A CARA DO CHARMOSO GAUCHÃO

Jonathan da Silva
9 min readJan 23, 2025

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Em uma “pelada” com a cara de uma estreia de Gauchão, Guarany de Bagé e Internacional empataram por 2 a 2 no Estádio Estrela D’Alva. O colorado saiu na frente, o índio virou de forma relâmpago e o time de Roger Machado buscou o empate novamente. Idas e vindas de um duelo marcado pela falta de ritmo dos dois lados, pelas falhas defensivas dos visitantes e pelas limitações técnicas dos mandantes. No geral, o Inter até foi superior, mas não a ponto de se impor no placar.

O Guarany começou a partida em Bagé querendo surpreender, buscando fazer realmente valer o fator casa. Marcou alto com agressividade, roubou algumas bolas da intermediária para a frente do campo e buscou constantemente as pontas para tentar infiltrar na área do Internacional, especialmente pelo lado esquerdo com Jean Lucca, Marcelinho e João Victor. Deste modo, bem simples e objetivo, usando bastante de bolas longas, o índio realizou cruzamentos com relativo perigo. Claramente estava aproveitando de uma vantagem física em relação ao colorado, que, com menos tempo de preparação, chegou com menos ritmo para o confronto. Ainda assim, o conjunto de Márcio Nunes não aproveitou o bom momento inicial para abrir o placar. Faltou qualidade nos arredores da área, na assistência ou na finalização. O único lance em que realmente exigiu algo de Anthoni foi no cruzamento de Jean Lucca, do fundo de campo, para Marcelinho chegar chutando de frente. Pouco.

Já perto dos dez minutos da primeira etapa, essa pressão do índio cessou e foi o colorado quem passou a propor o jogo. Contudo, a ideia de esperar na defesa e contra-atacar também era bem vista pelo Guarany. Tanto que não demonstrou insatisfação por parar atrás em um 4–4–2 que virava 4–5–1 com a ajuda de Marcelinho, e viveu de bolas longas na tentativa de achar transições. Ainda assim, a ideia foi uma e a prática foi outra. A equipe de Márcio Nunes não competiu muito bem nesse cenário. E, mesmo sem ritmo, com pouca velocidade e movimentação ainda descoordenada, o Inter levou perigo. Teve lampejos de entrosamento e achou as entrelinhas com facilidade para tramar jogadas. Não foi dinâmico como no ano passado, mas explorou a superioridade técnica para chegar com força em cruzamentos, diagonais e tabelas na frente da área rival. Além de que, quando perdia a pelota, ainda fazia uma pressão pós-perda competente para não sofrer contragolpes. Era claramente superior àquela altura. E assim, aos 22 minutos, Wesley sofreu pênalti e Alan Patrick o converteu para merecidamente abrir o placar para o Internacional aos 24. Um gol que refletia o crescimento colorado no jogo, com individualidades aparecendo, bem como expunha a oscilação e as limitações do Guarany.

Após o gol de abertura do placar, o Inter ainda fez mais cerca de dez minutos de boa administração da vantagem. O Guarany até tentou sair mais para o jogo, mas o colorado conseguiu manter as ações longe da própria área, com boa marcação adiantada, e segurar bastante a bola no campo ofensivo. O posicionamento e o nível individual era interessante, ainda mais se comparado ao que foi contra o México. O colorado fazia o tempo passar e ainda assustava em outros lampejos, como no chute de Wanderson de fora da área que foi parar no travessão de Jonathan. O índio, sem qualidade na troca de passes, não conseguia achar transições nem curtas, nem longas. Tinha um mundo de distância entre a defesa e o ataque, com uma meia cancha parada e limitada para quem precisava ser o elo entre os setores. Com este panorama, não parecia que o conjunto da casa seria capaz de reagir.

Entretanto, a surpresa resolveu marcar presença no espetáculo na reta final do primeiro tempo. Perto do intervalo, o Inter recuou o time, passou a esperar mais perto da própria área no habitual 4–4–2, eventualmente até pelo desgaste físico. Postura que não surpreendia. O Guarany aproveitou disso para ter mais a bola no campo ofensivo. E ao tê-la, apostou em um jogo simples, direto, reconhecendo suas limitações para criar jogadas de forma elaborada. Era objetividade pura. Poucos passes, busca por bolas longas e cruzamentos constantes. Como o colorado se mostrou extremamente frágil nesse tipo de lance, o índio basicamente uniu o útil ao agradável. Sua ideia com a fraqueza rival. E virou o jogo de modo relâmpago justamente cruzando.

Aos 38 minutos, Yan Philippe aproveitou corte ruim de Victor Gabriel, sem cobertura de Luis Otávio ou Braian Aguirre que ficaram apenas olhando, e empatou em um belo chute na diagonal. Aos 41, de novo o centroavante alvirrubro apareceu para botar a pelota na rede, mas dessa vez em levantamento feito de longe por Luiz Felipe, em que Luis Otávio tentou cortar de forma acrobática e chutou apenas o vento e Thiago Maia foi facilmente superado pelo alto. O Inter estava totalmente perdido nos encaixes dentro da área. Assim, o Guarany precisou fazer “pouco” para virar. Não precisou de várias chances ou de uma grande trama, o chuveirinho bastou e em duas chances, fez dois gols. Eficiência para ir ao intervalo surpreendentemente à frente no placar.

O que não foi surpresa alguma foi o começo de segundo tempo no Estádio Estrela D’Alva, com o Inter propondo novamente as ações ofensivas para tentar buscar o empate e o Guarany adotando mais uma vez a ideia reativa. E o índio até teve bons contra-ataques ainda nos primeiros minutos, roubando pelotas na intermediária e rapidamente subindo pela ponta direita, novamente buscando cruzamentos dos arredores da área. Todavia, não foi eficiente e atrás deu várias brechas defensivas. O colorado as explorou bem. Repetiu o panorama dos melhores momentos da etapa anterior em que fazia valer da superioridade técnica para achar as entrelinhas, tramar e entrar na área com perigo. E o empate não demorou a vir. Logo aos quatro minutos, em falta na intermediária, Alan Patrick fez um cruzamento perfeito e Victor Gabriel, o jovem zagueiro de 20 anos, apareceu para cabecear a pelota para o fundo das redes. Redenção diante do erro no primeiro gol dos donos da casa. E rápida reação do time de Roger Machado para evitar uma pressão que poderia descambar em coisa muito ruim. Não deu margem para os mandantes matarem o jogo com a estratégia de esperar e explorar espaços. Pelo contrário, se colocou em ótimas condições de virar o jogo, com muito tempo pela frente para ser o proponente de jogadas.

Contudo, desde que o 2 a 2 foi ao placar, a partida foi até o fim sendo ao mesmo tempo aberta e amarrada, algo com a cara de uma estreia de Gauchão. Como os dois times queriam ganhar, se arriscavam ofensivamente e não faziam uma pressão no campo rival para dominar a posse da bola, tudo ficou em aberto. O tempo de controle da pelota estava dividido e prevalecia um cenário de troca de golpes ofensivos. No entanto, como ambos não tinham a fluência ideal com a bola e conseguiam ao menos fazer um trabalho decente na proteção da área, a partir de boa recomposição, o duelo ficou amarrado, de poucas chances de perigo. Neste panorama de equilíbrio tático, o Inter foi ligeiramente melhor, especialmente pela superioridade técnica, mas, ainda assim, longe de contundente. Era capaz de progredir com mais facilidade, achando as entrelinhas e chegando em diagonais. Acertou outra vez a trave, com Wesley, justamente assim. O colorado exigiu de Jonathan, o índio não fez o mesmo com Anthoni. Isto denota que quem flertou mais com a vitória foi mesmo o conjunto de Porto Alegre. Ainda assim, por não ser uma diferença tão grande, a igualdade no escore continuou com justiça. Apesar dos pesares, os donos da casa resistiram na defesa. Não mereceram perder tendo quase a mesma quantidade de posse de bola que um rival que gosta de tê-la.

O confronto em Bagé fez jus a um jogo de abertura do “charmoso” Gauchão. Um grande da capital sem ritmo diante de um valente time do interior cheio de limitações técnicas. Muitos erros técnicos, pouca fluência dos dois lados na construção de jogadas, idas e vindas, muitas paralisações. Um gramado ruim que atrapalhava o já fraco futebol. Ingredientes que já conhecemos. E o resultado ficou de bom tamanho. O Inter até foi superior e criou mais chances ao longo da partida, mas mais pela superioridade técnica que por uma atuação convincente do coletivo. Errou defensivamente até de forma mais grosseira que o próprio Guarany. Que, apesar de ser modesto tecnicamente, competiu em condição de equilíbrio. 2 a 2 justo que, pelos resultados paralelos, não é de todo mal para ambos os times. É como se tudo continuasse no zero pelos vários empates na rodada inicial do estadual. A ver os próximos capítulos. De um primeiro jogo, não se tiram muitas conclusões definitivas. Agora, que ambos saem cientes de que há muito a melhorar, saem.

GUARANY DE BAGÉ

O índio foi aguerrido em seus domínios e competiu bem diante do Internacional, mas demonstrou claras limitações técnicas e táticas que impediram um resultado melhor do que o empate, que está longe de ser de todo mal. Atrás, o Guarany concedeu muitos espaços entre as linhas de marcação para quem tinha o planejamento de adotar uma postura mais reativa. Mesmo esperando atrás, saía do lugar, perdia duelos e penava na frente da zaga. As traves e Jonathan salvaram do pior. Na frente, a falta de organização no meio-campo fazia o time bageense só existir mesmo em cruzamentos. Com a baixa movimentação e capacidade individual, o conjunto da casa executava uma construção bastante simplória. Não envolvia, apenas fazia “chuveirinho”. Diante da fragilidade rival, foi “o suficiente”, visto fez os dois gols assim. Mas além deles, não levou perigo em praticamente nenhum outro momento. Ainda assim, é importantíssimo ressaltar que a equipe de Márcio Nunes segurou um rival grande. Em meio às suas limitações, pontuou diante do Inter, o que nunca é fácil no Gauchão. Dá sinais de que pode ser competitivo assim, com este jogo simples e objetivo. Mas está claro que precisa de mais consistência. Com maior ritmo, quem sabe a adquira.

INTER

A falta de ritmo apresentada pelo colorado no amistoso contra o México não iria mudar radicalmente para hoje, menos de uma semana depois. Claramente ainda se viu um Inter desembocado, com um rendimento inconsistente muito parecido com aquele. Ao ter a bola nos pés, altos e baixos. Variava entre a falta de velocidade e movimentação na tentativa de propor jogo com algumas boas combinações e jogadas individuais, achando as entrelinhas rivais. Pelo contexto, a quantidade de chances de gol criadas diante do Guarany foi boa. Além dos dois tentos, foram duas bolas nas traves e algumas boas defesas do goleiro adversário. O grande problema esteve, mesmo, no rendimento sem a pelota. De novo, quando não matava as jogadas do oponente já na frente, na pressão pós-perda, o time de Roger Machado penava para marcar, especialmente pelas beiradas. Hoje, inclusive, o maior drama esteve na tentativa de marcar bolas cruzadas, onde sofreu os dois gols em falhas generalizadas grosseiras. Os jovens que receberam uma oportunidade sentiram o cenário e se atrapalharam. O alvirrubro até melhorou na segunda etapa, com uma recomposição mais segura, mas o rendimento da primeira parte comprometeu. Assim, o Internacional estreia no Gauchão com um modesto empate fora de casa diante do Guarany de Bagé. Ainda segue sem vencer em 2025. Com o estadual mais curto, precisa de um amadurecimento mais rápido para não botar a classificação em risco. Mas ainda não há motivo para drama, há tempo para isso.

ARBITRAGEM

O conhecido apitador Jonathan Pinheiro não fez uma boa partida em Bagé, mas ao menos não comprometeu. Com a ajuda do VAR, acertou no pênalti marcado para o Inter em lance onde Talles dá pontapé no tornozelo de Wesley. No restante do certame, inventou, omitiu e inverteu diversas faltas e paralisou demais o jogo, parecendo até querer aparecer como protagonista. Ainda assim, não cometeu nenhum erro gravíssimo que interferisse no resultado. Todos os gols foram legais e bem validados. Quiçá o árbitro, que tem prestígio nacional e apitou vários jogos no Brasileirão passado, também esteja sem ritmo. Se esperava mais da arbitragem nessa estreia de Gauchão, mas ela “passa com ressalvas”.

FICHA TÉCNICA

🗒️ GUARANY DE BAGÉ: Jonathan Queiroz; Talles, Saulo, Bruno Cardoso e João Victor (Vitor Oliveira); David Cunha (Fabão), Murilo, Marcelinho (Rogério Sena), Luiz Felipe (Marllon) e Jean Lucca; Yan Philippe (Jackson). Treinador: Márcio Nunes.
🗒️ INTER: Anthoni; Bruno Gomes (Pablo), Clayton Sampaio (Victor Gabriel), Vitão e Braian Aguirre; Luis Otávio (Bruno Henrique), Thiago Maia, Alan Patrick, Wesley e Wanderson (Vitinho); Borré. Treinador: Roger Machado.
🧮 Resultado: Guarany de Bagé 2×2 Inter
Gols:Yan Philippe [2×] (Guarany de Bagé) | Alan Patrick e Victor Gabriel (Inter)
👟 Assistências: Talles e Luiz Felipe (Guarany de Bagé) | Alan Patrick (Inter)
🟡 Cartões amarelos: Yan Philippe e Luiz Felipe (Guarany de Bagé) | Thiago Maia e Alan Patrick (Inter)
🔴 Cartões vermelhos:
👨‍⚖️ Árbitro: Jonathan Pinheiro (Rio Grande do Sul)
🏟️ Local: Estádio Estrela D’Alva, Bagé-RS

BOLA DE OURO DO JOGO: Alan Patrick/Inter | FOTO: Ricardo Duarte/S.C. Internacional

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Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

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