CADEIRADA
O Internacional deu show no Beira-Rio e aplicou uma cadeirada no Cuiabá: 3 a 0 fora os “ameaços”. O time de Roger Machado colocou o dourado pantaneiro nas cordas do início ao fim e com repertório, dinamismo e criatividade, poderia ter feito muito mais do que três gols. Apesar da necessidade de considerar as fragilidades que tem o time matogrossense, deu gosto de assistir o futebol praticado pelo clube gaúcho.
A metade inicial do primeiro tempo foi de um desempenho vistoso do Internacional. O colorado misturou agressividade, velocidade, movimentação, técnica e entrosamento para simplesmente deixar o Cuiabá sem rumos. O time visitante até teve a primeira chance de gol do jogo, aos 3 minutos, um milagre de Rochet, mas como havia impedimento, nem deve ser considerada. A partir daí, um festival de chances perigosas para o colorado e um dourado totalmente envolvido. A equipe de Roger Machado recuperava a bola sempre do meio-campo para a frente e tinha apenas o trabalho de construir, o que não foi difícil com as virtudes citadas há pouco. As jogadas de primeira, rápidas, atraindo marcação e explorando as entrelinhas do 4–4–2 e as laterais desprotegidas do time cuiabano, encantaram. Teve bola na trave, teve grandes defesas de Walter, teve gols inacreditavelmente perdidos. E teve gol! Aos 10 minutos, após pênalti sofrido por Wesley, o camisa 10 Alan Patrick abriu o placar para o Internacional. Um cenário de animar o torcedor e até mesmo o público geral por tamanha envolvência e diversão.
A partir da proximidade dos 30 minutos da etapa inicial, o colorado deu uma reduzida no ritmo para recuperar o fôlego. Não manteve aquela marcação alta que não deixava o Cuiabá sequer ter a bola, mas também não perdeu as rédeas defensivas. O dourado até passou a aparecer no campo de ataque, mas diante do bom posicionamento e das leituras corretas da defesa do Internacional, viveu apenas de lançamentos, bolas cruzadas e passes horizontais entre os dois zagueiros, os volantes e os laterais. Zero avanço, zero construção. Quem continuava perigoso e, agora, traiçoeiro era o colorado. Pois o time não recuou de vez. Descansava alguns minutos e depois atacava com volúpia. Descansava de novo e voltava a dar estocadas. Administração física e técnica do jogo. Mais jogadas envolventes apareceram, com Bernabei, Alan Patrick, Bruno Gomes, Wesley, Thiago Maia, Fernando, muita gente exalando inspiração. Como não poderia ser diferente, o Internacional conseguiu seu segundo gol ainda antes do intervalo, aos 41 minutos. E de um jeito bem condizente com a atuação do time: um golaço de Mercado, pegando uma sobra de uma cobrança de falta, sem deixar a bola cair, de primeira, acertando o ângulo de Walter. Beleza digna do desempenho que levou o colorado ao intervalo com uma vantagem anímica muito maior do que o placar.
O segundo tempo inteiro, diferentemente do que a lógica indicaria, pareceu um treino de campo reduzido: todo o jogo aconteceu apenas no campo de ataque do Internacional. O Cuiabá, apesar de substituições de seis por meia dúzia, não esboçou qualquer reação. Não apenas por impotência e falta de movimentação para manter a bola, mas também porque o time da casa foi impiedoso na marcação adiantada. Mesmo com a vantagem sólida, o colorado não recuou. Com o time inteiro do meio para a frente, neutralizou o rival com intensidade e, sobretudo, bom posicionamento. Aos poucos, dominado, o Cuiabá desistia até mesmo de esboçar uma marcação mais agressiva. Conforme o Internacional achava jogadas dinâmicas, acertava bola no travessão e exigia defesas de Walter, a equipe dourada apenas recuava mais para se proteger de um massacre e já se via até mesmo em um 5–4–1 sem a bola. O segundo tempo, mais ainda do que o primeiro, foi um monólogo alvirrubro.
Para se ter uma ideia, o time de Roger Machado terminou a etapa final com 73% de posse de bola. Basicamente atacou e se defendeu com a bola no pé. Não fez o tempo passar esperando atrás, mas sim se mantendo presente no campo de ataque e flertando com mais gols o tempo inteiro. A dinâmica coletiva, até pelas novas peças, já não era tão exuberante quanto no primeiro tempo, mas o repertório seguia diversificado. Havia jogada individual, lançamentos, cruzamentos, combinações, enfiadas, diagonais. Daquele time que vivia de chuveirinho, resta pouco. Hoje se vê uma equipe que entende o adversário e o agride de diversas formas. Veio o terceiro gol, com Borré, aos 27 minutos, e poderiam ter vindo outros com maior capricho nas conclusões, única coisa que faltou hoje e falta em todo campeonato ao colorado. Mas não fez falta.
O jogo no Beira-Rio foi essencialmente um monólogo do Internacional. O time de Roger Machado deu as cartas e ditou as regras desde o primeiro até o último segundo do duelo contra o Cuiabá. Além dos 67% de posse de bola, o colorado terminou a partida com 15 finalizações contra apenas duas do dourado. Foram sete conclusões na direção do gol, duas nos postes. Às vezes as estatísticas maquiam situações, hoje apenas expõem o massacre que foi o confronto em Porto Alegre. Um Inter agressivo, dinâmico, entrosado, técnico, veloz e confiante deu uma cadeirada em um Cuiabá desmotivado, desorganizado e perdido. 3 a 0 ficou muito barato diante da real discrepância da partida. Ainda assim, pelo que se viu do colorado gaúcho, foi um jogo bastante divertido de se assistir. Quem gosta de um futebol artístico certamente apreciou o espetáculo de Alan Patrick, Bernabei, Fernando, Wesley, Roger Machado e companhia.
INTER: Foi uma noite feliz para o Internacional. O colorado jogou um futebol bonito. De pé em pé, com movimentação envolvente, passes rápidos, lances técnicos, entrosamento, jogadas coletivas, inspiração individual e, não menos importante, muita intensidade. A goleada não veio por acaso e poderia ter sido ainda maior se a eficiência nas finalizações estivesse próxima do alto nível apresentado pela equipe gaúcha no restante das fases do jogo. 3 a 0 ficou barato, a criatividade e o repertório foram abundantes. O Inter não deu a mínima chance para o Cuiabá competir. É a terceira vitória consecutiva do colorado no Brasileirão, a quarta em cinco jogos. É o quarto triunfo vermelho seguido no Beira-Rio. Com 38 pontos, o conjunto de Roger Machado é oitavo colocado, agora a apenas quatro pontinhos do G6. O Internacional definitivamente está em uma nova fase, anima o torcedor e almeja classificação para a próxima Libertadores.
CUIABÁ: O Cuiabá basicamente não conseguiu sequer competir no Estádio Beira-Rio. Foi controlado pelo Internacional do primeiro ao último minuto de jogo. O primeiro grande pecado foi entrar desligado diante de um rival elétrico, o que já fez o time visitante praticamente começar perdendo. Depois, as lesões e o domínio do adversário jogaram o emocional do dourado para baixo da terra. Indiferente e abalado, o time andava em campo, não conseguia passar do meio-campo e via o adversário fazer finalizações perigosas com frequência. No segundo tempo, já entregue e sem sair do atoleiro, Bernardo Franco focou apenas em fechar a casinha para não sofrer uma goleada histórica. E se não fosse Walter, pela apatia do time, teria sofrido mesmo assim. Nada deu certo para o Cuiabá em Porto Alegre. Após dois jogos de invencibilidade, o dourado volta a perder no Brasileirão e de forma bem amarga. A vice-lanterna segue nas mãos do time matogrossense.
ARBITRAGEM: Com a ajuda do VAR, Bráulio Machado fez uma arbitragem segura. O único erro do apitador em campo foi não ver o pênalti claro sofrido por Wesley, mas os assistentes de vídeo salvaram a pele dele. Nos outros dois gols do jogo, corretas marcações, inclusive no que Borré estava em condição legal ajustada. Sobretudo, a equipe arbitral não atrapalhou o espetáculo no Beira-Rio.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ INTER: Rochet; Bruno Gomes, Vitão, Mercado e Bernabei (Renê); Fernando, Thiago Maia (Bruno Henrique), Alan Patrick, Gabriel Carvalho (Gustavo Prado) e Wesley (Wanderson); Borré (Enner Valencia). Técnico: Roger Machado.
🗒️ CUIABÁ: Walter; Matheus Alexandre (Railan), Marllon (Bruno Alves), Alan Empereur e Ramon; Lucas Mineiro, Fernando Sobral, Lucas Fernandes (Filipe Augusto), Jonathan Cafu (Gustavo Sauer) e Clayson (Derik Lacerda); Pitta. Técnico: Bernardo Franco.
⚽ Gols: Alan Patrick, Mercado e Borré (Inter)
👟 Assistência: Bernabei (Inter)
🟡 Cartões amarelos: Gabriel Carvalho (Inter) | Pitta e Clayson (Cuiabá)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Bráulio da Silva Machado (Santa Catarina)
🏟️ Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre-RS