2023, MAIS UM ANO DE DESILUSÃO EM QUE AS EXPECTATIVAS FORAM O PONTO ALTO

Jonathan da Silva
22 min readDec 31, 2023

--

Como tem sido costume nos últimos tempos, o Inter viveu um ano de grandes expectativas e desilusões ainda maiores. Após terminar 2022 em alta, as esperanças de voltar a ganhar um grande título eram grandes. Em meio a diversos percalços, mais uma vez não foi possível sair da seca mesmo tendo potencial.

O Inter começou 2023 com o mesmo técnico que terminou 2022. Raridade. Mano Menezes permaneceu após levar o colorado à melhor campanha no Brasileirão de pontos corridos com vinte clubes. Tinha o grupo nas mãos, era privilegiado pela diretoria. O clube não via um técnico virar a temporada desde Odair Hellmann de 2018 para 2019. E com a boa sintonia entre jogadores, treinador e dirigentes, as expectativas para um ano vitorioso eram naturalmente altas. Com o elenco mantido e a expectativa de reforços, o Inter iniciava o ano bem cotado para as disputas do Gauchão, da Libertadores, da Copa do Brasil e do Brasileirão.

Todavia, a realidade não foi como aquilo que o torcedor sonhava já desde o início de 2023. No mercado de transferências, o Inter foi lento e discreto. As contratações demoraram a chegar e não foram empolgantes. Nomes grandiosos como Borré e Di María foram lançados por alguns jornalistas, mas os reforços reais não passaram nem perto deste tamanho. O primeiro nome anunciado no ano foi John, em 18 de janeiro, apenas um mês após a contratação de Mário Fernandes. Um bom goleiro, mas que não viria para a titularidade por causa do bom momento de Keiller, nome de confiança de Mano Menezes. E o terceiro reforço da temporada, vindo em 26 de janeiro, foi Gabriel Baralhas do Atlético Goianiense. Três nomes que chegaram para compor grupo. Não mudavam o elenco colorado de patamar.

Em campo as coisas também não começaram tão bem. Mano Menezes optou por escalar o time titular desde o princípio do Gauchão. E o rendimento passou longe do esperado. Era um nível fraco de competitividade e construção de jogo que nem mesmo o fator falta de ritmo de início de temporada era capaz de esconder. Foram de cara dois empates xoxos com Juventude por 2 a 2 dentro do Beira-Rio e Avenida por 1 a 1 fora de casa. A primeira vitória veio apenas na terceira rodada do estadual, um 4 a 0 no Beira-Rio contra um São Luiz que por muito pouco não foi rebaixado ao fim do campeonato. Na sequência ainda veio mais uma goleada em casa, um 3 a 0 ao natural mesmo sem grande rendimento contra o organizado time do Ypiranga de Erechim. Os resultados poderiam representar uma mudança de rumos para aquele começo de temporada. Mas o rendimento ruim não saía de perto. E a consequência foi o 0 a 0 pavoroso contra o Novo Hamburgo na quinta rodada em um dos piores jogos colorados dos últimos anos. O restante da fase inicial do Gauchão foi de jogos com este rendimento pobre, de uma defesa insegura e um ataque bem menos criativo do que deveria contra os times modestos que enfrentava. Pedro Henrique e Alan Patrick carregaram a equipe nas costas. O Inter venceu mais quatro jogos, empatou um e perdeu um. E este um, a primeira derrota colorada no ano, em 5 de março, foi ser logo o Gre-Nal. Logo o jogo mais importante. Um 2 a 1 sofrido na Arena em mais uma atuação sem pegada, sem solidez, sem criatividade. Nada condizente com um clássico. Mas tudo condizente com o que o time vinha jogando.

O Inter chegou ao mata-mata do Gauchão com a segunda melhor campanha da primeira fase, o que evitou um Gre-Nal precoce na semifinal. O rendimento fraco coletivo não empolgava, mas Pedro Henrique era o artilheiro da competição com oito gols. Animava o torcedor pelo rendimento tanto na ponta quanto como falso nove, substituindo um Alexandre Alemão de momento ruim. Algumas novas contratações também chegaram: Luiz Adriano e Nico Hernández. E Charles Aránguiz foi anunciado, mas via pré-contrato, ainda não para aquele momento. Ou seja, os reforços ainda não eram diferenciais. Por mais que Luiz Adriano tenha sido campeão mundial pelo clube, não vivia grande momento, era também uma aposta.

Fiasco da semifinal do Gauchão terminou em briga — FOTO: Globo Esporte

Na semifinal do estadual deu tudo errado. No jogo de ida, o colorado empatou por 1 a 1 com o Caxias no Estádio Centenário. Um resultado ruim que em si já foi muito melhor que a atuação, claramente inferior ao time grená. Mas foi um placar que deixou tudo viável para a decisão no Beira-Rio. Bastava ao Inter se impor em casa para chegar à final do Gauchão. Contudo, o time não foi capaz. O Inter até abriu o placar e fez um primeiro tempo de alto nível, mas perdeu boas chances de gol, cedeu o empate perto do intervalo e ainda teve Carlos de Pena expulso na etapa final. Não se impôs. Novamente empatou por 1 a 1 e deixou tudo para os pênaltis. E mais uma vez fracassou neles. Como já havia falhado com o próprio Mano Menezes diante do Melgar. Vitória do Caxias por 5 a 4 nas penalidades, com Estêvão errando o único pênalti das dez cobranças no geral. Confusão generalizada com nove expulsões. Um fiasco dentro do Beira-Rio. Mais um vexame para o torcedor ter que engolir. Desde 2017, na final contra o Novo Hamburgo, o clube não perdia uma série eliminatória para um time do interior. Pancada histórica.

Além do fracasso retumbante, o Gauchão não trouxe legado positivo algum para a temporada. Mano Menezes escalou time titular do início ao fim, poupando apenas no jogo contra o lanterna Aimoré. Exigiu fisicamente dos atletas desde o início e mais tarde na temporada viria a reclamar da preparação física. Por que será, não é mesmo? Além disso, deu pouquíssimo espaço para garotos da base. Não testou, não deu sequência. Não achou sistemas táticos longevos para o ano, tampouco conseguiu recuperar aquilo que o time fora em 2022. Viu jogadores importantes caírem de rendimento, como Keiller, Carlos de Pena e Alemão. Nem mesmo Pedro Henrique, o artilheiro do campeonato, teve uma sequência boa pós-estadual, tanto na ponta como centralizado. Ou seja, nada, exatamente nada, foi tirado de positivo do Campeonato Gaúcho de 2023.

Abril viria para o colorado tentar recolocar as coisas em ordem. Já no segundo dia daquele mês, dois anúncios: a chegada de Gustavo Campanharo e a antecipação da vinda de Charles Aránguiz. O primeiro, mais um nome modesto para grupo. O segundo, apesar de um grande nome, chegava lesionado e não poderia atuar naquele momento. Ele foi jogar apenas em julho. Portanto, na prática pouquíssimo mudou da eliminação do estadual até a estreia na Libertadores, no dia do aniversário do clube, 4 de abril, contra o Independiente Medellín. E em campo também, mais uma atuação impotente e a obtenção de um empate por 1 a 1 fora de casa na base da individualidade de Alan Patrick. Estava difícil de recuperar a confiança da torcida. E as contratações seguintes certamente não desempenharam este papel: Jean Dias, Gabriel Barros e Rômulo. Três apostas. Uma que era muito clara que daria errado, o trintão do Caxias Jean Dias que rodou o interior do Brasil e jamais se afirmou em clube algum. Outra, Gabriel Barros, um destaque do Ituano que não viria a vingar no colorado, recebendo poucas chances e não as aproveitando. E a última, a de Rômulo, a única que se mostrou produtiva na sequência. Um bom primeiro volante que veio do Athletic. Jovem. Certamente não foram nomes que salvaram a pobre janela de transferências de início de temporada feita pelo colorado.

Também em abril chegaram as competições nacionais. Primeiro a Copa do Brasil, em que o Inter já iniciava na terceira fase, contra o CSA de Alagoas, time da Série C do Brasileirão. E o colorado sofreu demais para passar sobre este modesto adversário. Ganhou de virada no Beira-Rio por 2 a 1, passou trabalho. Conseguiu perder em Maceió por 2 a 1. Perdeu para o CSA que vinha de um Campeonato Alagoano fraquíssimo. Foi para os pênaltis, algo em que o Inter vinha de uma longa sequência de insucessos. Mas para alívio da torcida, ali conseguiu vencer e avançar. Mas sem deixar o alívio esconder a desconfiança pelo rendimento patético. No Campeonato Brasileiro, apesar do rendimento pobre, a postura aguerrida trouxe bons resultados de cara, um empate fora de casa por 1 a 1 contra o Fortaleza e duas vitórias no Beira-Rio, uma contra o Flamengo de Jorge Sampaoli, 2 a 1 de virada com dois gols de Maurício, e outra contra o Goiás, 1 a 0 com golaço de fora da área de Carlos de Pena. Na continuidade da Libertadores, também um resultado positivo em casa, um 1 a 0 sofrido contra o retrancado Metropolitanos da Venezuela, com gol de Alexandre Alemão já nos acréscimos do segundo tempo. Mesmo sem jogar bem, o Inter começava a ter resultados mais aceitáveis, ainda que apenas em casa.

Foi então que maio chegou e tudo desandou de vez. O mês já começou com um empate com sabor de derrota na Libertadores, o 2 a 2 em casa contra o Nacional de Montevidéu em que o Inter esteve duas vezes vencendo e cedeu a igualdade em ambas. O colorado não se impôs em casa no confronto direto e deixou sua situação desconfortável na competição continental. E após isso veio a infame sequência de cinco derrotas seguidas por dois gols de diferença. Primeiro, um 2 a 0 sofrido para o São Paulo no Morumbi, em postura totalmente apática que levou o time para a primeira derrota no Brasileirão. Depois, o primeiro revés em casa na temporada, um 2 a 0 para o Athletico Paranaense em mais um jogo sem sal. O terceiro revés seguido foi para o Atlético Mineiro de Eduardo Coudet no Mineirão, mais um 2 a 0 sofrido como refém do adversário. A quarta derrota seguida foi sem dúvidas a mais vergonhosa. Na ida das oitavas de final da Copa do Brasil, o Internacional conseguiu levar 2 a 0 do time reserva do América Mineiro, lanterna afundado do Brasileirão. E após chegar ao fundo do poço, conseguiu afundar mais um pouco perdendo o quinto jogo seguido, logo um Gre-Nal, por 3 a 1, passando perto de levar uma goleada do arquirrival em sua Arena, o que àquele momento era previsível.

Mesmo com as cinco derrotas consecutivas, sem esboçar qualquer indignação, qualquer rendimento, qualquer esboço de futebol, a diretoria do Internacional optou por manter Mano Menezes como treinador. O mercado não tinha grandes opções livres, Mano era um nome que agradava a parte conservadora da torcida e da imprensa e a sequência de jogos que viria era apenas contra adversários muito fracos. Havia uma crença na recuperação.

E de fato os resultados começaram a melhorar, ainda que o rendimento não acompanhasse a mesma evolução. Após o Gre-Nal, foram três vitórias seguidas para o colorado. A primeira foi pela Libertadores, um triunfo importante fora de casa sobre o Metropolitanos por 2 a 1. O Inter sofreu demais para derrotar o modesto adversário, precisando de um milagre de John para isso, mas levou os três pontos que precisava. O segundo triunfo foi pelo Brasileirão, contra o Bahia em casa, por 2 a 0. De novo, um sofrimento enorme, mas o resultado positivo na bagagem. Algum esboço de rendimento só foi vir mesmo na terceira vitória da sequência. No 3 a 1 em casa contra o América Mineiro pela Copa do Brasil. O colorado fez um bom primeiro tempo e abriu 3 a 0 de cara, o que o classificaria para as quartas de final da competição. Mas no segundo tempo caiu de rendimento e sofreu o gol que levou o duelo para os pênaltis. E ali mais uma vez foi eliminado para o clube mineiro, como em 2020. Desta vez sem sequer errar alguma das cobranças, mas perdendo por 5 a 4 porque Carlos de Pena deu dois toques na cobrança que acertou. Mais uma eliminação vexatória com requintes de crueldade. O Inter mostrou mais uma vez que é capaz de perder até quando vence.

Após a eliminação dolorosa na Copa do Brasil, o Inter empatou dois jogos seguidos. Primeiro, pelo Brasileirão, um 1 a 1 com o fraco Santos de Odair Hellmann na Vila Belmiro. Depois, outro 1 a 1 fora de casa, mas contra o Nacional de Montevidéu pela Libertadores. O time deixou escapar nos minutos finais a vitória que o classificaria antecipadamente para o mata-mata e tornou a última rodada um confronto eliminatório contra o Independiente Medellín. Porém, após estes dois resultados modestos, vieram quatro vitórias seguidas e o anúncio de uma contratação bombástica. No dia 11 de junho, um triunfo em casa por 2 a 1 sobre o Vasco da Gama com muito sofrimento e um verdadeiro milagre do goleiro John nos minutos finais. No dia 12, Enner Valencia é anunciado como reforço colorado. O atacante equatoriano que brigou pela chuteira de ouro na temporada europeia com o Fenerbahçe e que foi destaque do Equador na Copa do Mundo. A primeira grande contratação do ano, que lotou aeroporto e o Gigantinho. Já nos dias 22 e 25, respectivamente, o Inter derrotou fora de casa o Coritiba e o América Mineiro, por 1 a 0 e 2 a 1. Mesmo sem jogar bem, cumpriu a obrigação de vencer os lanternas do Brasileirão. Chegou para o último jogo da fase de grupos da Libertadores e do mês, no dia 28, com três vitórias seguidas. O time recuperou um pouco da confiança e se permitiu arriscar contra o Independiente Medellín. Era vencer ou dar adeus para a Liberta. E o time conseguiu ganhar por 3 a 1 jogando bem. Criando bastante. Pressionando. Jogando como uma decisão e se impondo em casa. O fiasco de cair na fase de grupos da Libertadores foi evitado.

Mano Menezes não resistiu às consecutivas decepções — FOTO: Ricardo Duarte/Sport Club Internacional

Mas julho veio para relembrar maio. Já no dia 1º daquele mês, no primeiro jogo após a classificação na maior competição do continente, o colorado voltou a demonstrar impotência e apenas empatou em casa contra o Cruzeiro por 0 a 0 no Brasileirão na reestreia de Aránguiz. No dia 5, descobriu que enfrentaria o River Plate nas oitavas de final da Libertadores, uma verdadeira pedreira. No dia 9, viu sua sequência invicta de dez jogos acabar em uma derrota categórica por 2 a 0 para o Fluminense no Maracanã, na estreia de Enner Valencia em que Mano Menezes o escalou pela ponta. No dia 13, um afago: o goleiro Rochet, destaque do Nacional de Montevidéu, foi anunciado como reforço, algo que surpreendeu a todos pelo bom momento de John. No dia 16, mais um 0 a 0 impotente em casa, desta vez contra o Palmeiras de Abel Ferreira, que ali não vivia um grande momento. Ali foi a gota d’água para o trabalho de Mano Menezes. Após mais de meio ano sem jogar um futebol decente, o treinador foi demitido no dia 18 de julho. Não havia uma razão para a sua continuidade. Mesmo com aquela sequência de dez jogos sem perder, o time foi incapaz de crescer coletivamente mesmo enfrentando vários times ruins.

Eduardo Coudet voltou ao Inter — FOTO: Divulgação/Sport Club Internacional

Fugindo ao padrão, o Inter agiu rápido no mercado para anunciar seu novo treinador. Porém, era um nome já conhecido do torcedor e amigo do presidente Alessandro Barcellos, o que facilitou tudo. Já no dia 19 de julho, Eduardo Coudet foi anunciado como novo técnico do Internacional. O argentino voltava para tentar dar um final feliz ao que não conseguiu completar na temporada promissora de 2020 em que deixou o clube para treinar o Celta de Vigo na metade da disputa dos campeonatos.

Ainda no dia 19, Bruno Henrique também fora anunciado como contratação, mais um bom e experiente jogador que agregava bastante ao grupo. E a estreia de Eduardo Coudet nesta nova passagem foi vir no dia 23, contra o Red Bull Bragantino em Bragança Paulista. O time competiu em equilíbrio contra o adversário paulista em bom momento, mas não saiu do 0 a 0 porque um pênalti claro sobre Enner Valencia foi omitido. No entanto, a boa impressão deixada ali não foi repetida no jogo seguinte, em casa, contra o Cuiabá. O Inter até começou jogando bem e saiu vencendo o jogo, mas perdeu Mercado por expulsão e levou a virada do time de Deyverson. O colorado terminou julho sem sequer obter uma vitória no mês.

Agosto já começava com um grande desafio: o River Plate, no Monumental de Núñez com 85 mil pessoas, pelas oitavas de final da Libertadores. E o Inter voltou de lá vivo. Fez um bom primeiro tempo e foi ao intervalo vencendo por 1 a 0, com o primeiro gol de Enner Valencia com a camisa colorada. Na volta do intervalo, a equipe decaiu e sofreu a virada ao natural. Sergio Rochet, que Coudet bancara como goleiro titular desde sua chegada, foi decisivo com grandes defesas que evitaram de o colorado perder por mais gols de diferença. Foi decisivo. Deixou o Inter vivo para decidir no Beira-Rio.

Rochet converteu o pênalti da classificação do Inter contra o River Plate — FOTO: Bruno Ravazzoli

Em meio aos jogos decisivos pela competição continental, o colorado enfrentou o Corinthians no Brasileirão e empatou em casa por 2 a 2 com o time reserva. Mas o jogo no Beira-Rio que realmente não saía da cabeça do torcedor colorado viria três dias depois. A volta das oitavas de final da Libertadores contra o River Plate. A torcida acreditou. Lotou o Beira-Rio. Fez lindas ruas de fogo. Jogou junto. E em campo, o time não foi diferente. Jogou com a intensidade no máximo. Apresentou bom futebol. Venceu. Chegou a ter os dois gols de diferença que precisava para avançar, 2 a 0 com gols de Mercado e Alan Patrick, mas na reta final levou um golzinho que mandou o jogo para os pênaltis. Após alguns traumas neste tipo de disputa, a tensão foi lá para o alto. Mas a torcida e os jogadores não deixaram de acreditar. Os torcedores fizeram barulho por toda a decisão por pênaltis. E os jogadores cobraram muito bem suas penalidades. Foram 20 penais ao todo, 10 para cada lado. O Inter acertou nove, apenas Carlos de Pena errou sua cobrança. O River, acertou oito. Vitória colorada por 9 a 8. Drama em nível máximo. E alívio monumental quando Rochet converteu a última penalidade. Explosão no Beira-Rio. O Inter derrubou o gigante River Plate e seguiu vivo na Libertadores para as quartas de final.

Antes das quartas da grande competição continental, o Inter teve mais dois jogos pelo Brasileirão. E perdeu os dois. Perdeu de virada fora de casa por 3 a 1 para o líder Botafogo, ali jogando com titulares. Já com reservas, também foi derrotado em casa para o Fortaleza por 1 a 0, mais uma vez com erros de arbitragem atrapalhando. Em meio a isso, a contratação do lateral direito Hugo Mallo também fora anunciada. E nada tirou o foco colorado da Libertadores. Era o grande objetivo. O Inter arriscou tudo mesmo para ser feliz nela. E começou bem as quartas de final. Mesmo na impiedosa altitude de La Paz, venceu o Bolívar por 1 a 0 com mais um gol de Enner Valencia. O colorado mudou o jeitão de jogar, Coudet usou três zagueiros e conseguiu superar o cenário adverso. Vantagem tremenda para a decisão no Beira-Rio. Antes da volta, ainda empatou fora de casa com o Flamengo pelo Brasileirão. Um 0 a 0 que foi um bom resultado obtido pelos reservas colorados em pleno Maracanã. Tudo estava alinhado. A confiança sobrava para o jogo contra o Bolívar em Porto Alegre. E em campo ocorreu tudo bem. Com mais dois gols de Enner Valencia, o Inter venceu por 2 a 0 ao natural. Rochet ainda pegou um pênalti no finalzinho do jogo para participar do espetáculo. Com muita festa, o colorado obteve a classificação para a semifinal da Libertadores. O Inter estava de volta aos quatro melhores times do continente.

Antes da semifinal da competição continental contra o Fluminense, o Inter tentou se recuperar no Brasileirão, onde ainda não havia vencido desde a chegada de Eduardo Coudet. Contra o Goiás em Goiânia, mesmo com titulares não conseguiu sair do 0 a 0 novamente com polêmicas de arbitragem. Mas contra o São Paulo no Beira-Rio, mesmo desfalcado, o colorado conseguiu finalmente voltar a vencer no campeonato com um 2 a 1 obtido em belos gols de Bustos e Renê. Ainda antes do que realmente tomava conta da cabeça do torcedor colorado, houve o anúncio da contratação do lateral esquerdo Dalbert e a derrota com time reserva para o Athletico Paranaense fora de casa por 2 a 1, no finalzinho do jogo.

Após a espera ansiosa, chegou o dia 27 de setembro. Chegou o jogo de ida da semifinal da Libertadores contra o Fluminense no Maracanã. E a partida foi uma bela exibição de futebol. Altíssimo nível. E o Inter, que teve um jogador a mais por pouco mais de um tempo, foi superior. Criou mais chances. Saiu perdendo, mas virou para 2 a 1. Tinha tudo para sair em vantagem. Mas não matou o jogo com a vantagem numérica em campo e cedeu o empate na reta final. Erros bobos que em uma decisão fazem toda a diferença não permitiram ao colorado sair em vantagem. Ainda assim, o empate fora de casa não era desprezível pois o time voltava bem vivo para decidir no Beira-Rio.

Inter foi eliminado da Libertadores com derrota traumática de virada no Beira-Rio — FOTO: Divulgação/Libertadores

Antes da volta, um duelo pelo Brasileirão contra o Atlético Mineiro foi perdido em casa por 2 a 0, novamente com o time reserva competindo bem, mas sendo ineficiente. O que todo mundo queria mesmo era o dia 4 de outubro. E todo o clima de Libertadores foi feito. Ruas de fogo históricas com imagens que rodaram o mundo. Beira-Rio lotado. O Brasil com os olhares voltados para a decisão entre colorados e tricolores. Uma vaga para a final da Libertadores em disputa. Quem vencesse, avançava. E o Inter fez uma bela partida. Abriu o placar cedo com Gabriel Mercado. Amarrou o Fluminense e continuou criando boas chances de gol, principalmente com Enner Valencia. Mas não era dia do equatoriano. O camisa 13 criou e perdeu três chances claríssimas de gol. Qualquer uma delas teria servido para matar de vez a semifinal. Mas o colorado foi deixando o tricolor carioca vivo, gostando do jogo, tendo mais a bola. E nos minutos finais foi castigado por isso. John Kennedy empatou o jogo aos 35 minutos do segundo tempo e Germán Cano virou aos 42. Com a classificação para a final nas mãos, o colorado teve um apagão e foi eliminado. Mais um trauma em pleno Beira-Rio que ficará na cabeça do torcedor por muito tempo. Mesmo sem merecer perder, o Inter perdeu. Perdeu porque não soube matar o jogo. E teve todas as chances que precisava para isso.

Sem o título da Libertadores, apenas um milagre no Brasileirão faria o Inter disputá-la em 2024. Com a opção de escalar reservas na maioria dos jogos do campeonato nacional, o colorado ficou bem para trás na tabela, longe do G6, perto do Z4. Por mais que o time alternativo sempre fizesse jogos parelhos, ele simplesmente não ganhava. Com a volta dos titulares, o Inter voltou a ser competitivo no Brasileirão. Mas não realizou o milagre.

A primeira partida após a eliminação para o Fluminense foi logo um clássico Gre-Nal no Beira-Rio. O primeiro desde a volta de Eduardo Coudet, que na primeira passagem ficou marcado por não ter vencido nenhum. Mas este, venceu. Em boa atuação, o Inter venceu o Grêmio por 3 a 2. A resposta possível diante do trauma. Porém logo na sequência o colorado perdeu para o Bahia fora de casa por 1 a 0. Para quem precisava vencer quase todos os jogos para ter chance de Libertadores, foi um golpe duro. E mesmo cheio de desfalques, o time teve as chances de obter algo diferente em Salvador. De novo foi ineficiente. Todavia, mais duas vitórias seguidas vieram na sequência. A primeira, histórica. 7 a 1 sobre o Santos no Beira-Rio. Um massacre que também não será tão cedo esquecido. Uma atuação praticamente impecável, de altíssimo nível e eficiência alta. No jogo seguinte, um 2 a 1 sobre o Vasco em São Januário também com a efetividade como ponto alto. Era o Inter competitivo de novo.

Todavia, o Beira-Rio estava mesmo propenso a tragédias neste 2023. No dia 29 de outubro, mais uma derrota em casa acabou de vez com as esperanças coloradas de disputar a próxima Libertadores. O Inter conseguiu perder em casa para o Coritiba por 4 a 3. Vitão foi expulso de maneira infantil logo no começo do jogo e comprometeu tudo. O colorado até foi aguerrido, mas não teve organização e acabou perdendo para o vice-lanterna. E para piorar a situação, no jogo seguinte, também em Porto Alegre, empatou em 1 a 1 com o lanterna América Mineiro, jogando mal. Dois jogos viáveis em casa, que eram para dar um gás no sonho do G6, serviram para enterrar de vez as chances de salvação para a temporada do Sport Club Internacional.

Com os dois resultados péssimos em casa, o Inter não só saiu de vez da disputa por vaga na Libertadores como voltou a ficar próximo da zona de rebaixamento. Por mais que fosse claro que o time não tinha rendimento para estar ali, a pontuação era aquela e o risco de brigar para não cair existia. Contra isso, a vitória por 2 a 1 no confronto direto contra o Cruzeiro no Mineirão foi muito importante. Pós-dois jogos pavorosos, o Inter usou do pragmatismo em Minas Gerais para se aliviar um pouco daquela situação incômoda. Se recuou, chamou o adversário para cima e venceu o jogo nos contra-ataques. Diferente do que muitos pensavam, Eduardo Coudet mostrava que aceitava abdicar de suas convicções para obter resultados.

No entanto, o drama ainda não estava totalmente encerrado. Os próximos dois jogos tinham adversários duros, o Palmeiras fora de casa e o reencontro com o Fluminense no Beira-Rio. O Inter não venceu nenhum deles. Contra o alviverde paulista, uma dura derrota por 3 a 0 que a maioria dos colorados sequer lamentou porque ajudou o adversário na briga pelo título brasileiro, que era justamente contra o arquirrival colorado Grêmio. Mas o 0 a 0 em casa contra o time misto do Fluminense, que havia sido campeão da América naquela semana, foi decepcionante. Além de importante para o campeonato, era uma resposta necessária para o trauma na semifinal da Libertadores. O Inter atuou de forma apática e não conseguiu se impor. Gatilhos não faltaram para o torcedor colorado.

Com o risco de brigar contra o rebaixamento de volta após estes dois resultados ruins, Eduardo Coudet mais uma vez optou pelo pragmatismo. Após uma pausa de duas semanas no campeonato, o colorado voltou a campo contra o Red Bull Bragantino no Beira-Rio. O time paulista ainda almejava brigar pelo título. Não era tarefa fácil para o Inter. Novamente Chacho colocou seu time para trás, atraiu o adversário e obteve a vitória no contra-ataque. Com direito a um segundo tempo inteiro de retranca. Mas o time nem sofreu tanto assim e venceu por 1 a 0. Alívio novamente. O jogo seguinte, contra o Cuiabá fora de casa, era a oportunidade do alívio derradeiro. Da confirmação matemática da permanência na Série A do Brasileirão. E de novo com pragmatismo, o Inter foi lá e venceu. De novo na reatividade. Desta vez com uma criatividade ainda maior e o resultado de 2 a 0. Permanência assegurada. E classificação para a Copa Sul-Americana, a consolação que sobrou, garantida também.

Inter obteve vitória inédita em Itaquera — FOTO: Renato Gizzi/Photo Premium/Gazeta Press

Os dois últimos jogos do ano, contra o Corinthians fora de casa e o Botafogo no Beira-Rio, já não tinham grande valor para o Inter em termos de objetivos. A posição na tabela poderia mudar, mas o que o time disputaria em 2024, não. E com isto Eduardo Coudet se permitiu voltar a fazer o time jogar de um jeito mais ofensivo, como ele gosta. Não da forma como encantou o torcedor e atraiu olhares da América na Libertadores, mas com parte daquela agressividade, maior controle de bola e foco em controlar os adversários. E foi o que o Inter fez. Controlou Corinthians e Botafogo. O colorado buscou a primeira vitória de sua história em Itaquera, 2 a 1. E fechou o ano com quatro vitórias seguidas ao derrotar o decadente alvinegro carioca por 3 a 1 no Beira-Rio.

O Inter encerrou o ano de forma decente. Além das quatro vitórias seguidas, teve 62% de aproveitamento no Brasileirão desde que foi eliminado da Libertadores. O campeão Palmeiras teve 61% ao longo do campeonato. Faltou ao colorado um elenco mais robusto para os resultados não serem tão ruins com time alternativo. Eduardo Coudet e diretoria fizeram a escolha de focar na Libertadores. Quase deu certo. Mas o Campeonato Brasileiro ficou de lado. Os reservas até competiam com dignidade, mas não eram eficientes no ataque e perdiam jogos em detalhes, em bobeiras. Acabaram tendo aproveitamento de time rebaixado. E isto pesou demais para que o time acabasse o Brasileirão apenas em um modesto nono lugar, muito distante da capacidade real que esta equipe demonstrou ter desde que o argentino Eduardo Coudet retornou ao clube.

Após o fim da temporada futebolística, houve a eleição presidencial do Internacional. O presidente Alessandro Barcellos disputou a preferência do sócio colorado contra o ex-vice-presidente de futebol Roberto Melo. A disputa foi quente, mas Barcellos acabou reeleito. Pesaram o péssimo trabalho de Melo como vice e suas promessas pouco realistas financeiramente. Barcellos, apesar de também acumular fracassos dentro de campo, tem sanado o clube financeiramente. E parece ser menos adepto do amadorismo, ainda que por vezes opte pelo mais conservador por não ter coragem de enfrentar certos setores da torcida e da imprensa.

2023 foi uma montanha russa para o torcedor colorado. Das grandes expectativas geradas no fim de 2022 a um primeiro semestre de vários fracassos e nada proveitoso sob o comando de Mano Menezes. Do sonho real do tricampeonato na Libertadores após a chegada de Eduardo Coudet a uma eliminação traumática. Do medo de um possível rebaixamento ao alívio e as quatro vitórias seguidas nas últimas rodadas do Brasileirão. Mas no fim das contas, de novo o Internacional sai com as mãos abanando. Perdeu o Gauchão, perdeu a Copa do Brasil, perdeu o Brasileirão, perdeu a Libertadores. A seca não acaba. E de novo, assim como em 2022, o clube vira o ano com o mesmo treinador que termina. Com um rendimento crescente. Com a expectativa de manter o elenco e ainda reforçá-lo, pois o presidente disse que há dinheiro para investir. Mas até o momento nenhum reforço foi anunciado. E isto é essencial. Eduardo Coudet precisará de mais armas para realmente ter chances de título na Copa do Brasil, no Brasileirão e na Sul-Americana. No Gauchão, é claro, obviamente é um dos favoritos. Vimos como este ano fez falta um elenco mais robusto.

Para 2024, é preciso usar o Gauchão para achar reforços domésticos e ter mais precisão no mercado. Diferentemente de 2022, o Inter mais errou que acertou em contratações em 2023. Rochet, Aránguiz e Enner Valencia foram grandes acertos. Mas os outros nomes variaram entre modestos e fracassados. Alessandro Barcellos diz que há 50 milhões para investir. Resta agora ter criatividade e atitude no mercado para voltar a fazer boa janela.

Potencial de futebol está claro que o time tem sob a batuta de Eduardo Coudet. Na Libertadores de 2023 vimos como este time é capaz de sufocar os adversários, de pressionar, de criar, de se movimentar. É um futebol dinâmico que agrada o torcedor e traz resultados desde 2020. Mas além disso também pudemos ver um lado mais pragmático, um Inter que soube competir também ao ser reativo. Demonstração de amadurecimento do treinador. Em 2024, se realmente houver respaldo e reforços, as coisas tendem apenas a melhorar. Tudo começa com uma boa pré-temporada, com um bom uso do Gauchão para testes e evolução coletiva. Não repetir os erros de 2023. Com bom planejamento e um futebol semelhante ao dos melhores momentos do ano que se encerra hoje, o Inter é claramente favorito ao título da Copa Sul-Americana.

--

--

Jonathan da Silva
Jonathan da Silva

Written by Jonathan da Silva

A visão jonathanista das coisas. Colorado apaixonado por esportes. Estudante de jornalismo. 23 anos de idade.

No responses yet