DERROTA DE REBAIXADO, VITÓRIA DE CANDIDATO AO TÍTULO
O Fortaleza goleou o Juventude por 3 a 0 dentro do Estádio Alfredo Jaconi em jogo válido pela 32ª rodada do Brasileirão 2024. A partida nem foi tão desequilibrada, mas a diferença de confiança, qualidade técnica e eficiência levou o placar a ser tão discrepante. No fim das contas, é uma derrota com cara de time rebaixado para o Papo e um triunfo digno de pontos corridos, com gostinho de esperança de título, para o leão.
Nos primeiros 15 minutos de jogo, mesmo em Caxias do Sul, quem esteve melhor foi o Fortaleza. Apesar de estar jogando fora de casa, foi o terceiro colocado do Brasileirão quem começou pressionando, com marcação alta e jogadas perigosas a partir de roubadas de bola no campo de ataque. Além disso, após o quinto minuto, quando a agressividade diminuiu, o leão seguiu mais produtivo que o Juventude, pois mostrava mais lucidez com a bola em um cenário de troca de golpes. O Papo verticalizava demais quando tentava atacar e perdia muito a posse, enquanto o tricolor conseguia fazer combinações entre as linhas jaconeras e chegar com perigo em cruzamentos e diagonais. Contudo, faltou eficiência por parte do time de Juan Pablo Vojvoda para sair na frente do placar em um momento de superioridade.
Passado o primeiro terço da etapa inicial, o time em melhor momento mudou. A partida continuou com a tendência de equilíbrio que adquiriu desde o quinto minuto, mas quem passou a levar mais perigo foi o Juventude. Com uma marcação mais agressiva, o time da serra gaúcha não permitiu que o Fortaleza continuasse com tanta tranquilidade para trabalhar a bola e chegar com perigo com tanta frequência. A partir disso, mais com a bola, o Ju variou entre dois tipos de ataque: o mais vertical e o terrestre. No vertical, atraía a marcação do leão para espaçar o 4–4–2 defensivo do time visitante e trabalhar em passes rápidos para chegar na área com perigo. Foi o que trouxe mais resultados e chances de real perigo para abrir o placar no Jaconi. Já no terrestre, quando o tricolor estava postado atrás, com Brítez e depois Tinga na direita e Mancuso na esquerda, o alviverde encontrou mais dificuldade. Com menos espaço, mostrou menos fluência. Precisou forçar cruzamentos e inversões de pouco resultado prático. As poucas vezes que fluiu neste cenário foi quando trabalhou rápido a bola e explorou as costas dos defensores do lado direito do Fortaleza, Tinga e Marinho, que não protegiam muito bem a área por aquele lado. Todavia, independentemente do panorama, o Juventude também demonstrou incompetência nas finalizações e não botou a bola na rede. Grande mérito de João Ricardo também, com boas defesas.
O cenário de superioridade do Juventude durou bastante tempo, quase meia hora. O Fortaleza voltou a conseguir trabalhar a bola com tranquilidade novamente só perto dos 40 minutos, quando o time da serra gaúcha deu uma arrefecida na pressão para recuperar o fôlego. Contudo, quando voltou a ter mais conforto em campo, o time de Vojvoda aproveitou. Usou dos buracos do 4–4–2 defensivo do Ju para chegar ao fundo e cruzar com perigo. Atraindo marcação, tabelando e cruzando. Neste cenário, de passes rápidos e movimentos coordenados, a equipe tricolor não apenas abriu o placar, como também fez um segundo gol ainda antes do intervalo. Em tentos quase idênticos, chegando ao fundo pela direita após tabelar e invertendo para quem chegava pela esquerda finalizar. Moisés abriu o placar aos 47 minutos e Mancuso ampliou aos 51. Duas falhas clamorosas da segunda linha de marcação do Papo na cobertura. Duas jogadas bem tramadas pelo leão. Após uma etapa inteira de bastante equilíbrio e troca de golpes, o melhor time tecnicamente no campeonato se impôs e terminou o primeiro tempo com dois gols de vantagem.
Com os dois gols de desvantagem, o Juventude ensaiou uma Blitz no começo do segundo tempo. Adiantou o time e fez forte pressão no Fortaleza, que, até pela vantagem, ficou mais postado atrás. Para tornar mais produtiva essa iniciativa, Fábio Matias colocou Erick Farias no lugar de Gilberto para ter mais mobilidade e velocidade no ataque. Deu certo. O papo conseguiu ter mais dinamismo que no primeiro tempo e não teve apenas ataques improdutivos. Tendo mais correria, o time da serra conseguiu trazer desconforto para a segunda linha de marcação do leão, que nunca esteve muito segura no jogo. Todavia, apesar da fumaça, os cruzamentos seguiam sendo a arma mais procurada pelo Juventude. Quando eles eram do fundo de campo, até levavam perigo. Contudo, sem uma referência como Gilberto, apesar de ter gente na área, o que acontecia mais em bolas paradas, as finalizações das bolas cruzadas seguiram imprecisas. E de novo, mesmo superior na partida, o time jaconero não conseguiu fazer sequer um gol que o recolocasse no jogo. Mais uma vez com importante participação do goleiro João Ricardo, o melhor do Brasileirão até aqui.
Aos 15 minutos do segundo tempo, uma troca no Fortaleza trouxe de volta o conforto ao time do Pici: a entrada de Bruno Pacheco no lugar de Marinho. Com uma mexida apenas, Vojvoda reorganizou todo o sistema defensivo. Passou a atuar com um 5–3–2, com Tinga passando para a zaga, Mancuso para a lateral direita e Pacheco na esquerda. As chegadas do Juventude ao fundo praticamente acabaram, o que significa que o sufoco defensivo leonino também cessou. Mais confortável atrás e diante de um adversário adiantado, o tricolor passou a finalmente encontrar contra-ataques também. Até então, sequer retinha a bola para dar um conforto à defesa. E em um dos primeiros ataques do leão na segunda etapa, no primeiro de perigo, Kuscevic matou o jogo com o terceiro gol aos 25 minutos. Uma bola parada após uma escapada rápida com a dupla de ataque, uma jogada ensaiada na cobrança e o cruzamento para explorar a presença da zaga na área alviverde. A assistência foi do Pacheco, inclusive. Eficiência que definiu o Fortaleza no jogo desde aquele finalzinho inspirado do primeiro tempo.
Após o terceiro gol, que definiu as coisas na prática, o Fortaleza viveu uma lua de mel no jogo. Administrou a vantagem sem sofrimento até o apito final, até porque o Juventude também sentiu emocionalmente e não se achou mais em campo. Primeiro, o leão conseguiu passar alguns minutos segurando a bola no campo de ataque, trocando passes cadenciados, horizontais, esperando por um erro do time gaúcho para eventualmente até fazer o quarto tento. O Papo, desolado, sequer marcava de forma agressiva. Apenas olhava. Em um segundo momento, já mais perto do fim, o Juventude até voltou a ter a bola. Mas só para tentar buscar um golzinho de honra de qualquer jeito. Sem nenhuma lucidez na construção, apenas forçando enfiadas, inversões e cruzamentos sem um posicionamento adequado para isso. Fábio Matias encheu o time de atacante para ver se algum lampejo individual saía, mas nem isso. A defesa leonina, com confiança e organização, neutralizou tudo com segurança e cuidado nas sobras. Goleada confirmada com sucesso pelo tricolor do Pici.
O resultado é uma caricatura da campanha de cada time. O Fortaleza, apesar de alguns momentos ruins fora de casa ao longo do Brasileirão, é um time consistente. Que mesmo sem render tudo que pode, não se perde em campo e maximiza resultados com a segurança de João Ricardo e a eficiência do ataque. A atuação não foi tão boa para um 3 a 0, mas estas virtudes citadas levaram a isso. Com o Juventude, é exatamente o contrário. Não foi um desempenho vexatório para ser goleado. Contudo, o ataque perdeu ótimas chances e a defesa cometeu erros pontuais no coletivo e no individual que levaram a esta derrocada dentro de casa. Coisas que costumam acontecer com times que caem para a Série B. Por jogos assim é que o leão briga pela taça e o Papo pela permanência. E, por mais que pareça que os dois não alcançarão seus objetivos máximos, um irá para a Libertadores e o outro para uma divisão inferior. Contraste.
JUVENTUDE: Que pancada esta derrota de goleada na estreia do treinador Fábio Matias. De abalar a confiança do time e da torcida. A atuação não foi tão ruim quanto as anteriores, mas erros pontuais levaram a este placar vergonhoso em pleno Jaconi. Um ataque que, apesar de rudimentar, cria chances, mas perde incrivelmente todas. Uma defesa que é aguerrida, mas peca na recomposição, falha nas coberturas e tem suas claras limitações técnicas. Os erros se potencializam e os acertos não são suficientes. É um roteiro que geralmente termina em rebaixamento. Fábio Matias terá muito trabalho para remobilizar esta equipe. Partindo do desempenho de hoje e conseguindo mais eficiência, tem chance. Mas não será tarefa fácil manter este Juventude na Série A. O time da serra gaúcha hoje é 18º colocado.
FORTALEZA: O leão obteve uma vitória digna de pontos corridos em Caxias do Sul. Não jogou tudo que é capaz, mas esbanjou eficiência e maximizou o resultado a ponto de conseguir uma goleada. Apesar das pontuais fraquezas defensivas e de longos períodos sem criatividade, o time de Vojvoda teve virtudes específicas que salvaram o jogo de ambos os setores. Na defesa, João Ricardo e os defensores foram extremamente felizes do ponto de vista individual e mantiveram o leão vivo até se ajeitar em campo. No ataque, porque as poucas chances que apareciam eram sempre de perigo, com bom trabalho de bola e inteligência na definição de jogadas. Tirando o começo do jogo, em que o tricolor perdeu boas chances, os momentos de superioridade ofensiva sempre resultaram em gol. Eficiência define tudo isso. Além, claro, da confiança de um time que continua em terceiro no Campeonato Brasileiro, a apenas quatro pontos do líder. O Fortaleza está cada vez mais perto da vaga direta para a fase de grupos da Libertadores e, pela consistência, se permite ainda sonhar com o título. Que campanha!
ARBITRAGEM: O experiente Raphael Claus relembrou os velhos tempos e fez uma partida muito segura em Caxias do Sul. Boa administração emocional, pouca picotagem do jogo e nenhum erro grave. Além disso, seus auxiliares acertaram em lances importantes, como a anulação de um gol de Moisés por impedimento e validação dos outros três tentos do leão. Boa arbitragem no Alfredo Jaconi.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ JUVENTUDE: Gabriel Vasconcellos; João Lucas, Danilo Boza, Zé Marcos e Lucas Freitas (Alan Ruschel); Jadson, Ronaldo (Dudu Vieira), Mandaca (Jean Carlos), Lucas Barbosa (Marcelinho) e Edson Carioca (Gabriel Taliari); Gilberto (Erick Farias). Técnico: Fábio Matias.
🗒️ FORTALEZA: João Ricardo; Brítez (Tigna), Kuscevic e Titi; Marinho (Bruno Pacheco), Matheus Rossetto (Zé Welison), Hércules, Emmanuel Martínez (Tomás Pochettino) e Mancuso (Yago Pikachu); Moisés (Breno Lopes) e Lucero. Técnico: Juan Pablo Vojvoda.
⚽ Gols: Moisés, Mancuso e Kuscevic (Fortaleza)
👟 Assistências: Emmanuel Martínez e Bruno Pacheco (Fortaleza)
🟡 Cartão amarelos: Edson Carioca, Zé Marcos e Ronaldo (Juventude) | Brítez e Bruno Pacheco (Fortaleza)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Raphael Claus (São Paulo)
🏟️ Local: Estádio Alfredo Jaconi, Caxias do Sul-RS