AGRADÁVEL PARA TODOS

Jonathan da Silva
7 min readNov 18, 2024

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Em partida interessante na cidade croata de Split pela última rodada da fase de grupos da Nations League, Croácia e Portugal ficaram em um empate de 1 a 1 que agrada a ambos os lados. Com o resultado, o time quadriculado garantiu a classificação para as quartas de final da competição europeia, que ainda estava sob ameaça de Escócia e Polônia. E os portugueses aproveitaram para fazer bons testes, certamente sem lamentar este pontinho fora de casa. Não foi jogo de compadres porque houve boas idas e vindas, mas hoje ninguém sai irritado por não vencer.

Com mais a perder que Portugal, a Croácia optou por não fazer nada extravagante no começo de jogo mesmo estando em casa e entregou a bola aos portugueses. O time croata se postou em seu 5–4–1 e focou em se proteger e eventualmente contra-atacar de forma perigosa, jogando no erro adversário. E os quinze primeiros minutos em Split foram muito arrastados em função disso. A Seleção Portuguesa até tentava jogar, mas não a partir de combinações de passes rápidos pelo meio, mas sim mantendo a bola entre os defensores e esperando que a Croácia fosse pressionar para então lançar bolas nas costas dos defensores quadriculados. O que não aconteceu justamente porque os croatas não queriam correr riscos, não foram agressivos na marcação e optaram mesmo por ficarem compactos no próprio campo. Ali até pareceu um acordo de compadres, mas aparentemente era apenas um começo de partida estudioso de ambos os lados mesmo.

A percepção de que ninguém estava ali para entregar nada de graça começou a surgir por volta dos quinze minutos. Isto porque naquele momento a Croácia tentou sair para o jogo, aumentando a intensidade na marcação e sustentando a bola por mais tempo nos pés a partir de um apoio mais numérico ao ataque. Foi aí que pela primeira vez vimos o 5–3–2 de Portugal sem a pelota. Contudo, sem profundidade e apenas cruzando sem gente para finalizar, os croatas não levaram perigo. E concederam justamente os espaços que o time luso gostaria de ter para contra-atacar. Mesmo estando atrás, a velocidade é um dos pontos fortes do conjunto de Roberto Martínez, o que possibilita transições rápidas mesmo quando encolhido. E uma chance muito boa perdida por Rafael Leão ainda antes dos vinte minutos já fez os quadriculados ligarem o alerta e voltarem à postura mais contida no próprio campo.

Todavia, a partida não voltou a ser exatamente a mesma dos minutos iniciais. A Croácia, apesar de retroceder, não manteve a postura passiva na marcação, tentou pressionar mais e subir mais em contra-ataques. E este era justamente a brecha que Portugal queria. A oportunidade que precisava para enfiar bolas para Rafael Leão e João Félix correrem nas costas da zaga rival. Após alguns avisos, a Seleção Portuguesa abriu o placar finalmente aos 32 minutos da etapa inicial com João Félix. A joia lusa recebeu justamente um lindo lançamento de Vitinha ainda do campo defensivo. Claramente uma jogada de atração de marcação e exploração de espaços. Tudo que Roberto Martínez queria. E o time de Zlatko Dalić caiu mesmo assim. Pela experiência, não dá para acreditar que seja ingenuidade, mas precipitação foi.

Após o gol português, a equipe croata voltou a focar na posse de bola. E desta vez, pela vantagem, o conjunto luso nem fez questão de não cedê-la. Pelo contrário, viu o mesmo cenário favorável de espaços para atacar, mesmo que em outro nível. A Croácia chegou com mais gente na área, o que aumentou a periculosidade das jogadas, mas os cruzamentos da direita para a esquerda seguiram sendo a única arma tentada para infiltrar. Portugal conseguiu neutralizar bem e teve escapadas extremamente promissoras. De novo com objetividade na origem da jogada, lançamento de Vitinha e Rafael Leão ou João Félix conduzindo em diagonal na direção da meta. Foi por detalhes na conclusão das jogadas que a seleção campeã europeia de 2016 não ampliou o placar antes da ida ao intervalo.

Na volta para o segundo tempo, Zlatko Dalić mexeu bem no seu time e mudou os rumos da partida em Split. Com as entradas de Pašalić e Jakić nos lugares de Kovačić e Borna Sosa, a Croácia saiu do 5–4–1 para um 4–4–2, dando mais liberdade a Kramarić sem a bola. Com estes ajustes, a equipe da casa fez uma melhor marcação na saída de bola portuguesa, o que viabilizou a marcação alta e impediu os lançamentos perigosos de Portugal, que pouquíssimo aconteceram na primeira metade da etapa final. O trabalho croata a partir de então era fazer o jogo fluir. Mexer com a estrutura defensiva lusa, confundir o 5–3–2. Não dá para dizer que o time quadriculado tenha sido brilhante nisso, mas achou uma forma de criar perigo mesmo sem sair da ferramenta óbvia dos cruzamentos. Utilizou de dois fatores: colocar mais gente no último terço de campo para ter profundidade e se aproximar pelo lado direito para atrair a defesa de Portugal e cruzar para Gvardiol chegar finalizando do outro lado. E foi justamente assim que a Croácia empatou o jogo. Aos 16 minutos, o zagueiro improvisado na lateral esquerda fez um gol anulado de cabeça. E aos 20, em lance muito parecido, recebeu de Jakić, para com o pé canhoto igualar o marcador. Prêmio para uma seleção que soube se reorganizar para entrar no jogo.

A partir do empate, o jogo ficou muito interessante. Aberto. Com variação da posse de bola e troca de golpes. Ora Portugal propunha diante do 4–4–2 croata tentando atrair a marcação para enfiar bolas, ora a Croácia retinha a bola, se aproximava por um lado e invertia para entrar na área pelo outro. Como o time quadriculado se ajeitou melhor na marcação na volta do intervalo, foi quem esteve mais próximo de vencer nesse cenário de idas e vindas. Isto porque deu menos brechas nas costas da defesa e foi mais efetivo nos combates, recuperando a pelota com consistência. Com ela nos pés, manteve os padrões não exuberantes, mas inteligentes e colocou duas bolas na trave, com direito a José Sá fazendo defesaça para salvar a Seleção Portuguesa. No fim da história, foi a equipe da casa quem acabou a partida flertando com o triunfo. Mas o empate prevaleceu mesmo.

É possível afirmar que o duelo em Split foi um amistoso de luxo. Mais para Portugal, que não tinha nada a perder, mas também para a Croácia, que teria avançado mesmo se perdesse por um gol de diferença e ainda assegurou o empate. Os dois times tiraram mais lições positivas táticas do que saíram frustrados com o rendimento. Com variações importantes, acharam alternativas ofensivas interessantes para confundir marcações que optam por jogar de forma recuada. Claro, precisam fazer ajustes defensivos pontuais, mas viram novamente que são times competitivos em grandes jogos. O que é bom para um time croata experiente e melhor ainda para uma equipe portuguesa jovem e hoje bem alternativa. Portanto, desempenho e resultado que agradam aos dois lados neste fechamento da fase inicial da UEFA Nations League.

CROÁCIA: Considerando que o empate bastava para garantir a classificação, a Seleção Croata sofreu mais do que o necessário neste jogo contra Portugal. Obteve o 1 a 1 que precisava, mas chegou a estar perdendo e correndo sérios riscos de ficar de fora da Nations League de forma precoce. O problema é que o time de Zlatko Dalić demorou a entender o que deveria fazer em campo, se saía para vencer ou se protegia para empatar. Neste limbo, acabou saindo do lugar várias vezes no primeiro tempo, sem pressionar, apenas concedendo espaços nas costas da defesa, o que os portugueses usaram muito bem e fizeram gol. Na segunda etapa, aí sim, o conjunto quadriculado resolveu ser agressivo sem a bola e, com um melhor trabalho ao tê-la, se aproximando e botando bastante gente na área para cruzar, buscou a igualdade e esteve até próximo de virar o jogo. Apesar dos pesares, foi uma atuação crescente da equipe croata e um resultado justo. Com o ponto somado, a Croácia se classifica para as quartas de final da Nations League na segunda colocação da chave. Mais uma demonstração de consistência dessa geração histórica capitaneada por Modrić.

PORTUGAL: Com a classificação e a primeira posição do grupo já garantidas para a Seleção Portuguesa antes mesmo do jogo, Roberto Martínez resolveu aproveitar a partida na Croácia para fazer testes, com a preservação de vários jogadores importantes, como Cristiano Ronaldo, Pedro Neto e Bernardo Silva, além dos desfalques de Bruno Fernandes e Rúben Dias. E o ritmo foi claramente de amistoso mesmo, com experiências táticas e individuais. Na primeira etapa, sem pressão, a equipe se favoreceu disto para manter a bola, atrair os croatas para fora do lugar e criar perigo explorando espaços. No segundo tempo, com a necessidade adversária de reação, aí sim faltou um pouco mais de pegada para os lusos, o que dificultou a proteção da área e a obtenção de contra-ataques. Todavia, tudo dentro do aceitável para uma partida de menos valor, de experimentações. Empatar fora de casa contra a Croácia está longe de ser uma tragédia, ainda mais com a liderança da chave já assegurada. E com algumas boas apresentações como de João Félix e Vitinha, além de variações táticas possíveis, há até boa margem de lucro no duelo. Sobretudo, Portugal irá com confiança para a disputa das quartas de final da Nations League.

ARBITRAGEM: O italiano Davide Massa e sua equipe fizeram partida muito segura em Split. O jogo não exigiu muito e a arbitragem não inventou nada para se complicar, sem nenhum erro grave e com boa administração da temperatura. Além disso, nos lances mais exigentes, acertou na validação do gol de João Félix por condição legal no limite e na anulação de um tento de Gvardiol, impedido por centímetros. Foi bem o time arbitral.

FICHA TÉCNICA:
🗒️ CROÁCIA: Livaković; Šutalo, Ćaleta-Car e Gvardiol; Perišić (Luka Sučić), Modrić (Moro), Kovačić (Pašalić) e Borna Sosa (Jakić); Kramarić, Baturina e Matanović (Budimir). Técnico: Zlatko Dalić.
🗒️ PORTUGAL: José Sá; Tomás Araújo (Djaló), Renato Veiga e Nuno Mendes (Dalot); Semedo, João Neves, Otávio (Francisco Conceição), Vitinha e Cancelo; Rafael Leão (Fábio Silva) e João Félix. Técnico: Roberto Martínez.
⚽ Gols: Gvardiol (Croácia) | João Félix (Portugal)
👟 Assistências: Jakić (Croácia) | Vitinha (Portugal)
🟡 Cartões amarelos: Renato Veiga e Fábio Silva (Portugal)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨‍⚖️ Árbitro: Davide Massa (Itália)
🏟️ Local: Estádio Poljud, Split-CRO

BOLA DE OURO DO JOGO: Vitinha/Portugal | FOTO: OGOL/Reprodução

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Jonathan da Silva
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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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