DOS ERROS GROSSEIROS AO TALENTO DE QUINTERO
O Racing é o segundo finalista da Copa Sul-Americana de 2024! O time argentino conquistou a classificação ao vencer de virada o Corinthians por 2 a 1 em Avellaneda. Há mérito de la Academia por ter um inspirado Quintero e pela boa administração da vantagem, mas o resultado diz muito sobre o demérito corintiano. A equipe alvinegra começou bem, saiu na frente do placar e, quando o tinha o jogo em mãos, cometeu erros grosseiros e entregou a virada, se perdendo emocionalmente e nunca mais voltando a competir bem. Festa caseira no Estádio El Cilindro.
Os cinco primeiros minutos de jogo em Avellaneda foram de um banho de bola do Corinthians. Sem se intimidar com a linda festa feita pela torcida do Racing, o alvinegro encurralou o time da casa e fez do seu campo de ataque o terreno de jogo. Marcou adiantado, foi efetivo e mandou na posse da bola. Com ela, trabalhou bem. Ativou a dupla de ataque com competência. E quando Yuri Alberto e Memphis Depay se encontram, coisa boa sai. Em uma tabela entre eles, o holandês deu um grande passe nas costas da zaga argentina e o brasileiro finalizou bem demais, quase sem ângulo, para abrir o placar aos 5 minutos. Recompensa merecida para um Timão que começou avassalador.
Após o gol de Yuri, naturalmente o Racing começou a sair mais, mas o Corinthians manteve o controle do jogo sem sofrimento. Sem a bola, o Timão se organizou bem no 4–3–3, atrapalhando a saída de bola adversária com os três homens mais adiantados e protegendo bem a área com as peças restantes, bem intensas no combate. O time de Avellaneda, apesar de ter a posse, facilitava o serviço com uma pobreza tremenda na construção. Um distanciamento enorme em campo, pouca mobilidade e uma “forçação” de cruzamentos impressionante, vivendo basicamente de bolas paradas. Praticamente inofensivo. Além de tudo isso, o time de Ramón Díaz ainda era competente com a bola. Não apenas a segurava, como levava perigo constantemente em transições rápidas. Os volantes acertavam o primeiro passe e o trio ofensivo progredia muito bem com velocidade e movimentação, especialmente Memphis e Yuri. O placar poderia ter sido ampliado de forma natural. Contudo, Garro não acompanhou o nível de seus colegas de ataque e perdeu uma chance claríssima aos 22 minutos, em erro de saída de Sosa aproveitado por Memphis.
A partir dos 30 minutos, a história do jogo começou a mudar. E não foi a partir de alguma transformação tática, porque as únicas coisas coletivas que mudaram foram que o time da casa melhorou sua marcação adiantada, assim parando de sofrer contra-ataques com tanta frequência, e diminuiu a fraca presença no último terço de campo. Mas, tirando os lampejos do craque Quintero, o Racing seguia pouco criativo. Aí entra o demérito do Corinthians. Se o rival não criava, o time de Ramón Díaz resolveu dar a ele chances. Isto mesmo, o Timão se esforçou para recolocar os argentinos no jogo. Primeiro, cometendo várias faltas bobas perto da área para o Racing cruzar. E depois, não satisfeito, com erros grosseiros. Primeiro, o de José Martínez, saltando na bola com os braços esticados e cometendo um pênalti grotesco. Com isso, Quintero empatou o jogo aos 35 minutos. Na sequência, ainda não totalmente satisfeito, o Corinthians fez outra pataquada. Em uma cobrança de lateral da equipe da casa no meio-campo, a defesa alvinegra simplesmente parou e sofreu um contra-ataque letal. Os poucos homens na cobertura simplesmente dormiram nos duelos e Quintero saiu na cara de Hugo. E o meia colombiano virou o jogo para o Racing aos 38 minutos. Absurdo.
O Corinthians conseguiu destruir em poucos minutos tudo que havia feito antes. O bom futebol que jogava, o placar que levava e o controle que tinha. O Racing, já começando a sentir o desespero, pouco criava, mal-ajeitado por Gustavo Costas. Mas quem está atrás é refém de qualquer erro. E este time do Ramón Díaz gosta de entregar jogos com vacilos clamorosos. Com isso, o time da casa, até de forma surpreendente, foi ao intervalo com uma vantagem de 2 a 1 no placar.
Todavia, ainda havia o segundo tempo. O torcedor corintiano otimista ainda poderia acreditar que o time voltaria a jogar como naquela boa meia hora da primeira etapa. Ledo engano. O Corinthians nunca mais voltou para a partida. Por um lado, porque sentiu o emocional. Viu tudo que construiu ruir em pouco tempo e sentiu o golpe. Não teve a mesma intensidade e dinamismo de antes. Memphis até reclamou que o time “estava dormindo”. Além disso, o cenário era diferente também taticamente. Agora a equipe de Ramón Díaz precisava propor jogo contra uma espécie de retranca. Isto exige inspiração e boa organização. E faltou isso ao Corinthians. Combinações, passes rápidos e movimentação intensa não aconteceram. O time só viveu de cruzamentos sem ter a característica para isso na área. E as mudanças do treinador, tirando Garro, colocando atacantes e volantes que apoiam mais, pouco fez efeito, porque faltava gente criativa para compensar a falta de construção coletiva. Nem Memphis foi capaz de resolver sozinho. O alvinegro basicamente morreu indefeso. Sem conseguir reagir. Com falta de organização e a cabeça jogando contra.
O Racing, por sua vez, soube usar brilhantemente deste cenário. Em vantagem no placar e sem precisar propor jogo, o time de Gustavo Costas passou a ter uma ótima exibição. Sem bola, se armou bem em um 5–4–1 que tinha Sosa entre os zagueiros e Quintero aberto como uma espécie de ponta. Casinha bem fechada. Time compactado, mordedor e atento. Sem erros graves e com recuperações constantes de posse. Além de tudo, a Academia viveu seu melhor momento com bola no jogo. Seja quando a prendia, trocando passes cadenciados para fazer o tempo passar, ou quando contra-atacava, com passes rápidos, movimentação inteligente nos espaços cedidos pelo Corinthians e bom volume no apoio. O terceiro gol poderia ter saído e a partida ser morta de vez. Mas Salas e Adrián Martínez pecaram. Todavia, não fez falta. A administração foi tão segura que o Racing assegurou a classificação sem nem precisar de um trabalho ativo do goleiro Arias.
A fase semifinal entre Corinthians e Racing não deixou a desejar em emoção, reviravoltas e mesmo em bom futebol jogado, tanto em Itaquera quanto em Avellaneda. Qualquer coisa poderia ter acontecido. No geral, o time brasileiro até jogou um futebol mais bonito, mas mais uma vez se autossabotou com erros grotescos da defesa. A equipe argentina teve aquilo que se chama de alma copeira. Se manteve viva nos momentos ruins, aproveitou das bobeiras do rival e não vacilou quando esteve em vantagem. Pelo andar da carruagem, a classificação do Racing para a final da Copa Sul-Americana é justa. No meio do caos, foi quem teve mais cabeça para lidar com uma decisão e se impôs dentro de casa, algo que o Timão não conseguiu. Pela terceira vez, o sonho corintiano de ganhar a Sul-Americana e ser campeão de tudo acaba na semifinal. E a Academia de Avellaneda irá em busca de um título inédito. Pelo futuro, um promissor Racing x Cruzeiro em Assunção valendo a taça. Aguardemos.
RACING: O Racing buscou esta classificação pela eficiência ao explorar erros do rival e pelo talento do craque Juan Quintero. Futebol coletivo nem apresentou tanto assim. Começou dominado, saiu atrás do placar e quando precisou propor jogo para buscar o resultado não produziu nada de forma organizada. Viveu de bolas paradas e do talento individual do baixinho colombiano. E bastou. Com a os erros grosseiros do Corinthians, ter o diferenciado camisa 8 em noite inspirada foi o suficiente para a Academia buscar a virada. E depois dela, sim, um show de administração de resultado. Marcação segura, bom trabalho de bola e contra-ataques perigosos. No fim, tudo é festa no Cilindro. Após 32 anos, o Racing de Avellaneda volta a disputar uma final de uma competição internacional. Encarará o Cruzeiro na decisão da Copa Sul-Americana em Assunção, no Paraguai. E buscará acabar com um jejum de 36 anos sem conquistar um título continental.
CORINTHIANS: Como definir o que o Corinthians fez em Avellaneda? Basicamente cavou a própria cova. De início, parecia que o final seria feliz, pois o futebol jogado era bom e um gol cedo de Yuri Alberto deixou o alvinegro no mundo dos sonhos. Contudo, quando administrava bem a partida e o Racing não jogava nada, o Timão resolveu dar a virada de presente ao time da casa. Dois erros grosseiros em sequência e dois gols tomados “do nada”. Um pênalti bobo de José Martínez e um apagão geral em uma cobrança de lateral adversária. Em desvantagem, o mental corintiano foi para o lixo. A perna pesou. E a falta de dinamismo coletivo impediu o alvinegro de voltar a ser criativo e ao menos buscar o empate. O Corinthians deu a alegria ao torcedor e a tirou na mesma proporção. Quando tudo parecia ter bons rumos, novamente as falhas clamorosas levaram à ruína. O time de Ramón Díaz está eliminado da Copa Sul-Americana. O sonho do título inédito para na semifinal. E significa que o Timão não disputará a Copa do Brasil de 2025. Ainda tendo de se garantir na Série A do Brasileirão. Quantos golpes. Traumático. Duro retorno à realidade para a fiel torcida.
ARBITRAGEM: O resultado do jogo não passou pelo árbitro chileno Felipe González e isto é bom. Quando o jogo exigiu, acertou no pênalti cometido por José Martínez em um toque de mão clamoroso. Além disso, administrou bem o calor do jogo e não cometeu nenhum erro grave. É possível dizer que a arbitragem colaborou com a semifinal.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ RACING: Arias; Martirena, Di Cesare, Basso e Gabriel Rojas; Santiago Sosa, Nardoni, Almendra (Zuculini), Maximiliano Salas (Roger Martínez) e Quintero (Vietto); Adrián Martínez (Santiago Solari). Técnico: Gustavo Costas.
🗒️ CORINTHIANS: Hugo; Matheuzinho, André Ramalho, Félix Torres e Matheus Bidu; José Martínez (Ángel Romero), Carrillo (Alex Santana), Charles (Breno Bidon) e Garro (Talles Magno); Memphis Depay (Coronado) e Yuri Alberto. Técnico: Ramón Díaz.
⚽ Gols: Quintero [2×] (Racing) | Yuri Alberto (Corinthians)
👟 Assistências: Adrián Martínez (Racing) | Memphis Depay (Corinthians)
🟡 Cartões amarelos: Basso e Gabriel Rojas (Racing) | Félix Torres, Matheus Bidu e Breno Bidon (Corinthians)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Felipe González (Chile)
🏟️ Local: Estádio El Cilindro, Avellaneda-ARG