AO RITMO MEXICANO

Jonathan da Silva
7 min readJan 17, 2025

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Com uma estratégia reativa bastante efetiva, a Seleção Mexicana venceu o Internacional por 2 a 0 em amistoso internacional realizado no Estádio Beira-Rio. O contraste de ritmo entre o time de jovens talentos do futebol mexicano que têm atuado pela liga nacional e o de um colorado desfalcado e em pré-temporada foi o fator mais determinante para o resultado. Sem conseguir acompanhar a velocidade de La Tri, o time brasileiro foi extremamente frágil ao sofrer contra-ataques e inofensivo mesmo com mais de 60% de posse de bola. Triunfo contundente do selecionado de Javier Aguirre, que mostrou maturidade dos dois lados do campo mesmo com uma média de idade inferior a 23 anos.

No começo de jogo, o impacto da diferença de ritmo entre as equipes não foi tão evidente. Isto porque o Inter dominou a posse de bola por cerca de 30 minutos, impedindo contra-ataques do México a partir de uma surpreendentemente boa pressão pós-perda da pelota. Mesmo com as limitações físicas, o colorado fazia bons encaixes, era combativo e recuperava a esfera já no campo de ataque.

No entanto, ao ter a bola, aí sim se pôde perceber o nível pré-temporada do time de Roger Machado. Apesar de se postar em um 5–4–1 bem defensivo, o México dava suas brechas entre as linhas de marcação ao se precipitar para tentar ser combativo e mostrar serviço. O Inter tentava explorar isso, mas errava demais tecnicamente. Ou perdia o tempo de bola ou errava o passe. Mistura de limitação física e falta de jeito para quem estava de férias há poucos dias. Havia lampejos de ótimas combinações, mas na maioria do tempo era uma equipe estática, lenta e indecisa. Claramente dependeu das iniciativas individuais de Wesley, que evidentemente também sentiu a falta de prática. Borré, mais uma vez, pouco colaborou ao ser utilizado pela direita, como se fosse um ponta. Não houve uma chance real de gol para o colorado mesmo naquele período.

E, com o decorrer da disputa, a Seleção Mexicana inclusive foi começando a encontrar contra-ataques em ligações diretas muito inteligentes para Ruvalcaba, Efraín Álvarez e Guillermo Martínez. Explorou as costas da adiantada zaga vermelha e foi muito mais perigoso que o time da casa. Anthoni precisou salvar o time duas vezes em jogadas cara a cara com o atacante rival. Os defensores colorados, em especial Clayton Sampaio, estavam muito atrás dos adversários na corrida. Pesa muito.

Com a proximidade dos 30 minutos do primeiro tempo, o contraste físico apareceu de forma mais clara. Claramente desgastado, o Inter abriu mão da pressão pós-perda no campo de ataque e permitiu que o México passasse mais tempo com a bola nos pés. E o time tricolor não se jogou ao ataque, pois via que o cenário de explorar lançamentos nas costas dos defensores colorados era o ideal. Deste modo, optou por trabalhar a pelota de uma forma defensiva, atrair a marcação do Internacional de modo a espaçar o 4–4–2 gaúcho sem a bola e assim poder utilizar de bolas longas para se aproximar da área. Além disso, outro fator a beneficiar os mexicanos nesse novo cenário era o de ter mais gente no campo de ataque, não apenas um homem escapando sozinho. Com mais peças, a diagonal não era a única arma, apareciam também cruzamentos, tabelas e enfiadas.

O momento era muito favorável para La Tri. E assim, aos 33 minutos, abriu o placar com belo gol de Erik Lira. Além da linda finalização do volante, a jogada toda foi bem trabalhada, terminada com um bom cruzamento de Jesús Gallardo e um movimento inteligentíssimo de corta-luz de Ruvalcaba que tirou Rômulo do lugar e deixou Lira livre para finalizar da entrada da área. Aulas de atração de marcação por parte do time de Vasco Aguirre. E uma falta de prática clara da equipe de Roger Machado.

A partir do gol mexicano, o Inter se viu obrigado a voltar a pressionar na marcação alta, mesmo sem ter o físico ideal para isso. Ainda assim, conseguiu ser competitivo e roubar bolas perto da área do México. Pela primeira vez na partida, levou perigo real ao gol defendido por Raúl Rangel, infiltrando com poucos passes. Só faltou mais capricho para Valencia nas conclusões, outro a exibir a falta de ritmo. No entanto, este adiantamento ousado do Inter mesmo sem ter pernas cobrou seu preço. O México resistiu atrás e enxergou como um convite o terreno baldio nas costas dos zagueiros colorados. Deu mais algumas belas enfiadas para o trio de ataque subir com liberdade. A linha alta vermelha, sem velocidade, sem coberturas ajustadas, sem recomposição dos pontas e sem acerto técnico, foi um completo fracasso. A Seleção Mexicana acumulou contra-ataques perigosíssimos salvos por Anthoni até que Ruvalcaba ampliou o placar aos 45 minutos após bela enfiada da joia Elías Montiel. Um gol com a cara do que era o jogo. E que deixou La Tri com uma confortabilíssima vantagem de 2 a 0 na ida ao intervalo em Porto Alegre.

O segundo tempo inteiro foi um grande nada futebolístico. Com as várias trocas feitas pelos treinadores, os dois times passaram a ser completamente aleatórios em campo. O Inter, apesar de dominar a posse de bola, já nem esboçava mais fazer combinações para tentar criar jogadas, só forçava cruzamentos, enfiadas e jogadas individuais. Cheio de jovens, cheio de desentrosamento. Roger tentou testar, fez certo. Mas coletivamente não houve resultado. Ainda assim, Pablo e Yago Noal deixaram boas impressões. Todavia, o colorado em si não passou nem perto do gol de honra. O México, por sua vez, se recuou bastante, por vezes chegando a formar um 8–2–0 na tentativa de proteger a área. Já sem Montiel para começar as jogadas junto de Lira e sem Ruvalcaba para explorar espaços, o conjunto tricolor não conseguiu sair da prisão de estar estacionado perto da própria meta. Só viveu de alguns lampejos individuais já nos últimos minutos. Contudo, ao menos se defendeu bem, sem se espaçar nas entrelinhas como antes, para não levar nenhum gol e garantir o belo triunfo no Estádio Beira-Rio.

Sem surpresa, os jovens talentos do México, que têm jogado a todo vapor na ótima Liga MX, superaram um Inter bem desfalcado e sem ritmo de jogo no primeiro compromisso de 2025. Na prática, o confronto foi até mais equilibrado do que o contraste de nível físico entre as equipes, mas, de modo reativo, a superioridade mexicana foi clara. Atraiu o atabalhoado colorado e puniu com uma verticalidade extrema. Sobrou personalidade do lado mexicano, faltou pernas do lado colorado. O time de Roger Machado está longe de ser brilhante tecnicamente para se impor mesmo em um dia de intensidade baixa. Ainda assim, no fim das contas, foi um amistoso bacana em que todo mundo tem algo positivo a celebrar. O Internacional, por receber uma seleção em sua casa, expor a marca para o exterior, testar garotos e ganhar físico para o Gauchão. O México, pela vitória sólida, pela oportunidade para ótimos jovens e para testar um sistema defensivo que pode ser útil na Copa do Mundo. Agora cada um segue sua vida, o colorado no estadual, contra o Guarany de Bagé, e a tricolor em mais um amistoso híbrido, desta vez contra o River Plate.

INTER

Esteve claro que a falta de ritmo e os desfalques impediram o colorado de ter um bom rendimento no Beira-Rio neste primeiro jogo do ano. Até houve lampejos interessantes de marcação adiantada e combinações de passes rápidos, mas as limitações de velocidade, movimentação e precisão técnica tornaram o Inter improdutivo mesmo com grande posse de bola. A defesa, em especial, assustou por ser tão frágil ao jogar de forma altamente adiantada. Quando a pressão pós-perda não bastava, algo natural pelo físico, as bolas nas costas aconteciam o tempo todo pela lentidão e falta de coberturas na retaguarda. Anthoni evitou um resultado pior em mais uma boa atuação. Portanto, o que Roger pode levar do amistoso é mesmo o ganho de ritmo, pois taticamente fica difícil tirar conclusões precisas de um jogo em que o time mal conseguiu correr. Como vai se defender de contra-ataques e criar jogadas se não chega a tempo das jogadas? Resultado e desempenho foram ruins, mas é impossível ignorar o contexto de uma pré-temporada, de recente retorno de férias.

MÉXICO

O treinador Javier “Vasco” Aguirre certamente sai do Beira-Rio satisfeito com o que viu de seus jovens. Com muita personalidade, a garotada não sentiu o peso do estádio lotado de torcedores rivais e executou com eficiência a estratégia reativa planejada pelo técnico. Sem a bola, boa proteção da área no 5–4–1, compensando momentos de espaçamento. Com ela, pura verticalidade com um bom primeiro passe, muita velocidade para explorar as costas da defesa rival e habilidade para criar as chances claras. Gente como Juárez, Castillo, Montiel, Lira, Efraín Álvarez e Ruvalcaba aproveitaram muito bem a chance que tiveram e se candidatam a retornar para a seleção posteriormente. Além disso, o Aguirre ainda deu tempo de jogo para a maior promessa mexicana dos últimos tempos, Gilberto Mora, que em poucos minutos já mostrou que tem um trato íntimo com a bola. Bom resultado, bons testes e desempenho razoável. Sem dúvidas, valeu a pena para a Seleção Mexicana realizar este amistoso em Porto Alegre.

ARBITRAGEM

Como se espera de um amistoso, o jogo foi extremamente fácil para a arbitragem controlar tanto na parte técnica quanto na emocional. Nenhum erro relevante, nenhuma confusão, nenhuma invenção. Desempenho seguro da equipe arbitral comandada pelo renomado gaúcho Rafael Klein, da FIFA. O VAR nem precisou trabalhar.

FICHA TÉCNICA

🗒️ INTER: Anthoni; Bruno Gomes (Pablo), Clayton Sampaio, Vitão (Victor Gabriel) e Braian Aguirre; Rômulo (Luis Otávio), Thiago Maia (Bruno Henrique), Alan Patrick (Yago Noal), Borré (Gustavo) e Wesley (Wanderson); Enner Valencia (Vitinho). Treinador: Roger Machado.
🗒️ MÉXICO: Raúl Rangel; José Castillo (Meraz), Águila e Juárez (Victor Guzmán); David Ramírez, Elías Montiel (Jeremy Márquez), Erik Lira e Jesús Gallardo; Ruvalcaba (Fulgencio), Efraín Álvarez (Santiago Muñoz) e Guillermo Martínez (Gilberto Mora). Treinador: Javier Aguirre.
🧮 Resultado: Inter 0×2 México
Gols: Erik Lira e Ruvalcaba (México)
👟 Assistências: Jesús Gallardo e Elías Montiel (México)
🟡 Cartões amarelos: Clayton Sampaio (Inter) | Victor Guzmán (México)
🔴 Cartões vermelhos:
👨‍⚖️ Árbitro: Rafael Klein (Rio Grande do Sul)
🏟️ Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre-RS

BOLA DE OURO DO JOGO: Erik Lira/México | FOTO: Ricardo Rímoli/MexSport

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Jonathan da Silva
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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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