DEFESA DE TÍTULO GARANTIDA COM REVERSÃO E MASSACRE

Jonathan da Silva
8 min readFeb 6, 2025

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Com uma atuação que beirou o brilhantismo, o Liverpool massacrou o Tottenham, aplicou simplesmente 4 a 0 no jogo de volta da semifinal da Copa da Liga Inglesa e conquistou merecidamente a classificação para a grande final. Com uma intensidade absurda e um dinamismo envolvente, o time de Arne Slot deu um show de futebol em Anfield, sem se abalar pela desvantagem no agregado ou pela retranca dos Spurs. Uma goleada que reflete bem não apenas o jogo, mas também o momento dos dois clubes. Um está perdido há tempos, outro pode conquistar tudo nesta temporada. Com justiça, o atual campeão defenderá o título da Carabao Cup, o último conquistado por Jürgen Klopp no comando dos reds.

Como o previsto, pela característica da equipe e pela desvantagem no placar agregado, o Liverpool começou a partida em Anfield tomando a iniciativa de forma bastante intensa. Com uma marcação adiantada muito bem encaixada e agressiva, os reds souberam impedir que o Tottenham tivesse retenção de pelota ou contra-ataques. Pelo chão, sem uma movimentação que facilitasse o passe, os Spurs eram engolidos. Pelo alto, apenas com Richarlison isolado, já que Son e Kulusevski estavam bem recuados para ajudar na marcação, a cobertura vermelha também neutralizava nos duelos individuais e nas sobras. O cenário era de um grande domínio da posse de bola por parte do time de Arne Slot. O primeiro e básico passo para buscar a reversão era dado.

O desafio maior para os donos da casa era realmente de prevalecer na hora de propor o jogo. Apesar de alguns vacilos nos acompanhamentos individuais, o Tottenham estava bem compacto em seu 4–5–1 e colocava muita gente dentro da própria área para evitar finalizações vermelhas. Ainda que tivesse velocidade na circulação da pelota e uma boa movimentação nas variações do 2–4–4 ofensivo, o Liverpool demorou a realmente criar uma chance clara. Fazia boas combinações, tinha enfiadas e chegava ao fundo para cruzar, mas dentro dos retângulos não conseguia se impor diante de tamanho bloqueio. No entanto, quando há um time muito retraído e outro com alta qualidade técnica, uma jogada diferente sempre pode mudar a história. Ela poderia ter acontecido aos 29 minutos, quando Salah deu linda enfiada para Szoboszlai entrar livre e empurrar a pelota para as redes. Só que o húngaro estava impedido e o lance não valeu. Esta jogada foi acontecer mesmo aos 33, de novo dos pés da lenda egípcia, mas em um cruzamento perfeito de três dedos para Gakpo chegar com liberdade no segundo pau e finalizar sem chances para Kinský. Se não havia Alexander-Arnold para cruzar de forma brilhante, havia Mohamed Salah. Após uma longa pressão, sofrendo para quebrar a parede, os reds abriram o placar na primeira oportunidade clara que tiveram. Eficiência crucial em uma partida decisiva.

Na reta final do primeiro tempo, o 1 a 0 para o Liverpool não gerou uma mudança significativa do panorama do confronto. Até pelo resultado que ainda o levava ao menos para a prorrogação, o Tottenham optou por não se expor para tentar uma reação. Focou em continuar protegendo a área e, de alguma forma, se manter vivo. Os reds, por sua vez, eram ainda mais agressivos na tentativa de prevalecer. E, com a confiança por ter já igualado o saldo, a mobilidade e os acertos nos cruzamentos, enfiadas e tabelas aumentaram. Ainda assim, mesmo com a forte pressão vermelha, os Spurs conseguiram escapar do pior naquele momento. Seja com Kinský fazendo um milagre aos 44 minutos, em finalização de Salah pós-bola cruzada por Gakpo, ou com bloqueios providenciais dos defensores. Desta maneira, com sofrimento, mas com resistência, o galo londrino levou o confronto ao intervalo pelo menos empatado por 1 a 1 no placar agregado, sem sofrer já ali a reversão. Mas, sendo refém como era, com apenas 27% de posse de bola e com 11 finalizações contra, aquilo claramente era apenas um adiamento do pior.

Só que o Tottenham não adiou por muito mais tempo. Na volta para a segunda etapa, com o fôlego tomado no intervalo, o Liverpool esteve mais agressivo do que nunca. Como se jogasse pela vida, o time de Arne Slot seguia sem deixar os Spurs sequer respirarem ao ter a posse da pelota. Com um minuto, Kinský já havia feito uma defesa salvadora em cabeceio de Van Dijk após escanteio. No entanto, aos cinco, o goleiro tcheco também entrou para o cartel de vilões do clube londrino. Em uma das raras subidas dos lírios brancos ao ataque, os reds recuperaram a bola na intermediária e rapidamente partiram em transição, como tanto gostam. Salah deu uma grande enfiada para Darwin Núñez, que entrava livre nas costas da zaga visitante para sair cara a cara com o arqueiro. O tcheco chegou atrasado e derrubou o atacante uruguaio. Pênalti. Chance de ouro para os reds passarem à frente do agregado. E claro, na cobrança, a lenda egípcia Mohamed Salah obviamente não decepcionou. Não só converteu a penalidade como a fez com um chute lindíssimo no ângulo. Ele criou a chance, ele fez o gol. Ele é o melhor jogador do mundo na temporada. Ele é um ponto de segurança para o Liverpool nos momentos mais necessários. Merecida reversão vermelha!

Já com o clube de Anfield em vantagem na semifinal, o jogo naturalmente ficou bem aberto no restante do segundo tempo. Desesperado por mais uma eliminação que se avizinhava, o Tottenham tentou sair para o ataque e propor jogo, adiantando linhas. Todavia, o Liverpool não tirou o pé na marcação em momento algum. Com isso, a posse da pelota alternava, ficando ora com um, ora com outro. E qual dos times obviamente se sairia melhor em um duelo franco? O de Arne Slot, evidentemente. É especialista em aniquilar adversários quando tem espaços para explorar. Diante da falta de dinamismo e absurda previsibilidade dos Spurs ao proporem ações, os reds roubavam bolas e partiam em transição rápida o tempo todo. Mac Allister, Szoboszlai, Salah, Gakpo, Darwin, Diogo Jota, Conor Bradley, Gravenberch e cia se achavam em passes rápidos com muita facilidade. Entrosamento absurdo para se movimentar de forma a bagunçar o já perdido por natureza Tottenham.

Mesmo já tendo o placar que precisava para avançar, o esquadrão vermelho não se acovardou ou pensou em se poupar para o futuro. Na verdade, foi quem sempre esteve mais próximo do gol seguinte. E, eficiente, transformou a superioridade em goleada. Aos 29, Mac Allister deu bela enfiada para Conor Bradley aparecer por dentro e deixar Szobozlai frente a frente com Kinský. O húngaro, cheio de classe, fez o terceiro tento dos mandantes. E aos 34, em escanteio cobrado também pelo meia argentino, Van Dijk se impôs com facilidade na área e fechou a conta. 4 a 0. Massacre. A diferença entre as equipes perfeitamente refletida no resultado. O Tottenham não tinha nada, só gente atirada ao ataque sem qualquer critério e esperando que Son fizesse milagre. O Liverpool tinha futebol, tinha obsessão, tinha brilhantismo técnico. No fundo, ninguém duvidava que o conjunto de Arne Slot iria reverter a desvantagem inesperada do jogo de ida. E o fez da melhor forma possível. No apito final, era tudo festa em Anfield!

Apesar de os Spurs chegarem com uma surpreendente vantagem para este jogo de volta da semifinal da Copa da Liga, o favoritismo para a classificação ainda era vermelho. A diferença tática, técnica e mesmo emocional entre os dois clubes é até maior do que a goleada de 4 a 0 que os reds aplicaram. Um gol de desvantagem, em Anfield, enfrentando o Tottenham, era nada para o Liverpool. O time de Arne Slot, além de tudo, tem memória. Certamente lembra do 6 a 3 que meteu em Londres pela Premier League no final do ano passado. Sabia os caminhos e executou a reversão de forma brilhante, com uma atuação ainda melhor que aquela. Não fez só o feijão com arroz, não criou falsas emoções. Fez aquilo que se espera da melhor equipe do mundo na temporada: aniquilou um adversário fraco, que está à deriva apesar de ser um gigante do país. Impecável sem a bola e com repertório ao tê-la, sem patinar porque havia uma retranca a superar. No fim das contas, não há surpresa. Quem disputará a final contra o Newcastle é o Liverpool. O atual vencedor da competição nacional chega ao último capítulo da defesa de cinturão. E, cá entre nós, é franco favorito. Talvez o primeiro título de Slot pelo clube de Anfield venha bem cedo.

LIVERPOOL

Uma atuação ao melhor nível dos reds de Arne Slot. Mesmo com um time quase misto na escalação inicial, o gigante de Anfield teve repertório para furar a retranca dos Spurs. Uma agressividade espetacular. Um posicionamento inteligentíssimo. Uma circulação de bola bem trabalhada. Um arsenal de ideias perto da área rival. Cruzamentos, diagonais, tabelas, triangulações, enfiadas, chutes de média distância, escanteios, faltas. Quiçá seja uma equipe com mais repertório até que a de Jürgen Klopp. E quando os espaços surgiram em maior número então, após o segundo gol, foi um espetáculo vermelho. Transições rápidas e combinações que pareciam ser feitas por música, absolutamente envolventes e empolgantes. Goleada merecidíssima. A má impressão deixada na ida, em dia sonolento, está completamente esquecida. Aquele momento com alguns tropeços inesperados ficou para trás. A reversão dificilmente poderia ser mais brilhante do que isso. O Liverpool já encanta novamente. E defenderá o título da Copa da Liga contra o Newcastle. Até aqui, o esquadrão de Arne Slot é o melhor time do mundo na temporada. Líder na Premier League, classificado em primeiro na Champions, nas oitavas da FA Cup e na final da Carabao. E é favorito a tudo que disputa. Difícil imaginar um primeiro ano pós-Klopp melhor que esse.

TOTTENHAM

É verdade que o torcedor dos Spurs já está acostumado com os desastres, mas isso não significa que eles machuquem menos. Mais uma eliminação duríssima, com direito a humilhação. É difícil de pensar em uma administração de vantagem mais vexatória que essa. Retranca mal feita, inexistência em contra-ataques e pobre absurda quando foi necessário propor jogo. Os lírios brancos conseguiram ser pífios com e sem a bola. Ok, há uma lista importante de desfalques, mas ela não vem de hoje e o desempenho ruim também não. E o desta quinta foi inclusive abaixo do já ridículo desempenho geral do clube de Londres. Ah, e nem mesmo o Liverpool começou a partida com a equipe completa. Não há desculpas. O massacre sofrido reflete a inferioridade técnica, tática e mental do Tottenham em relação ao oponente. Mais do que isso, expõe como o Galo de Londres está à deriva, sem gestão, sem elenco e até mesmo com um Ange Postecoglou perdido. Lá se vai mais uma chance de sair da seca de títulos que já dura 17 anos. Além disso, para ir à Champions agora só se ganhar a Europa League. Com esta crise e com a falta de indícios de uma ressurreição, é uma crença irreal.

ARBITRAGEM

A equipe arbitral comandada por Craig Pawson teve um desempenho totalmente seguro em Anfield. Acertou no gol anulado de Szoboszlai por impedimento, não picotou a partida e não cometeu nenhum erro relevante. Sequer deu algum cartão amarelo no jogo todo. O VAR não foi nem citado nas transmissões ao redor do mundo. Portanto, não é absurdo dizer que a arbitragem foi excelente em Liverpool.

FICHA TÉCNICA

🗒️ LIVERPOOL: Kelleher; Conor Bradley, Konaté, Van Dijk (Quansah) e Robertson; Gravenberch, Curtis Jones (Mac Allister), Szoboszlai, Salah (Elliott) e Gakpo (Luis Díaz); Darwin Núñez (Diogo Jota). Treinador: Arne Slot.
🗒️ TOTTENHAM: Kinský; Archie Gray, Danso, Ben Davies (Mikey Moore) e Spence; Bentancur, Pape Sarr (Bergvall) e Bissouma (Pedro Porro); Kulusevski, Son e Richarlison (Tel). Treinador: Ange Postecoglou.
🧮 Resultado: Liverpool 4×0 Tottenham
Gols: Gakpo, Salah, Szoboszlai e Van Dijk (Liverpool)
👟 Assistências: Salah, Conor Bradley e Mac Allister (Liverpool)
🟡 Cartões amarelos:
🔴 Cartões vermelhos:
👨‍⚖️ Árbitro: Craig Pawson (Inglaterra)
🏟️ Local: Estádio de Anfield, Liverpool-ING

BOLA DE OURO DO JOGO: Conor Bradley/Liverpool | FOTO: LFC/Reprodução

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Jonathan da Silva
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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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