CLASSIFICAÇÃO GIGANTE DO BRASIL
O Brasil eliminou a França em solo francês. Com emoção, a Seleção Brasileira venceu as francesas por 1 a 0 em Nantes e conquistou a classificação para a semifinal dos Jogos Olímpicos de Paris. A primeira vitória canarinho sobre a França na história do futebol feminino não poderia vir de maneira melhor. Com garra e eficiência, a equipe de Arthur Elias derrubou o favoritismo das comandadas de Hervé Renard e foi a única seleção a se classificar durante o tempo regulamentar nas quartas de final olímpicas.
O primeiro tempo em Nantes foi marcado por equilíbrio, erros técnicos e anulação de lado a lado. A favorita França tomou a iniciativa, mas não soube se impor. Apesar de ter mais a bola, a equipe azul teve pouca fluência na construção de jogo. Passes horizontais, poucas combinações e a clara dependência do chuveirinho. Uma forte arma, mas também a única do time de Hervé Renard. As melhores chegadas das donas da casa nem foram quando propuseram as ações, mas sim quando contra-atacaram. Quando o Brasil saiu da estrutura defensiva para atacar e deu brechas claras pelas beiradas. Por ali a França teve alguma profundidade. E em destes contragolpes cavou um pênalti com a ponta Cascarino. Mas Karchaoui perdeu. Parou em defesa de Lorena. Quando a chance surgiu, a Seleção Francesa não aproveitou. Custa caro em decisão.
O Brasil, por sua vez, também não conseguiu jogar grande coisa. Teve mérito defensivo porque, mesmo com as fragilidades pelas laterais nas transições defensivas, bloqueou bem o corredor central. Seja com as três zagueiras nos contra-ataques rivais ou com o 5–4–1 montado sem a bola. O único sufoco foi mesmo pelo alto, seja na área ou nas disputas após lançamentos. A segunda bola sempre sobrou para a França. Apesar da solidez tática, a disputa física foi desfavorável ao Brasil. E, claro, também faltou mais fluência com a bola. Foram poucos contra-ataques produtivos porque houve grande distanciamento entre a defesa e o ataque canarinhos. Ao recuperar a posse, as peças ofensivas apoiavam para empurrar a defesa francesa para trás, mas faltava gente no meio-campo para levar a bola de um campo para outro. Os lançamentos acabaram sempre sendo a saída e novamente apareciam os duelos corporais desfavoráveis para a equipe brasileira. Se houve anulação da França pela defesa do Brasil, também houve anulação do Brasil por parte da defesa da França. 0 a 0 coerente na ida ao intervalo.
O jogo foi melhor no segundo tempo. As duas equipes evoluíram. A França intensificou a marcação adiantada e recuperou mais vezes a bola no campo de ataque, estando mais próxima da área para cruzar. O Brasil diminuiu a distância entre setores e contra-atacou com mais qualidade, mais compacto, dando mais possibilidade para a vitória nos duelos de um contra um. Os dois ataques fluíram melhor e foram mais perigosos. A posse de bola variou. Houve troca de golpes. As francesas com verticalidade, as brasileiras agredindo pelas beiradas. As duas seleções tiveram possibilidades para abrir o placar ainda antes dos 20 minutos, mas novamente pararam na zaga adversária durante os duelos dentro da área.
Quando o jogo passou dos trinta minutos, quem começou a esboçar uma pressão foi a França. Natural, jogava em casa e não queria decepcionar a torcida que tanto espera pelo primeiro título importante de sua seleção. Com isso, a equipe de Hervé Renard adiantou ainda mais as suas linhas em campo. Assumiu riscos de comprometer a qualquer erro para ter maiores possibilidades no ataque. Teve lances de perigo, especialmente pelo alto. Mas não definiu. E pagou o preço por correr riscos defensivos. Em um contra-ataque verticalíssimo do Brasil, Adriana lançou Gabi Portilho entre as adiantadas Élisa de Almeida e Mbock, que bateram cabeça e deixaram a atacante brasileira livre. A jogadora do Corinthians, que já havia perdido uma boa chance antes, não desperdiçou dessa vez. Entrou na área cara a cara com a goleira Picaud e finalizou com muita competência para abrir o placar aos 36 minutos do segundo tempo. Surpresa em Nantes.
A partir do gol brasileiro, o desespero tomou conta da França. O apoio da arquibancada virou pressão. O favoritisimo virou uma âncora. E as coisas seguiram não acontecendo no ataque azul. Hervé Renard apelou para a atacante Le Sommer e tirou a vollante Toletti nesta troca. Além disso, abriu mão da defensora Élisa de Almeida para colocar a meia Dali. Arriscou ainda mais, expôs mais a defesa. E seguiu vivendo apenas de cruzamentos, sem qualquer jogo coletivo na meia cancha. Ou era chuveirinho ou era alguma enfiada tentada por Karchaoui. Não funcionou. A defesa brasileira se posicionou muito bem e nem mais os duelos pelo alto perdeu. Até mesmo a segunda bola passou a dominar. Maturidade completamente oposta da vista contra o Japão naquela virada sofrida nos acréscimos. E quem teve mesmo chance de fazer gol na reta final foi o próprio Brasil. Os erros técnicos grosseiros das donas da casa deram contra-ataques muito perigosos às brasileiras. Gabi Portilho colocou inclusive bola na trave. Por pouco a equipe canarinho não matou o jogo. E sofreu pouco mesmo com os 16 minutos de acréscimo dados pela árbitra Tori Penso. Surpresa consumada.
O Brasil derrubou a favorita e dona da casa França. Hervé Renard que tanto derrubou grandes seleções com estratégias reativas desta vez caiu para uma delas. A Seleção Brasileira não foi perfeita, teve fragilidades rotineiras, mas errou muito menos e acertou muito mais que nas partidas prévias. Sobretudo, teve maturidade nos momentos decisivos, sabendo amarrar o jogo e sabendo definir quando as chances surgiram. A França não sentiu apoio da torcida em Nantes, sentiu pressão. Viu que o jogo não foi como o esperado e não soube achar soluções. A cabeça acabou jogando contra. Não era apenas o Brasil do outro lado, era toda a cobrança pelo primeiro título importante em uma competição em casa. Os erros aconteceram em quantidade industrial. Na frente e atrás. E custaram caro. A Seleção Brasileira derrota a Francesa por 1 a 0 em plenos Jogos Olímpicos de Paris e está na semifinal. Jogo histórico para o futebol feminino brasileiro.
FRANÇA: Hervé Renard é um grande treinador ao montar times que se defendem bem e contra-atacam verticalmente. Hoje o jogo quase não permitiu isso. A França precisou propor as ações ofensivas e não foi capaz de se impor assim. Não teve dinamismo, mostrou distanciamento entre setores e viveu dos cruzamentos, da bola aérea, arma forte, mas da qual no máximo conseguiu uma bola no travessão. As melhores jogadas vieram justamente quando o Brasil tentou atacar e deu espaços pelas beiradas. No entanto, inclusive assim faltou eficiência às francesas. Karchaoui, uma das melhores em campo, perdeu até pênalti. E os erros técnicos grosseiros na defesa foram a ponta do iceberg. A atuação foi fraca, o mental jogou contra e até as chances que surgiram foram desperdiçadas. Eliminação trágica da França em casa. A badalada Seleção Francesa segue sem grandes conquistas no futebol feminino, com o segundo torneio importante perdido dentro do próprio país.
BRASIL: O grande mérito da classificação gigante do Brasil para a semifinal olímpica esteve na postura. Na resiliência, na garra, na eficiência e, sobretudo, na coragem. A equipe brasileira acreditou que poderia derrubar as favoritas francesas e equilibrou o jogo do início ao fim. A atuação teve seus defeitos, é claro, mas foi uma grande evolução em relação ao futebol apresentado na fase de grupos. A defesa até teve suas fragilidades pelos lados, mas bloqueou melhor o meio e cometeu muito menos erros técnicos e de transição que nos jogos anteriores. O ataque ainda teve certo distanciamento do restante do time, mas as escapadas pelas beiradas e as jogadas verticais funcionaram muito melhor que na fase inicial. O gol não foi a única chance brasileira no jogo. Vitória histórica sobre a dona da casa França. O Brasil mostrou que com muita concentração e eficiência pode competir contra as potências da modalidade. E já está entre as quatro melhores seleções dos Jogos Olímpicos. A Seleção Brasileira disputará uma medalha olímpica.
ARBITRAGEM: O caseirismo da arbitragem em Nantes foi constrangedor. Ok, o pênalti de Tarciane em Cascarino foi claro e bem marcado, bem como o gol brasileiro foi legal, mas a condução em outros momentos foi muito negativa. Primeiro, a própria Cascarino deveria ter sido expulsa quando desferiu um soco em Angelina e levou apenas cartão amarelo. Depois, um absurdo os 16 minutos de acréscimo em um segundo tempo que nem parou tanto assim. Não bastasse isso, a apitadora Tori Penso ainda deixou o jogo correr mais três minutos além do tempo exagerado já acrescido. Sem justificativa. Difícil não pensar que a árbitra estadunidense fez isso porque poderia favorecer o time que joga em casa. Ridículo, mas para a sorte brasileira não interferiu no resultado.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ FRANÇA: Picaud; Élisa de Almeida (Dali), Mbock, Renard e Bacha; Toletti (Le Sommer), Geyoro e Karchaoui; Cascarino, Baltimore (Diani) e Katoto. Técnico: Hervé Renard.
🗒️ BRASIL: Lorena; Thais Ferreira (Lauren), Tarciane e Rafaelle (Tamires); Adriana, Duda Sampaio (Angelina), Ana Vitória e Yasmim; Gabi Portilho, Jheniffer (Ludmila) e Gabi Nunes (Kerolin). Técnico: Arthur Elias.
⚽ Gol: Gabi Portilho (Brasil)
👟 Assistência: Adriana (Brasil)
🟡 Cartões amarelos: Renard, Katoto, Diani e Cascarino (França) | Jheniffer, Tamires, Kerolin, Gabi Portilho e Angelina (Brasil)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Tori Penso (Estados Unidos)
🏟️ Local: Estádio de La Beaujoire, Nantes-FRA