ACADEMIA AGUERRIDA E CAMPEÃ
O Racing Club de Avellaneda é o grande campeão da Copa Sul-Americana de 2024! Com garra e inspiração, a equipe argentina derrotou o Cruzeiro de Fernando Diniz por 3 a 1 na final disputada em Assunção. O começo de jogo da Acade foi brilhante e encaminhou a conquista com dois gols marcados. A raposa até evoluiu no decorrer da decisão e marcou um gol para se manter viva, mas a gordura do time de Gustavo Costas era boa e, mesmo com o desgaste, o clube argentino não só segurou a vantagem, como voltou a aumentá-la no fim. Não há dúvidas de que o título fica nas melhores mãos, as do melhor time da competição. Após 36 anos, o Racing volta a ser campeão internacional. Festa total da fanática hinchada de La Academia.
Os primeiros vinte minutos de jogo em Assunção foram marcados por um domínio avassalador do Racing. O time argentino simplesmente fez gato e sapato de um Cruzeiro completamente perdido em campo. A equipe de Fernando Diniz até tentava sair jogando desde trás e manter a posse de bola, mas a Acade não deixou os defensores cruzeirenses respirarem. Uma pressão intensa que forçou a raposa a cometer seguidos erros de passe no próprio campo. E ao recuperar a bola, o conjunto de Gustavo Costas era extremamente rápido e objetivo. Fazia lançamentos precisos, atraía o Cruzeiro para o lado esquerdo e infiltrava com Martirena pela direita. Isto quando já não roubava a pelota perto da área e imediatamente cruzava ou finalizava. O time mineiro não sabia o que fazer. Não pressionava para recuperar logo a posse, não tinha uma cobertura bem-organizada, não recompunha de forma rápida e ficava apenas focado na bola, caindo na atração de marcação do Racing, deixando alguém infiltrar nas costas. Foram várias chegadas perigosas da equipe argentina logo de cara e dois gols merecidamente marcados. Um aos 14 minutos, com Martirena, e outro aos 19, com Maravilla Martínez. Um roubando a bola e já finalizando, outro recuperando no meio, explorando espaços e confundindo a defesa cruzeirense. Um banho de bola.
A partir dos dois gols de vantagem e da chegada da metade da primeira etapa, a Academia deixou de fazer aquela pressão insana e adotou uma postura mais administrativa. Retrocedeu no campo, aparecendo mais em seu 5–4–1, e focou em se proteger e sair em transições rápidas pontuais. Conseguiu manter o controle do jogo. Apesar de ter 70% de posse de bola, o Cruzeiro não soube ser fluente. Com a intensidade e compactação do Racing, o time de Fernando Diniz não conseguiu executar aquela ideia de concentrar todos os jogadores de um lado do campo e infiltrar pelo outro. A posse acabou voltando muito para os defensores, sem que o time argentino caísse na armadilha de se expor. A raposa sequer achava algo do ponto de vista individual, com Matheus Pereira no bolso de Santiago Sosa. Nem mesmo cruzamentos fazia. E o conjunto de Gustavo Costas, além de estar seguro na defesa, ainda fazia questão de volta e meia dar estocadas ofensivas para mostrar que era capaz de ampliar o placar se estivesse focado nisso. Roubava, lançava e fazia os mesmos movimentos de atrair a defesa cruzeirense para fora do lugar e explorar os buracos concedidos. Não ampliou porque não fez com a devida frequência e precisão, mas poderia tranquilamente ter goleado se mantivesse o que fazia nos minutos iniciais. Até certos momentos de retenção de bola teve. Controle absoluto e vantagem de dois gols mantida pelo Racing na ida ao intervalo.
No retorno para o segundo tempo, o Cruzeiro deu continuidade a uma curva ascendente de desempenho vista nos acréscimos da etapa anterior. Primeiro, com o apoio mais forte dos laterais que levaram a chegadas mais frequentes ao fundo de campo. Dali vinham cruzamentos e passes interessantes para o miolo, ainda que sem acabamento pela grande presença de defensores do Racing, que não cometeu nenhum erro grosseiro nos duelos. Depois, já com alguns minutos da segunda etapa, por um uso melhor das entrelinhas. O time de Fernando Diniz finalmente se encaixou na saída de bola para aproveitar das tentativas de pressão dos argentinos para usar os espaços concedidos nas costas destes jogadores mais adiantados. E aí Matheus Pereira e Matheus Henrique finalmente apareceram no jogo. E foram justamente eles os construtores da jogada que resultou no cruzamento para Kaio Jorge descontar no placar aos sete minutos. Transição rápida pelo meio, infiltração pela esquerda e imposição do centroavante na área na marra. Cabuloso premiado pela reação e de volta ao jogo cedo, reacendendo as esperanças.
Após o gol cruzeirense, a partida entrou em um longo período de troca de golpes. O Cruzeiro ainda tinha mais a bola, é claro, mas o Racing voltou a intensificar e adiantar a marcação, reencontrando os contra-ataques perigosos. Mais inteiro fisicamente, o time de Fernando Diniz até foi mais fluente. Conseguiu girar a bola de um lado para o outro e ter as chegadas em cruzamentos e diagonais como na boa arrancada. Mas não teve contundência, parou na marcação combativa da Acade na entrada da área. Todavia, mesmo com o desgaste e o desconforto pela pressão cruzeirense, quem levou mais perigo foi o próprio Racing. Explorando novamente a exposição da defesa celeste com bons lançamentos e movimentação nas costas da zaga cruzeirense. Foram algumas chegadas perigosas da beirada para dentro, terminadas em chutes de média distância ou cruzamentos. O cabuloso tinha a iniciativa, havia equilíbrio, mas a Academia parecia estar mais próxima do terceiro gol que o conjunto mineiro de empatar. Apesar da evolução da raposa, isto significava que ela não era o suficiente para a reviravolta.
E então, nos minutos finais, sem surpresa alguma, o Cruzeiro partiu para o abafa. Barreal, Lautaro Díaz e Kenji ingressaram nos lugares de Lucas Romero, Gabriel Veron e Marlon. Trocas ofensivas para executar uma pressão. E de fato o cabuloso teve forte presença ofensiva. Mas faltou lucidez. Claro, nestes momentos é difícil tê-la, mas o time só forçou cruzamentos que bateram na parede do Racing. Não teve nada além disso, nenhum lampejo individual, chute de fora da área ou preparou armadilha para abrir espaços. Só se desesperou e levantou bola. Não criou real perigo e ainda expôs completamente a defesa, já que ficava apenas com dois homens na retaguarda. E La Academia, por mais que estivesse toda atrás para se proteger, ainda tinha Salas e Roger Martínez em campo para achar um contra-ataque nesse mundo de espaços. E achou dois. No primeiro, aos 47 minutos, Salas conduziu quase o campo de ataque inteiro e finalizou pertinho da trave, livre. Chance clara perdida. Mas no segundo, aos 49, Roger Martínez fez movimento muito parecido e acertou chute cruzado sem defesa para Cássio. O Cruzeiro assumiu os riscos, era necessário, mas não conseguiu empatar e foi castigado no contra-ataque. Morta a cobra. Racing campeão.
O resultado da grande final da Sul-Americana é justo. É verdade que o Cruzeiro fez uma partida decente após o começo avassalador do Racing, mas nunca atingiu um nível de criatividade que realmente o fizesse merecer o empate. Pelo contrário, o time argentino sempre ameaçava em contra-ataques perigosos, mesmo quando cansado. E se sustentava como podia na defesa, protegendo a área. A raposa teve mais posse de bola, mas superior mesmo foi o time de Gustavo Costas. Nunca perdeu o controle. Sobretudo, venceu o melhor time. Não necessariamente nas peças, mas no coletivo. Uma equipe regular, que chega a seis vitórias consecutivas, o oposto de um Cruzeiro instável que só venceu dois jogos com Fernando Diniz. Decisões são jogos diferentes, mas às vezes podem refletir o conjunto da obra. Foi o caso hoje. E a taça da Sula fica em boas mãos. Mãos inéditas. Mãos que não erguiam um troféu internacional desde 1988, quando havia derrotado justamente a raposa mineira na final da Supercopa Libertadores. E com o hoje treinador Gustavo Costas como jogador. Um homem que veio da arquibancada e honrou a Academia em todas as esferas. Tudo isso chega a ser poético. E, sem dúvidas, merecido.
RACING: A conquista inédita da Sul-Americana é muito merecida para o Racing. Não só pelo desempenho na final, que foi uma demonstração da personalidade do time de Gustavo Costas, mas por toda a campanha na competição continental. A melhor pontuação da fase de grupos e classificações sobre duros concorrentes no mata-mata: Huachipato nas oitavas, Athletico Paranaense nas quartas, Corinthians na semifinal e, claro, Cruzeiro na decisão. Sempre com as características de marcação muito intensa, objetividade ao ter a bola e muita velocidade e movimentação na construção de jogadas. Um time, sobretudo, competitivo e criativo. Que se entrega até quando não tem mais pernas, como foi hoje no segundo tempo. Caráter digno de um clube que batalhava para sair de uma espera de 36 anos para voltar a ser campeão de uma competição internacional. E detentor de uma torcida apaixonadíssima. Ninguém jogou mais que o Racing nesta Copa Sul-Americana. No fim das contas, os deuses do futebol resolveram ser justos e o título fica mesmo nas melhores mãos. Festa em Assunção e Avellaneda.
CRUZEIRO: Os primeiros minutos constrangedores custaram muito caro para o Cruzeiro. Os erros grosseiros, a péssima marcação, a desconcentração, o mental fragilizado. Sair cedo com dois gols de desvantagem é uma montanha para se escalar. E o time de Fernando Diniz até evoluiu no decorrer do jogo, com melhores avanços e menos brechas defensivas. Levou perigo em alguns cruzamentos e chegou a descontar com Kaio Jorge. Mas não teve um desempenho tão sólido a ponto de realmente se aproximar do empate. E no fim, quando arriscou tudo, ainda levou um terceiro gol. A realidade é que a raposa não mereceu ser campeã. Não só pelos defeitos de hoje, mas pela temporada acidentada e irregular. Ter Diniz é estar sempre correndo certos riscos. Às vezes se paga, mas na maioria do tempo não. Sem surpresa, o curto período de trabalho não levou à fluência que o treinador deseja e gerou muita fraqueza defensiva. Desde a chegada do novo técnico, o Cruzeiro só venceu dois jogos. Sair campeão hoje seria muito mais do que o time realmente merece. Não pela história gigante, mas pelo presente confuso. Agora o foco terá de voltar ao Brasileirão para ali obter uma vaga na próxima Libertadores. Mas Diniz precisará achar uma consistência até o momento não vista.
ARBITRAGEM: O badalado uruguaio Esteban Ostojich não cometeu nenhum erro comprometedor, mas foi covarde nos poucos minutos dados de acréscimo em um segundo tempo cheio de paralisações. Ainda assim, a arbitragem não teve protagonismo na final da Sul-Americana, o que é muito importante.
FICHA TÉCNICA:
🗒️ RACING: Arias; Di Cesare, Santiago Sosa e Basso; Martirena, Nardoni, Almendra (Zuculini) e Gabriel Rojas; Quintero (Santiago Solari), Maximiliano Salas e Adrián Martínez (Roger Martínez). Técnico: Gustavo Costas.
🗒️ CRUZEIRO: Cássio; William, João Marcelo, Villalba e Marlon (Kenji); Lucas Romero (Barreal), Walace (Lucas Silva), Matheus Pereira, Gabriel Veron (Lautaro Díaz) e Matheus Henrique; Kaio Jorge. Técnico: Fernando Diniz.
⚽ Gols: Martirena, Adrián Martínez e Roger Martínez (Racing) | Kaio Jorge (Cruzeiro)
👟 Assistências: Quintero, Maximiliano Salas e Nardoni (Racing)
🟡 Cartões amarelos: Basso, Nardoni, Di Cesare e Roger Martínez (Racing) | Lucas Romero, Lucas Silva e Matheus Pereira (Cruzeiro)
🔴 Cartões vermelhos: ❌
👨⚖️ Árbitro: Esteban Ostojich (Uruguai)
🏟️ Local: Estádio General Pablo Rojas, Assunção-PAR