNICA:
🗒️ MÉXICO: Julio González; Israel Reyes, Edson Álvarez, Johan Vásquez e Arteaga; Luis Romo, Luis Chávez (Alexis Vega) e Carlos Rodríguez (Pineda); Antuna (Cortizo), Quiñones (Huerta) e Santiago Giménez (Guillermo Martínez). Técnico: Jaime Lozano.
🗒️ BRASIL: Alisson; Yan Couto, Éder Militão, Bremer e Guilherme Arana; Douglas Luiz (Bruno Guimarães), Éderson (João Gomes) e Andreas Pereira (Lucas Paquetá); Sávio (Vinicius Júnior), Gabriel Martinelli (Pepê) e Evanilson (Endrick). Técnico: Dorival Júnior.
⚽ Gols: Quiñones e Guillermo Martínez (México) | Andreas Pereira, Gabriel Martinelli e Endrick (Brasil)
👟 Assistências: Alexis Vega (México) | Sávio, Yan Couto e Vinicius Júnior (Brasil)
🟡 Cartões amarelos: Couto, Éder Militão e Endrick (Brasil)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨‍⚖️ Árbitro: Lukasz Szpala (Estados Unidos)
🏟️ Local: Kyle Field, College Station-EUA

BOLA DE OURO DO JOGO: Andreas Pereira/Brasil | FOTO: Rafael Ribeiro/CBF

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Jonathan da Silva
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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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