DOS SONHOS À REALIDADE
Roger Machado realmente não é o treinador dos sonhos, mas é um nome cabível para o momento colorado. Toda a condução e demora da diretoria para fechar a contratação foram vergonhosas e jogaram ainda mais contra ele, naturalmente rejeitado pela história no arquirrival, mas taticamente é um dos técnicos mais inteligentes do Brasil. A principal preocupação sobre o técnico fica sobre a gestão de vestiário, que tanto o limita durante a carreira, impedindo de dar o salto a grandes conquistas.
Em sua curta carreira, já montou bons times tanto ofensivos quanto reativos. No auge da ofensividade, está o trabalho no Grêmio em 2015, quando terminou em terceiro no Brasileirão com um time dinâmico e criativo que baseou as temporada vencedoras do rival nos anos seguintes. Defensivamente, se destaca seu trabalho no Bahia em 2021, onde montou uma equipe reativa bem organizada, indo para a Copa Sul-Americana. Além, claro, do trabalho atual no Juventude, vice-campeão gaúcho e seguro no Brasileirão. Chegou ao Jaconi após um ano fora do mercado e em extrema baixa, onde aceitava “qualquer coisa”. Por lá, com um elenco limitado, recuperou relativamente seu prestígio. Montou um time que está longe de ser brilhante ou extremamente seguro, mas que tem razoável organização defensiva e bastante eficiência em um jogo reativo que extrai o melhor das peças que tem. Não nos eliminou do estadual e da Copa do Brasil sem mérito.
Tem versatilidade, entende como se adaptar aos elencos que tem. E em suas falas, sempre aborda com inteligência os detalhes táticos das decisões que toma. É um estudioso. O que sempre causa preocupação nos trabalhos de Roger é a falta de longevidade e de controle do grupo de jogadores. Apesar de suas capacidades táticas, o treinador constantemente perde o comando do vestiário, perde rendimento em campo e cai. Por isso nunca conquistou grandes títulos ou fez um trabalho duradouro. Por isso acumula trabalhos irregulares e decadentes. E certamente administrar o plantel colorado não será tarefa fácil.
Outro ponto polêmico, a ligação com o Grêmio honestamente não preocupa. Apesar de ser ídolo do rival, Roger sempre tratou o Inter com muito respeito e, de acordo com muita gente, era inclusive colorado antes de começar sua trajetória no co-irmão. Já deu diversas declarações salientando a boa relação com torcedores colorados e deixando a porta aberta para chegar ao clube um dia. Além disso, é do povão, tem uma postura social condizente com a filosofia do nosso clube. Sobretudo, é um profissional bastante ético para este tipo de coisa atrapalhar o trabalho.
A trajetória de Roger não inspira confiança para um trabalho duradouro e consistente, mas o repertório tático e o habitual impacto imediato ao menos trazem a esperança de um restante de temporada seguro. O mercado não está fácil e os nomes disponíveis nos fazem pensar que o que vier é lucro. Nosso novo treinador não foge disso, ainda que seja uma das opções mais aceitáveis para o momento. Sonhar com o excelente Sérgio Conceição e acordar com Roger de fato não é a melhor sensação, mas diferentemente da maioria, não carrego grande rejeição ao novo técnico colorado desde que o salário não seja alto como alguns jornalistas publicaram. Aí não valeria a pena e teriam investimentos melhores a serem feitos.
Bom, agora, sobretudo, torçamos pelo sucesso do novo comandante, porque o que nos importa mesmo é o Inter, não os nomes que lá estão. E a temporada está em apuros. Depois de sonharmos com grandes conquistas após o fortalecimento do elenco, encaramos uma realidade em que a Sul-Americana é a última esperança de título e pode acabar já na semana que vem. A partir daí, “salvação da temporada” seria eufemismo para qualquer resultado de consolação.