A ESTRELA SOLITÁRIA CONDUZ À FINAL DA LIBERTADORES

Jonathan da Silva
7 min readOct 31, 2024

--

A noite desastrosa do Botafogo hoje no Centenário de Montevidéu não foi maior que o brilho estelar apresentado no jogo de ida em casa. O alvinegro jogou no Uruguai com uma postura de amistoso e foi merecidamente superado por 3 a 1 por um Peñarol que jogou como se valesse a vida, ainda lutando por um milagre que se mostrou impossível. Pela gloriosa vantagem de cinco gols obtida também com justiça no Nilton Santos, a estrela solitária conduz o Fogão para a grande final da Libertadores 2024! Feito inédito e momento histórico para o clube carioca!

O primeiro tempo em Montevidéu foi um amasso do Peñarol. Por um casamento entre dois fatores claros: a passividade do Botafogo em função da vantagem e a extrema agressividade aurinegra para ainda poder sonhar com um milagre. Pela vantagem, o alvinegro carioca simplesmente resolveu não jogar antes do intervalo. Ficou apenas atrás, em seu 4–5–1, assistindo o time uruguaio jogar e procurando somente proteger a área de cruzamentos, o que fez de forma parcial apenas. Um dado relevante é que teve um único ataque em toda a etapa inicial, pois não mostrou a menor dinâmica para buscar contra-ataques e foi sempre parado pela marcação adiantada do Peñarol. Portanto, o Botafogo ficava só atrás. O tempo todo. Perto da própria área. Isto, como todos sabemos, é ficar refém de qualquer erro. Vacilou, toma gol.

Diante deste cenário, o time aurinegro passou a primeira etapa inteira acumulando ataques perigosos. De formas relativamente previsíveis, é verdade, mas com muito volume e intensidade. Sempre com a bola no pé em função da marcação alta, a equipe da casa acumulava ruzamentos, inversões, enfiadas, chutes de fora da área. Não havia grandes combinações, é verdade, mas os meias trabalhavam bem entre si de forma direta e possibilitavam estas jogadas de perigo pelo alto e pela entrada da área. O que faltou foi eficiência. Um gol saiu, em belo chute de Báez de fora da área aos 30 minutos. Mas foram diversas boas chances perdidas em bolas paradas e levantamentos, inclusive com bola na trave. Um capricho maior poderia ter permitido ao menos o Peñarol voltar a sonhar. O 1 a 0 ficou realmente barato pela superioridade, mas refletiu a falta de efetividade do ataque do time de Diego Aguirre.

Contudo, Aguerre resolveu ser o grande craque do Botafogo na noite. Em meio a um cenário de forte pressão do Peñarol, com condições para o time uruguaio fazer mais gols e botar fogo na série, o goleiro resolveu ser expulso no intervalo. Deu um pisão em John e levou o vermelho direto. No período de ida aos vestiários. Sem sentido. Sem cabeça. Sem respeito pelo adversário e pelo próprio clube. Deixou seus colegas em desvantagem numérica e aumentou ainda mais o monte a ser escalado. Vexatório, tal qual a atuação comprometedora dele na ida, no Rio de Janeiro.

Condicionado pela expulsão de Aguerre, o segundo tempo naturalmente começou de forma diferente. Diferentemente da primeira etapa em que mal viu a cor da bola, o Botafogo passou a ter mais posse de bola que o Peñarol. O time de Artur Jorge, para passar o tempo e ao mesmo tempo com o objetivo de buscar o empate, trocou passes cadenciados por dentro, com jogadores próximos, explorando os buracos do adversário e ainda chegando com perigo na área. Finalmente demonstrava maturidade e se aproximava de ao menos não sair derrotado. Aí aconteceu a pataquada do juiz no gol anulado de Vitinho para marcar um pênalti que ele viria a anular. O empate justo e legal que foi tirado por um erro grosseiro do árbitro Piero Maza. Uma interferência direta no andar do jogo. Que atrapalhou muito o Botafogo e tirou o conforto de uma igualdade que poderia ter virado até uma vitória de virada, já que o time tinha um jogador a mais.

Pouco após a pataquada da arbitragem, outro golpe para o Botafogo: o segundo gol do Peñarol. O time uruguaio, apesar de estar bem menos perigoso, ainda era aguerrido na marcação e tentava jogar, só não conseguia pela falta de um jogador mesmo. Ainda assim, novamente Báez achou um belo chute de média distância e fez seu segundo tento na partida aos 20 minutos. E o sofrimento botafoguense não parou ali: aos 25 minutos, Mateo Ponte foi expulso corretamente por duas faltas duras cometidas praticamente em sequência. Tremenda imaturidade. Em 10 minutos, o alvinegro foi do empate ao 2 a 0 contra e ainda perdeu a vantagem numérica de um jogador a mais. O caos para os minutos finais estava instaurado. E não precisava. Mas parece que o Botafogo tem ímã para isso.

Com igualdade numérica, Diego Aguirre voltou a lançar seu time para cima. Com ousadia, colocou o atacante Avenatti no lugar do lateral Milans. Arriscou tudo para voltar a fazer chuveirinho e tentar achar mais gols para operar um milagre. Artur Jorge respondeu colocando Barboza na zaga e Adryelson como uma espécie de lateral, com Allan centralizado. Era um 4–3–2 que virava 4–4–1. O aurinegro até pressionou, mas não foi nada parecido com o que havia acontecido no primeiro tempo. Ali eram só cruzamentos mesmo, sem outros grandes recursos criativos. E o Botafogo, apesar dos pesares, também atacava. O ingresso de Almada trouxe retenção de bola e lampejos criativos. Algo que não havia antes do intervalo. E dentro disto, aos 43 minutos, o argentino puxou um contra-ataque, tabelou com Marlon Freitas e marcou o gol botafoguense na partida. 2 a 1 aliviante. Salvador. Para dar a tranquilidade que foi tirada pelo acaso, pelo árbitro e pela própria imaturidade alvinegra. Um tento com sabor de final de Libertadores.

A partir do gol de Almada, o resto foi apenas resto. Não havia como o Peñarol fazer quatro gols em pouquíssimos minutos. Facundo Batista até fez o terceiro tento aurinegro logo na sequência, aos 44 minutos, mas não houve nada além disso. Faltaram pernas, tempo e lucidez ao time uruguaio. Sobrou confiança ao alvinegro, finalmente, lembrando da vantagem que tinha. Os últimos minutos não foram nada mais do que uma contagem regressiva para o torcedor alvinegro poder soltar o grito de “estamos na final”. E ele veio. Veio com justiça. Veio para um povo que esperou uma vida por isso.

O Peñarol mereceu a vitória de honra, pois foi valente e superior em Montevidéu. O Botafogo mereceu a classificação, pois foi avassaladoramente melhor no Rio de Janeiro e se permitiu jogar “relaxado” no Uruguai. A postura alvinegra na volta passou longe da ideal, mas definitivamente o ideal não é o que está escrito para o clube da estrela solitária. Sempre tem que haver uma dúvida, sempre tem que haver um sofrimento. Um erro defensivo aqui, uma falha individual ali, uma apatia lá. Mas o que importa é que o final para o torcedor botafoguense, como o esperado, foi feliz. Foi de manutenção na vantagem do agregado e classificação para a primeira final de Libertadores da história do clube. O “hincha” do Peñarol sai de cabeça erguida pelo triunfo digno. O botafoguense sai com a cabeça nas nuvens e o coração acelerado. O sonho de conquistar a América nunca esteve tão próximo para o Botafogo.

PEÑAROL: O último capítulo do Peñarol na Libertadores 2024 foi digno, como praticamente toda a campanha do time de Diego Aguirre. O ponto fora da curva foi mesmo o segundo tempo vexatório no Rio de Janeiro que proporcionou o basicamente irreversível 5 a 0 para o Botafogo. No geral, o aurinegro foi o que vimos hoje: uma equipe aguerrida, competitiva, agressiva e produtiva. O Peñarol jogou pela honra e por um milagre. A segunda coisa não aconteceu, mas a primeira sim. 3 a 1 justo e que poderia ter sido mais, tamanho volume ofensivo o aurinegro teve. Dá para dizer que o Peñarol cai de pé. Mas cai, merecidamente, na semifinal da Libertadores, que não alcançava desde 2011. A torcida aurinegra voltou a sonhar.

BOTAFOGO: O Botafogo está na final da Libertadores pela primeira vez em sua história! Isto é o que realmente importa. A atuação em Montevidéu foi pavorosa, cheia de erros, com uma postura muito passiva e imaturidade em diversos momentos. Mas o jogo de ida foi tão excelente que a vantagem de cinco gols permitia deslizes assim. Ninguém gosta de perder, mas cá entre nós, o alvinegro não parecia muito preocupado em evitar um revés hoje. O que queria mesmo era garantir a vaga na decisão e não perder nenhum titular importante por suspensão, tanto que Artur Jorge poupou gente. E estes objetivos foram obtidos com sucesso. Mateo Ponte será desfalque por infantilidade, mas não era um dos titulares que corriam risco de ficar fora. Apesar da derrota para o Peñarol, o Botafogo vai inteiro para o Monumental de Núñez. O clube de Garrincha, Didi, Zagallo, Nilton Santos e Túlio Maravilha está a um jogo de conquistar a América pela primeira vez em toda sua gigante história. Tem futebol para chegar à glória eterna. A ver o capítulo final contra o Atlético Mineiro.

ARBITRAGEM: A arbitragem do chileno Piero Maza em Montevidéu foi vergonhosa. Uma das piores que vi recentemente. Primeiro, pela falta de controle, distribuindo cartões a rodo, deixando o jogo extremamente quente. Segundo, por critérios estranhos nas marcações, com decisões diferentes em lances parecidos. E por fim, e mais importante, pelo erro grosseiro no pênalti que marcou e anulou para o Botafogo. De fato não houve penalidade no toque de bola no braço colado ao corpo de Guzmán Rodríguez, mas na sequência do lance Vitinho fez o gol. Mesmo se fosse pênalti, jamais se anula um gol para marcar uma falta. É benefício ao infrator. Nesse caso, em que nem houve a penalidade, é ainda mais absurdo ter parado o lance. Erro de direito grotesco que prejudicou o alvinegro. Para não dizer que o apitador chileno errou tudo, ao menos expulsou corretamente Aguerre, por agressão a John, e Mateo Ponte, por duas faltas duras. Mas no geral, arbitragem assustadoramente ruim.

FICHA TÉCNICA:
🗒️ PEÑAROL: Aguerre; Milans (Avenatti), Javier Méndez, Guzmán Rodríguez e Maxi Olivera (Lucas Hernández); Rodrigo Pérez, Damían García (De Amores), Leo Fernández, Jaime Báez e Leo Sequeira (Ignacio Sosa); Maxi Silvera (Facundo Batista). Técnico: Diego Aguirre.
🗒️ BOTAFOGO: John; Vitinho, Adryelson, Bastos (Allan) e Alex Telles (Mateo Ponte); Danilo Barbosa, Marlon Freitas, Tchê Tchê (Eduardo), Savarino (Barboza) e Matheus Martins (Almada); Tiquinho Soares. Técnico: Artur Jorge.
⚽ Gols: Jaime Báez [2×] e Facundo Batista (Peñarol) | Almada (Botafogo)
👟 Assistências: Leo Fernández, Lucas Hernández e Rodrigo Pérez (Peñarol) | Marlon Freitas (Botafogo)
🟡 Cartões amarelos: Ignacio Sosa (Peñarol) | Bastos, Matheus Martins, Vitinho, Mateo Ponte e Almada (Botafogo)
🔴 Cartões vermelhos: Aguerre (Peñarol) | Mateo Ponte (Botafogo)
👨‍⚖️ Árbitro: Piero Maza (Chile)
🏟️ Local: Estádio Centenario, Montevidéu-URU

BOLA DE OURO DO JOGO: Jaime Báez/Peñarol | FOTO: Franco Patri/C.A. Peñarol

--

--

Jonathan da Silva
Jonathan da Silva

Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

No responses yet