CARTEIRAÇO COLORADO
Com emoção, o Internacional derrotou o Grêmio de virada por 3 a 2 no Beira-Rio pela penúltima rodada da fase inicial do Gauchão. Com a vitória no clássico e confronto direto, o colorado garantiu matematicamente a primeira posição da etapa classificatória do estadual. O resultado positivo vermelho veio mesmo com uma atuação abaixo do padrão e de um tricolor bem defensivo montado por Renato.
O jogo começou com a cara esperada. O Inter propondo e o Grêmio se defendendo. Algo que já era previsto durante a prévia do clássico e ficou ainda mais esperado após a escalação de Renato com quatro volantes de origem. Na prática, o treinador gremista armou um 4–5–1 com Dodi e Gustavo Nunes mais abertos, além de JP Galvão isolado. Com a postura defensiva, o tricolor conseguiu controlar a famosa pressão colorada no início da partida. O Grêmio não saiu para marcar adiantado, não pressionou a saída de bola do Inter, apenas esperou perto da área bem compacto, congestionando o meio e combatendo forte. O colorado tinha lampejos, mas ainda não era fluente.
A surpresa do começo da partida foi mesmo o gol gremista. O time de Renato apoiava com pouquíssima gente, por vezes apenas com Gustavo Nunes e JP Galvão. No cruzamento do tento, o único jogador tricolor na área era Dodi, o “ponta direita”, que já havia até desistido do lance e estava virando de costas para a jogada. O presente de Renê foi bizarro. Gol contra com uma finalização de chapa, de perna direita. Um erro monstruoso de falta de comunicação com o goleiro Anthoni e de lambança técnica, pois não sofria pressão alguma e fez o que fez. Nem o Grêmio esperava sair na frente naquele momento. Mas abriu o placar aos 15 minutos.
O jogo não teve uma grande mudança de rumos com o gol gremista porque o Internacional apenas continuou propondo as ações, enquanto o tricolor manteve o foco em se defender de forma sólida. O que aconteceu foi a velha história de quem estar atrás ser refém de qualquer erro. Aos 25 minutos, os três volantes mais centrais do Grêmio foram combater Alan Patrick, que recebeu uma bola na intermediária. Nenhum deles desarmou o camisa 10 colorado. Pelo contrário, abriram espaço entre as linhas de marcação tricolores com a saída de lugar mal sucedida. Justamente por ali apareceu Maurício, da beirada para dentro, como gosta. Alan Patrick, qualificado, teve vitória pessoal com a bola e o Grêmio foi atraído para fora do lugar, permitindo com que Maurício finalizasse de média distância e empatasse o jogo. Detalhe tático e técnico decisivo quando o Inter ainda não era fluente coletivamente.
A partir do empate, o Inter ganhou confiança e controlou o restante do primeiro tempo. Foi superior, ainda que não tenha convertido isso em vantagem no placar justamente porque o Grêmio soube congestionar as entradas da área. As trocas de posição do ataque colorado começaram a fluir. O Inter cresceu muito com o famoso “toco y me voy”, fazendo combinações de primeira, chegando perto da área com qualidade e muita gente participando das jogadas. Mas com o bloqueio tricolor, faltou precisão colorada nos cruzamentos e nas finalizações. Mesmo nas cordas, sem conseguir ser seguro mesmo com tanta gente atrás, o Grêmio resistiu a partir da combatividade perto de sua goleira.
O começo do segundo tempo manteve a continuidade do roteiro do término do primeiro, porém não por muito tempo. O Internacional começou perigoso, mas logo novos erros defensivos tiraram o time do eixo. Ainda que o time de Chacho Coudet estivesse na frente, cada contra-ataque do Grêmio era perigoso diante da falta de solidez na marcação vermelha pelo meio, com o insucesso na famosa pressão pós-perda de bola. Gustavo Nunes estava ficando em um contra um contra Bustos ou Vitão o tempo inteiro. Quando acertasse uma jogada, a chance de gol seria altíssima. E foi. Quando acertou um bom passe para Villasanti infiltrar por dentro, o volante gremista recolocou o Grêmio na frente do placar aos dez minutos. Com ajuda de Robert Renan, que não marcou, e de Renê, que deu um bote ridículo que foi uma assistência para o paraguaio. Mérito gremista por ter saído mais e melhor para o contra-ataque no começo da segunda etapa, algo certamente pensado por Renato ao analisar o cenário físico do jogo, diante do experiente meio-campo do Internacional.
Os vinte minutos seguintes ao gol foram do melhor momento do Grêmio na partida. A única fase do jogo em que o tricolor conseguiu equilibrar a posse de bola e ser presente no campo de ataque com volume numérico. Com o desgaste, o Internacional perdeu capacidade de marcação. Sem a recuperação frequente da bola, não teve mais o domínio da posse e muito menos do território. O tricolor ousou adiantar a marcação e Renato colocou Pavón no lugar de Dodi, uma mudança de característica. No entanto, faltou ao Grêmio precisão nos arredores da área, achar uma grande jogada para matar o jogo. Pelo contrário, mesmo se arrastando, quem achou um gol no carteiraço foi o colorado. Em um momento em que o Inter pouco atacava, Maurício conseguiu mais uma vez aparecer com liberdade entre as linhas de marcação gremistas e desta vez não finalizou, mas sim deu boa enfiada para Lucas Alario, que havia entrado há um minuto. Em sua primeira participação no Gre-Nal, o centroavante argentino girou e empatou de novo o jogo aos vinte minutos. Lampejo.
O gol não foi o que recolocou o Inter na partida. Os dez minutos seguintes ao gol ainda estão dentro dos vinte bons minutos do Grêmio já citados. O que mudou os rumos do roteiro foram as substituições de Eduardo Coudet, que recuperaram a vitalidade do Inter sem a bola. As entradas de Bruno Gomes e Rômulo recuperaram a marcação colorada no meio-campo. O time da casa voltou a dominar a posse de bola e o visitante voltou para trás. Nesse momento os dois técnicos também tiraram seus melhores jogadores na tarde, Maurício e Gustavo Nunes. O Grêmio parou de ter contra-ataques perigosos. O Inter, apesar de ter a posse, não conseguia abrir o rival a partir de movimentação. Wesley ameaçava lampejos pela ponta, mas não finalizava bem.
Tudo caminhava para a manutenção do empate. No entanto, Alan Patrick continuava em campo. Estava desgastado, mas poderia decidir o jogo próximo da área. Rômulo, que não costuma ser preciso nos passes verticais, hoje acertou um e foi decisivo. Ele que enfiou para Alan Patrick, livre entre as linhas de marcação do Grêmio, como quem não queria nada, esquecido. O camisa 10 foi em direção a área e Kannemann, precipitado, fez falta em diversas partes do corpo do craque colorado. Como a ação foi em cima da linha da área, pênalti. Quando tudo parecia perdido, uma falha clamorosa do Grêmio e um lampejo do Inter. Na cobrança da penalidade, Alan Patrick, maduro, experiente, qualificado e homem Gre-Nal, não desperdiçou. O quarto gol dele em clássicos veio aos 52 minutos do segundo tempo. E deu a vitória ao Inter no clássico.
Eduardo Coudet e Renato Gaúcho gostam de entregar bons clássicos ao público do futebol. Com diferentes roteiros, os treinadores proporcionam bons Grenais desde 2020. Cheios de gols, variações de cenário durante o jogo, intensidade e emoção. No passado, a dominância era gremista, vencendo sempre nos detalhes. Hoje, os detalhes favoreceram o Internacional, que realmente foi superior no geral e mereceu vencer. Mas o resultado foi menos condizente com a diferença técnica das equipes justamente porque Renato armou um time defensivo, reativo, que competiu de sua maneira. Todavia, na base de boas combinações coletivas e lampejos individuais, o Inter de Coudet achou a vitória no carteiraço mesmo em um segundo tempo instável e em um jogo de vários vacilos de Renê e Anthoni. Apesar dos percalços, o melhor time venceu, como esperado. No Gre-Nal que valia a liderança da fase inicial do Gauchão, deu Inter. Em um bom jogo de futebol.
INTER: Mesmo sem jogar tudo o que pode, o Inter buscou a vitória no Gre-Nal 441 no carteiraço. O ferrolho do Grêmio conseguiu limitar a criatividade colorada, bem como erros individuais vermelhos comprometeram e chegou a faltar perna em parte do segundo tempo. Mas a qualidade técnica fez a diferença nos detalhes. A cabeça também foi importante para o Internacional buscar o resultado mesmo estando duas vezes atrás do placar. Com os três pontos, o time de Chacho Coudet garante matematicamente a primeira posição da fase inicial do Gauchão com uma rodada de antecedência.
GRÊMIO: Com uma escalação bem defensiva, de quatro volantes, Renato conseguiu fazer o Grêmio não ser muito inferior ao Inter, como era no papel. Todavia, ainda assim não conseguiu anular completamente o colorado, viu o adversário ser melhor no geral e acabou por perder o jogo nos detalhes, mesmo tendo a vantagem no placar por duas vezes, ainda que talvez sem saber como em uma delas. Assim, com a derrota no Gre-Nal, o tricolor acabará a primeira fase do Gauchão na segunda colocação.
ARBITRAGEM: Anderson Daronco acertou no lance decisivo da partida, mas como de costume cometeu erros e não teve controle do jogo. O pênalti para o Internacional foi o grande acerto do apitador, Kannemann começa a tentar a falta em Alan Patrick fora da área, mas de fato a consuma apenas dentro dela. O principal erro foi a não marcação de falta de Bruno Henrique sobre João Pedro no começo da jogada do primeiro gol colorado, mas vale ressaltar que antes do tento muita coisa aconteceu, o que não permitiria intervenção de VAR se houvesse. Outros erros foram cartões não aplicados em faltas duras e a permissividade para cinco ou mais jogadores gremistas estarem em cima dele em absolutamente todas as marcações favoráveis ao Internacional. Se Daronco não fosse passivo, dificilmente Kannemann e Reinaldo teriam acabado o jogo em campo. O agarrão do zagueiro argentino sobre Enner Valencia dentro da área no começo do jogo é interpretativo, precisaria de rigor para ser marcado, o que sem VAR jamais aconteceria em um Gre-Nal.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ INTER: Anthoni; Bustos, Vitão, Robert Renan e Renê; Aránguiz (Rômulo), Bruno Henrique (Alario), Maurício (Lucca) e Wanderson (Wesley); Alan Patrick e Enner Valencia (Bruno Gomes). Técnico: Eduardo Coudet.
🗒️ GRÊMIO: Marchesín; João Pedro, Rodrigo Ely, Kannemann e Reinaldo; Du Queiroz, Villasanti, Pepê, Dodi (Pavón) e Gustavo Nunes (Nathan Fernandes); JP Galvão (André Henrique). Técnico: Renato Gaúcho.
⚽ Gols: Maurício, Alario e Alan Patrick (Inter) | Renê [contra] e Villasanti (Grêmio)
👟 Assistências: Alan Patrick e Maurício (Inter)
🟡 Cartões amarelos: Renê, Rômulo e Bustos (Inter) | Reinaldo, Kannemann, Rodrigo Ely e Nathan Fernandes (Grêmio)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Anderson Daronco (Rio Grande do Sul)
🏟️ Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre-RS