APOSTAS ESPORTIVAS NO BRASIL
O CRESCIMENTO
O mercado de apostas esportivas no Brasil vive exponencial crescimento. Segundo levantamento do MKT Esportivo, maior portal especializado em negócios no esporte e marketing esportivo da América do Sul, o investimento neste mercado cresceu de R$ 2 bilhões para R$ 7 bilhões entre 2018 e 2020.
Uma das demonstrações mais visíveis do crescimento das apostas esportivas está em sua publicidade. As propagandas de casas de apostas estão nas placas de publicidade nos eventos esportivos, nas camisas dos clubes de diversas modalidades, em anúncios nas mídias sociais e até em comerciais de televisão aberta. Na final da última Copa do Brasil, entre Flamengo e Corinthians, uma casa de apostas estava exposta atrás de uma das goleiras. Já na última rodada do Brasileirão, dez casas foram exibidas nas placas de publicidade dos estádios que receberam partidas. BetFair, Futebol Fácil, PixBet, Betano, SportsBet.io, Pitaco.com, BetMidas, Luck.Bet, BetEsporte e BetNacional. Na Série A do Brasileirão, os vinte clubes participantes possuem algum patrocínio de casas de apostas em sua camiseta. Em nove deles, a casa estampa o patrocínio máster. O São Paulo Futebol Clube é o que recebe maior investimento dentre as empresas do ramo: R$ 24 milhões anuais da SportsBet.io, segundo levantamento do portal Lance!. E na televisão aberta também pipocam as propagandas. Pouco antes abertura do Jornal Nacional, da TV Globo, maior telejornal do país, a Betano tem sua marca exposta como principal patrocinadora.
O crescimento do interesse neste mercado pode se ver nos gráficos de pesquisa dos termos bet e aposta no Google, segundo o Google Trends.
Outra forma de entender o engajamento atual das apostas esportivas é uma análise sobre número de seguidores das casas de apostas nas redes sociais. No Instagram, o perfil da KTO Brasil possui 108 mil seguidores; o da EstrelaBet, 136 mil; o da Betano, 140 mil; o da SportsBet.io, 320 mil; o da BetFair, 106 mil; o da PixBet, 701 mil. Isto sem falar no número de seguidores de influencer que falam sobre apostas, como Eduardo Baptista, conhecido como goldorayo, que possui pouco mais de 95 mil seguidores no Instagram.
OS ENVOLVIDOS
No entanto, muitos são os que vão além do interesse e participam diretamente deste mundo. Não há um levantamento preciso sobre o número de apostadores no Brasil atualmente, mas o alto número de seguidores nas redes sociais é um indicativo do quão longe este mercado chegou.
O jornalista Willian Santos, de 23 anos, morador de Paranaguá-PR, é um apostador desde 2018.
“Eu sou jornalista. Conheci o mundo das apostas esportivas pela internet. Costumo apostar 60 vezes por mês. Uso as apostas como um entretenimento que pode virar negócio um dia. As apostas ainda não têm importância em minha renda. E sigo mais minhas análises para apostar.”
Já Felipe Xavier, de 23 anos, que mora em Porto Alegre-RS, aposta mais esporadicamente.
“Sou operador de telemarketing há dois anos e meio. Conheci as apostas através das publicidades na TV aberta e fechada e pelas redes sociais, o Twitter principalmente, onde a minha bolha já vinha apostando. Isto há uns seis meses e conheci mais pelo Twitter, mas entrei em julho deste ano. Bah, faço umas dez a quinze apostas no mês. Eu costumo apostar só no Brasileirão, em uns três ou quatro jogos por rodada. Às vezes menos, quando a rodada é difícil, mas nunca passa disso. No momento, não tem importância em minha renda. Mas um dia quem sabe. Eu só apostei baixo até hoje. Não tenho muito dinheiro assim. Mais vezes aposto pela minha intuição. Mas já segui um influencer, o goldorayo.”
Segundo um levantamento da Industry Insights — Telecom, Plataformas e Serviços de Educação, em parceria com a Globo, 67% dos apostadores usam as apostas como entretenimento, assim como Willian e Felipe. Todavia, este levantamento também mostrou que para 43% dos entrevistados, as apostas são negócio, como um dia podem vir a ser para os dois entrevistados. E como negócio, as apostas chegaram tão longe que elas já não são mais apenas fonte de renda direta, para apostadores, mas também para quem faz indicação de apostas, as chamadas Tips, palavra em inglês que significa dicas. É o caso de Leonardo Gaudeoso, conhecido como Leozin Tips, morador de Santos-SP. Leonardo, de pouco mais de 33 mil seguidores no Twitter, é cofundador do Tteuw Tips, de mais de 18 mil seguidores nas redes sociais e 12 mil inscritos em seu grupo free de dicas no Telegram. A Tteuw Tips possui também canais pagos com dicas especializadas em apostas sobre basquete e futebol. Leonardo entrou neste mercado há dois anos e abandonou o curso de física na USP para se dedicar a nova ocupação.
“Estou no mercado das apostas há dois anos. Apostar e indicar apostas é minha principal fonte de renda. Inclusive, abandonei (o curso de) física na USP esse ano para me dedicar somente nisso. Conheço várias, mas que não são tão próximas que também têm nas apostas a maior fonte de renda. Mas que costumo falar e interagir diariamente conheço umas duas.”, destacou o influencer.
Outro caso é o de Lucas Duarte, de 13,9 mil seguidores no Instagram. Lucas tem mais 19,7 mil seguidores em seu grupo free pessoal no Telegram e 72,5 mil em seu canal de Telegram especializado em apostas da NBA, o DuarteBet. Lucas já teve outras ocupações, mas se encontrou na área chamada de trade esportivo.
“Estou há mais de três anos no mercado das apostas esportivas. Sim, é minha maior fonte de renda atualmente. Já tive outras ocupações, mas sim, a de hoje vale mais a pena. Conheço pessoas que vivem do dinheiro das apostas, mas não sei dizer quantos.”, contou Lucas.
Tanto Leonardo quanto Lucas enxergam na prática o crescimento do mercado das apostas nos últimos anos.
“Sim, esse ano principalmente houve um grande crescimento no mercado de apostadores.”, destacou Lucas Duarte. “(O mercado) está crescendo e muito, inclusive esse ano e ano passado teve um ‘boom’, muita gente nova.”, disse Leonardo Gaudeoso.
Perguntados sobre o perfil de seus apostadores, Lucas e Leonardo foram unânimes: diversificado. Pessoas das mais variadas ocupações e idades, como foi o caso visto entre os entrevistados anteriormente, Willian Santos e Felipe Xavier, que são jornalista e operador de telemarketing, respectivamente.
“Não tenho como dizer, são diversos perfis de apostadores.”, afirmou Lucas Duarte. “O perfil dos apostadores que me seguem é bem diversificado. Lá no começo eu conseguia interagir com todos, tinha as figurinhas marcadas que estavam sempre comentando, curtindo, mas agora tem de todo tipo.”, destacou Leonardo Gaudeoso.
Para terem bom aproveitamento em suas “tips”, os traders esportivos analisam dados estatísticos e os mesclam com o conhecimento que têm sobre os esportes em que atuam.
“Busco a melhor oportunidade do mercado (para ter apostas certeiras). Analisando e debatendo sobre.”, afirmou de forma sucinta Lucas Duarte. “Eu abro os sites que utilizo para comparar as ODDs e procuro aquelas desajustadas, não tem nenhum segredo.”, contou Leonardo Gaudeoso.
As odds são as probabilidades de que um evento aconteça. Já as desajustadas, citadas por Leonardo, são aquelas consideradas mais baixas ou mais altas do que deveriam ser. São as que pagam bem mais ou bem menos do que o valor considerado justo pelos especialistas para aquele determinado evento. As ajustadas, em contrapartida, são as mais fiéis a realidade, consideradas corretas em relação ao que pode acontecer naquele evento.
AS LEIS
Segundo a lei 3.688/1941, os jogos de azar são proibidos no Brasil. No entanto, o funcionamento de casas de apostas esportivas no Brasil é autorizado pela lei número 13.756, sancionada em 2018 pelo presidente Michel Temer.
No entanto, especialistas sobre o assunto não consideram que a lei tenha esclarecido todas as questões acerca da regularidade deste mercado, pois o artigo 29 dela fala que até o final de 2020 ocorreria a regulamentação da atividade. Devido a pandemia, o debate fora adiado e o prazo atual é até o fim de 2022, mas já em novembro o assunto ainda não fora finalizado.
Há também um projeto de lei que autorizaria jogos de azar no Brasil. Trata-se do PL 442 de 1991, que já foi aprovado na Câmara dos Deputados e aguarda apreciação pelo Senado Federal. O projeto de Renato Vianna (PMDB-SC), revoga as leis que proíbem a exploração de jogos e apostas em território brasileiro.
Todavia, a precariedade da legislação referente ao tema faz com que a maioria das casas de apostas famosas no Brasil operem fora do Brasil. A bet365 e a BetFair, por exemplo, têm suas sedes no Reino Unido; a KTO, em Malta; a Betano, na Grécia. As casas recebem o dinheiro brasileiro, mas movimentam sua arrecadação fora do país.
OS QUE PERDERAM TUDO
Investimento incerto, o mercado das apostas pode enriquecer ou falir uma pessoa. Quem tem nesta área seu maior investimento geralmente tem métodos e controla suas atitudes para não sofrer um grande prejuízo. No entanto, as apostas esportivas podem levar ao vício como qualquer jogo e tornar o apostador um refém. A imprensa brasileira já repercutiu diversos casos de apostadores que perderam altas quantias ou até mesmo faliram. Uma matéria do jornalista Adriano Wilkson, do UOL, relatou o caso de um jovem que pediu para sua mãe o dinheiro guardado por ela em casa, o plano de previdência privada e até um empréstimo que seria para aplicar em fundos, utilizou tudo em apostas e faliu, acumulando boletos de contas a pagar. No fim desta história, o garoto fora internado devido ao vício nas apostas. Outro caso repercutido foi publicado por meio da jornalista Larissa Reis, do BHAZ, que contou a história de um mineiro que perdeu 80 mil reais em apostas esportivas. O rapaz de 23 anos contou que ia acumulando apostas para cobrir danos de insucessos no mercado, mas continuava perdendo e não parava de apostar. Em comum entre os casos citados, os envolvidos preferiram não se identificar.
O PANORAMA GERAL
Em crescimento no Brasil, o mercado das apostas esportivas se consolidou como uma nova fonte de renda informal. Para alguns é entretenimento, para outros um complemento financeiro e há até para quem seja o ganha-pão, como o caso de quem trabalha com indicações de aposta, como Lucas Duarte e Leonardo Gaudeoso, ouvidos na reportagem. As casas de apostas, que chegam a lucrar bilhões, são permitidas em território brasileiro, mas ainda esperam a regulamentação da atividade para estabelecerem-se de vez no país. No entanto, assim como qualquer jogo de resultado incerto, o bet pode fazer vítimas. Casos de dependência e falência já são muito comentados na internet. Dentro dos grupos familiares também não faltam histórias de “conhecidos” que ganharam um bom dinheiro em apostas múltiplas, o arriscaram e perderam. E desta forma se consolidou este mercado, casando ganhos financeiros e o esporte, paixão dos brasileiros.